SEJAM BEM-VINDOS!

Caríssimos(as) Irmãos(as), saudamos a todos vocês com a Paz e o Bem contidas no Cristo Jesus e em São Francisco de Assis.



sexta-feira, julho 31, 2015

Convite da OFS - Profissão Solene




A Instituição

OFS - A Ordem Franciscana Secular tem suas origens no século XIII, quando leigos manifestaram o desejo de seguir os passos de São Francisco de Assis, seu fundador e fonte de inspiração. No início de sua história vê-se reconhecida pela Igreja como irmãos e irmãs da penitencia. O Papa Gregório IX em 20 de maio de 1221 aprova a primeira Regra “Memoriale Propositi” com a primeira denominação Ordem da Penitência. Em 18 de agosto de 1289 o Papa franciscano Nicolau IV, com a Bula “Supra Montem” reconhecia São Francisco como fundador da Ordem da Penitência e a denominava de Ordem Terceira de São Francisco. 

No século XVIII a Ordem Terceira foi duramente atingida com a supressão da Ordem decretada por José II, Napoleão e outros. Com a Revolução Francesa os terceiros viram-se fragilizados e pagaram com a própria vida sua fidelidade a Igreja. Na segunda metade de século XIX a Ordem Terceira ressurgiu com nova força, fazendo uso da impressa e grandes personalidades, e muitos santos. O Papa Leão XIII com a Constituição Misericors Dei Filius promulgou uma nova Regra em 1884. Ele colocou na Ordem suas esperanças e preferências e exortou calorosamente que a propagassem por toda a parte, e novamente a Ordem floresceu. Em 1966 a Sagrada Congregação dos Religiosos concedeu a Ordem Terceira a “faculdade de atualizar-se”.


UNIFICAÇÃO

No Brasil, a partir de 1972 a OFS foi unificada sob uma única obediência, constituído Conselhos de nível Nacional, Regional e Local. Isto só foi possível graças aos trabalhos incansável de Frei Mateus Hoepers, OFM que trabalhou pela unificação das obediências e irmão Paulo Machado da Costa e Silva, na elaboração da Regra até a reforma das Constituições Gerais em caráter experimental. O acontecimento máximo da renovação da OFS foi o surgimento da Regra renovada, confirmada por Paulo VI, em 24 de junho de 1978. Esta Regra foi elaborada pelos Franciscanos Seculares de todos os Países, em textos breves, simples, profundamente evangélicos e legitimamente Franciscanos, tendo com característica principal à secularidade. E desde então a Ordem Terceira passou a chamar-se Ordem Franciscana Secular. “amai, estudai e vivei, esta nova Regra” recomendou-nos o Papa João Paulo II.

Hoje a OFS configura como uma união orgânica de todas as Fraternidades católicas espalhadas pelo mundo e abertas a todos os grupos e fiéis católicos (jovens, solteiros, casados). Nelas, os irmãos e as irmãs, impulsionados pelo Espírito a atingir a perfeição da caridade no próprio estado secular, são empenhados pela Profissão a viver o Evangelho à maneira de São Francisco e mediante uma Regra confirmada pela igreja.

No Brasil, a OFS historicamente está ligada aos Frades da primeira Ordem e abrange todo o território nacional. Ela está organizada em dezesseis Regiões, com cerca de 582 Fraternidades, e aproximadamente 18.000 Franciscanos Seculares em todo o país. No mundo a OFS está presente em 72 países com cerca de 430.000 Franciscanos Seculares Professos e mais de 50.000 inscritos na Juventude Franciscana (JUFRA) presentes em mais de cem países nos cinco continentes:

Europa: Albânia, Alemanha, Áustria, Bielorrússia, Bélgica, Bósnia, Bulgária, Croácia, Chipre, República Checa, Dinamarca, Estônia, França, Inglaterra, Irlanda, Itália, Cazaquistão, Letônia, Lituânia, Malta, Noruega, Holanda, Polônia, Portugal, România, Rússia, República Eslováquia, Eslovênia, Espanha, Suécia, Suíça, Ucrânia, Hungria.

África: Angola, África do Sul, Benin, Burundi, Camarões, República Centro Africana, Chade, República Democrática do Congo, Costa do Marfim, Egito, Eritréia, Madagascar, Malawi, Ilhas Maurício, Moçambique, Nigéria, Quênia, Ruanda, Tanzânia, Togo, Uganda, Zâmbia, Zimbábue.

América: Argentina, Bolívia, Brasil, Canadá, Chile, Colômbia, Costa Rica, Cuba, República Dominicana, Equador, El Salvador, Estados Unidos, Guatemala, Haiti, Honduras, México, Nicarágua, Panamá, Paraguai, Peru, Porto Rico, Uruguai e Venezuela.

Oceania: Austrália, Nova Zelândia

Ásia: Coréia, Filipinas, Japão, Hong Kong, Índia, Indonésia, Líbano, Malásia, Paquistão, Singapura, Sri Lanka, Tailândia, Taiwan e Vietnam.

A missão da OFS, preferencialmente, atende a família, o mundo do trabalho, a promoção da justiça, defesa da ecologia e a inserção nas pastorais. É uma escola de cidadania, de santidade e um celeiro de vocações religiosas e sacerdotais. 

Por sua vez, a formação de um franciscano secular compreende de um período de iniciação, de formação inicial e a formação permanente.

"É a pobreza que nos tem constituído herdeiros e reis do Reino dos Céus e não as falsas riquezas." (S.Francisco de Assis)

ofs.org.br

quarta-feira, julho 29, 2015

Idosos: missão e solidariedade

Queridos irmãos e irmãs!

