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domingo, julho 06, 2014

O Messias humilde, não violento

“Viver como verdadeiro filho de Deus significa amar o próximo e ir ter com quem vive sozinho e em apuros.” Papa Francisco

14o domingo do tempo comum
Leituras
1ª Leitura - Zc 9,9-10
Salmo - Sl 144,1-2.8-9.10-11.13cd-14 (R 1)
2ª Leitura - Rm 8,9.11-13
Evangelho - Mt 11,25-30

No domingo anterior vimos por que o profeta cristão deve ser um pequenino: a eficácia de sua mensagem se confirma na reação de bondade gratuita que ele provoca no coração dos que recebem a mensagem. No evangelho de hoje contemplamos o modelo deste tipo de profeta: Jesus. Não apenas como mensageiro, mas como detentor de tudo o que o Pai lhe deu nas mãos, ele é humilde e livre de toda forma de violência (militar, política, intelectual, religiosa e cultural). Nele reconhecemos a plena realização da figura de Zc 9,9-10 (1ª leitura) – o Messias humilde, que troca o cavalo militar por um jumentinho, que acaba com os carros e arcos de guerra e estende um império de paz de um mar (o Mediterrâneo) ao outro (o golfo de Ácaba). Num outro texto evangélico encontramos, em forma dramatizada, a realização dessa profecia: a entrada de Jesus em Jerusalém, significativamente no começo da semana da Paixão (Mt 21,1-10 e par.).

O contexto em que o evangelho se situa é o seguinte: Jesus acaba de censurar as cidades da Galiléia por causa de sua auto-suficiência e orgulho (Mt 11,20-24). Em oposição a esse orgulho, surge a figura do Messias humilde, do revelador de Deus que se dirige aos simples e “pequenos” (apelido dos profetas cristãos: cf. dom. passado). Aqui não valem os critérios de grandeza humana; vale o puro dom gratuito de Deus (11,27). Jesus é o Filho, aquele que conhece o Pai por dentro e pode dispor de tudo o que é dele. É esta a primeira parte do texto, o “júbilo” de Jesus (Mt 11,25-27).

Encadeada nessas palavras, esta parte segue agora outra sentença, um convite aos humildes para aceitar seu “jugo”. A doutrina de um mestre ou rabino era chamada “jugo”. Jesus é um mestre diferente. Seu jugo é suave, dá paz e descanso às almas. Jesus é o mestre humilde e manso de coração, mas não no estilo água-com-açúcar. Olhemos só o que é o contrário destes termos. O contrário da “humildade” (literalmente, “baixeza”)(*) são o orgulho e a ostentação, que caracterizam os “grandes” de todos os tempos. E o contrário da “mansidão” ou mansuetude do Senhor é a violência, o uso da força. Ora, se a missão de Jesus e do missionário cristão (cf. dom. pass.) é abrir as comportas do coração, para que serviria a violência? A violência não converte; resultado último não se deve esperar da violência. Por isso, mesmo se o cristão for forçado a usar de violência para proteger seu irmão, nunca a utilizará para transmitir sua mensagem. O coração violento encontra na violência que se lhe opõe uma justificativa! Só a “mansidão” (no sentido de firmeza permanente) desmancha os argumentos da violência (cf. Gandhi).

Na 2ª leitura temos uma mensagem semelhante. Os critérios da vida nova em Cristo são bem diferentes dos da vida antiga. É a oposição entre a “carne” (a humanidade auto-suficiente, fechada em si mesma) e o Espírito (a força vivificadora e transformadora que nos é dada em Jesus Crista e da qual sua ressurreição é o sinal) (Rm 8,11). Aos critérios humanos não ficamos devendo nada, pois estes são os da força e do “salve-se quem puder!” É difícil convencer-se disso. Estamos sempre prestando contas a critérios humanos, que nos são impostos sem a mínima razão: moda, consumo, aparência, ditadura, medo. Parece até que a gente tem medo de não ter algum poder ao qual prestar contas. Temos medo da liberdade do Espírito, da liberdade dos filhos de Deus. Ora, não estamos devendo nada àquilo que, nesses critérios mundanos, se opõe á vontade de Deus. Quantas vezes participamos ativa ou passivamente de atitudes e juízos injustos, de pressão sobre outras pessoas, de “proveitos” injustos e de egoísmo grupal! A tudo isso não estamos devendo nada. Nosso beneficio vem de outras fontes.

Enquanto a oração do dia sintoniza melhor com a mensagem de Paulo, o canto da comunhão (opção II) é um eco puro da leitura do evangelho. Para sublinhar o paradoxo do Messias que, por sua humilhação, levanta consigo toda a humanidade, sugerimos o prefácio comum I.

(*) “Humilde”, na linguagem bíblica, indica em primeiro lugar o que é baixo física ou socialmente (escravos etc.). Não tem a conotação de uma respeitável virtude, da qual a gente se gaba… Cf. ainda o Magnificat, Lc 1,48.

Do livro “Liturgia Dominical”, de Johan Konings, SJ, Editora Voz
franciscanos.org.br

Pia União de Santo Antônio

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