Roxo. 1º DOMINGO Advento
LEITURAS
1ª Leitura - Is 2, 1-5
Salmo - Sl 121, 1-2.4-5.6-7.8-9 (R. Cf. 1)
2ª Leitura - Rm 13,11-14a
Evangelho - Mt 24,37-44
A vinda de Cristo
Estamos iniciando um novo ano litúrgico, o ano A (do ciclo trienal da liturgia dominical), no qual os evangelhos, via de regra, são tomados de Mateus. As quatro primeiras semanas do ano litúrgico chamam-se Advento, termo que significa ‘vinda’: a vinda de Cristo. Todavia, não se trata da lembrança apagada de um fato ocorrido há dois mil anos atrás. Avinda de Cristo tem atualidade ainda hoje.
A 1ª leitura recua longe para olhar melhor: descreve a visão “utópica” de Isaías, por volta de 700 a.C: todos os povos se unirão em tomo do templo de Jerusalém. As armas serão transformadas em instrumentos agrícolas. Haverá paz…
Setecentos anos depois, a primeira vinda de Cristo marcou o irreversível início da realização desse “projeto” de Deus. Sua nova vinda, no fim dos tempos, marcará o ponto final. O evangelho fixa nossa atenção nesta nova vinda. Não podemos viver dormindo. Devemos viver em estado desperto, à luz do dia de Cristo, para que ele sempre nos possa encontrar dispostos para a vinda de incansável caridade que ele nos ensinou (2ª leitura).
Jesus veio inaugurar o projeto definitivo de Deus para o mundo. Ele será também o juiz da História na sua vinda final. Esse projeto de Deus, que Jesus veio inaugurar e que ele julgará, é comunitário. É a constituição de um povo de Deus, formado por todas as nações, dispostos a praticar a justiça e a caridade fraterna. Para que isso se realize, deve acontecer uma transformação histórica. Nós devemos dar os necessários passos históricos, para que o plano de Deus chegue até nós: preparar, pela transformação de nossos corações e de nossa sociedade, a plenitude que vem de Deus. Nossa participação no projeto de Deus consiste em tornar nossa sociedade “digna” de uma nova vinda de Cristo. Nisto se inserem, além de nosso empenho pessoal, os passos da comunidade para maior solidariedade: mutirões, cooperativismo etc.
O Cristo vem também, cada dia, na vida de cada um. Que ele nos encontre comprometidos com a construção da História como ele a “sonhou” e com os critérios que ele usará para julgar: o amor aos mais pequenos dos irmãos, sustentado pela oração, na qual expomos nossa vida diante dele. Atentos às coisas do Senhor, teremos paz profunda e seremos capazes de dedicação total na alegria, no trabalho e na luta.
Perspectiva Cristã do Tempo e do Mundo
O ensinamento deste domingo brota tanto do texto das leituras quanto do seu lugar no início do ano litúrgico: orientando-nos para o Senhor que vem, esboça a perspectiva global do “tempo cristão”. Desde o início nos é apresentada a perspectiva final: a vinda do Filho do Homem (evangelho). Nesta perspectiva, porém, não dominam ameaça e medo, e sim, a luz orientadora para nosso caminho: “A ti, Senhor, elevo minh’alma” (canto da entrada).
Para entender o espírito do advento e da escatologia cristã é preciso ver a relação entre a espera do Messias (A.T.) e a expectativa cristã. A espera veterotestamentária do Messias (Cristo) prefigura a expectativa cristã do “Senhor que vem”, na “segunda vinda” (no fim dos tempos), e, sobretudo, cada dia (no encontro de cada um e de toda a comunidade com Jesus, Senhor de nossa vida). Por isso, podemos “acorrer ao encontro do Cristo que vem” (oração do dia).
Neste e nos próximos domingos aparecem, nas leituras de Isaías, as “utopias do Antigo Testamento”, imagens daquilo que se espera de Deus quando vier o seu Cristo-Messias (1ª leitura). O Messias implantará a “paz” (= harmonia e felicidade) no monte santo, ao qual todas as nações, inclusive nós, somos convidadas a subir com alegria. Consideremos: 1) a utopia: transformar lanças em foices… tanques de guerra em tratores…; 2) o “caminhar”: o passo que nós fazemos, nossa participação ativa na salvação que vem de Deus. O salmo responsorial dá eco a isso: subir ao recinto do tempo, caminhar para o lugar onde habita Deus e onde está a sua paz.
A 2ª leitura acentua que corremos ao encontro do Senhor não de mãos vazias, mas com as nossas boas obras como presente a oferecer. Levantar-nos de nossa imobilidade, revestir-nos de Cristo. Nossa participação na salvação que vem de Deus é uma participação prática, ética. Os dons que de Deus recebemos transformam-se, assim, em antecipação da realidade escatológica e nossa vida (oração sobre as oferendas), enquanto caminhamos entre as coisas que passam rumo às que não passam (oração final).
Tal é a perspectiva cristã da vida e do mundo: revivendo a sempre atual expectativa messiânica (isto é, da salvação que vem de Deus), animamo-nos a assumir, por nossa parte, uma atitude ética renovadora, que transforma nós mesmos, nossa sociedade e o mundo.
Do livro “Liturgia Dominical”, de Johan Konings, SJ, Editora Vozes
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