Daqui a pouco mais de um mês, no dia 30 de agosto, acontecerá em nossa Arquidiocese a “Caminhada da Solidariedade”, um projeto pioneiro da Arquidiocese de Natal, que visa angariar recursos em prol das obras sociais arquidiocesanas. Nesta primeira edição; pois queremos colocar essa ação no calendário da Arquidiocese; almejamos chamar a atenção para a situação dos abrigos de idosos do estado, sem fins lucrativos, que passam por dificuldades, no que diz respeito à manutenção.
O Papa Francisco, no dia 11 de março deste ano, na sua catequese semanal, lembrava que se a sociedade chega a descartar os idosos, certamente não o Senhor. “O Senhor não nos descarta nunca”, bradava o Papa latino-americano. “Ele nos chama a segui-Lo em cada idade da vida e mesmo a velhice contém uma graça e uma missão, uma verdadeira vocação. A velhice é uma vocação”. E o desejo do Papa assim se expressava: “como gostaria de uma Igreja que desafia a cultura do descartável com a alegria transbordante de um novo abraço entre os jovens e os idosos! É isso o que peço hoje ao Senhor, este abraço!”.
O Documento de Aparecida já nos lembrava que “crianças e anciãos constroem o futuro dos povos. As crianças porque levarão adiante a história, os anciãos porque transmitem a experiência e a sabedoria de suas vidas” (CELAM. Documento de Aparecida, n. 447). A nossa atitude diante dos idosos, como nos recomendam os bispos latino-americanos, é a de nunca esquecermos que “a Igreja sente-se comprometida a procurar a atenção humana integral a todas as pessoas idosas, também, ajudando-as a viver o seguimento de Cristo em sua atual condição, e incorporando-as o quanto possível à missão evangelizadora” (CELAM. Idem, n. 450).
No dia dos avós, comemorado em 26 de julho, devido à memória de Sant’Ana e São Joaquim, pais de Nossa Senhora e avós de Jesus, quero fazer o convite a todos para que participem da Caminhada da Solidariedade. Já está à venda o kit, composto por camiseta e boné, que é a forma de contribuir com essa iniciativa. Com eles; camiseta e boné; caminharemos do Santuário dos Mártires de Cunhaú e Uruaçu, no Bairro de Nazaré, após a celebração da Eucaristia, às 7h e seguiremos até o Instituto Juvino Barreto, onde encerraremos a Caminhada. O Instituto Juvino Barreto é um dos abrigos de idosos que será beneficiado com a arrecadação da venda dos kits. Além desse abrigo outros serão beneficiados: Abrigo Anísia Pessoa, Abrigo São Vicente de Paulo, Casa do Idoso Jesus Misericordioso, Lar do Ancião Evangélico (LAE), Espaço Solidário e Lar da Vovozinha. O kit está sendo vendido nas paróquias, no Centro Pastoral Pio X, no subsolo da Catedral, e nas instituições que serão beneficiadas com a iniciativa da Caminhada.
Participem, vamos colaborar para que os idosos sejam amparados e reconhecidos na sua dignidade e missão de transmitir para todos nós a sabedoria de suas vidas.


Dom Jaime Vieira Rocha
Arcebispo Metropolitano de Natal

arquidiocesedenatal.org.br

segunda-feira, julho 27, 2015

O toque da humanidade de Cristo na Comunhão

O milagre da multiplicação dos pães fez uma grande impressão nos primeiros cristãos porque está nos quatro Evangelhos, e o Evangelho de São Mateus e São Marcos chegam a falar duas vezes desse episódio.

Por que essa impressão? Não tanto pelo milagre em si mesmo, mas pela mensagem eucarística por trás desse portento. Assim como fez na noite da Última Ceia, Jesus, antes de multiplicar os pães, "tomou os pães, deu graças e distribuiu-os aos que estavam sentados" (v. 11).

O Evangelho começa dizendo que "Jesus foi para o outro lado do mar da Galileia" (v. 1). Os Santos Padres veem nessa passagem – evidenciada pela informação de que "estava próxima a Páscoa" (v. 3), que quer dizer "passagem" (cf. Ex 12, 11) – um sinal do desapego do mundo que todo cristão deve fazer [1]. Antigamente, os pregadores cristãos deixavam bem clara a maldade da mentalidade mundana e a necessidade de converter-se, de não se conformar com as coisas deste século (cf. Rm12, 2). Infelizmente, hoje em dia, alguns charlatães, dentro da própria Igreja, têm flertado com o mundo, chegando a dizer que seria a Igreja quem precisaria aprender com a modernidade: aceitando, por exemplo, a Comunhão para recasados, os "casais" homossexuais, a masturbação, a pornografia etc. Ora, não é estranho que justamente essa geração – que não crê mais no amor, que está visivelmente apegada ao dinheiro (seja por parte dos capitalistas, seja por parte dos socialistas), que mata os próprios filhos no ventre de suas mães – queira julgar os santos do passado? Não é muita inconveniência e arrogância dos homens de nosso século, que queiram medir os santos com sua régua torta e viciada?

Estando já na montanha – prossegue o Evangelista –, Jesus age "levantando os olhos e vendo que uma grande multidão estava vindo ao seu encontro" (v. 5). Santo Tomás de Aquino, ao comentar este trecho, faz notar a circunspecção de Nosso Senhor, que não desviava o Seu olhar para um lugar ou outro, mas permanecia atento aos Seus discípulos, a quem ensinava [2].

