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domingo, fevereiro 23, 2014

SER BOM COMO DEUS: AMAR DE GRAÇA - Liturgia do domingo

1ª leitura: (Lv 19,1-2.17-18) Não ódio, mas amor – Trecho da chamada “Lei da Santidade” (Lv 17–25), que deseja que o povo de Javé seja santo porque Ele o é também. Ele é quem fundamenta as exigências morais (p.ex., o amor ao próximo e ao estrangeiro, 19,18.36) e rituais (cf. 19,25). Daí a moral e o amor poderem ser chamados “imitação de Deus”, de sua santidade (perfeição, cf. evangelho). * 19,2 cf. Lv 11,44 * 19,17 cf. Ez 33,1-9; Mt 18,15 * 19,18 cf. Mt 5,43; Rm 13,9; Gl 5,14.

2ª leitura: (1Cor 3,16-23) Não partidarismo, mas pertença completa a Cristo e Deus – Tendo descrito como se constrói a Igreja, templo de Deus (1Cor 3,1-15), Paulo tira agora as conclusões: a presença do Espírito de Deus torna santa a comunidade eclesial, e abalá-la é demolir Deus (3,17). E onde Deus está presente, não há lugar para endeusar homens, culto de personalidades. Em Cristo, a Igreja recebe a sabedoria de Deus e torna-se realidade divina. * 3,16 cf. 1Cor 6,19; 2Cor 6,16; Ef 2,20-22 * cf. Jó 5,13; Sl 94[93],11.

Evangelho: (Mt 5,38-48) Pagar o mal pelo bem, amar os inimigos – Como na “Lei da Santidade” (Lv 17–26, cf. 1ª leitura), também em Mt 5,17-48 a imitação de Deus na sua “perfeição”(= santidade) apresenta-se como regra fundamental. Jesus dá a esta imitação um conteúdo radical: não só amar o próximo (cf. Lv 19,18), mas também o inimigo! E outras coisas assim. – A ajuda desinteresseira, o amor a quem não nos ama são as provas de que amamos com o mesmo amor gratuito de nosso Pai celeste. * 5,38-42 cf. Ex 21,24; Lc 6,29-30; 1Pd 3,9 * 5,43-48 cf. Lv 19,18; Lc 6,32-33; Rm 12,14.20. 

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O evangelho de hoje continua com a interpretação da Lei que Jesus propõe no Sermão da Montanha. Jesus supera a justiça do Antigo Testamento, que se guiava pela lei do “talião” (do “tal qual”), “olho por olho, dente por dente” (uma maneira de refrear a vingança ilimitada). A posição de Jesus parece compreensível, pois pagando o mal com o mal nunca se sai do status quo, da violência, da vingança. Mas o que Jesus quer é mais do que isso: dar mais do que nos é pedido e até amar os inimigos. Como é que se pode gostar de quem não se gosta?

Novamente, Jesus não pergunta se é possível. Só diz que deve ser assim, pois Deus é assim mesmo! Deus faz o sol surgir sobre bons e maus e a chuva descer sobre justos e injustos. Pois todos são os seus filhos. “Mas, dirá alguém, eu não sou Deus”. E a resposta de Jesus: “Não és Deus, mas procura ser como ele: perfeito como teu Pai celeste é perfeito; então, serás realmente seu filho!”

Jesus não veio para facilitar nossa vida, mas para nos tornar semelhantes a Deus, mesmo se ficamos sempre devendo e sabemos que, por nosso própria força, nunca chegaremos a isso. Também não é uma questão de esforço, mas de amor e de graça. Uma vez conscientes de que Deus nos ama de graça (cf. Rm 5,6-8 e 1Jo 4,10.19), já não vamos achar estranho amar de graça os que não nos amam (mesmo se devemos combatê-los quando oprimem os mais fracos...). Se entendermos o amor gratuito, não vamos achar absurdo convidar os que não nos podem retribuir (cf. Lc 14,12-14). O amor de Deus é criador: cria uma situação nova, que não existia antes. Quando nos sabemos envolvidos nesse amor paterno criador e gratuito, seremos capazes de imitá-lo um pouco. Seremos, não por nosso esforço, mas por saber-nos amados, realmente os seus filhos. E almejaremos o dia em que a morte porá fim às nossas incoerências, para que Ele nos acolha plena e definitivamente.

Na 1ª leitura, encontramos juntos, já no Antigo Testamento, os mandamentos de não guardar rancor e do amor ao próximo (Lv 19,17-18; cf. Lv 19,35, o amor ao estrangeiro). Todos esses mandamentos se baseiam na mesma verdade: todas as pessoas são filhos do mesmo Pai. Poderíamos acrescentar o amor ao insignificante, ao pobre, ao marginal, amor este que serve de critério para ver se a nossa vida é compatível com a eterna companhia de Deus, nosso Pai (Mt 25,31-46).

