SEJAM BEM-VINDOS!

Caríssimos(as) Irmãos(as), saudamos a todos vocês com a Paz e o Bem contidas no Cristo Jesus e em São Francisco de Assis.



terça-feira, março 24, 2015

Semana Santa, mistério central de nossa fé

A Semana Santa é o grande momento litúrgico do ano, quando celebramos o mistério central de nossa fé: a Ressurreição de Jesus. Para isso, temos um tempo muito especial e com celebrações profundas. No fundo é um grande retiro espiritual das comunidades eclesiais, convidando os cristãos à conversão e renovação de vida. Ela se inicia com o Domingo de Ramos e se estende até o Domingo da Páscoa. É a semana mais importante do ano litúrgico, quando se celebram de modo especial os mistérios da paixão, morte e ressurreição de Jesus Cristo.

A celebração do Domingo de Ramos lembra a entrada de Jesus em Jerusalém, aonde vai para completar sua missão, que culminará com a morte na cruz. Os evangelhos relatam que muitas pessoas homenagearam a Jesus, estendendo mantos pelo chão e aclamando-O com ramos de árvores. Por isso, hoje os fiéis carregam ramos, recordando o acontecimento. Imitando o gesto do povo em Jerusalém, querem exprimir que Jesus é o único mestre e Senhor.

Nos primeiros dias da Semana Santa, a Liturgia apresenta textos bíblicos que enfocam a missão redentora de Cristo. Nesses dias não há nenhuma celebração litúrgica especial, mas nas comunidades paroquiais é costume realizarem procissões, vias-sacras, celebrações penitenciais e outras, procurando realçar o sentido da Semana. São tradicionais os sermões do depósito, do encontro de Nosso Senhor com Maria Santíssima no caminho do Calvário, e o Sermão de Nossa Senhora das Dores.

O ponto alto da Semana Santa é o Tríduo Pascal (ou Tríduo Sacro), que se inicia com a missa vespertina da Quinta-feira Santa e se conclui com a Vigília Pascal, no Sábado Santo. Os três dias formam uma só celebração, que resume todo o mistério da Páscoa. Por isso, nas celebrações da quinta-feira à noite e da sexta-feira à tarde não se dá a bênção final; ela só será dada, solenemente, no final da Vigília Pascal.

Na Quinta-feira Santa de manhã (ou em outro dia que as necessidades pastorais aconselharem) celebra-se a instituição da Eucaristia e do Sacerdócio ministerial. A Eucaristia é o sacramento do Corpo e Sangue de Cristo, que se oferece como alimento espiritual. Pela manhã só há uma celebração, a assim chamada Missa do Crisma que, em nossa Arquidiocese, será celebrada na Catedral Metropolitana, na Avenida Chile, quando todos os sacerdotes irão renovar seus compromissos presbiterais. Nesta Missa do Crisma acontece a bênçãos dos óleos dos catecúmenos e enfermos. E há também a consagração do óleo do Crisma. Ao final, entregaremos um frasco aos presbíteros para que os levem às suas paróquias, para a utilização na celebração dos sacramentos neste ano.

Na quinta-feira à noite acontece a celebração solene da Missa em que se faz memória da instituição da Eucaristia, do mandato do amor ao próximo e do Sacerdócio ministerial. Nessa missa, realiza-se a Cerimônia do Lava-pés, em que o celebrante recorda o gesto de Cristo, que lavou os pés dos seus apóstolos. Esse gesto procura transmitir a mensagem de que o cristão deve ser humilde e servidor.

Nessa celebração também se recorda o mandamento novo que Jesus deixou: “Eu vos dou um novo mandamento, que vos ameis uns aos outros assim como Eu vos amei”. Comungar o corpo e sangue de Cristo na Eucaristia implica a vivência do amor fraterno e do serviço. Essa é a lição da celebração.

Na Sexta-feira Santa a Igreja contempla o mistério do grande amor de Deus pelos homens. Ela se recolhe no silêncio, na oração e na escuta da Palavra Divina, procurando entender o significado profundo da morte do Senhor. Neste dia não há missa. À tarde acontece a Celebração da Paixão e Morte de Jesus, com a proclamação da Palavra, a oração universal, a adoração da cruz e a distribuição da Sagrada Comunhão. Na primeira parte, são proclamados um texto do profeta Isaías sobre o Servo Sofredor, figura de Cristo, outro da Carta aos Hebreus que ressalta a fidelidade de Jesus ao projeto do Pai, e o relato da paixão e morte de Cristo, do evangelista João. São três textos muito ricos e que se completam, ressaltando a missão salvadora de Jesus Cristo. O segundo momento é a Oração Universal, compreendendo diversas preces pela Igreja e pela humanidade. Aos pés do Redentor imolado, a Igreja faz as suas súplicas confiantes. Depois segue-se o momento solene e profundo da apresentação da Cruz, convidando todos a adorarem o Salvador nela pregado: “Eis o lenho da Cruz, do qual pendeu a salvação do mundo. – Vinde adoremos”. E o quarto momento é a comunhão. Todos revivem a morte do Senhor e querem receber seu corpo e sangue; é a proclamação da fé no Cristo que morreu, mas ressuscitou. Nesse dia a Igreja pede o sacrifício do jejum e da abstinência de carne como ato de homenagem e gratidão a Cristo, para ajudar-nos a viver mais intensamente esse mistério, e como gesto de solidariedade com tantos irmãos que não têm o necessário para viver.

A Semana Santa não se encerra com a sexta-feira, mas no dia seguinte, quando se celebra a vitória de Jesus. Só há sentido em celebrar a cruz quando se vive a certeza da ressurreição.

Sábado Santo é dia de silêncio e de oração. A Igreja permanece junto ao sepulcro, meditando no mistério da morte do Senhor e na expectativa de sua ressurreição. Durante o dia não há missa, batizado, casamento, enfim nenhuma celebração de sacramentos.

À noite, a Igreja celebra a solene Vigília Pascal, a “mãe de todas as vigílias”, revivendo a ressurreição de Cristo, a vitória sobre o pecado e a morte. A cerimônia é carregada de ricos simbolismos, que nos lembram a ação de Deus, a luz e a vida nova que brotam da ressurreição de Cristo.

Então o tempo se abre para a Páscoa! Após termos retomado os vários símbolos e rezado solenemente a liturgia, partimos para as alegrias pascais, prolongadas pela oitava e celebradas nos 50 dias desse belíssimo tempo, convidando-nos a ser suas testemunhas até os confins da terra!

Cardeal Orani João Tempesta
Arcebispo de São Sebastião do Rio de Janeiro (RJ) 

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segunda-feira, março 23, 2015

Ver Jesus

Leituras do Dia
1ª Leitura - Dn 13,1-9.15-17.19-30.33-62
Salmo - Sl 22, 1-3a. 3b-4. 5. 6 (R. 4a)
Evangelho - Jo 8,1-11


A quaresma está passando e a Semana Santa está chegando. Vivencie bem estes últimos dias da quaresma. Não deixe passar em vão este tempo especial da graça de Deus. Veja o caminho para aquele que deseja ver Jesus. É o caminho da cruz, da obediência a Deus, da semente lançada à terra, que não fica só, e, morrendo, gera vida e produz muito fruto. É chegada a hora de Jesus. A “hora” da glorificação do Pai pela fidelidade do Filho até o fim, “elevado” na cruz. Jesus se lança ao Plano do Pai e realiza sua vontade.

É necessário que Jesus, grão de trigo que se faz Eucaristia, morra e dê fruto – e este fruto é toda a humanidade, aqueles que nele acreditarão e nele terão a vida eterna: "Se o grão de trigo que cai na terra não morre, ele continua só um grão de trigo; mas, se morre, então produz fruto". Jesus entregará ao Pai a sua vida para frutificar em salvação para nós, para que possamos vê-lo, contemplá-lo e experimentá-lo como nossa Luz e nossa Vida.

Quem quiser ver Jesus e estar com Ele onde Ele está, isto é, no Pai, terá que acompanhá-lo. Aceitar ser semente lançada à terra. Os gregos pediram: “Queremos ver Jesus”! Este pedido é nosso também. É nosso anseio reconhecer a presença de Jesus Cristo e segui-lo (DAp 244). O segredo nosso é seguir Cristo. Acompanhá-Lo de perto, viver com Ele, identificar-se com Ele e não colocar obstáculos à graça, não tardar em afirmar que nos revestimos de Nosso Senhor Jesus Cristo (Rm 13,14).