Jesus pergunta, então, a Filipe: "Onde vamos comprar pão para que eles possam comer?" (v. 5). O Evangelista deixa claro que Nosso Senhor questiona o Seu discípulo "para pô-lo à prova (πειράζων)" (v. 6). A palavra grega em questão pode ser traduzida tanto como "tentação" quanto como "provação". Como, porém, "Deus não pode ser tentado pelo mal e tampouco tenta a alguém" (Tg 1, 13), o que Cristo faz aqui é pôr à prova a fé dos Seus discípulos, a fim de aumentar-lhes o amor.


À pergunta de Cristo, responde rudemente Filipe: "Nem duzentas moedas de prata bastariam para dar um pedaço de pão a cada um" (v. 7). As suas palavras estão baseadas em um raciocínio puramente humano, pois ele não vê outra saída para a situação senão com a compra de mais pães.


André, por outro lado, demonstra ter uma fé mais madura, como faz notar o Doutor Angélico:
"André parece ter diante de si o milagre que está prestes a ser realizado. Talvez ele tivesse na memória o sinal que Eliseu havia feito com os pães de cevada, quando saciou cem homens com vinte pães (cf. 2 Rs 4, 42ss), e por isso disse: 'Está aqui um menino com cinco pães de cevada'. Ainda assim, porém, ele não podia supor que Cristo fizesse um milagre maior que o de Eliseu. Na verdade, ele estimava que menos pães seriam milagrosamente produzidos de menos, e mais de um número maior. Por isso, acrescentou: 'Mas o que é isto para tanta gente?', como se dissesse: ainda que esses pães fossem multiplicados como Eliseu multiplicou, não seria o suficiente. No entanto, Ele, a quem não é necessária nenhuma matéria prima, podia saciar facilmente as multidões seja com muitos seja com poucos pães." [3]
Diz, em seguida, Nosso Senhor: "Fazei sentar as pessoas (discumbere)" (v. 10). Na verdade, à época de Cristo, as pessoas comiam estando deitadas. "Os antigos tomavam suas refeições deitados em leitos, de onde se difundiu o costume de usar a palavra discumbere a quem se sentava para comer. Misticamente, isso significa aquela quietude necessária à perfeição da sabedoria, como diz o Autor Sagrado: 'Quem diminui suas correrias, esse é que se encherá de Sabedoria' (Eclo 38, 25)" [4]. O próprio São João Evangelista ficou lembrado como aquele que reclinou a cabeça sobre o peito de Jesus (cf. Jo 13, 25), indicando a atitude com que todo cristão deve proceder na ação de graças depois da Eucaristia.

Aqui, cabe um exame de consciência sobre a forma como nos temos aproximado da Sagrada Comunhão. Se é verdade que por meio desse divino sacramento, Nosso Senhor nos toca com a Sua humanidade, a sua recepção só terá fruto se O recebermos com fé e com as devidas disposições interiores. Caso contrário, seremos como aquela multidão curiosa e distraída que acotovelava Jesus no caminho da casa de Jairo, sem todavia receber a Sua graça (cf. Mc 5, 21-24). De fato, de todas as pessoas que tocaram no Divino Mestre, somente a hemorroíssa foi beneficiada desse contato, porque foi a única pessoa que se aproximou d'Ele com fé (cf. Jo 5, 25-34). Do mesmo modo, quem se senta na relva (v. 10), nos "prados e campinas verdejantes" (Sl 22, 2), e reclina a cabeça no peito de Nosso Senhor depois da Comunhão, vai notar o toque suave e sutil da graça divina em toda a sua vida.

São João prossegue dizendo que o próprio "Jesus tomou os pães, deu graças e distribuiu-os aos que estavam sentados" (v. 11), diferentemente dos Evangelhos sinóticos, nos quais são os Apóstolos quem distribuem os pães à multidão (cf., Mt 14, 19; Mc 6, 41; Lc 9, 16). Comentando essa discordância entre os evangelistas, Santo Tomás escreve que "aqui é dito que Ele distribuiu, porque se considera que é Ele mesmo quem realiza aquilo que faz por meio de outros. Mas, no sentido místico, ambas as frases são verdadeiras: porque só Ele refaz desde dentro, enquanto os outros o fazem desde fora e como ministros" [5]. Portanto, é o próprio Cristo quem distribui a Comunhão pelas mãos de Seus sacerdotes.

Por fim, depois de todos satisfeitos, os discípulos "recolheram os pedaços e encheram doze cestos (cophinos) com as sobras dos cinco pães" (v. 13). O Aquinate faz notar que o cesto em questão, chamado cophinus, "é um vaso rústico feito para o ofício dos camponeses", e conclui: "Assim, os doze cestos significam os doze Apóstolos e os seus imitadores, que, ainda que sejam desprezados nesta vida, são todavia repletos interiormente das riquezas dos sacramentos espirituais. Dizem-se que são doze porque foram enviados para pregar a fé da Santíssima Trindade às quatro partes do mundo" [6].