A liturgia de hoje supõe, portanto, que estejamos imbuídos da consciência filial com relação a Deus. “Bendize, ó minha alma, o Senhor, e jamais te esquece de todos os seus benefícios” (salmo responsorial).

Na 2ª leitura continua a polêmica de Paulo com a sabedoria do mundo, por ocasião da divisão que a vanglória, o partidarismo e outras atitudes demasiadamente humanas causaram na comunidade de Corinto. Tal divisão é o contrário daquilo que o evangelho ensina. Reconhecendo o evangelho como única sabedoria válida, devemos dizer, com Paulo, que os critérios humanos são loucura diante de Deus. Paulo ironiza os coríntios, dos quais uns diziam: “eu sou de Paulo”, ou “de Apolo”, “de Cefas” ou até “de Cristo”... “Ainda bem que quase não batizei ninguém”, observa Paulo, brincando (1Cor 1,14). E mais adiante conclui: “Todos nós, apóstolos, somos vossos; e não só nós, toda a realidade da criação é vossa... mas vós sois de Cristo, e Cristo de Deus” (3,21-23). Hoje ouvimos: “Eu sou de tal movimento, de tal ‘teologia’, de tal tradição”. Mas não faz diferença: somos de Cristo, e Cristo, de Deus. Por isso devemos ser como Cristo e como Deus. Isto, porém, não o conseguiremos por um vaidoso esforço de nossa vontade, mas somente se nos deixarmos envolver no amor gratuito que Deus nos testemunhou em Jesus, dado por nós até o fim. 
SER PERFEITO COMO DEUS! 

Quem hoje pretendesse querer ser perfeito como Deus granjearia alguns sorrisos irônicos... E contudo, é o que Jesus ensina no Sermão da Montanha (evangelho). A vocação à perfeição “como Deus” é um tema fundamental para a vida de todo cristão – não só para os santos e beatos.

Na primeira página da Bíblia está que Deus criou o homem à sua imagem e semelhança (Gn 1,26). Ele quer ver sua imagem em seu povo eleito, Israel: “Sede santos, porque eu, vosso Deus, sou santo” (1ª leitura). Pela aliança, os israelitas “são de Deus”. Ora, Deus não quer envergonhar-se de sua gente. Por isso, quer que sejam irrepreensíveis, e uma das suas exigências é que eles não briguem entre si, não se matem em eternas vinganças etc. Numa palavra: que amem seus “próximos” (= compatriotas) como a si mesmos (Lv 19,18). Ora, ninguém entende como Jesus o que exige essa pertença a Deus. Deus é o Pai de todos, de bons e maus, e ama a todos como a seus filhos. Então nós, seu povo, devemos tambémamar a todos, inclusive os inimigos! Assim nos mostraremos semelhantes a Deus e realizaremos a vocação de nossa criação.

O homem moderno (como o de todos os tempos) gosta de ser seu próprio deus. Em vez de querer ser semelhante a Deus, só olha no espelho... Será por isso que existem inimizades tão cruéis em nosso mundo, a violência descarada das bombas atômicas, a violência “limpa” das “guerras cirúrgicas”, a cínica exploração das massas populares? No mundo reina divisão, entre nações, religiões, classes sociais; até na Igreja ricos e pobres vivem separados. Onde existe esse amor ao inimigo que Jesus ensina? Pois bem, exatamente por causa dessas divisões, o amor ao inimigo é indispensável. Se todos estivéssemos perfeitamente de acordo, não precisaríamos desse ensinamento de Jesus! As lutas e divisões que são a matéria da História e que têm reflexos mesmo entre os fiéis não devem excluir o amor à pessoa, ainda que se lute contra sua ideia ou posição. As divergências tornam ainda mais necessário o amor – que consistirá talvez em mostrar ao “inimigo” que ele defende um projeto errado ou injusto...

O ser humano realiza sua vocação de ser semelhante a Deus, quando ama a todos com o amor gratuito de Deus, sem procurar qualquer compensação. Por essa razão, deve empenhar-se de modo especial pelos pobres, estranhos etc. – e também amar os inimigos.

(O Roteiro Homilético é elaborado pelo Pe. Johan Konings SJ – Teólogo, doutor em exegese bíblica, Professor da FAJE. Autor do livro "Liturgia Dominical", Vozes, Petrópolis, 2003. Entre outras obras, coordenou a tradução da "Bíblia Ecumênica" – TEB e a tradução da "Bíblia Sagrada" – CNBB. Konings é Colunista do Dom Total. A produção do Roteiro Homilético é de responsabilidade direta do Pe. Jaldemir Vitório SJ, Reitor e Professor da FAJE.)

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Pia União de Santo Antônio

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