Aqueles gregos representam inúmeras pessoas que também hoje querem ver Jesus, necessitam dele, mas não conseguem chegar até ele. Os discípulos de hoje devem ajudar as pessoas a encontrar Jesus. Para tanto, é preciso ter um coração missionário, ser uma comunidade missionária; ir ao encontro dos que estão fora da comunidade ou dos que mais sofrem para compartilhar com eles a “alegria do Evangelho”. Entretanto, não basta “ver” Jesus. É preciso acolher a sua palavra que nos convida a ser também o “grão de trigo” que se consome em favor dos irmãos, para produzir muitos frutos. Quando nos tornamos o “grão de trigo”, glorificamos a Deus na vida.

Jesus Cristo lembra a todos: “quando Eu for elevado da terra, atrairei todos a Mim” (Jo 12,32), se vós Me puserdes no cume de todas as atividades da terra, cumprindo o dever de cada momento, sendo Meu testemunho naquilo que parece grande e naquilo que parece pequeno, tudo atrairei a Mim. Cada cristão seguindo Cristo há de ser uma bandeira hasteada, uma luz colocada no candeeiro: bem unido pela oração e mortificação à Cruz, em cada momento da vida, há de manifestar aos homens o amor salvador de Deus Pai.

Os gregos quiseram ver Jesus! Encontraram Filipe e André que os conduziram ao Mestre. Tendo-O encontrado e acreditado n´Ele, Filipe e André guiam outras pessoas para verem Jesus. É a vocação de todos os que queiram seguir a Cristo. Tendo visto Jesus, tendo feito a experiência de Deus em sua vida, tendo se transformado em semente lançada à terra, os cristãos são chamados a conduzirem outras pessoas a Jesus para O verem, para O seguirem, para viverem de Sua vida. Vendo Jesus nos cristãos, essas pessoas também crerão e terão vida em abundância.

No próximo domingo, estaremos iniciando a Semana Santa, com o Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor. Participe das principais celebrações da Semana Santa. Lembre-se de que estaremos realizando, em todo o Brasil, no Domingo de Ramos, a coleta da Campanha da Fraternidade: “Eu vim para servir”.

Dom Francisco de Assis Dantas de Lucena 
Bispo de Guarabira (PB)

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domingo, março 22, 2015

5o DOMINGO DA QUARESMA - A HORA DA NOVA ALIANÇA

Leituras do Dia
1ª Leitura - Jr 31, 31-34
Salmo - Sl 50,3-4.12-13.14-15 (R. 12a)
2ª Leitura - Hb 5,7-9
Evangelho - Jo 12,20-33



A 1ª leitura deste domingo contém uma das promessas mais carinhosas do Antigo Testamento: a promessa de uma “nova Aliança”. A antiga tinha sido rompida demasiadas vezes. Ficou gasta. Deus vai recorrer ao último recurso: uma nova aliança, diferente da anterior. A Lei não estará mais escrita em tábuas de pedra ou em rolos de papel, como os dos escribas. Estará inscrita no coração de cada um. Ninguém precisará ainda de mestre! Todos conhecerão Deus, e Deus os acolherá, esquecendo seus pecados.

O evangelho nos propõe Jesus Cristo como cumprimento dessa promessa. Chegou a “hora” – hora da glorificação de Cristo pelo Pai e do Pai por Cristo (Jo 12,23.28; cf. 13,31; 17,1...). A “glória” é o mais próprio ser de Deus. Sem a vontade de Deus, não há glória para Jesus. E esta vontade manifesta-se, de modo dramático, numa antecipação da agonia de Jesus: “Salva-me desta hora”.

A 2ª leitura, da Epístola aos Hebreus, fala no mesmo sentido. Anteriormente, a carta expôs que Jesus substitui as grandes instituições de Israel: ele é o sumo sacerdote no lugar de Aarão, o mediador no lugar de Moisés. Para tanto, ele participa em tudo de nossa condição humana, exceto o pecado. Participa da agonia. Grita a Deus entre lágrimas, e é ouvido pelo Pai. Este o tira, não da morte, mas da angústia. Jesus sabe que Deus está com ele, ele o “aprendeu” (Hb 5,8). Assim, no evangelho, na hora da angústia (12,27: “Pai, salva-me desta hora”), Jesus reconhece a vontade de Deus não como algo terrível, mas como glória, ou seja, como o íntimo de Deus revelando-se no amor de seu Filho para todos: “Pai, glorifica teu nome” (12,28). Também nossa vocação na “nova Aliança” é: conhecer Deus de perto, do modo como Jesus o aprendeu.

“Se o grão de trigo não morrer na terra, fica só, mas se morre, produz muito fruto” (Jo 12,24). É a “lei do grão de trigo”, o modo de agir de Deus, a instrução da Aliança definitivamente renovada. Deus sabe que o endurecimento só é vencido pela vítima. Quando o adversário a quer abafar, a verdade do amor se afirma. É a força da flor sem defesa. A justiça se vê afirmada e vencedora na hora em que a violência a quer suprimir. Os exemplos da “lei do grão de trigo” são muitos em nosso mundo e na América Latina, terra de justos martirizados pelos que se dizem cristãos. Pois essa lei vale não só para Jesus, mas também para seus seguidores: “Quem quer servir-me, siga-me, e onde estiver eu, estará também aquele que me serve, e meu Pai o honrará” (12,16).

Eis a aprendizagem da nova Aliança, da “lei”, da instrução inscrita em nosso coração. Não é extrínseca, imposta de fora. Faz parte de nosso ser cristão, de nosso ser participante da vida de Cristo. Essa instrução, como a ação escondida do grão na terra, frutificará em nossas atitudes políticas, culturais, humanitárias. Seremos capazes de “morrer” em relação aos nossos proveitos imediatos, a fim de que brote aquilo que, profundamente, sabemos ser verdadeiro e justo?

domtotal.com.br 

sábado, março 21, 2015

Não dá para viver no mais ou menos

“Deixemos que Deus nos encha da Sua bondade e misericórdia”. Papa Francisco


Leituras do Dia
1ª Leitura - Jr 11,18-20
Salmo - Sl 7, 2-3. 9bc-10. 11-12 (R. 2a)
Evangelho - Jo 7,40-53


Prego esperança e vida, mas não posso deixar de dizer que, na Sagrada Escritura e no Catecismo da Igreja Católica, também consta que, qualquer pessoa, ao realizar uma reforma em sua casa, deve pegar os entulhos, a sujeira, as coisas velhas e estragadas e colocá-las para fora. O que é velho é velho, o que é estragado é estragado, o que é sujo é sujo, e devem ser descartados para que possa ser feito algo novo. Não é possível ter o bem misturado com o mal, porque este acaba contaminando aquele. Além de expulsar satanás e seus anjos rebeldes, Deus destruirá o pecado e toda a sujeira deste mundo.

As pessoas que querem viver uma vida “mais ou menos”, um Cristianismo livre, sem compromisso, vivendo a vida por viver, abalam-se quando ouvem falar que Deus realizará tudo isso, porque, ao se firmarem no “mais ou menos” nunca querem avançar e nunca querem a santidade. Não estão dispostas a fazer sacrifícios nem romper com o pecado. Querem ser de Deus, mas vivendo no pecado. Gostariam de uma vida nova, mas com tudo da vida velha. Não, isso não dá!

Quando lhes são reveladas as verdades da Bíblia, a verdade que é Verdade, as pessoas se assustam e buscam justificativas e desculpas para sua pouca fé. Mas o nosso Deus não é um Deus de desculpas. Ele é o Senhor que cumprirá Suas promessas. É isso que aguardamos d’Ele, é por isso que lutamos. Gastamos a vida, investimos, evangelizamos para valer, porque acreditamos numa humanidade nova e temos a certeza de que isso é verdade da Bíblia, doutrina da Igreja.