O Evangelista conclui narrando que, "quando notou que estavam querendo levá-lo para proclamá-lo rei, Jesus retirou-se de novo, sozinho, para o monte" (v. 15). De fato, as pessoas ainda não tinham entendido que o Seu reino não é deste mundo (cf. Jo 18, 36: "Regnum meum non est de mundo hoc"). Cabe fazer, ao fim desta reflexão, um último exame de consciência, pois, talvez, muitos de nós ainda não tenhamos entendido quem seja verdadeiramente Jesus Cristo. Infelizmente, muitos continuamos na mesma miséria dos homens do tempo de Cristo, querendo que Ele resolva os nossos problemas terrenos e imanentes e esquecendo-nos do maior dom que Ele nos veio trazer: o Reino dos céus. Lá, um dia, Ele vai alimentar-nos para sempre com o pão definitivo da visão beatífica. Essa é a nossa esperança.


reflexoesfranciscanas.com.br

domingo, julho 26, 2015

26 de julho - São Joaquim e Sant'Ana

Leituras do Dia
1ª Leitura - 2Rs 4,42-44
Salmo - Sl 144,10-11.15-16.17-18 (R. cf.16)
2ª Leitura - Ef 4,1-6
Evangelho - Jo 6,1-15

No dia vinte e seis de julho, comemoração de São Joaquim e Sant'Ana, pais da Virgem Maria, fazemos festa para os avós, homens e mulheres com uma missão importante e essencial nas famílias e na sociedade. E o grande Papa Francisco, quando lhe perguntaram sobre os celulares com os quais jovens de todas as idades querem fazer "selfies" com ele, disse sentir-se bisavô! Nas Filipinas, foi chamado "Lolo Kiko" — ou seja, vovô Francisco. E recentemente, numa série de catequeses sobre a família, dedicou duas delas aos avós e aos idosos em geral, das quais recolhi ensinamentos que me apraz oferecer aos leitores (Cf. Catequeses do Papa Francisco nos dias quatro e onze de março de dois mil e quinze), em homenagem a tanta sabedoria que se esconde e se manifesta nos cabelos brancos.

Constata o Papa que, graças aos progressos da medicina, a vida prolongou-se, mas nossas sociedades não se organizaram suficientemente para deixar espaço aos idosos, com o justo respeito e a concreta consideração pela sua fragilidade e dignidade. Quando jovens, somos levados a ignorar a velhice, como se fosse uma enfermidade da qual nos devemos manter à distância; depois, quando envelhecemos, especialmente se somos pobres, doentes e sós, experimentamos as lacunas de uma sociedade programada sobre a eficácia que, consequentemente, ignora os idosos. Mas os idosos são uma riqueza, não podem ser ignorados!

No Ocidente, os estudiosos apresentam nosso século como o século do envelhecimento, pois os filhos diminuem e os anciãos aumentam. Este desequilíbrio é um grande desafio. Uma cultura do lucro insiste em fazer com que os idosos pareçam um peso, pois não só não produzem, mas chegam a ser uma carga, e devem ser descartados. Há algo de vil neste habituar-se à cultura do descartável. E nós nos habituamos a descartar as pessoas. Queremos remover o nosso elevado medo da debilidade e da vulnerabilidade; mas agindo deste modo, aumentamos nos anciãos a angústia de serem mal tolerados e até abandonados.

Conta o Papa: "Quando eu era criança, um dia a minha avó narrou-me a história de um avô que se sujava quando comia, porque não conseguia levar bem a colher de sopa à própria boca. E o filho, ou seja o pai de família, decidiu tirá-lo da mesa comum e mandou fazer-lhe uma mesinha na cozinha, onde não se via, para ali comer sozinho. Assim, não faria má figura quando os amigos viessem almoçar ou jantar. Poucos dias depois, chegou em casa e encontrou o seu filho pequeno brincando com um pedaço de madeira, um martelo e alguns pregos; construía algo, e o pai disse-lhe: 'Mas o que fazes? — Faço uma mesa, pai. — Uma mesa, por que? — Para que esteja pronta quando tu envelheceres, assim poderás comer aí!'. As crianças têm mais consciência que nós!"

Na tradição da Igreja, assim como em povos de nosso tempo com respeito cultivado aos mais velhos, existe uma bagagem de sabedoria que sempre sustentou a proximidade aos anciãos e seu acompanhamento. A raiz está na Sagrada Escritura: Esta tradição está arraigada na Sagrada Escritura: "Não desprezes alguém na sua velhice, pois nós também ficaremos velhos. Não te escape o que contam os velhos, pois eles o aprenderam de seus pais: deles aprenderás a inteligência e a arte de responder na hora oportuna" (Eclo 8, 7.11-12).

Impressionou-me a abertura de coração do Papa: "Nós, idosos, somos todos um pouco frágeis. No entanto, alguns são particularmente débeis, muitos vivem sozinhos, marcados por uma enfermidade. Outros dependem de curas indispensáveis e da atenção dos outros. Daremos por isso um passo atrás, abandonando-os ao seu destino? Uma sociedade sem proximidade, onde a gratuidade e o afago sem retribuição começam a desaparecer, é uma sociedade perversa. Fiel à Palavra de Deus, a Igreja não pode tolerar estas degenerações. Uma comunidade cristã em que a proximidade e a gratuidade deixassem de ser consideradas indispensáveis perderia juntamente com elas também a sua alma. Onde não há honra pelos idosos não há porvir para os jovens". E o Papa estimulou os sentimentos adequados a serem cultivados, a gratidão, o apreço e a hospitalidade, que levem as pessoas idosas a se sentirem parte viva da família e da comunidade.

Para ele, devemos despertar o sentido comunitário de gratidão, de apreço e de hospitalidade, que levem o idoso a sentir-se parte viva da sua comunidade, pois são homens e mulheres, pais e mães que antes de nós percorreram o nosso próprio caminho, estiveram na nossa mesma casa, combateram a nossa mesma batalha diária por uma vida digna. O idoso somos nós: daqui a pouco ou daqui a muito tempo, inevitavelmente, embora não pensemos nisto.

