Liturgia e espiritualidade
Por Frei Régis G. Ribeiro Daher
● O Advento é ponto de partida e ponto de chegada do ano litúrgico (espiral do tempo).
● A Igreja se prepara para o Natal, recordando o nascimento histórico de Cristo.
● O Advento apresenta sempre a tríplice “vinda” de Cristo: Cristo veio, Cristo vem, Cristo virá (ontem, hoje e sempre).
● É esta a chave de leitura dos textos litúrgicos do advento.
● Cristo veio. Mas de que adianta se ele não vem agora para cada pessoa? “Nós é que temos que nascer para Ele” (fr.Walter Hugo).
● O Advento é também o nosso tempo; estamos sempre no “advento” de nós mesmos. Cada um vive no Antigo Testamento de si mesmo.
● Celebrando sua vinda histórica, realiza-se sua vinda atual no mistério do culto, realizando-se assim, mais uma etapa da preparação da última vinda de Cristo.
● A Igreja vive e celebra esta tensão do “já presente” e do ainda “por vir”.
● Cristo é sempre aquele que ainda deve vir e continua chegando para cada um e para todo o mundo.
● O Reino messiânico já está presente pela justificação e pela graça. Mas ainda não está plenamente presente nos corações dos que creem no Senhor Jesus. É preciso que Ele venha para que se instaure o Reino de justiça, de paz, de reconciliação, onde todos se reconheçam irmãos.
O ontem messiânico, o presente atual e esperançoso,
o futuro profético
A vinda de Cristo é antiga e é nova.
É um fato passado que se atualiza na celebração litúrgica. A Igreja é antes de tudo a esposa de Cristo, único sumo sacerdote. Neste sentido, é a receptora dos sacramentos, mas não a produtora nem a criadora. A Igreja reelabora os sacramentos como colaboradora do esposo de quem recebe a vida e tudo para poder atuar.
Por isso o sentido e fim da celebração litúrgica é precisamente o de fazer participar a todas as gerações ativamente na obra da salvação de Cristo. No tempo de Advento a obra de salvação se expressa de maneira escatológica. Trata-se do Cristo Juiz, Senhor, Rei, que virá no final dos tempos. É o Cristo em Majestade dos grandes mosaicos das catedrais.
O mistério do culto litúrgico faz possível que a eternidade irrompa no tempo para que o mistério originário chegue a celebrar-se, e a salvação contida na ação salvífica passada alcance a cada geração.
Portanto a Escritura, a Liturgia e os Padres anunciam sempre a morte do Senhor, certamente como morte salvífica, como núcleo central do mistério do culto: «mortis Dominicae mysteria». A morte tem como conseqüência a vida de Cristo. Dirá o liturgista Odo Casel que à Jesus Cristo, chegamos através do Jesus histórico, assim também à Ressurreição chegamos pela morte.
A ação salvífica de Cristo nos conduz à sua Páscoa e nos faz, por seu Espírito, participar dela e ser transformados pela própria Páscoa de Cristo morto e ressuscitado, para passar assim à vida e à vida eterna. «Cristo atua verdadeiramente nos sacramentos como o sumo sacerdote de sua Igreja, que a liberta através de sua ação salvadora e a conduz à vida», dizia Odo Casel.
O tempo do Advento conduz a Igreja ao limiar de sua existência, daí que a grande característica do Advento deverá ser a esperança. Escutamo-lo neste primeiro domingo: «Deus vos chamou a participar na vida de seu Filho, Jesus Cristo, Senhor nosso». Somos chamados a realizar plenamente o plano de Deus sobre todos e cada um de nós. Recorda-nos o Advento que, no presente se nos apresenta o futuro.
O Advento é um tempo real e atual. Enquanto escutamos as profecias ainda não realizadas, vemos passar o mundo ante nossos olhos e ansiamos por esse mundo que virá e que já começamos a viver e a preparar no presente.
Enquanto esperamos o amanhã, feliz e desejado, trabalhamos no presente, atual e esperançoso e olhamos o passado (vindo na carne mortal de Cristo) e nos lembramos de ter tido o Messias entre nós, e tomamos força em nossa carne que foi a sua e que, portanto, está cheia da força salvífica que ele infundiu.
O Advento é um tempo real e presente que, ao ver o ontem messiânico, nos lança para o futuro profético. Em todo o processo está a Trindade Santa: o Pai que cria, o Filho que vem a este mundo a recriá-lo e o Espírito Santo que o santifica e o une no amor.
Pe. Juan Javier Flores Arcas, OSB
Reitor do Pontifício Instituto Litúrgico de Santo Anselmo – Roma
franciscanos.org.br