Seu irmão,

Monsenhor Jonas Abib
Fundador da Comunidade Canção Nova

cancaonova.com

sexta-feira, março 20, 2015

O sentido da Quaresma em São Leão Magno

Leituras do Dia
1ª Leitura - Sb 2,1a.12-22
Salmo - Sl 33, 17-18. 19-20. 2l.23 (R. 19a)
Evangelho - Jo 7,1-2.10.25-30

Leão Magno dirigiu a Igreja por mais de 20 anos(440-461) de modo que marcou a vida eclesial e social de seu tempo e de toda a vida da Igreja. O Concílio de Calcedônia, realizado em 451, ocorreu em seu tempo de Bispo de Roma e Papa da Igreja Católica, aonde definiu que Jesus Cristo é de natureza divina e humana na única Pessoa do Verbo de Deus na carne. As duas naturezas se completam entre si de modo que as características das mesmas são levadas em consideração numa só Pessoa, um só Verbo, Jesus Cristo, o Filho de Deus. A Carta de Leão Magno, de número 28, enviada para o Concílio de Calcedônia foi muito apreciada pelos bispos participantes do evento eclesial. Ele também escreveu diversos sermões sobre os tempos litúrgicos e entre esses temos os sermões sobre a Quaresma. Analisemos pelos menos alguns dos mesmos.

1. Proximidade da solenidade Pascal
Leão Magno escreveu bem próximo à Páscoa, solicitando de seus féis o jejum para a santificação do corpo e da alma no tempo quaresmal. Ele afirma que nós devemos nos preparar com tal observância para nos encontrar mortos em sua paixão, com o Senhor em cuja ressurreição somos também ressuscitados. No entanto a nossa participação na morte de Cristo Jesus solicita a superação do passado, das coisas que fomos, a vida anterior, para despojar-se dos vícios da carne, rejeitar as imundícies do pecado para resplandecer com a veste das virtudes. Todos os fiéis são chamados à conversão de vida. Ninguém deve demorar-se no tempo mas apressar-se para acolher o dom da misericórdia quem vem de Deus pois Ele não tem prazer com a morte do ímpio, mas que se converta e possa viver bem (cfr. Ez 33,11).

Ele quer a universalidade dos féis para assumir gestos de conversão. O esforço é coletivo no sentido que o vigor e a energia apaguem a mancha do pecado que fere o intimo das pessoas, obscurecendo o vigor da alma. Ele diz que as pessoas não podem se desesperar diante de um ideal de uma vida de pureza, de doação, porque Cristo Jesus caminha com o seu povo.

O Papa Leão interpreta a frase que nós rezamos no Pai-Nosso: Perdoa as nossas dívidas, como também nós perdoamos aos nossos devedores(cf. Mt 6,12). Dessa forma ninguém é tão santo que não necessita da remissão de algum pecado. A pessoa pede a Deus Pai o perdão de seus pecados e ao mesmo tempo é chamado a perdoar ao seu semelhante. Deve-se experimentar a bondade de Deus que sempre perdoa aos pecadores e as pecadoras, e ao mesmo tempo a pessoa é chamada a perdoar os outros. Quem experimenta a misericórdia de Deus perceberá a fragilidade dos bens deste mundo, para se aquecer dos bens celestiais e do amor de Deus. O frio se transformará em calor, a noite mudará em luz porque como o Espírito Santo ilumina as pessoas por ações boas, expulsará as trevas da almas dos féis, pela destruição dos seus pecados.

Em uma de suas homilias fala de obedecer aos mandamentos celestiais, de modo que todo o sacramento pascal foi instituído para a remissão dos pecados. Ora o perdão deve ser dado ao próximo, para assim servir a amar as pessoas na pessoa de Jesus Cristo. Neste sentido é preciso assumir o espírito da doação com alegria de modo a viver a misericórdia do Senhor em nossas vidas.

2. Todos são chamados à misericórdia
O Papa convida os fiéis a viver bem o tempo litúrgico da quaresma para assim experimentar mais concretamente a graça da misericórdia de Deus que convida todo o ser humano a assumi-lo mais intensamente. Se ao longo do ano a renovação interior é dada pelas obras e dons diversos, no tempo quaresmal tudo pode ser celebrado de uma forma conjunta. A aproximação da Páscoa do Senhor convida os fiéis a fazer obras de caridade, porque ninguém é tão santo que não precise se santificar ainda mais pela graça do tempo litúrgico, ou ainda ninguém é tão piedoso que não necessite ainda mais de piedade, de vida de oração. Quem estaria isento de tentação ou livre de culpa? Quem não gostaria acrescentar algo na virtude ou de suprimir algo no âmbito do pecado? Ora se existem ciladas na abundância das riquezas e ciladas nas angústias da pobreza, é preciso ações de vida para viver a virtude e a caridade.

Leão Magno fala que o caminho que conduz para a vida verdadeira é estreito e difícil, porque como Jesus diz muitos são aqueles e aquelas que freqüentam o caminho largo que conduz à morte. Enquanto inumeráveis são os que procuram as coisas visíveis, raros são aqueles e aquelas que antepõem os bens eternos aos terrestres. Assim o caminho das virtudes é secreto, escondido, porque a salvação é objeto de esperança(cfr. Rm 8,24), na expressão do Apóstolo São Paulo. Enquanto a pessoa está neste mundo pode adoecer neste corpo, se suja na poeira e ainda que a pessoa viva as coisas deste mundo não como fim, mas sempre como meio para assim chegar, um dia, à unidade com Deus. Os bens deste mundo passam de modo que é preciso fixar-se nas promessas divinas.

3. O tempo propício
A graça de Deus se dá no tempo atual: a quaresma é tempo propício de fazer o bem e engrandecer o Reino de Deus. A outorga pela fortaleza nos dias atuais adquire-se hábitos duráveis. É preciso empreender obras boas que vencem o tentador que enganou o ser humano mas que é vencido pelo poder da cruz, da morte redentora de Cristo Jesus pela salvação de todo o gênero humano. Nem o pecado pessoal, nem o pecado original, diz Leão são obstáculos às pessoas em vista de suas superações, porque a justificação não é atribuída aos méritos humanos, mas pela liberalidade da graça em Cristo Jesus. Aqueles e aquelas que caíram nas armadilhas de suas mentiras, podem se lavar nas lágrimas da penitência, das portas da reconciliação de modo a serem de novo admitidos e admitidas aos remédios da reconciliação que vem de Deus Uno e Trino. A graça é dada para as pessoas que queiram voltar ao Senhor e aos irmãos e as irmãs, na vida da comunidade.

A misericórdia de Deus estabeleceu em seus mandamentos um espelho para a contemplação clara em vista da contemplação da própria alma e reconhecer até que ponto o rosto anda em conformidade com a imagem de Deus para assim rejeitar as ocupações inquietantes e nos dirigir nos dias de nossa redenção e de nossa renovação, das coisas da terra para as coisas do céu.

A misericórdia divina, diz Leão Magno é dada neste período também pelo perdão dos pecados devido as ofensas dos outros de modo que os sentimentos de vingança não falem mais alto que os sentimentos de perdão para assim receber de Deus Pai o perdão das faltas cometidas, para que assim nós também perdoamos as pessoas que nos ofenderam. Em todas as casas, igrejas haja a graça do perdão dos pecados. Dessa forma a festa pascal terá o seu devido sentido para as pessoas, porque houve restabelecimento da paz fraterna, na superação das discórdias e dos ódios entre as pessoas, familiares, comunidades. Deus será glorificado pela vida nova assumida pelos seus fiéis aonde os pecados foram lavados pelo batismo, pelas lágrimas da penitência e também apagados pelas esmolas, obras de caridade para com os mais necessitados, porque realizadas em unidade com o Senhor Jesus Cristo.

Conclusão
São Leão Magno colocou alguns pontos para uma vivência mais apropriada ao tempo litúrgico que é a Quaresma. Ele teve presente o jejum, a prática de boas obras para com as pessoas, a caridade sobretudo aos mais necessitados, a vivência do perdão como graça de Deus e como missão no sentido de concedê-lo aos outros, e a necessidade da oração para viver a alegria do encontro com Deus. A aproximação da Páscoa do Senhor estimule-nos à vivência do amor a Deus, ao próximo como a si mesmo em vista do engrandecimento do Reino de Deus.
Dom Vital Corbellini
Bispo de Marabá (PA)

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quinta-feira, março 19, 2015

19 de março - SÃO JOSÉ

José, a quem foram confiados os mistérios da salvação

Solenidade de São José, esposo de Maria

2Sm 7,4-5.12-14.16; Rm 4,13.16-18.22; Mt 1,16.18-21.24

Com respeito, carinho e grande veneração nos aproximamos da figura de José, o esposo da Virgem Maria. A esse descendente da casa de Davi foram confiados os mistérios da salvação.

