Um dos traços mais bonitos da espiritualidade franciscana é a busca sincera pela verdadeira e perfeita alegria. O seráfico pai São Francisco procurava em toda e qualquer situação seguir bem de perto aquele preceito paulino que diz: “Alegrai-vos sempre no Senhor” (Fl 4,4). Quem não se comove quando escuta o relato da perfeita alegria? Quem não se encanta com a cena do Natal de Gréccio, quando o santo, radiante de alegria, cantou o Evangelho e pregou sobre o Menino de Belém? Saudável ou doente, atribulado ou tranquilo Francisco procurou sempre conservar dentro de si uma profunda e santa alegria.

Para este santo as criaturas nunca foram obstáculos para o perfeito amor a Deus. Pelo contrário, ele se irmanou a todas elas e enxergou em cada uma os traços do Criador. Tomás de Celano nos informa que certa vez São Francisco, passando pelo vale de Espoleto, e vendo inúmeras aves “correu alegremente até elas, tendo deixado os companheiros na estrada (...) repleto de enorme alegria, rogou-lhes humildemente que ouvissem a palavra de Deus”(1Celano 58). Este mesmo autor nos diz que São Francisco “enchia-se muitas vezes de admirável e inefável alegria, quando olhava o sol, quando via a lua, quando contemplava as estrelas e o firmamento” (1Celano 80).
Outro motivo de alegria para São Francisco era a companhia de seus irmãos. Celano nos diz que, quando frei Bernardo, primeiro companheiro do santo, se converteu, “São Francisco alegrou-se com júbilo muito grande com a chegada e a conversão de tão grande homem” (1Celano 24). Essa mesma alegria ele sentia com a chegada dos demais irmãos (cf. 1Celano 31). E quando ouvia boas notícias a respeito de seus frades? Ele sentia sua alma banhada de santa de alegria. Certo dia, depois de ouvir exemplos edificantes dos frades da Espanha, exclamou: “Graças vos dou, Senhor, santificador e guia dos pobres, que me alegraste com esta notícia a respeito de meus irmãos” (2Celano 178).
Para São Francisco a simplicidade, a pobreza e a humildade devem ser vividas alegremente: “Onde há pobreza com alegria, aí não há nem ganância nem avareza” (Admoestação 27). Também a companhia dos mais pobres e simples deveria ser fonte de alegria para os irmãos menores: “E devem alegrar-se, quando conviverem entre pessoas insignificantes e desprezadas, entre pobres, fracos, enfermos, leprosos e os que mendigam pela rua” (Regra não Bulada 9).
Na Regra mais antiga da Ordem há um conselho do santo que diz: “E cuidem para não se mostrar exteriormente tristes e sombriamente hipócritas; mas mostrem-se alegres no Senhor, sorridentes e convenientemente simpáticos” (Regra não Bulada 7).O próprio santo tinha o cuidado de não ficar triste diante dos seus irmãos. Certa vez, morando em Santa Maria dos Anjos, sofreu por dois anos uma terrível tentação. Diz um antigo hagiógrafo: “Em vista disso, era tão atormentado na mente e no corpo que, muitas vezes, se afastava da companhia dos irmãos, porque não podia mostrar-se a eles alegre como costumava” (Espelho de Perfeição 99).
Tomás de Celano afirma que São Francisco “esforçava-se por manter-se sempre na alegria do coração, por conservar a unção do espírito e o óleo da alegria. Com o máximo cuidado evitava a péssima doença da tristeza” (2Celano 125,7-80). Este mesmo autor nos informa que o seráfico pai ensinava aos frades que “os demônios não podem ofender o servo de Cristo, quando o virem repleto de santa alegria” (2Celano 125,5).
Que o Pobrezinho de Assis nos ajude a conservar um coração sereno e alegre, pobre e generoso, aberto para Deus e para os irmãos. Contagiados pela alegria franciscana, saiamos pelo mundo cantando a paz e o bem.
Pax et Bonum