Ensina o Papa que o Senhor nos chama a segui-lo em todas as fases da vida. Para ele, a velhice é uma vocação! Ainda não chegou o momento de se resignar. Para ele, trata-se de delinear uma espiritualidade das pessoas idosas, e não faltam testemunhos de santos e santas idosos! No mês de outubro, pela primeira vez, simultaneamente, um casal de pais de família será canonizado, durante o Sínodo da Família. Trata-se dos pais de Santa Teresinha, Luís e Zélia Martin, exemplo de santidade vivida no matrimônio, que educaram os filhos no caminho da santidade. Em tempos de família em crise, justamente a santidade de um casal que percorreu exemplarmente os passos da fidelidade à própria vocação se torna um presente da Igreja ao mundo!

Ainda o Papa, falando sobre a família, oferece uma imagem muito bonita, tirada o Evangelho de São Lucas (Cf. Lc 2, 25-39): é a imagem de Simeão e Ana. Certamente eram idosos, o velho Simeão e a profetisa Ana, que tinha oitenta e quatro anos, uma mulher não escondia a sua idade! Todos os dias esperavam a vinda de Deus, havia muitos anos. Este era o seu compromisso: esperar o Senhor e rezar. Ao encontrarem Maria, José e o Menino, eles reconheceram o Menino e descobriram uma nova força, para uma renovada tarefa: dar graças e testemunhar este Sinal de Deus. Dar graças, interceder, purificar o coração pela oração! É a recomendação do Papa aos idosos. Precisamos de anciãos que orem, pois a velhice nos é oferecida precisamente para isto. A oração dos idosos é bonita! E como é bonito o encorajamento que o ancião consegue transmitir ao jovem em busca do sentido da fé e da vida! "Esta é verdadeiramente a missão dos avós, a vocação dos idosos! Como gostaria de uma Igreja que desafia a cultura do descartável com a alegria transbordante de um novo abraço entre jovens e idosos! E é isto, este abraço, que hoje peço ao Senhor", concluiu o Papa Francisco.

Confio à proteção de São Joaquim e de Sant'Ana o tesouro que são os avós na Igreja e na sociedade.

Dom Alberto Taveira Corrêa
Arcebispo de Belém do Pará

cnbb.org.br

sábado, julho 25, 2015

Igreja celebra São Tiago, o Maior / 25 de julho

REDAÇÃO CENTRAL, 25 Jul. 15 / 08:00 am (ACI).- Hoje, 25 de julho, a Igreja celebra a memória litúrgica de um dos apóstolos preferidos de Jesus Cristo, São Tiago, o Maior. Conheça um pouco mais sobre a história desse santo.

O nome São Tiago, provém de duas palavras Sant Iacob. Porque seu nome em hebreu era Jacob. Durante suas batalhas os espanhóis gritavam: "Sant Iacob, ajudai-nos". E de tanto repetir estas duas palavras, as uniram formando uma só palavra: São Tiago.

São Tiago foi um dos 12 apóstolos do Senhor, irmão de São João evangelista. Conhecido como São Tiago Maior para o diferenciar de outro discípulo de Jesus de mesmo nome, São Tiago, o Menor, que era mais jovem do que ele. Era filho de Zebedeu e Salomé e nasceu na cidade de Betsaida, era pescador no Mar da Galileia, onde tinham uma pequena empresa de pesca.

O apóstolo São Tiago fazia parte do grupo dos três preferidos de Jesus, junto com seu irmão João e com Simão Pedro. Depois de presenciar a pesca milagrosa e ouvir que Jesus lhes dizia "a partir de agora serão pescadores de homens", deixou suas redes e sua família, seguindo o chamado de Jesus Cristo a colaborar em seu apostolado. Presenciou grandes milagres de Cristo, e com Pedro e João foram os únicos apóstolos que estiveram presentes na Transfiguração do Senhor e durante sua Oração em Getsêmani.

Por que era o preferido de Jesus? De repente, era porque (como diz São João Crisóstomo) era o mais corajoso e valente para declarar-se amigo e seguidor do Redentor, ou porque seria o primeiro apostolo que derramaria seu sangue por proclamar sua fé em Jesus Cristo.

No evangelho de Mateus, conta-se que a mãe de Tiago e João, Salomé, pediu a Jesus que seus dois filhos, Tiago e João, fossem colocados um à direita e outro à esquerda, no Reino de Deus, porém Jesus lhe objetou: "Vós não sabeis o que pedis. Podeis beber o cálice que eu hei de beber?". Os apóstolos responderam: "Podemos". "Pois bem, isso é verdade", concluiu Jesus, "mas dar-vos o primeiro lugar no Reino, isso depende do meu Pai, que está no céu". Os outros apóstolos ficaram irritados por este pedido, mas Jesus disse a todos: "quem quiser ser o primeiro, que seja o servidor de todos, a imitação do Filho do homem que não veio para ser servido, mas para servir". Certamente depois desta lição de Jesus, São Tiago aprendeu a ser mais humilde.

Depois da Ascenção de Jesus, São Tiago, o Maior, se caracterizou como um dos principais apóstolos. Por isso, quando o rei Herodes Agripa se propôs a acabar com os seguidores de Cristo, a primeira coisa que fez foi mandar cortar a cabeça de São Tiago e colocar Pedro na prisão. Assim, o filho de Zebedeu teve a honra de ser o primeiro dos apóstolos que derramou seu sangue para proclamar sua fé em Jesus Ressuscitado.