>> José era da linhagem de Davi. Certamente, ele e sua família carregavam em seu bojo o santo orgulho de pertencerem a uma nação “mimada” pelo amor do Senhor fiel. Estava ele, certamente, todo impregnado das promessas feitas aos seus antepassados e esperava a vinda do desejado das colinas eternas, o Messias.

>> Num determinado momento de sua caminhada a esse José, carpinteiro, é prometida Maria como esposa. Ele vai, ingressa na instituição chamada família, na tradição de Israel, guardava as tradições religiosas do povo. Precisamente neste espaço se guardavam as promessas feitas aos pais da fé.

>> As Escrituras nos dizem que ele foi se acercando de Maria e, no começo, não entendeu o que acontecia. Estava grávida aquela que lhe fora prometida como esposa. O Senhor fez com que José compreendesse que uma missão especial lhe seria confiada e que precisava acolher a esposa que lhe fora prometida: “José, filho de Davi, não tenhas medo de receber Maria como tua esposa, porque ela concebeu pela ação do Espírito Santo. Ela dará à luz um filho e tu lhe darás o nome de Jesus, pois ele vai salvar o povo de seus pecados”.

>> Maria, a toda bela, a transparente, aquela que desde o início de sua vida fora preservada da desordem, aquela que veio para fazer a vontade do Pai, aquela que guardava todas as coisas no fundo do coração fora convidada a acolher a vida de uma criança gerada nela à sombra do Espírito, Maria, esposa do Espirito e belíssima companheira de José. Belo o título desse homem: José, esposo da Virgem Maria.

>> A casa de Nazaré acolhe o mistério do Deus altíssimo que se torna carne. A criança que nasce de Maria, que precisa de leite, de pão, de atenções, de cuidados será objeto das atenções de José que chamamos de Pai nutrício do Filho de Deus feito carne. José será o homem da ação de todos os dias e da ininterrupta contemplação dos adoráveis mistérios de Deus.

>> Ele é o servo fiel e prudente: “Sendo ele um homem justo, vós, ó Deus, o destes por esposo à Virgem Maria, Mãe de Deus, e o fizestes chefe da vossa família para que guardasse, como Pai, o vosso Filho único concebido do Espírito Santo, Jesus Cristo, Senhor nosso” (Prefácio de São José).
Frei Almir Guimarães


Oração a São José

Anuncia, ó José,
ao teu antepassado Davi
as maravilhas:
tu que viste a Virgem dar à luz,
tu que adoraste com os reis magos,
tu que glorificaste com os pastores,
tu que foste instruído pelo anjo
suplica a Cristo-Deus,
para que salve as nossas almas!

da Liturgia Bizantina


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quarta-feira, março 18, 2015

Meu Deus, perdão!

Leituras do Dia

Meu Deus, perdão, perdão, perdão por ser morno, perdão por minha covardia, perdão por minha dissipação, perdão por meu orgulho, perdão pelo apego à minha própria vontade, perdão por minha fraqueza e minha inconstância, perdão pelas desordens de meus pensamentos, perdão por tantas vezes me esquecer que estou em tua presença. Perdão por todas as minhas faltas, todas as faltas de minha vida, de modo particular as que cometi depois de minha conversão.
Charles de Foucauld

Que bom podermos jogar no Senhor o peso de nossas faltas, nossa vida medíocre, nossos trabalhos feitos pela metade, essa vida de cristãos sem fogo e sem chama, esse casamento banal, essa família consumista e sem viço. Esperamos que o Senhor renove nossa vida e nos arranque de nossas rotinas mortais.

www.franciscanos.org.br


terça-feira, março 17, 2015

Eu vim para servir

Leituras do Dia
1ª Leitura - Ez 47,1-9.12
Salmo - Sl 45, 2-3. 5-6. 8-9 (R. 8)
Evangelho - Jo 5,1-16

 
A Campanha da Fraternidade deste ano de 2015 tem como lema “Eu vim para servir”, expressão tirada da palavra de Cristo registrada por São Marcos em seu evangelho: “Eu vim para servir e não para ser servido” (Mc 10, 45).

Toda pessoa humana se realiza pela prática do bem, da generosidade, da misericórdia. Servir gratuitamente vale mais que qualquer remuneração material. O contrário seria culto ao egoísmo e à ganância, o que não dignifica a ninguém. Também a Igreja quer ser servidora, solidária e só se realiza com a prática destas virtudes, pois assim lhe ensinou seu fundador, Jesus. Em que a Igreja quer servir? Em tudo aquilo que dignifica a pessoa humana, em tudo aquilo que leve o planeta e a raça humana serem melhores, mais conformes ao plano do Criador.

Um dos problemas ameaçadores da humanidade hoje é o cuidado com a ecologia. Vivemos num planeta cada vez mais complicado com certas situações, pois o próprio ser humano, que deveria cuidar muito bem de seu habitat natural, coloca-o em risco de sobrevivência. A natureza se compõe de muitos elementos que convivem harmoniosamente, como um jardim de muitos matizes que se completam de forma equilibrada, resultando na formação da beleza natural que encanta e emociona. A imagem do jardim do Éden, descrito no livro do Gênesis, traduz esta realidade harmoniosa entregue pelo Criador ao homem e à mulher. Porém, submissos ao pecado, ao invés de cuidar amorosamente do seu espaço, o ser humano faz queda no egoísmo, e coloca em risco a criação.

Na realidade atual, os cientistas têm alertado, com frequência, a respeito do aquecimento global, sobre o efeito estufa, sobre as mudanças climáticas, afinal sobre o novo comportamento da natureza. O ser humano não é apenas usuário da natureza, nem só seu desfrutador, mas é parte integrante e como tal é parte interessada. Porém, com ele, todo o sistema é também todo ele interessado. Quando faltam condições de vida, faltam-nas para as pessoas, para os animais, para os vegetais, afinal, para o planeta.

Tais preocupantes mudanças experimentadas, sobretudo de 30 anos para cá, têm causado situação realmente alarmante. As causas são muitas, porém as mais graves são as antropológicas. A pessoa humana tem utilizado mal os recursos naturais. Porque não sabe? Não, propriamente. A maioria das pessoas sabe que respeitar a natureza é algo necessário, bom e indispensável para que se possa viver bem. Porém, há um fator inebriador, massificante da consciência que é a sede de lucro. Um provérbio latino cabe bem aqui: Auri Sacra Fames. De fato, a fome execranda do ouro ilude a mente humana e embota o espírito. Por causa do dinheiro fácil e volumoso, desmatam-se florestas, sem recompô-las, ajuntam-se lixos nos lixões que produzem gases entorpecentes e líquido venenoso agredindo o ar, as águas, matando os pássaros, os peixes, as árvores e causando danos ao ser humano direta e indiretamente. A poluição das chaminés, dos canos de descarga dos veículos e outros elementos poluentes continuam envenenando a atmosfera produzindo danos ao planeta.

A Campanha da Fraternidade conclama a todos para um grande mutirão de serviço global, ou seja, propõe união inteligente para vencermos juntos nossos problemas comuns. Quer ser a voz dos que crêem em Deus, Pai - Criador, e a partir da Palavra revelada, deseja prestar um serviço à pessoa humana alertando, formando, despertando as consciências para dizer que ainda é tempo de salvar a natureza, e proteger o planeta para que este continue sendo um lugar de vida e não uma ameaça de morte.

Servir é também semear esperança e convidar para a ação positiva que se dará por uma movimentação educativa, a fim de que os homens e as mulheres saibam cuidar melhor do jardim de Deus oferecido gratuitamente a todos nós.

Dom Gil Antônio Moreira
Arcebispo de Juiz de Fora (MG) 
 
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segunda-feira, março 16, 2015

Confessar-se

Leituras do Dia
1ª Leitura - Is 65,17-21
Salmo - Sl 29, 2.4. 5-6. 11.12a.13b (R.2a)
Evangelho - Jo 4,43-54


A Quaresma é tempo de confessar-se. A confissão é uma maravilhosa oportunidade para curar o coração, a alma e o mal cometido. O sacramento da confissão, também chamado de Penitência ou Reconciliação, precisa ser celebrado assiduamente. Somos todos pecadores e, se não reconhecemos os nossos pecados, não poderemos alcançar o perdão de Deus.

