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quarta-feira, abril 16, 2014

O Cristo Pobre e Crucificado

Por Frei Celso Texeira, OFMCap.

Qual é o Cristo que Francisco pretende seguir? Em outras palavras, a nossa atenção se volta para a visão ou imagem que Francisco tem de Cristo.

Até a época de Francisco, o aspecto que mais sobressaía era o do Cristo Rei e Senhor. Até a iconografia apresentava Cristo como glorioso, como aquele que ressuscitou e que agora reina eternamente à direita de Deus Pai. O Cristo crucificado, por exemplo, não era apresentado como alguém que sofre, mas, antes, como alguém que, apesar de estar pregado na cruz, reina soberanamente sobre o mundo. Basta conferir os ícones de Cristo crucificado de origem bizantina, ícones que tiveram muita aceitação e imitação na arte da Igreja latina.

O Crucifixo, conhecido como Crucifixo de São Damião. O Crucifixo de São Damião foi pintado no século XII por um desconhecido artista da Úmbria, região da Itália. A pintura é de estilo romântico, sob clara influência oriental: o pedestal sobre o qual estão os pés de Cristo pregados separadamente; e de influência siríaca: a barba de Cristo; a face circundada pelo emoldurado dos cabelos; a presença dos anjos e cruz com a longa haste segurada na mão, por Cristo (só visível na pintura original), no alto, encimando a cruz. 

O Crucifixo original de São Damião está guardado com grande zelo pelas irmãs Clarissas, na Basílica de Santa Clara de Assis, e é visitado por estudiosos, devotos e turistas do mundo todo. É um monumento histórico franciscano e universal, por exemplo, diante do qual Francisco rezava, apresenta o Cristo pregado na cruz sem dor, sem sofrimento, espelhando mais a teologia do Cristo glorioso e eterno. O aspecto acentuado era, portanto, o de Cristo como Deus, embora não se negasse o aspecto de Cristo como homem.

"A paixão de Cristo será sempre objeto de meditação por parte de Francisco, por ser o sofrimento a realidade que mais revela até que ponto Cristo assumiu a nossa humanidade. Mesmo a Eucaristia é vista como um prolongamento da encarnação do Filho de Deus: como o Filho de Deus se encarnou no útero de Maria, assim ele se encarna cada dia nas mãos do sacerdote sobre o altar, na celebração eucarística"

São Bernardo de Claraval, que viveu no século anterior a São Francisco (* 1090 ou 1091; + 1153), já chamava a atenção para a humanidade de Cristo. Mas foi Francisco que deu uma reviravolta na piedade e na devoção popular, trazendo o Cristo da eternidade para a nossa história. Sem negar em momento algum que o Cristo era Deus, o Filho de Deus, pelo contrário, em seus escritos, afirma-se várias vezes essa verdade, Francisco quer seguir a Cristo em sua humanidade e historicidade. Ele pretende chamar a atenção exatamente para o Cristo homem, o Verbo Encarnado. Daí toda uma reflexão e acentuação da encarnação do Filho de Deus.

Para contemplar, com mais realismo, a encarnação do Filho de Deus, faz encenar o nascimento de Cristo na pobreza de um presépio. A especial veneração pela Virgem Maria está intimamente ligada ao fato da encarnação: foi do útero de Maria que o Filho de Deus "assumiu a carne de nossa humanidade e fragilidade" (cf. 2Fi 4). A paixão de Cristo será sempre objeto de meditação por parte de Francisco, por ser o sofrimento a realidade que mais revela até que ponto Cristo assumiu a nossa humanidade. Mesmo a Eucaristia é vista como um prolongamento da encarnação do Filho de Deus: como o Filho de Deus se encarnou no útero de Maria, assim ele se encarna cada dia nas mãos do sacerdote sobre o altar, na celebração eucarística (cf. Ad 1).

A encarnação comove-o. Conta Celano que, estando na hora da refeição, lembra-se da pobreza da encarnação. Deita o prato no chão e põe-se a chorar (cf. 2Cel 200). A meditação da paixão de Cristo, igualmente. Os biógrafos narram o seguinte episódio: certa vez, estando num bosque a meditar sobre a paixão de Cristo, começa a chorar. Um antigo amigo, ao vê-lo a chorar, pergunta se está doente ou sentindo alguma dor. Francisco responde que chora a paixão de seu Senhor. O amigo, comovendo-se com a dor de Francisco, começa também a chorar.

É a partir dessa piedade para com a humanidade de Cristo que a devoção pelo presépio se estende a praticamente toda a cristandade. E é a partir da meditação sobre a paixão do Senhor que, mais tarde, Frei Leonardo do Porto Maurício e os franciscanos alcantarinos formularão a conhecida via-sacra, devoção que tem seu valor até os dias de hoje.

Portanto, o acento que Francisco dá à sua visão do Cristo cai sobre a encarnação, sobre a humanidade do Filho de Deus. Esta será sempre uma tônica na sua contemplação de Cristo. Interrogado certa vez, já próximo de sua morte, se queria que lhe fosse lida a Sagrada Escritura, ele respondeu que não era mais necessário, pois já havia encontrado o Cristo crucificado (cf. 2Cel 105), isto é, o Cristo mais identificado com a natureza humana.

A consideração do Filho encarnado - da humanidade de Cristo - traz como corolário uma concepção encarnada, concreta, histórica, não abstrata de espiritualidade.

Por isso, quando ele fala de viver o Evangelho, ou de vida evangélica, não faz abstrações. Pensa em termos concretos de viver, aqui e agora, como Cristo viveu, como Cristo ensinou, como Cristo mandou. T

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Pia União de Santo Antônio

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