"Foi eleito Papa ontem, 13 de março, escolhendo para si o nome de Francisco. Assim como a renúncia de Bento XVI, esse resultado pegou a todos de surpresa. Por quê? A resposta é, a um só tempo, simples e profunda: o homem só pode compreender a verdade das coisas quando deixa de olhar para si mesmo e põe seus olhos em Deus."
Foram 13 dias entre o início da Cátedra Vazia ou Sede Vacante e a eleição do novo Papa, Francisco, que é o primeiro da história a adotar este nome. E por ser o primeiro, não utilizará o algarismo romano correspondente à sequência, uma vez que não se sabe se os pósteros também o adotarão. Mas, se o fizerem, então, passam a enumerar a sequência. Para os brasileiros, a superstição com o número 13 significa “azar”. Mas terá sido mesmo?!
A grande mídia escolheu vários "Papas"; fez o seu conclave. Mas O Espírito Santo escolheu o que Ele quis! Isso fez jus ao adágio de terras romanas: “Quem, no Conclave entra Papa, sai Cardeal”. Foi assim com 99% dos chamados ‘papabili’.
A partir de três perguntas essenciais que fiz ao Padre Ricardo de Barros Marques, que reside em Roma, gostaria de comentar esta eleição, iniciando com algumas questões acerca do Conclave. Todos os grifos são nossos.
1. Qual a reação e pensamento dos 115 Cardeais já reunidos em Roma para as Congregações Gerais sobre o futuro da Igreja, no sentido de o que esperam do novo Papa?
“É difícil dizer qual seria o pensamento dos cardeais a respeito do futuro da Igreja ou o que esperam do novo Papa. De qualquer forma, posso dizer que há uma preocupação para se conhecer bem a situação da Igreja hoje, discutir os principais pontos com calma e depois iniciar o Conclave. Os senhores Cardeais querem fazer um "raio X" da Igreja para depois definirem o perfil do novo Romano Pontífice.”
2. Como dirimir a difícil questão de que a escolha do novo Papa é divina (é inspirada pelo Espírito Santo) e a política existente antes das votações?
“A escolha do Papa é de inspiração divina por meio humano, o escrutínio. Quem elege o Romano Pontífice, segundo a legislação atual, são os Cardeais - não mais de 120. O então Papa João Paulo II - hoje, Beato João Paulo II - na "Universi Dominici Gregis", documento que rege a eleição papal, disse que o Colégio Cardinalício não é uma instituição necessária, seja teológica seja canonicamente falando, para a validade da eleição, mas, como Legislador Supremo da Igreja, ele confirmava a eleição por meio dos senhores Cardeais. Se falamos de inspiração divina, falamos, nesse caso, de homens fidedignos à Igreja de Cristo e prudentes, que por meio da oração e das conversas entre eles procuram discernir quem é o mais adequado para ser o novo Papa. Trata-se de um julgamento que cada Cardeal faz, segundo a vontade de Deus. O Espírito Santo é invocado e tem o poder de inspirar cada mente, cada coração. Da parte de cada um e de todos os Cardeais, deve haver uma disposição para acolher as moções do Espírito. As conversas são necessárias. Se falamos de "política", devemos entender que se trata de diálogo, avaliação dos perfis, da vida pastoral, intelectual e espiritual dos pares. Não há outro meio, se se trata de uma eleição por meio de escrutínio. No passado já houve até interferência temporal na escolha do Romano Pontífice. Hoje, qualquer coisa que esteja fora das conversas necessárias para a escolha, do diálogo, da avaliação, significa um fechamento à inspiração do Espírito Santo. Vale lembrar também que o voto é individual e secreto.”
3. Qual a visão (expectativa) dos Cardeais frente aos desafios atuais de evangelização?
“Percebe-se uma preocupação muito grande com relação à nova evangelização - lembremos que estamos no Ano da Fé e que recentemente houve um sínodo dos Bispos cuja temática foi sobre a Nova Evangelização. Os senhores Cardeais procuram tirar um "raio X" da Igreja. Sentem que há um grande desafio interno a ser encarado: o indiferentismo religioso. Depois tem o problema da diminuição tanto do número de católicos como do número de sacerdotes na Europa. Há também o problema do tolhimento da liberdade religiosa e, sobretudo, da liberdade de Magistério. Penso que se trata de voltar a entusiasmar as pessoas com a mensagem de Jesus Cristo, sem cair na armadilha da expressão "a Igreja precisa se modernizar". O entusiasmo começa com o exemplo, o testemunho de fé.”
Um Franciscano elencou três razões pelas quais o Papa Francisco traz consigo uma ânsia de esperança:
1. "Muito significativa a referência feita insistentemente pelo novo Papa na temática da fraternidade, elemento central da Espiritualidade Franciscana. Em seu breve discurso, o Papa Francisco falou do sonho da grande fraternidade apoiada no amor, no respeito e na paz. E também deu ênfase ao trabalho conjunto de condução da Igreja, de cooperação entre os bispos e o povo.
