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sexta-feira, março 20, 2015

O sentido da Quaresma em São Leão Magno

Leituras do Dia
1ª Leitura - Sb 2,1a.12-22
Salmo - Sl 33, 17-18. 19-20. 2l.23 (R. 19a)
Evangelho - Jo 7,1-2.10.25-30

Leão Magno dirigiu a Igreja por mais de 20 anos(440-461) de modo que marcou a vida eclesial e social de seu tempo e de toda a vida da Igreja. O Concílio de Calcedônia, realizado em 451, ocorreu em seu tempo de Bispo de Roma e Papa da Igreja Católica, aonde definiu que Jesus Cristo é de natureza divina e humana na única Pessoa do Verbo de Deus na carne. As duas naturezas se completam entre si de modo que as características das mesmas são levadas em consideração numa só Pessoa, um só Verbo, Jesus Cristo, o Filho de Deus. A Carta de Leão Magno, de número 28, enviada para o Concílio de Calcedônia foi muito apreciada pelos bispos participantes do evento eclesial. Ele também escreveu diversos sermões sobre os tempos litúrgicos e entre esses temos os sermões sobre a Quaresma. Analisemos pelos menos alguns dos mesmos.

1. Proximidade da solenidade Pascal
Leão Magno escreveu bem próximo à Páscoa, solicitando de seus féis o jejum para a santificação do corpo e da alma no tempo quaresmal. Ele afirma que nós devemos nos preparar com tal observância para nos encontrar mortos em sua paixão, com o Senhor em cuja ressurreição somos também ressuscitados. No entanto a nossa participação na morte de Cristo Jesus solicita a superação do passado, das coisas que fomos, a vida anterior, para despojar-se dos vícios da carne, rejeitar as imundícies do pecado para resplandecer com a veste das virtudes. Todos os fiéis são chamados à conversão de vida. Ninguém deve demorar-se no tempo mas apressar-se para acolher o dom da misericórdia quem vem de Deus pois Ele não tem prazer com a morte do ímpio, mas que se converta e possa viver bem (cfr. Ez 33,11).

Ele quer a universalidade dos féis para assumir gestos de conversão. O esforço é coletivo no sentido que o vigor e a energia apaguem a mancha do pecado que fere o intimo das pessoas, obscurecendo o vigor da alma. Ele diz que as pessoas não podem se desesperar diante de um ideal de uma vida de pureza, de doação, porque Cristo Jesus caminha com o seu povo.

O Papa Leão interpreta a frase que nós rezamos no Pai-Nosso: Perdoa as nossas dívidas, como também nós perdoamos aos nossos devedores(cf. Mt 6,12). Dessa forma ninguém é tão santo que não necessita da remissão de algum pecado. A pessoa pede a Deus Pai o perdão de seus pecados e ao mesmo tempo é chamado a perdoar ao seu semelhante. Deve-se experimentar a bondade de Deus que sempre perdoa aos pecadores e as pecadoras, e ao mesmo tempo a pessoa é chamada a perdoar os outros. Quem experimenta a misericórdia de Deus perceberá a fragilidade dos bens deste mundo, para se aquecer dos bens celestiais e do amor de Deus. O frio se transformará em calor, a noite mudará em luz porque como o Espírito Santo ilumina as pessoas por ações boas, expulsará as trevas da almas dos féis, pela destruição dos seus pecados.

Em uma de suas homilias fala de obedecer aos mandamentos celestiais, de modo que todo o sacramento pascal foi instituído para a remissão dos pecados. Ora o perdão deve ser dado ao próximo, para assim servir a amar as pessoas na pessoa de Jesus Cristo. Neste sentido é preciso assumir o espírito da doação com alegria de modo a viver a misericórdia do Senhor em nossas vidas.