O nosso pedido de perdão não é um simples pedido de desculpas. É estar consciente do pecado praticado. Pois, Deus perdoa sempre, mas requer também nosso perdão. Não perdoar é fechar a porta do coração ao perdão de Deus. Essa porta deve estar sempre aberta para o perdão de Deus entrar e a fim de podermos perdoar os outros. 

O pecado é uma ofensa a Deus; somente Ele pode perdoá-lo! Jesus, que é Deus, tem o poder de perdoar os pecados: “O Filho do homem tem o poder de perdoar os pecados sobre a terra” (Mc 2,10). Este poder, ele concedeu à Igreja, para que o exerça em seu nome: “Tudo isso vem de Deus, que nos reconciliou consigo por Cristo e nos confiou o ministério da reconciliação” (2Cor 5,18); “Em verdade vos digo: tudo quanto ligardes na terra será ligado no céu e tudo quanto desligardes na terra será desligado no céu” (Mt 18,18).

Estes textos bíblicos são claros: o Cristo, único que pode perdoar os pecados, deu à sua Igreja o poder de perdoar os pecados em Seu nome. É importante compreender que o padre não é dono do sacramento da reconciliação, é servidor, ministro: ele somente pode perdoar em nome de Cristo e da Igreja. Então, não pode extrapolar o poder à autoridade que a Igreja lhe concedeu. Os confessores e penitentes estão sujeitos à lei do sigilo sacramental.

O pecado provoca sempre uma ferida não só em nós mesmos, mas também em todo o Corpo de Cristo, que é a Igreja. Assim, o perdão nos restitui a amizade de Deus, a sua graça em nós, dando-nos a verdadeira paz interior.

O Papa Francisco nos ensina, com simplicidade e clareza: “Alguém poderá dizer: ‘Eu me confesso diretamente a Deus’. Sim, tu podes dizer a Deus: ‘Perdoa-me’, e dizer a ele teus pecados. Mas nossos pecados são também contra os nossos irmãos, contra a Igreja, e por isso é necessário pedir o perdão à Igreja e aos irmãos, na pessoa do sacerdote. ‘Mas, padre, tenho vergonha! Também a vergonha é boa, é ‘saudável’ ter um pouco de vergonha.” (Audiência na Praça de São Pedro, 19/02/2014). Ele tem convocado a Igreja no mundo inteiro a dedicar 24 horas ininterruptas ao Senhor nos dias (sexta-feira e sábado) que antecedem o Domingo da Alegria, o IV Domingo da Quaresma. Então, todas as Dioceses, paróquias e comunidades de fiéis são chamadas para a oração e confissão nas "24 horas para o Senhor". Ele mesmo tem dado sinais da importância da Confissão para nossas vidas.

Na Diocese de Guarabira, na V Semana da Quaresma, de 23 a 27 de março de 2015, acontecem os mutirões de confissões por Regiões Pastorais. Os sacerdotes se reúnem, vez por vez, em cada paróquia, incluindo aí todas as suas comunidades, para que todos os sacerdotes dessa área atendam as confissões ao maior número de fiéis. Vamos nos dedicar, com grande empenho, no atendimento das confissões. Aproveitemos dos “mutirões de confissão” e confessemos os nossos pecados sem julgar ninguém. Lembre-se: “Quem sou eu para julgar”? Que o Senhor nos dê a graça de ver nossos pecados, reconhecê-los humildemente e confessá-los sinceramente, para celebrarmos verdadeiramente a Páscoa que se aproxima.

Dom Francisco de Assis Dantas de Lucena 
Bispo de Guarabira (PB)

cnbb.org.br

domingo, março 15, 2015

4o Domingo da Quaresma - "Salvos pela graça"

Leituras do Dia
1ª Leitura - 2Cr 36,14-16.19-23
Salmo - Sl 136,1-2.3.4-5.6 (R. 6a)
2ª Leitura - Ef 2,4-10
Evangelho - Jo 3,14-21


I INTRODUÇÃO GERAL

Somos salvos por iniciativa de Deus. Sua graça, um favor imerecido, alcança-nos, transformando nossa condição. Em Cristo, e somente por causa dele, saímos da condição de mortos pelos pecados e passamos à condição de homens e mulheres plenificados pela vida. É verdade que muitos agem de forma inconsequente e infiel a Deus, até mesmo pensando que, por causa disso, ele se afastaria de nós. Mas devemos sempre nos lembrar de que as misericórdias de Deus se renovam a cada manhã, possibilitando-nos, assim, viver sob nova perspectiva.


II COMENTÁRIOS AOS TEXTOS BÍBLICOS

1. I leitura: 2Cr 36,14-16.19-23

A primeira leitura nos mostra que Deus não abandona seu povo. O amor de Deus é oferta gratuita que atinge o ser humano de dentro para fora e o transforma completamente. Deus nos ama porque ele é bom, e não porque haja em nós a mesma bondade.

O texto de 2 Crônicas parece dizer com todas as cores que grande parte da população não caminhava segundo o coração de Deus: “as autoridades, os sacerdotes e o povo aumentaram os crimes que cometiam” (36,14). A prática da maldade era para eles corriqueira. A violência estava em suas mãos e, consequentemente, a luz vermelha se acendeu. Javé enviou mensageiros e profetas, mas de nada adiantava. A consciência deles havia se cauterizado. Uma tragédia se avizinhava, porque as pessoas deixavam o projeto de Deus e seguiam os desejos do próprio coração. O exílio para a Babilônia seria inevitável, porque “a ira de Javé contra seu povo chegou a tal ponto que não houve mais remédio” (v. 16).

O exílio viria, certamente. Mas ele não significava a derrocada da esperança. Existe, sim, esperança para o povo. O coração de Javé gera eternamente a esperança: “Javé, cumprindo o que tinha dito por meio do profeta Jeremias, despertou a consciência de Ciro, rei da Pérsia […]. Ele me encarregou de construir um templo em Jerusalém […] todos os que pertencem a esse povo e vivem entre nós podem voltar para lá. E que Javé, seu Deus, esteja com eles”. 

2. II leitura: Ef 2,4-10

Na carta aos Efésios podemos observar a mudança radical provocada pela presença de Deus. Nos vv. 1-4, relata-se a vida entregue aos instintos egoístas e tomados pela falta de esperança. No entanto, após a descrição que demarcava espaços de morte, o v. 4 se inicia com palavras que indicam esperança: “Deus, porém…”. Nunca tão poucas palavras fizeram tanta diferença para alterar o rumo da história da humanidade. Deus é apresentado como rico em misericórdia, amor, favor e bondade. O texto é muito claro nesse sentido: a iniciativa pertence a Deus e sua ação misericordiosa atinge a todas as pessoas indistintamente, tanto ontem quanto hoje.

Jesus é a personificação do amor do Pai levado às últimas consequências. Pode-se dizer, portanto, que a salvação de Jesus é para todas as pessoas, porque Deus enviou seu Filho ao mundo não com o supremo propósito de condená-lo, e sim de salvá-lo. O projeto de Deus em Jesus tem por objetivo erradicar as forças do sofrimento, da injustiça, do pecado e da opressão para criar canais que comuniquem vida em plenitude. Por isso, todos os caminhos que tomamos e que vão contra a vida, negando-a, não pertencem absolutamente a Cristo.

3. Evangelho: Jo 3,14-21

Estamos diante da primeira proclamação que Jesus faz a seu próprio respeito no Evangelho de João. Todavia, há necessidade de pensar numa proclamação delimitada pelas relações luz versus trevas e prática de verdade versus ações más. São relações de oposição e que, por isso mesmo, se distanciam. Nesses polos opostos é que nos inserimos ou não. Vinculamo-nos a um ou a outro, jamais negando os dois. Trata-se das convicções externadas pela primeira comunidade a respeito de Jesus. As convicções trazem o desafio da decisão: viver na luz ou viver nas trevas; praticar a verdade ou gestos de maldade. Praticamos a verdade ou a maldade sempre em relação aos outros. Vivemos em sociedade e somos seres relacionais. Toda ação má e injusta possui um alvo certo. Ações injustas provocam vítimas e causam sofrimento. Nelas não há qualquer sombra de vida, mas, sim, a intensidade e a densidade da morte. Aqueles que agem maldosamente somente podem sobreviver porque produzem vítimas, isto é, sobre o corpo das vítimas é que se edificam.