2. Vi com muita simpatia o fato de dar ênfase a seu ministério como Bispo de Roma. Esta colocação parece estar sinalizando para uma condução da Igreja mais pautada nas peculiaridades das igrejas particulares sem, no entanto, que se perca a Comunhão com a Igreja de Roma, que tem o encargo de presidir a Igreja Universal na Caridade.
3. O emocionante gesto de se recomendar às orações do povo. Fiquei de fato muito comovido quando o Papa, antes de conceder ao povo a bênção Urbi et Orbi, pediu à multidão presente na Praça de São Pedro que orasse por ele. Humildemente, Francisco abaixou a cabeça e recebeu com docilidade e reverência as preces daquele povo."
De fato, parece que “o segredo desse Papa está na oração. De um modo particular, estou muito feliz com a surpresa de Deus. Que eleva os humildes e que governa de maneira silenciosa a Sua Igreja.”
Já no Domingo passado (10/03), havia recebido diretamente de Roma a notícia que "Um dos assuntos mais quentes é imaginar qual será o nome do novo Papa. Falam muito de Paulo VII mas há quem sugira: João Maria I, Francisco I ou até Mariano I. Todos duvidam que alguém se atreva a chamar-se João Paulo III e que João XXIV é muito feio. Veremos..." Confesso que ao vê-lo, tive um bom ataque de risos. Me lembrou algumas caricaturas de como retrataram os Papas no Cinema. Ri não por ser argentino, (para não falar das piadas que os brasileiros fazem com os argentinos), mas por sua simplicidade. Ri de alegria pelo nome, que me diz muitíssimo.
São Francisco de Assis foi um homem que, ao "reformar" a Igreja em seu tempo, soube, antes de qualquer coisa, ser fiel e obediente a Ela. "Re-forma" é uma forma nova, mas sempre observando as antigas; Por isso, se dá uma “ré” e se observa o que houve para agir com prudência no presente e no futuro. E esta é a grande novidade de Francisco de Assis, que mais uma vez surpreende o mundo e mostra que a força do Evangelho, no seguimento de NSJC, nunca está morta.
Primeira aparição aos fiéis reunidos na Praça de São Pedro
Foi neste sentido que um Bispo brasileiro, disse ontem que "o mais comovente na eleição de um Papa é ver e ouvir os católicos, com toda simplicidade, gritarem "Viva o Papa", sem nem saberem quem foi o eleito. E assim deve ser! Pouco importa a proveniência, a idade, o currículo. Importa ao crente uma só coisa: é o Papa, o Bispo de Roma e, como tal, o Sucessor de Pedro e Chefe visível da Igreja de Cristo. Agora, ele se chama Francisco! A ele, na fé, o nosso afeto, a nossa oração, a nossa fidelidade, a nossa obediência.
Mas, o que esperar do novo Papa? Que ele seja fiel à missão de Pedro: testemunhar e anunciar que Jesus é o Cristo, o Filho do Deus vivo, sendo primeiro guardião da fé católica e apostólica. Isto lhe custará um martírio cotidiano - por isso os sapatos vermelhos que o Papa deve calçar..."
Esta escolha divina e humana talvez seja um sinal da Igreja que percebe que existe um continente que tem alimentado as vocações europeias, reavivado com força aquele primeiro seio donde provieram tantos missionários.
E da mesma forma que no pontificado de Bento XVI a vida religiosa monástica beneditina cresceu, em função da propagação da devoção a São Bento, agora, muito provavelmente, a São Francisco de Assis será renovada, mais uma vez, assim como a promoção vocacional da já quase decrescente Congregação Jesuíta, que tem como patrono São Francisco Xavier - grande evangelizador do Oriente, no século XVI.
Porém, já começam a insurgir os que se opõem ao que já está consumado: Um repórter argentino (Verbitsky), escreveu certa vez sobre a possível participação ativa do nosso mais novo Papa na Ditadura Militar Argentina. Mas, assim como Joseph Ratzinger foi soldado alemão, durante a Ditadura Nazista e, por isso, tentaram fazer vários e diversos paralelos, para desmerecê-lo, da mesma maneira agora fazem com este novo Papa. O jornalista foi desacreditado, devido ao conhecido ódio visceral que tem contra a Igreja na Argentina. No entanto, é necessário dizer a base fundamental para falar qualquer coisa a respeito da Igreja é a Fé. Fora disso, é especulação e, portanto, merece descrédito.
Talvez, as grandes atitudes de todos nós para com ele devem ser: fidelidade e obediência. Nos alegremos, pois; Temos um Papa! Um Papa que mistura as virtudes dos que lhe precederam: a descontração de João XXIII, a força de Paulo VI, a alegria de João Paulo I, a inteligência de Bento XVI e, quiçá, a santidade de João Paulo II. T
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