É uma ordem religiosa feminina, fundada em 1212 por São Francisco de Assis e Santa Clara de Assis. A segunda das Três Ordens Franciscanas - dedicando-se especialmente à vida contemplativa orante e em regime de clausura. No mundo, são aproximadamente 20 mil Irmãs Clarissas, ou Irmãs Pobres de Santa Clara, como são conhecidas, que vivem em cerca de mil Mosteiros espalhados pelos 5 Continentes, observando o Santo Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo, vivendo em castidade, obediência e sem nada de próprio.
As Clarissas foram as primeiras Religiosas a se estabelecerem no Brasil, solicitadas pela Câmara, nobreza e povo da Bahia. Aos 09 de março de 1677, chegaram de Èvora (Portugal) as quatro monjas fundadoras do Imperial Convento de Santa do Desterro (Bahia).
É interessante perceber o vigor e a força de um carisma que atravessa oito séculos, presente em todos os continentes, adaptando-se aos tempos e às culturas, num reflorescimento ora maior, ora menor, sem perder o encanto originário.
A Ordem das Damianitas ficou marcada desde as Origens com alguns traços próprios de espiritualidade e algo de organização monástica. A espiritualidade era a de São Francisco, mas vivida a seu modo por Santa Clara. Demonstrando enorme maturidade e equilíbrio, Clara consegue ser fiel ao carisma, personificado em São Francisco e a Instituição, na pessoa do Papa e Cardeais (a Igreja). Ela adere a muitos elementos que, propriamente, não respondem aos seus anseios, mas como filha “obediente e reverente” da Igreja, insere-os em sua Forma de Vida, para ser reconhecida juridicamente dando-lhes, sempre que pode, o seu “tom evangélico”.
A Santa quer observar o Santo Evangelho segundo a inspiração comunicada por Deus a seu seráfico pai, e particularmente quer fixar a atenção na pobreza e humildade de nosso Senhor Jesus Cristo: mas sente a necessidade de associar mais sistematicamente a figura de Maria à de seu Filho, e quanto a Jesus, se compraz em contemplá-lo como pobre Menino envolto em pobres paninhos, ou como Crucificado, sentindo uma compaixão peculiar para com seu divino Esposo, submetido a tantos tormentos. Os Mosteiros eram autônomos, mas estavam unidos pela comunhão no mesmo espírito e pela autoridade comum do Cardeal Protetor e do Visitador Geral das Clarissas. Outro traço que os novos centros de vida contemplativa adquiriam é a clausura.
De fato, Santa Clara foi e continua sendo por sua potente personalidade religiosa e pela fecundidade inspiradora de suas virtudes heróicas, sem necessidade de outros vínculos estritamente jurídicos, um ponto comum de referência e laço de união mais forte do que a morte para inumeráveis esquadrões de almas consagradas. Certamente existe entre São Damião e outros mosteiros uma relação de dependência genealógica. Já na Regra Hugoliniana de 1218-1219 prevê-se que as irmãs possam sair da clausura “para plantar ou edificar em outro lugar este gênero de vida religiosa”. Mas só em casos contados pode-se fazer alusão a irmãs que saem de São Damião para propagar a Ordem em outros lugares ou circunstâncias em que Santa Clara se interessa pessoalmente por meio de cartas na fundação ou consolidação de algum mosteiro. E, contudo, voltamos a sublinhar, todos os mosteiros da nova Ordem a reconhecem sem discussão como Mãe e Fundadora. A Carta de notificação de seu glorioso trânsito, com seu resumo biográfico maravilhoso, é como o sinal das cartas escritas por ela em vida, que reforça em todas as partes este sentimento de comunhão de origem.
Um olhar retrospectivo nos ajudará a compreender melhor o alcance da influência da seráfica Mãe na modelação espiritual de sua Ordem, acima da variedade de Regras e denominações. A vida de Santa Clara ilustra bem o modo vivo e palpitante como se propaga uma família religiosa integrada de mosteiros autônomos, sem noviciado comum e sem estruturas vinculativas precisas, só pela difusão silenciosa do bom odor de Cristo e pela graça do Espírito Santo.
( Fonte: Curso Clariano - Federação Sagrada Família das Irmãs Clarissas do Brasil )
ESTRUTURA EVANGÉLICA DA ORDEM DE SANTA CLARA E SUA FUNÇÃO CONTEMPLATIVA
Fundada e guiada por Clara e Francisco, a Ordem das Clarissas desenvolve-se sobre uma linha simples, perder-se nas profundidades de Deus: a linha cristã do Evangelho. Isso aponta para a comunhão com Deus através da pobreza integral e da caridade da comunhão sororal, que são elementos escolhidos e condições essenciais reveladas pelo seguimento de Jesus e vida cristã em si. Este gênero de vida evangélica, cristã, longe de restringir-se a uma série de preceitos e de conselhos, se move sobre uma linha de kénosis, esvaziamento de si e doação, em vista da koinonia, Comunhão de vida com o Pai e com as irmãs e irmãos, em Jesus, no Espírito.