O v. 19 esclarece bem que nossos comportamentos não são previamente definidos por qualquer força externa. Decidimos conforme nossos interesses e dos grupos dominantes da sociedade: “A luz veio ao mundo, mas as pessoas preferiram as trevas em lugar da luz”. Nega-se a luz para viver nas trevas e, assim, negar a vida às outras pessoas. Odeia-se a luz e, ato contínuo, odeiam-se também as pessoas. Quem odeia a luz transforma os outros em seu inferno. Nesse caso, meu inferno sempre é o outro e, por isso, deve ser combatido, isolado, vencido e vitimizado. Jesus foi enviado por Deus para que todas as pessoas tenham vida. O texto de João é exemplar, lemos no v. 16: “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu seu único Filho para que tenham a vida eterna”. Jesus não foi enviado para condenar o mundo, mas para salvá-lo. É possível dizer que, em seu projeto de pleno amor, Jesus não olhava primeiramente para o pecado das pessoas, e sim para o seu sofrimento.

Salvos pela graça. Somente a abundante graça de Deus é que pode recriar quem somos e para onde vamos. A mensagem fundamental das três leituras percorre o mesmo caminho: por maiores que possam ser as infidelidades do ser humano, é possível confiar absolutamente na misericórdia de Deus. Se na primeira leitura o autor interpreta a história do exílio para a Babilônia e a consequente volta dos deportados, a segunda leitura, de Efésios, acrescenta o motivo especificamente cristão: “Estando nós mortos pelos pecados, nos fez viver com Cristo – por pura graça sois salvos –, nos ressuscitou com Cristo Jesus e nos assentou no céu com ele”.

A gratuidade nem sempre é bem-vista numa sociedade que põe preço em tudo. A prática do serviço desinteressado é vista com desconfiança. Sempre pensamos qual vantagem a pessoa deseja obter. Por que tudo precisa ser remunerado? Por que somente possuem valor as ações que recebem uma etiqueta com o preço devido? Devemos pensar a gratuidade na dimensão de nossas relações constitutivas com os irmãos e irmãs e com Deus. Devemos compreender que somos todos irmãos, e o significado mais pleno e acabado dessa compreensão é que fomos todos – sem exceção – gerados no mesmo seio materno. Consequentemente, contraímos a dívida do amor mútuo. Os textos bíblicos são exemplares em afirmar e reafirmar essa dimensão. E o apóstolo Paulo indica belo caminho prático: “Que o amor fraterno os preencha de afeto uns para com os outros” (Rm 12,10).

Não há necessidade de ficar esperando a fim de receber o afeto de outra pessoa. Faz-se necessário sair de nossas zonas de conforto e ir ao encontro dos outros. Nesse sentido, sempre nos cabe o primeiro passo. “Assim como Moisés levantou a serpente no deserto, é preciso que o Filho do homem seja levantado, para que todos os que crerem tenham nele a vida eterna”.

III. PISTAS PARA REFLEXÃO

– Quais alterações a presença de Deus provoca em nós? Devemos nos pensar à luz dessa questão, ou seja, não podemos permanecer do mesmo jeito, com os mesmos projetos e valores, fazendo sempre a mesma coisa, se nossa vida foi marcada pela presença de Deus.

– Existe um “porém” de Deus. Somos limitados e provisórios, além de vivermos em uma sociedade altamente complexa. Às vezes parece que não há qualquer saída para os muitos perigos que vivemos. Nesse caso, a esperança parece nos faltar e permanecemos em verdadeira crise de fé. Os textos de hoje nos recordam que podemos pôr toda nossa esperança em Deus. Em cada um de nós, Deus depositou um “porém” que nos faz resistir aos dias maus.

Luiz Alexandre Solano Rossi
Doutor em Ciências da Religião pela Universidade Metodista de São Paulo (Umesp) e pós-doutor em História Antiga pela Unicamp e em Teologia pelo Fuller Theological Seminary (Califórnia, EUA). É professor no programa de Mestrado e Doutorado em Teologia da PUCPR. Publicou diversos livros, a maioria pela PAULUS, entre os quais: A falsa religião e a amizade enganadora: o livro de Jó; Como ler o livro de Jeremias; Como ler o livro de Abdias; Como ler o livro de Joel; Como ler o livro de Zacarias; Como ler o livro das Lamentações; A arte de viver e ser feliz; Deus se revela em gestos de solidariedade. E-mail: luizalexandrerossi@yahoo.com.br

icatolica.com

sábado, março 14, 2015

"Rasgai o coração"

Leituras do Dia
1ª Leitura - Os 6,1-6
Salmo - Sl 50, 3-4. 18-19. 20-21ab (R. Cf.Os 6,6)
Evangelho - Lc 18,9-14

Muitas reformas necessárias para superar os problemas demandam a mudança do próprio coração.

Esta é uma clamorosa convocação proclamada pelo profeta Joel em época remota, há cerca de 400 anos antes de Cristo. O clamor do profeta é um apelo que indica o caminho para se vencer as pragas. Hoje, ainda que não acolhida pela vivência da religiosidade, é oportuno ouvi-la e compreendê-la como interpelação para enfrentar as crises que estão desarrumando o funcionamento da sociedade. Particularmente, é importante escutá-la quando se chega à conclusão de que a maior crise na atualidade é a de confiança. A credibilidade está em baixa, em razão de posturas e práticas adotadas na esfera privada e no inadequado tratamento do que é de domínio público. É hora de um recomeço, que é complexo e altamente exigente. Esse processo exige a indispensável ação e posicionamentos de lideranças, para que se alcance um novo tempo pela força da credibilidade que cada cidadão precisa prezar. Ser digno de confiança é o aspecto mais honroso da vida particular, profissional e cidadã.

As muitas reformas necessárias para superar os graves problemas enfrentados pelo país demandam a mudança prioritária e urgente do próprio coração, que é referência simbólica da confluência da racionalidade e dos sentimentos. O coração é lugar da produção e da manutenção de uma consciência pautada em valores cidadãos, no gosto pelo altruísmo e no mais nobre sentido de respeito ao outro. A incompetência humanística de lideranças e a falta de densidade espiritual são os mais desafiadores obstáculos que impedem a recuperação da confiança.

A mesquinhez de se priorizar o atendimento de interesses cartoriais, a estreiteza dos egoísmos, a busca do lucro e da acumulação de riquezas sem parâmetros éticos produziram processos de desumanização que agora não são fáceis de serem revertidos. Sem a recuperação da confiança, alicerçada na verdade das ações e na reverência pela justiça, de nada adiantará a operação de um conjunto, mesmo significativo, de reformas. As mudanças precisam ser precedidas e acompanhadas pela reforma do coração. “Rasgai o coração” precisaria se tornar uma “onda” que leva a um despertar novo da consciência. Um movimento que deveria envolver, inicialmente, os mais altos dirigentes, os ocupantes de cargos representativos, os formadores de opinião e os que têm papel mais decisivo na construção da sociedade. Essa “onda” deve incluir o cidadão simples, que paga o preço mais alto por tudo o que está na raiz da falta de confiança.

A crise de credibilidade envenena os funcionamentos de instituições diversas e desestabiliza as relações interpessoais. Trata-se de um sério problema que não se enfrenta sem a recuperação da competência humanística e também espiritual. A carência dessa qualificação leva às escolhas equivocadas que impedem a sociedade de funcionar nos parâmetros da verdade e da justiça. É hora de fixar o olhar não apenas nas dinâmicas viciadas em tantos segmentos, setores e instâncias. É urgente e prioritária uma reconfiguração do sentido mais profundo que rege o coração.

“Rasgar o coração” é prática que sempre se começa por uma escuta mais atenta e permanente dos clamores dos mais pobres. É inadiável o exercício de reconhecer e buscar superar as muitas misérias, todas produzidas pela falta de cidadania. Trata-se de tarefa capaz de gerar novas lideranças. “Rasgai os corações” é convocação e também um alerta. Indica que eventuais novas estruturas e funcionamentos, se não forem alcançados sem a geração interior e pessoal de novas atitudes, mais cedo ou mais tarde, se tornarão também corruptos, pesados e ineficazes.