2. Todos são chamados à misericórdia
O Papa convida os fiéis a viver bem o tempo litúrgico da quaresma para assim experimentar mais concretamente a graça da misericórdia de Deus que convida todo o ser humano a assumi-lo mais intensamente. Se ao longo do ano a renovação interior é dada pelas obras e dons diversos, no tempo quaresmal tudo pode ser celebrado de uma forma conjunta. A aproximação da Páscoa do Senhor convida os fiéis a fazer obras de caridade, porque ninguém é tão santo que não precise se santificar ainda mais pela graça do tempo litúrgico, ou ainda ninguém é tão piedoso que não necessite ainda mais de piedade, de vida de oração. Quem estaria isento de tentação ou livre de culpa? Quem não gostaria acrescentar algo na virtude ou de suprimir algo no âmbito do pecado? Ora se existem ciladas na abundância das riquezas e ciladas nas angústias da pobreza, é preciso ações de vida para viver a virtude e a caridade.

Leão Magno fala que o caminho que conduz para a vida verdadeira é estreito e difícil, porque como Jesus diz muitos são aqueles e aquelas que freqüentam o caminho largo que conduz à morte. Enquanto inumeráveis são os que procuram as coisas visíveis, raros são aqueles e aquelas que antepõem os bens eternos aos terrestres. Assim o caminho das virtudes é secreto, escondido, porque a salvação é objeto de esperança(cfr. Rm 8,24), na expressão do Apóstolo São Paulo. Enquanto a pessoa está neste mundo pode adoecer neste corpo, se suja na poeira e ainda que a pessoa viva as coisas deste mundo não como fim, mas sempre como meio para assim chegar, um dia, à unidade com Deus. Os bens deste mundo passam de modo que é preciso fixar-se nas promessas divinas.

3. O tempo propício
A graça de Deus se dá no tempo atual: a quaresma é tempo propício de fazer o bem e engrandecer o Reino de Deus. A outorga pela fortaleza nos dias atuais adquire-se hábitos duráveis. É preciso empreender obras boas que vencem o tentador que enganou o ser humano mas que é vencido pelo poder da cruz, da morte redentora de Cristo Jesus pela salvação de todo o gênero humano. Nem o pecado pessoal, nem o pecado original, diz Leão são obstáculos às pessoas em vista de suas superações, porque a justificação não é atribuída aos méritos humanos, mas pela liberalidade da graça em Cristo Jesus. Aqueles e aquelas que caíram nas armadilhas de suas mentiras, podem se lavar nas lágrimas da penitência, das portas da reconciliação de modo a serem de novo admitidos e admitidas aos remédios da reconciliação que vem de Deus Uno e Trino. A graça é dada para as pessoas que queiram voltar ao Senhor e aos irmãos e as irmãs, na vida da comunidade.

A misericórdia de Deus estabeleceu em seus mandamentos um espelho para a contemplação clara em vista da contemplação da própria alma e reconhecer até que ponto o rosto anda em conformidade com a imagem de Deus para assim rejeitar as ocupações inquietantes e nos dirigir nos dias de nossa redenção e de nossa renovação, das coisas da terra para as coisas do céu.

A misericórdia divina, diz Leão Magno é dada neste período também pelo perdão dos pecados devido as ofensas dos outros de modo que os sentimentos de vingança não falem mais alto que os sentimentos de perdão para assim receber de Deus Pai o perdão das faltas cometidas, para que assim nós também perdoamos as pessoas que nos ofenderam. Em todas as casas, igrejas haja a graça do perdão dos pecados. Dessa forma a festa pascal terá o seu devido sentido para as pessoas, porque houve restabelecimento da paz fraterna, na superação das discórdias e dos ódios entre as pessoas, familiares, comunidades. Deus será glorificado pela vida nova assumida pelos seus fiéis aonde os pecados foram lavados pelo batismo, pelas lágrimas da penitência e também apagados pelas esmolas, obras de caridade para com os mais necessitados, porque realizadas em unidade com o Senhor Jesus Cristo.

Conclusão
São Leão Magno colocou alguns pontos para uma vivência mais apropriada ao tempo litúrgico que é a Quaresma. Ele teve presente o jejum, a prática de boas obras para com as pessoas, a caridade sobretudo aos mais necessitados, a vivência do perdão como graça de Deus e como missão no sentido de concedê-lo aos outros, e a necessidade da oração para viver a alegria do encontro com Deus. A aproximação da Páscoa do Senhor estimule-nos à vivência do amor a Deus, ao próximo como a si mesmo em vista do engrandecimento do Reino de Deus.
Dom Vital Corbellini
Bispo de Marabá (PA)

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Pia União de Santo Antônio

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