A vida religiosa Clariana é uma vida cristã autêntica, que respira em toda a sua plenitude o mistério da humilhação de Jesus e como Ele, que desce da natureza de Deus para a de criatura humana, a nossa vocação aprofunda a kénosis (aniquilamento, esvaziamento) cristã numa condição de “profundíssima pobreza”, que é castidade, minoridade, pobreza e obediência; kénosis sempre em movimento descendente, ao qual corresponde o movimento ascendente da comunhão com o Pai e os irmãos.
A POBREZA INTEGRAL
O binômio Kénosis-Koinonia, que é o núcleo da mensagem evangélica, é o núcleo da Ordem. Seria vão dar atenção a outros aspectos de tipo claustral ou a práticas ascéticas, sem ter centrado este binômio que, tanto para Clarissas como para Francisco, é tudo.
Somos habituados a um conceito positivo da pobreza como virtude a conquistar e também a defender. Talvez nos distanciemos do alcance verdadeiro de uma expressão como “altíssima pobreza” de Clara. Se passamos da pobreza como torre de defesa, para a humildade, vazia, profundíssima pobreza (que traduz o “altus” latino), talvez comecemos a entrever verdadeiramente a estrutura da Ordem “menor” desejada por Francisco e Clara. Poderemos intuir o porquê de a Forma de Vida ser o Evangelho e a vida religiosa clariana ser expressa em um simples binômio: “modo de santa união e altíssima pobreza”.
A pobreza integral é um introduzir-se diretamente no mistério salvífico de Cristo: fazer-se participantes de seu aniquilamento, da pobreza por Ele livremente escolhida para o enriquecimento de muitos, morrer com Ele a mesma morte, fazer-se um com Ele na morte-vida, para que o nosso aniquilamento torne-se mistério de salvação para nós e dilatação da caridade, para a vinda do Reino. É o binômio evangélico pobreza-Reino, morte-vida, Kénosis-Koinonia que em Santa Clara, como em Francisco, delineia, dá alma e atinge o ápice do conceito de vida religiosa, plenitude de vida cristã: como Cristo, uma cruz pelo Reino.
Para Clara e as Clarissas Cristo é tudo, no sentido de que a maior bem-aventurança é “estar sempre com Ele”, como afirma Catarina de Bolonha. Talvez a expressão mais exata para indicar a espiritualidade das Clarissas seja “Teocentrismo em Cristo”. A clara percepção da inserção “em Cristo” permite à Ordem das Clarissas, ser embebida numa vivificante experiência, que jamais foi pronunciada noutras espiritualidades: a experiência de perene geração e refluir da alma no maravilhoso e fecundo jorrar do Amor. O dom da caridade de Deus, que Clara recebe abundante no seu refluir do Pai, é sempre o rosto de Cristo: é um Cristo que vive nela realmente, que desce no seu seio, como em Maria, tornando-a Mãe, irmã e esposa.
A vida de Santa Clara e das Clarissas é uma vida que se consuma em Cristo e por Cristo, na oração e na operosidade. As “devoções” franciscanas ao mistério de Belém e do Calvário não são tanto para Clara “devoção” (a menos que se entenda etimologicamente como “comunhão”), mas fazer-se “uma” com Cristo. Clara revive nele, com Ele, todo o seu mistério, do nascimento à morte. A função contemplativa da Ordem das Clarissas a empenha a passar a vida num contínuo penetrar na vida de Deus. Isso permite testemunhar a plenitude da experiência pascal na morada transcendente do Pai e do Filho; e os testemunhos constituem na literatura espiritual da Ordem um esforço que ultrapassa o objetivo de quem se propõe a fazer uma catalogação de fenômenos místicos ou diferentes graus de oração. Só um rápido olhar para a intimidade divina, como parece aos olhos das Clarissas, às vezes, ignorantes da teologia, mas penetrantes de amor, faz compreender de que experiência se trata.
Estas premissas são necessárias para compreender a diferença que há entre a Ordem das Clarissas e outras Ordens igualmente dedicadas à contemplação, desabrochadas no tronco monástico. A Ordem de Santa Clara de distingue da tradição monástica por uma diferença substancial, não só por uma questão de renúncia à possessão material. Clara vai direto às substâncias evangélicas, pobreza para fazer-se “um” no amor com Cristo e com as Irmãs. Clara não pensa em organizar um instituto ou um tipo de vida por meio do qual viver a perfeição evangélica - o que deu vida à instituição monástica. A vida e a espiritualidade das clarissas é fruto do seguimento de Jesus pobre, uma comunidade de irmãs, que vivem “numa união de almas”, a sua vocação de “seguir Cristo pobre e humilde”.
É um programa extremamente simples: viver e testemunhar Cristo, o Reino já presente entre nós, a Morada de Deus em meio a nós. Testemunhar Cristo pobre e humilde, na união da recíproca caridade, que é vínculo de perfeição. Na medida em que se vive este programa evangélico, se delineia a função contemplativa que a Ordem das Clarissas desenvolve no seio da Igreja e pela Igreja inteira, na família franciscana e clariana.
Estritamente claustral, desde o seu início, a Ordem realiza sua função contemplativa, a serviço da Igreja e do mundo.