Antigas tradições (do século VI) dizem que São Tiago foi até a Espanha evangelizar. E desde o século IX acreditam que seu corpo está na Catedral de Compostela (norte da Espanha) e a esse santuário foram milhares e milhares de peregrinos por séculos e séculos e alcançaram graças divinas. O historiador Pérez de Urbel afirmou que em Santiago de Compostela estão umas relíquias, ou seja, restos mortais do apóstolo, que foram levados da Palestina à Espanha.

São Tiago é o padroeiro da Espanha e da sua cavalaria. Os espanhóis o invocaram em momentos de grandes perigos e sentiram a sua poderosa proteção. Nós também podemos pedir sua intercessão e conseguiremos a graça que necessitamos.

acidigital.com

quinta-feira, julho 23, 2015

Sentir pesar ou amar o sofredor?

A temática da dor e do sofrimento é uma das mais recorrentes na história do pensamento, da arte e dos questionamentos humanos. Assim como o amor, também a dor encontra profundas e criativas expressões no frasário sapiencial popular, nos provérbios, nas canções, nos romances, nas páginas de filosofia... A causa, a fonte, o sentido, até o poder libertador do sofrimento apresentam-se vigorosos nos parágrafos escritos com sabedoria e profundidade. Mas, por outro lado, não passam desapercebidas as revoltas, as angústias e inquietações, os cansaços. Até chegamos a reconhecer que a dor é um dos mistérios da vida. Porém, os interrogativos permanecem.

O sofrimento nos coloca ante a crueza da finitude. Mas também nos recorda a infinitude, quase como uma saudade do que nunca tivemos. É assim que se pode entender o evangelista Marcos no Evangelho deste domingo (Mc 6, 30-34). Jesus se retirara com os discípulos para um lugar deserto. Buscavam descanso. Precisavam disso. Foram de barco. Mas, ao desembarcar, “Jesus viu uma grande multidão e encheu-se de compaixão por eles, porque eram como ovelhas que não têm pastor. E começou a ensinar-lhes muitas coisas”.

O que significa sentir compaixão? Havia sofrimento, desorientação, indiferença (sem pastor). Não parece que se limitou a sentimentos pesarosos, como se apenas tivesse pena daquela gente muito carente e sem rumo. O mero sentimento, ainda que nobre, é sempre fugaz. Parece-se com algo que passa sem nada inspirar. Não move e nem comove. Seria uma comiseração refinada, mas sem efeitos, sem aproximação, sem solidariedade, sem vigor interpelativo.

A experiência bíblica de compaixão é mais que uma elevada afeição humana. No Antigo Testamento, era uma das mais pronunciadas características de Deus. Suas compaixões desdobravam-se em respostas de aproximação reconciliadora ou libertadora. No caso de Jesus, suas atitudes compadecidas davam a conhecer as inclinações de Deus em favor daquela gente. Se as multidões eram como “ovelhas sem pastor”, a imagem está a referir indiferença e frieza ante sua situação. Os gestos do Senhor compassivo recordavam-lhes que, embora em quadros difíceis, ainda assim eram preciosos aos olhos do Pai.

Até vale um olhar para a origem etimológica. E aqui é muito pouco o apelo ao vocábulo latinocom/passio (“padecer com”). É preciso um novo passo. Para “compaixão” é preciso ir até o grego antigo. Lá a compaixão está ligada às disposições maternas de conservar a vida. Naquela língua os termos “compaixão” e “útero” são equivalentes. Assim como o ventre materno acolhe a vida, envolve-a, protege-a e a faz nascer, algo semelhante fez o Senhor ao aproximar-se daquelas “ovelhas sem pastor”: suscitou-lhes a esperança com expressões de amor fraterno. Foi uma aproximação generativa, isto é, gerou algo.

Quem olha para as manchetes, as escolhas e comportamentos atuais talvez se deixe convencer de que a compaixão está a perder credenciais no elenco das qualidades humanas. Afinal, produtividade, eficiência, competitividade afiguram-se “pobres” de atitudes compassivas. Entretanto, tendo chegado a Curitiba há poucos meses, sem negar as durezas da grande metrópole, devo dizer, gratificado, que encontro muitos testemunhos de compaixão solidária. E percebi que a graça faz um bem imenso não apenas aos beneficiários. Parece que faz um bem maior aos compassivos.

Dom José Antônio Peruzzo
Arcebispo de Curitiba (PR)

cnbb.org.br

terça-feira, julho 21, 2015

Rádio Rural divulga programação do dia 8 de agosto



A direção da Rádio Rural de Natal AM 1090 divulgou a programação do evento que vai ser realizado dia 8 de agosto, na área externa da Arena das Dunas. Será o ’1º Evangelizar é Preciso, em Natal – Sintonia do Bem’.

Os portões serão abertos às 12 horas. A partir das 14 horas, haverá apresentação do DJ Roony Moura, de Recife (PE). Às 15 horas, momento de pregação para o Padre Antônio Nunes, pároco da Paróquia de Nossa Senhora Aparecida, em Neópolis – Natal. A partir das 15h45, show com vários artistas locais: Padre Nunes, Padre Humberto Negreiros, Léia e Sônia, Sandro Menezes, Evaltércio do Céu, Clênio Maciel (Banda Uskaravelho), Alex (Swuing do Alto), Banda Divina Luz, e Emanuel Stênio (Comunidade Canção Nova). Às 17h30, a animação ficará por conta do Ministério Evangelizar é Preciso, de Curitiba (PR). Às 18 horas, será celebrada missa, presidida pelo Arcebispo Metropolitano, Dom Jaime Vieira Rocha. Após a missa, momento de adoração ao Santíssimo, seguido de show com o Padre Reginaldo Manzotti, concluindo às 22 horas.

