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segunda-feira, outubro 08, 2012

A ciência dos mosteiros

Hilton Libos

As modernas gerações têm uma dívida maior do que poderiam imaginar para com os monges medievais. Durante boa parte do milênio passado, eles transformaram os mosteiros da Europa – seu espaço de encontro com Deus, por meio da oração e do canto – em movimentados centros de pesquisa filosófica e científica. Além de conhecimento puro, a criatividade dos mosteiros também originou, ao longo de outras épocas da História, uma série de descobertas e produtos que foram incorporados aos usos e costumes da sociedade, estando presentes ainda hoje.

Do prosaico dedal para pregar botões aos óculos; das cópias à mão de textos aos sistemas de impressão e criação do livro propriamente dito; das descobertas das leis da genética aos cuidados de assepsia em ambientes hospitalares; do champanhe, inventado quase casualmente pelo monge dom Perignon (1639-1715); e do famoso licor bénédictine – produzido pela primeira vez em 1510, a partir de 27 tipos de ervas aromáticas e cascas de árvores – ao chocolate. Estes são apenas alguns exemplos mais comuns legados pela criatividade, muitas vezes anônima, dos inventores, cientistas e pesquisadores que viviam nos mosteiros.

O monge beneditino Carlos Eduardo Uchoa Fagundes, diretor-geral da Faculdade de Filosofia São Bento e artista plástico, acredita ser natural que as contribuições dos mosteiros para a sociedade – não só em termos de inovação tecnológica, mas também em outras esferas do conhecimento – tivessem origem entre os membros da Igreja. “No decorrer dos últimos dois milênios, a Igreja foi a única instituição a se manter estruturada, inserida e atuante em todo o processo de formação da cultura ocidental” – explica irmão Carlos Eduardo, lembrando que, no século 3o, quando teve início o estilo de vida religiosa monástica no Ocidente, os monges passaram a se retirar da mundani-dade da vida social, mas não do mundo. “Mesmo na clausura dos mosteiros, eles não voltavam as costas para a realidade. Pelo contrário, sempre mantiveram uma forte ligação com o mundo exterior, trabalhando com empenho para o seu aperfeiçoamento espiritual e social” – afirma o beneditino.

Jorro de luz – A disseminação do conhecimento concentrado nos mosteiros, segundo irmão Carlos Eduardo, foi uma das missões mais importantes cumpridas por estes locais, até mesmo com o apoio do imperador Carlos Magno (742-814), que autorizou o funcionamento de redes de ensino em suas instalações. “Em seus scriptoriuns conventuais, os monges copistas já trabalhavam para a preservação da cultura e do Direito Romano, formatando o livro nos padrões básicos que apresenta até os dias de hoje” – cita o religioso.

No século 11, após a Primeira cruzada, a Europa cristã travou um contato profundo com a cultura árabe-muçulmana e, mais do que escolas, os mosteiros se transformaram em pólos para amplos questionamentos filosóficos e científicos que se confrontavam com a Teologia. A convergência dos principais elementos da cultura árabe e da filosofia clássica grega tornou necessária a criação de outro espaço para a discussão dos temas colocados em evidência pelos “infiéis” muçulmanos. Foi assim que surgiram as duas primeiras universidades européias: a de Bolonha, na Itália, em 1088, e, a de Paris, na França, em 1170.

Os conhecimentos de aritmética e geometria, apreendidos dos muçulmanos, prepararam as bases para o lançamento da matemática como ciência autônoma, o que ocorreu apenas no fim do século 19. As discussões sobre física ótica, o fenômeno natural do movimento e as relações entre tempo e espaço eram algumas questões que instigavam os filósofos da época e foram transformadas em objeto de estudo pelos monges. Na Inglaterra do século 12, por exemplo, o monge-cientista Thomas Bradwardine (1295-1349) desempenhou um papel decisivo para o surgimento da teoria mecânica ao estabelecer a relação entre força e resistência à velocidade na produção do movimento.

Como se vê, durante toda a Idade Média, os monges, no recolhimento espiritual dos mosteiros, projetaram um verdadeiro jorro de luz naquela que costuma ser considerada, injustamente, uma era das trevas. Graças a este trabalho metódico e disciplinado, foram desenvolvidas várias idéias, concepções e inovações que abriram caminho para importantes descobertas científicas nas mais diversas áreas do conhecimento.
paulinas.org.br

Pia União de Santo Antônio

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