Hoje a Igreja festeja a dedicação da Basílica de São João Latrão, em Roma, considerada a mãe de todas as Igrejas – mais antiga do que a Basílica de São Pedro. O texto escolhido é aquele do segundo capítulo de João, onde Jesus compara o Templo com o seu corpo que ressuscitará.
No Quarto Evangelho, esta cena se dá logo após a história das Bodas de Caná. Jesus vai a Jerusalém para a primeira das três Páscoas relatadas em João (nos Sinóticos só têm uma Páscoa). Para entender acena, devemos lembrar que o Templo não era muito parecido com os nossos templos – era também o Banco Central dos judeus, o centro de arrecadação dos impostos deles, e um mercado de venda de animais para os sacrifícios. Além disso, era local de câmbio, pois o Templo não aceitava a moeda corrente do país – por ter a efígie de César – e por isso os fiéis tinham que cambiar o seu dinheiro para o shekel de Trio, aceitável no Templo. Quando Jesus ataca este comércio, ele não está purificando o Templo – ele está impedindo que ele funcione, pois os animais e as moedas eram essenciais para o seu funcionamento. Em Caná ele substituiu a purificação judaica (simbolizada pela água) – agora ele mostra que o centro do culto judaico fica sem sentido diante da usa presença. A glória de Deus, uma vez confinada ao Templo, agora se encarnou em Jesus.
Quando Jesus desafia as autoridades judaicas do Templo, dizendo que se eles destruíssem o templo ele o reergueria em três dias, eles entendem a frase no sentido material – referente ao Templo de pedra. Para João, diferente de Marcos e Paulo, o Templo verdadeiro é o corpo de Jesus, que seria reerguido (não reconstruído como nos Sinóticos) em três dias. Embora haja ênfase diferente existe harmonia básica entre João e os Sinóticos, pois a comunidade, a Igreja, realmente é o Corpo Místico de Cristo.
Para nós hoje, esse texto traz lembranças salutares. Pois ainda para muita gente a honra maior que se pode prestar a Deus é a construção de Catedrais e Matrizes. O texto nos lembra que o primeiro Templo de Deus, um verdadeiro sacrário, é a comunidade - as pessoas, muitas vezes machucadas e oprimidas. Não adianta construir templos de pedra (sem negar a sua utilidade) e neglicenciar o corpo místico sofrido de Jesus nos seus pobres e oprimidos. A verdadeira prova da pujança da fé dum povo não se encontra no tamanho das suas matrizes, catedrais e capelas, mas no seu cuidado com os mais sofridos dentro do povo. Pois o nosso Deus não é o Deus das pedras mas das pessoas. O verdadeiro culto pode sobreviver – e bem – sem suntuosos prédios, mas não sem o cuidado com os sofridos e fracos!
Tomaz Hughes SVD
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