Para participar, as pessoas podem adquirir o ingresso e, depois, trocá-lo por uma camiseta, no valor de R$ 30,00, na Central de Vendas Sintonia do Bem, localizada no Centro Pastoral Pio X – subsolo da Catedral Metropolitana de Natal, de segunda a sexta, das 9 às 17 horas, ou com os comissários credenciados, nas paróquias.

Mais informações pelo telefone (84) 3615-2800.

segunda-feira, julho 20, 2015

Ele é a nossa paz

Jesus caminhava pelas estradas da Galileia e formava pouco a pouco os seus discípulos, chamados a serem apóstolos e missionários, enviados a levar a Boa Nova do Evangelho até os confins da terra. Quando retornam de sua primeira experiência missionária, partilham com o Senhor o que haviam feito e ensinado (Mc 6, 30-34). Jesus, sensível ao cansaço que certamente experimentavam, procura conduzi-los a um lugar sossegado. No entanto, a multidão sedenta da presença do Senhor chega na frente. Os discípulos, de lá para cá, aprendem do Senhor a ampliarem os horizontes, atentos às necessidades das pessoas. De fato, "ao sair do barco, Jesus viu uma grande multidão e encheu-se de compaixão por eles, porque eram como ovelhas que não têm pastor. E começou, então, a ensinar-lhes muitas coisas" (Mc 6, 34). A lista dos problemas que os cristãos devem enfrentar ao longo da história é muito grande, mas não podem recusar-se a enfrentá-los.

Ovelhas sem pastor, povo sem referências e orientação, abandono à própria sorte. São situações humanas desafiadoras e provocantes, que pedem resposta da parte dos cristãos e de toda a sociedade. Um dos gritos mais significativos de nosso tempo, como expressão do desgaste a que chegaram as relações entre pessoas e grupos é alto nível de violência, o acirramento dos contrastes ideológicos e sociais, incluindo, infelizmente, também a religião, quando esta tem como vocação própria aproximar as pessoas de Deus e umas das outras. De acordo com os dados do Mapa da Violência, recentemente publicado, mais de cinquenta e seis mil pessoas foram assassinadas no Brasil em dois mil e doze, das quais vinte e sete mil eram jovens. E os números crescem ainda!

Com a proposta do Ano da Paz, a Igreja no Brasil quer ajudar na superação da violência e despertar para a convivência mais respeitosa e fraterna entre as pessoas, explica o bispo auxiliar de Brasília e secretário geral da CNBB, dom Leonardo Steiner. "Violência que se manifesta na forma da morte de pessoas, na falta de ética na gestão da coisa pública, na impunidade. A violência, a falta de paz, provém do desprezo aos valores da família, da escola na formação do cidadão, do desprezo da vida simples". A Igreja propõe uma reflexão sobre os motivos da violência e sobre a necessidade de uma convivência fecunda e frutuosa.

O Papa Francisco, na Exortação Apostólica Evangelii Gaudium, aponta para algumas raízes da violência e propõe que digamos um "não à desigualdade social": "Hoje, em muitas partes, reclama-se maior segurança. Mas, enquanto não se eliminar a exclusão e a desigualdade dentro da sociedade e entre os vários povos será impossível desarraigar a violência. Acusam-se da violência os pobres e as populações mais pobres, mas, sem igualdade de oportunidades, as várias formas de agressão e de guerra encontrarão um terreno fértil que, mais cedo ou mais tarde, há de provocar a explosão. Quando a sociedade abandona na periferia uma parte de si mesma, não há programas políticos, nem forças da ordem ou serviços secretos que possam garantir indefinidamente a tranquilidade. Isto não acontece apenas porque a desigualdade social provoca a reação violenta de quantos são excluídos do sistema, mas porque o sistema social e econômico é injusto na sua raiz. Assim como o bem tende a difundir-se, assim também o mal consentido, que é a injustiça, tende a expandir a sua força nociva e a minar, silenciosamente, as bases de qualquer sistema político e social, por mais sólido que pareça. Se cada ação tem consequências, um mal embrenhado nas estruturas duma sociedade sempre contém um potencial de dissolução e de morte. É o mal cristalizado nas estruturas sociais injustas, a partir do qual não podemos esperar um futuro melhor" (Evangelii Gaudium 59). "Isto torna-se ainda mais irritante, quando os excluídos veem crescer este câncer social que é a corrupção profundamente radicada em muitos países – nos seus Governos, empresários e instituições – seja qual for a ideologia política dos governantes" (Evangelii Gaudium 60).

Que resposta pode ser oferecida? A paz começa dentro do coração, no acolhimento daquele que é a paz, Jesus Cristo (Cf. Ef 2, 13-18). E esta paz é fruto da ação do Espírito Santo (Cf. Gl 5,22), a ser acolhido como dom derramado pelo Senhor, que o envia como presente que acompanha a Igreja e todos os cristãos. Vem a ser pedido em oração, pois vem do alto, antes de ser uma conquista pessoal. Sem a abertura para Deus o mundo e as pessoas andarão inquietos e não encontrarão a estrada da paz. E não nos esqueçamos de que os cristãos têm à sua disposição o Sacramento de Cura chamado Reconciliação ou Penitência. O recurso à graça sacramental desarma corações e estimula a busca dos caminhos de paz entre as pessoas.