É hora de ouvir o clamor dos mais pobres. Estamos todos desafiados a enfrentar a crise de credibilidade com novas respostas, particularmente com um discurso político que não seja paliativo. A sociedade na qual estamos inseridos estampa a vergonha de uma generalizada falta de envergadura moral e solidária. Um mal que cria o ambiente propício para sermos, cedo ou tarde, as próprias vítimas de alguma praga. O alcançar de um novo tempo tem como ponto de partida o convite: Rasgai o coração!

Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte,

domtotal.com.br

sexta-feira, março 13, 2015

#24horasparaoSenhor: Dioceses brasileiras abraçam iniciativa do Papa Francisco

HOJE, APÓS A MISSA DAS 18:30, VIA SACRA PELAS RUAS DA COMUNIDADE

Rio de Janeiro, 13 Mar. 15 / 07:00 am (ACI).- A iniciativa “24 horas para o Senhor”, proposta pelo Papa Francisco, será vivenciada pelas igrejas em todo o mundo nesta sexta-feira e sábado, dias 13 e 14 de março. Para incentivar um momento especial de perdão e oração em preparação para a Semana Santa e terá como tema de reflexão “Deus é rico em misericórdia” (Efésios 2,4). A iniciativa, que contará com a hashtag #24horasparaoSenhor, propõe 24 horas de orações e atendimento de confissões nas igrejas e comunidades.

O Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização informou que se quis celebrar novamente esta iniciativa de “24 horas para o Senhor” depois do imenso sucesso que teve em 2014, quando foi realizada pela primeira vez nos dias 28 e 29 de março. Este ano, o tema que orientará a reflexão será “Deus rico em misericórdia (Ef 2,4)”.

Em Belo Horizonte (MG), as igrejas estarão de portas abertas, para oferecer aos fiéis a possibilidade de receberem o sacramento da Confissão. No Santuário Arquidiocesano de Adoração Perpétua, na Paróquia Nossa Senhora da Boa Viagem, além da Adoração Eucarística, diversos padres estarão disponíveis para o atendimento de confissões, em tempo integral, entre 18h do dia 13 de março, sexta-feira e 18h do dia 14 de março, sábado.

Em São Paulo, na Catedral da Sé será feito um mutirão de atendimentos de Confissões nesta sexta-feira, 13, das 7h às 21h. Ao longo do dia, haverá, ainda, adoração eucarística permanente e missas às 9h, 12h e 17h. No Rio de Janeiro, a Arquidiocese de São Sebastião realizará confissões e adoração ao Santíssimo em eventos em cada um dos vicariatos: Jacarepaguá, Urbano, Leopoldina, Oeste, Norte, Santa Cruz, Suburbano e Sul.

O Santo Padre presidirá a liturgia penitencial em São Pedro, colocando o sacramento da reconciliação no centro do caminho da nova evangelização de toda a Igreja.

“Podemos rezar na comunhão da Igreja terrena e celeste. Não subestimemos a força da oração de muitos! A iniciativa 24 horas para o Senhor pretende dar expressão a esta necessidade da oração”, afirmou o Papa Francisco, em sua Mensagem para a Quaresma.






acidigital.com

quinta-feira, março 12, 2015

Quaresma é o que pra você?

Leituras do Dia
1ª Leitura - Jr 7,23-28
Salmo - Sl 94, 1-2. 6-7. 8-9 (R. 8)
Evangelho - Lc 11,14-23


Quaresma é o que pra você? Desde que começou a quaresma tenho ouvido frases do tipo: É... a quaresma ta chegando! Preciso conseguir pecar menos! Ou... qual é o sacrifício que eu vou fazer? Ou tipo assim: Menino não faz isso que estamos na quaresma. Essas frases me fizeram pensar um pouco a cerca da imagem de Deus que possuímos. Sim! Porque a quaresma deve ser um tempo especial de misericórdia. De graça! Onde entramos com Cristo no deserto, para com Cristo, por Cristo e em Cristo vencermos a tentação. Tempo de meditação na paixão do Senhor e no seu amor por nós. A ascese própria desse tempo deve ser marcada pela caridade e pela busca de dar a primazia de Deus em tudo. Porém isso não se trata de uma compra. Não estou negociando com Deus! Não estou comprando meu céu com nada disso! Nem muito menos pagando minhas contas ou diminuindo minhas dividas. Minhas dividas com Ele só crescerão até o ultimo dia de minha vida e a unica coisa capaz de paga-las é o sacrifício do filho na cruz. E por mais que eu lute e me esforce minhas ações sempre serão manchadas pelo pecado. Minha luta se trata do esforço para ama-lo como ele me ama! E desejar isso sabendo que só ele pode realizar isso em mim. O que diria então? Pequemos? De modo algum, mas entendamos que a graça de Deus e a meditação de sua paixão bem como a caridade e a oração são o centro. E não a busca de nossa própria perfeição que na verdade se trata de uma ilusão. Já que a mesma só poderá ser realizada pela graça de Deus. Nos desafia muito mais saber que dependemos verdadeiramente do Senhor pra tudo! Do que pensarmos que algo esta em nossas mãos. Não estou, porém, esvaziando a nossa resposta e a nossa participação no mistério. De forma alguma, já que só através do exercício de sua liberdade do homem pode responder a Deus. Mas que gastemos nossas forças e energias no que vale a pena e na unica coisa que pode realmente mudar o nosso coração: A GRAÇA DE DEUS. Por ela, nela... todas as outras coisas ganham sentido sem tornarem-se o centro. O centro é Cristo! E o seu amor apaixonado pelo homem!

Wilde Fábio Alencar
Comunidade Shalom



quarta-feira, março 11, 2015

Papa Francisco explica o que é o inferno, a moral e o que fazer diante das injustiças

HOJE, QUARTA-FEIRA, ÀS 17:30, VENHA VIVER A VIA SACRA NA IGREJA DO GALO


Leituras do Dia
1ª Leitura - Dt 4,1.5-9
Salmo - Sl 147, 12-13. 15-16. 19-20 (R. 12a)
Evangelho - Mt 5,17-19

VATICANO, 10 Mar. 15 / 03:06 pm (ACI/EWTN Noticias).- O Papa Francisco continuou com as suas visitas tradicionais às paróquias de Roma e na tarde deste domingo visitou a Paróquia Santa Maria Mãe do Redentor localizada no bairro de Tor Bella Monaca, onde se reuniu com distintos grupos de fiéis.

Primeiro visitou os doentes para levar-lhes uma palavra de esperança. “Agradeço-lhes pelo seu sorriso”, disse-lhes Francisco. “O Senhor ama muito vocês e está próximo”, acrescentou.

Recordou-lhes que “o Senhor nunca nos abandona, nem sequer nos momentos ruins”, e pediu que tenham confiança nele também nesses momentos nos quais “sentimos um pouco de saudades, um pouco de tristeza, as lágrimas nos caem, o choro… mas façamos assim com a mão e digamos: ‘Senhor, sei que Você está aqui’”.

“Ele viveu um momento ruim na cruz, lembram? Ele foi o primeiro a abrir o caminho para todos nós. E por isso sabe o que é a dor, a tristeza, estar sozinhos e tantas outras coisas…”. Além disso, “com o Senhor está a nossa mãe; as mães nunca deixam os seus filhos sozinhos, e Nossa Senhora é nossa mãe”.

O inferno

Depois Francisco se encontrou com as crianças e com os jovens que lhe fizeram algumas perguntas. Na primeira, o questionamento foi: Se Deus perdoa a todos, por que existe o inferno? E como é o Paraíso?

O Papa respondeu que “Deus perdoa tudo, mas havia um anjo muito orgulhoso, que era muito inteligente e tinha inveja de Deus, queria o lugar de Deus. E Deus quis perdoá-lo, mas ele não quis. Este é o inferno: dizer a Deus arranje-se que eu me arranjo sozinho”.

Portanto, “ao inferno ninguém manda você, é você que escolhe ir. O inferno é querer afastar-se de Deus porque não quero o amor dele. O diabo é o inferno porque ele quis nunca mais ter relação Deus”.

