MISSAS DE HOJE: 10h e 19h
Leituras do Dia
1ª Leitura - Gn 22,1-2.9a.10-13.15-18
Salmo - Sl 115,10 15.16-17.18-19 (R. Sl 114,9)
2ª Leitura - Rm 8,31b-34
Evangelho - Mc 9,2-10
O DOM DO FILHO QUERIDO DE DEUS POR NÓS
1ª leitura: (Gn 22,1-2.9a.10-13.15-18) Abraão obediente até o sacrifício de seu filho único –Pedindo que Abraão sacrificasse seu Filho, Deus não apenas testou sua obediência, mas colocou em questão todo o futuro de sua descendência. Será que Deus precisa de tais provas para saber se o homem lhe é fiel? Ou será que a fidelidade e a confiança só crescem quando são provadas? Prestes a sacrificar toda segurança, o homem se torna realmente livre; e é assim que Deus o quer, para que seja seu aliado. * Cf. Eclo 44,21[20]; Hb 11,17-19; Tg 2,21-22; Jo 3,16; Rm 8,32.
2ª leitura: (Rm 8,31b-34) Deus não poupou seu único Filho – Quem de fato sacrifica seu filho não é Abraão, mas Deus mesmo: prova de seu amor por nós, que não conseguimos imaginar, mas no qual acreditamos firmemente. * 8,32 cf. Gn 22,16; Rm 5,6-11; 1Jo 4,10; Jo 3,16 * 8,33-34 cf. Is 50,8-9; Hb 7,25.
Evangelho: (Mc 9,2-10) Manifestação de Jesus como filho querido de Deus – A glorificação de Jesus no monte Tabor, diante de seus discípulos, completa a profissão de fé dos discípulos e o anúncio da Paixão, que eles não entenderam. É preciso que tenham diante dos olhos ambas as realidades do mistério de Cristo: a cruz e a glória. A voz da nuvem proclama Jesus messias. Já não se dirige a Jesus, como no batismo (1,11), mas aos discípulos (9,7). Jesus recebe o testemunho de Moisés e Elias, “a Lei e os profetas”. Só depois de sua ressurreição, os discípulos entenderão esta visão. * 9,2-8 cf. Mt 17,1-8; Lc 9,28-36; Ex 24,16-18; Mc 16,5; 2Pd 1,16-18; 2Cor 3,18 * 9,9-10 cf. Mt 17,9-13.
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Hoje, a liturgia nos concede uma espiadinha no céu: Jesus revela sua glória diante de seus discípulos (evangelho). Devemos situar esta visão no contexto que Mc criou ao conceber a estrutura fundamental dos evangelhos escritos. Na primeira parte de sua atividade, Jesus se dirige às multidões mediante sinais e ensinamentos, que deixam transparecer sua “autoridade” (cf. primeiros domingos do Tempo Comum), mas não dizem nada sobre seu mistério interior. Na segunda metade (a partir de 8,27), Jesus revela – não à multidão, mas aos Doze, futuras testemunhas de sua missão – seu mistério interior: sua missão de Servo Padecente (melhor, Filho do Homem padecente) e sua união com o Pai. O que foi confiado a Jesus pessoalmente, pelo Pai, na hora do Batismo, quando a “voz da nuvem” lhe revelou: “Tu és meu filho amado, no qual está meu agrado” (Mc 1,11), é agora revelado aos discípulos: “Este é meu filho amado; escutai-o”. O mistério do Enviado de Deus não é mais reservado ao próprio Jesus; é comunicado aos que deverão continuar sua missão. E lhes é revelado, embora não entendam (9,10; cf. 8,32-33), ou melhor, porque não entendem, pois aproxima-se o momento em que eles deverão enfrentar o escândalo da cruz. Por isso, por uma frestinha, podem enxergar pedacinho do céu. E gostam: “Façamos aqui três tendas...”, diz Pedro. Porém, “ele não sabia o que estava dizendo” (9,6). Pois Jesus não podia ficar onde estavam. Devia caminhar. Não há glória sem cruz, não há Páscoa sem Semana Santa (cf. 9,12b).
Muitos gostariam de que existisse Páscoa sem Semana Santa. Um Jesus festivo, jovem, simpático, com olhos românticos; ou até com ar de revolucionário, mas não um Jesus esmagado e aniquilado! Mc, porém, e também a liturgia, situam a visão da glória na perspectiva da cruz, no início do caminho que conduz ao Gólgota, logo depois do convite aos discípulos de assumirem sua cruz no seguimento de Jesus (8,34). Aprendemos hoje que não devemos construir as “tendas eternas” antes da hora. Jesus deve caminhar ainda, e nós também. Mas, entretanto, precisamos de uma “pré-visão” de sua glória, para, na noite do sofrimento, enxergar o sentido final, que se revela nestas breves palavras: “Este é meu filho amado...”. Deus quer mostrar-nos que o mistério que nos salva é sua própria doação por nós, na morte de seu Filho. É o que nos explica Paulo, na 2ª leitura: “Não poupou seu próprio filho”. E, para que nos sensibilizemos do que significam estas palavras, a 1ª leitura nos lembra o conflito que explodiu na alma de Abraão, quando Javé lhe exigiu seu querido e único filho em sacrifício. O filho que encarnava a promessa de descendência. O filho em quem estava toda a sua vida. Concretamente: Jesus era o homem que interpretava, ensinava e vivia de modo perfeito a vontade de Deus. Qualquer um de nós diria: “Este homem vale ouro, devemos dar-lhe todas as chances; não o podemos queimar; devemos protegê-lo, promovê-lo”. Deus não. Deus sabe que o coração humano é orgulhoso e só cai em si depois de ter destruído sua própria felicidade. Deus sabe que os homens só se convertem “elevando os olhos para aquele que traspassaram” (Zc 12,10). A sede do poder, a agressividade, só reconhece seu vazio depois de ter esmagado o justo que a ela se opõe. Deus quer pagar este preço para conquistar o coração do ser humano. O Filho que ele envolve com sua glória, e que recebe o testemunho da Lei e dos Profetas (Moisés e Elias), Deus não o poupou, pois era preciso que se realizasse sua oferta de amor até o fim. Eis o risco que Deus quis correr.
Mas não aboliu Deus os sacrifícios humanos desde Abraão, impedindo, no último momento, o sacrifício de Isaac e contentando-se com um carneiro? Deus pôs fim aos sacrifícios em que homens oferecem outros homens. Mas, em seu Filho, ele mesmo quis sofrer, para nos ganhar com seu amor. Ele mesmo quis viver o amor até o fim, porque o Filho era, como se diz em termos humanos, o “amado” – uma parte de si, o único que encarnava plenamente sua vontade salvífica, o único verdadeiramente obediente, completamente dado ao plano do Pai. Nele Deus “se perdeu” a si mesmo em seu amor por nós...
“Escutai-o”. Os ensinamentos de Jesus, que agora seguirão, são os ensinamentos sobre a humildade, o despojamento, o serviço, a doação em prol dos “muitos” (10,45). Só podemos aceitar este ensinamento na confiança de que “ele teve razão” quando deu sua vida por nós. É isto que a liturgia de hoje, antecipadamente, nos deixa entrever.
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