O Santo Padre recordou a história do bom ladrão que foi crucificado ao lado de Jesus e que em um dado momento, “algo comoveu o seu interior e disse: ‘Senhor, tenha piedade de mim!’. E o que disse Jesus? ‘Hoje estará comigo no Paraíso’”.

Assim “vai ao inferno somente aquele que diz a Deus: ‘Não preciso de você, eu me arranjo sozinho’, assim como fez o diabo que é o único que temos certeza que está no inferno”.

Moral cristã

A outra pergunta que respondeu foi como viver de maneira adequada a moral cristã, dado que nos tempos atuais é muito complicado.

Francisco respondeu dizendo que “viver moralmente é uma graça, é uma resposta ao amor que Ele te dá primeiro. Se você não é consciente de que Ele te ama, não pode fazer nada. A maneira moral de viver é uma resposta a esse encontro com Jesus. Se você nunca tivesse encontrado Jesus, nunca, nunca poderia viver uma vida cristã. É Jesus quem te ajuda a avançar, e quando você cai, Ele te levanta e faz com que siga adiante”.

Também advertiu que “se você pensa e nós pensamos que a vida moral é só ‘fazer isso’, ‘não fazer isso’, ‘fazer aquilo’, não fazer aquilo’… isso não é cristão. É uma filosofia moral, mas não é cristão. Cristão é o amor de Jesus que nos ama primeiro”.

O Pontífice comentou que “todos temos tentações de inveja, ciúmes, muitas tentações. No momento da tentação, devemos olhar para Jesus e dizer: ‘Senhor, olha para mim, não me deixe sozinho’. Se depois cair, levanta-te”. Isto é “a moral cristã, levantar-se rápido e seguir adiante”.

Por último, à pergunta de uma menina sobre o que sentiu ao ser eleito Papa, respondeu entre risadas: “não sei… mudaram-me de diocese, eu era feliz em uma diocese e agora sou feliz em outra. Mudaram-me”.

As injustiças

Antes de presidir a Missa com a qual terminou a visita, o Papa se reuniu com o Conselho Pastoral da paróquia. Falou-lhes sobre as injustiças e sobre como todo cristão deve ajudar o próximo. “Se o seu filho estiver passando fome e a sociedade não te ajudar a trabalhar, não te ajudar a encontrar um trabalho, não te ajudar a sair dos vícios… deve dar de comer aos filhos… digo isso para que entendam bem a situação de muitas pessoas que são boas, mas que a vida lhes empurra contra a parede”.

“Vocês trabalham para que estas situações não se repitam, para que estas situações não sejam cotidianas: trabalham para continuar e avançar com as pessoas e dizer-lhes: ‘venham aqui, o que precisam? Eu te ajudarei’. E muitas vezes as pessoas, quando se sentem acompanhadas, amadas, não caem nessa rede de malvados que exploram os pobres”.

Sobre esta realidade apontou também que “os mafiosos exploram as pessoas pobres para que façam o trabalho sujo e depois se a polícia encontrar, encontra estes pobres, mas não encontra os mafiosos que estão todos seguros e ainda pagam por esta segurança”.

Sobre como ajudar as pessoas, Francisco aconselhou a aproximar-se com “proximidade”, com aquele carinho que Jesus nos ensinou. Para nos salvar Deus se fez próximo, fez-se um de nós: E sofreu por nós!”.

Sobre as muitas injustiças que existem, o Santo Padre assinalou que não se resolvem as injustiças “fazendo manifestações políticas contra a injustiça, gritando, e depois indo comer uma boa pizza com uma cerveja. O que adianta é a proximidade, o carinho, o amor e compartilhar a vida”.

Por Alvaro de Juana
acidigital.com

terça-feira, março 10, 2015

Quaresma: Tempo de Luta Espiritual

Leituras do Dia
1ª Leitura - Dn 3,25.34-43
Salmo - Sl 24, 4bc-5ab. 6-7. 8-9 (R. 6a)
Evangelho - Mt 18,21-35


“Exorto-vos, irmãos, pela misericórdia de Deus, a que ofereçais vossos corpos como hóstia viva, santa e agradável a Deus: este é o vosso culto espiritual. E não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos, renovando a vossa mente, a fim de poderdes discernir qual é a vontade de Deus, o que é bom, agradável e perfeito” (Rm 12, 1s).


A Quaresma tem um sentido eminentemente pascal: é um tempo de caminho de conversão a Cristo, período de cristificação. “Morremos com o Cristo; trazemos em nosso corpo a morte de Cristo, para que também a vida de Cristo se manifeste em nós”. “Já não vivemos, portanto, nossa própria vida, mas a vida de Cristo, vida de inocência, vida de castidade, vida de sinceridade e de todas as virtudes”. “Ressuscitamos com o Cristo; vivamos, pois, com ele, subamos com ele, a fim de que a serpente não possa encontrar na terra nosso calcanhar”. (Santo Ambrósio, Tratado sobre a Fuga do Mundo).

Esta cristificação é ação do Espírito Santo: o homem não pode atingir tal escopo sem a graça do Santo Espírito, único que pode testemunhar Jesus em nós e conformar-nos a Cristo. Por isso mesmo, a busca da cristificação é um combate espiritual: combate porque é luta contra as tendências desencontradas do homem velho, que ainda persistem em nós; espiritual porque é combate na força do Espírito do Cristo: “Por ele, os corações são elevados ao alto, os fracos são conduzidos pela mão, os que progridem na virtude chegam à perfeição. Ele ilumina os que foram purificados de toda a mancha e torna-os espirituais pela comunhão consigo. Dele nos vem a alegria sem fim, a união constante e a semelhança com Deus; dele procede, enfim, o bem mais sublime que se pode desejar: o homem é divinizado” (São Basílio Magno, Tratado sobre o Espírito Santo).

A Quaresma é, pois, tempo do combate espiritual, tempo de uma ascese mais cuidadosa, ascese de caráter cristo-pneumatológico, tendo como fim a divinização (a vida de filhos do Pai). Sendo assim, esse tempo nada mais é que uma intensificação daquilo que é e deve ser toda a vida do cristão. São Bento, por exemplo, dizia a seus monges que a vida deles deveria ser uma contínua quaresma (ou seja, uma contínua preparação para a Páscoa).

Aproveitemos para viver esse combate espiritual com algumas atitudes de ascese.

Temos várias atitudes e comportamentos que podem nos ajudar, como por exemplo, o jejum: meio de tomar consciência da dependência de Deus; meio de domar nossas paixões, meio de atingir a educação de nossos instintos, modo de nos sensibilizarmos para a fome alheia.

Faz parte também a vida de oração: como modo de nos abrir para Deus e sua Presença; como meio de nos fazer sensíveis à sua Palavra; como modo de nos ajudar a compreender sua santa vontade; como meio de tudo avaliar com o coração de Deus; como modo privilegiado de fazer-se dócil à ação do Espírito Santo.

Uma atitude de desprendimento importante para hoje é a esmola, pois nos abre para os outros; é sinal da própria comunhão trinitária; é remédio contra nossas concupiscências; descentra-nos.

Outra prática não muito comum entre nós são as vigílias, que nos ajudam a vigiar pela vinda do Reino; no combate à preguiça espiritual; faz-nos intercessores pelo mundo que dorme e nos ajudam no autodomínio.

Vivamos o grande retiro da Quaresma, tempo do deserto e do combate espiritual, com abertura para estes valores que nos aproximam de Deus pelo próximo.

No Ano Arquidiocesano da Esperança sejamos portadores da boa notícia do Reino de Deus e aproveitemos do tempo favorável para vivermos a caminhada de conversão, sendo ajudados pela penitência física e silenciosa do jejum. Jejum não só de carne e de alimentos às sextas-feiras, mas jejum da maldade, jejum da perversidade, jejum dos maus atos e pensamentos, jejum da desagregação e jejum da intolerância religiosa.

Sejamos generosos com as obras de caridade da Igreja, doando o que deixamos de comer, como gesto concreto em favor dos mais pobres e das necessidades das obras caritativas da Igreja (de maneira especial no Domingo de Ramos, dia da Coleta da Solidariedade). A oração que é ouvida por Deus é aquela que é acompanhada destes gestos concretos.

Boa Quaresma e profunda conversão rumo à Páscoa!


Cardeal Orani João Tempesta
Arcebispo de São Sebastião do Rio de Janeiro (RJ)

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Pia União de Santo Antônio

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