É bom lembrar também que os discípulos de Jesus, em todas as gerações, trazem consigo as eventuais marcas decorrentes de suas situações familiares e da cultura de seu tempo. Não são diferentes dos outros quanto à natureza, mas, voltando-se para ele, empreendem o esforço cotidiano, sustentado pela graça de Deus, mudando suas atitudes, desarmando-se diante das outras pessoas, começando em casa e nas relações mais comezinhas, para ampliar até o relacionamento. A paz não se constrói pelas decisões dos grandes do mundo, mas no tu a tu do trato entre as pessoas. "Devemos sempre lembrar-nos de que somos peregrinos, e peregrinamos juntos. Para isso, devemos abrir o coração ao companheiro de estrada, sem medos nem desconfianças, e olhar primariamente para o que procuramos: a paz no rosto do único Deus. O abrir-se ao outro tem algo de artesanal, a paz é artesanal. Jesus disse-nos: 'Felizes os que promovem a paz, porque serão chamados filhos de Deus' (Mt 5, 9). Neste esforço, mesmo entre nós, cumpre-se a antiga profecia: 'Transformarão as suas espadas em relhas de arado'" (Is 2, 4; Evangelii Gaudium, 244). "Misericórdia e fidelidade se encontram, justiça e paz se abraçam" (Sl 85, 11).

Um olhar mais desarmado, sem considerar inimigas todas as pessoas desconhecidas, a capacidade de construir novas amizades, o conhecimento de ambientes diferentes, a abertura sorridente para as novas gerações, que clamam por adultos mais serenos! Parecem sonhos irrealizáveis, mas um primeiro passo dado mostrará as novas possibilidades abertas pela Providência de Deus!

Vale ainda pensar nas capacidades de cada pessoa, com as quais um ambiente diferente pode ser construído na sociedade. Se passarmos por quem atua na educação, ou quem trabalha em órgãos de segurança, chegando às repartições públicas, nas quais todos sejam bem tratados, a superação de obstáculos burocráticos para o atendimento dos cidadãos, para chegar aos detentores do poder que, sendo cristãos, não podem se omitir na busca de soluções para os graves problemas sociais e na busca sincera do bem comum.

Se dermos glória a Deus, em Jesus Cristo, nossa paz, a paz germinará na terra!

Dom Alberto Taveira Corrêa
Arcebispo de Belém do Pará

cnbb.org.br

domingo, julho 19, 2015

19 de julho de 2015 - 16º domingo do tempo comum

A COMPAIXÃO DE DEUS EM JESUS CRISTO

1ª leitura: (Jr 23,1-6) Os maus pastores e o verdadeiro pastor de Israel – Os reis de Judá foram maus pastores para o rebanho; por isso, serão castigados (23,1-2). Mas Deus reunirá novamente seu rebanho, de todos os lugares, e lhe dará um bom pastor (23,3-4), um descendente de Davi, que poderá chamar-se “Javé nossa justiça” (Iahweh Sidqênu, alusão irônica ao nome do rei-fantoche Sedeqiáhu, Sedecias, “Justiça de Javé”). Ele realizará o Reino de Javé. * 23,1-4 cf. Jr 33,12; Ez 34,1-31; Is 3,14-15 * 23,5-6 cf. Jr 33,14-17; Lc 15,3-7; Jo 10,1-8.

2ª leitura: (Ef 2,13-18) Unidade de gentios e judeus em Cristo – Do ponto de vista do judaísmo, os pagãos estavam longe de Deus. Cristo, porém, os trouxe para perto. Por eles Deus chamou a todos. Não há mais discriminação. De judeus e gentios, fez uma nova realidade: o “homem novo”. * 2,13 cf. Ef 2,11-12; 1,10; Cl 1,20 * 2,14-16 cf. Is 9,5-6; Gl 3,28; Cl 2,14; 2Cor 5,17; Ef 4,4; Cl 1,21-22 * 2,17 cf. Is 57,19.

Evangelho: (Mc 6,30-34) Compaixão e ternura do Pastor messiânico – Os Doze voltam de sua missão-estágio (cf. dom. passado), entusiasmados com o que puderam fazer. Mas Jesus lhes ensina o valor da solidão e da interiorização. De barco, procuram um lugar deserto (6,31-32). Mas a vontade do Pai é imprevisível: quando chegam ao lugar desejado, encontram a multidão que, por terra, tomara a dianteira. Aí, Jesus obediente à sua missão, deixa-se mover pela “compaixão”, característica primeira de Deus (cf. Ex 34,6 etc.), pois reconhece na multidão as ovelhas que precisam do pastor. Realiza-se, veladamente, mais uma figura escatológica (como o “esposo” em 2,19): a reunião do rebanho escatológico, vindo “de todas as cidades” (universalismo; cf. Jr 23,3; Ez 34,13). * 6,32-34 cf. Mt 14,13-14; Lc 9,10-11; Jo 6,1-2 * 6,34 cf. Mt 9,36; Nm 27,17; Jr 23,2; Ez 34,5. 

*** *** *** 

O evangelho esboça o quadro para a ação seguinte de Jesus, a multiplicação dos pães. Os discípulos voltam de seu “estágio pastoral”, contam tudo o que fizeram. E Jesus, dando um exemplo para a Igreja futura, os convida a descansar na sua presença, num lugar deserto (o deserto, em Mc e em muitas páginas da Bíblia, é o lugar onde Deus fala a seu povo). Mas aí acontece o inesperado: chegando ao lugar deserto, encontram uma multidão de gente, que acorreu por terra ao lugar aonde se dirigira o barco. Decepção no plano humano, mas hora da graça no plano de Deus. E então, Jesus tem compaixão da multidão, “porque eram como ovelhas sem pastor”. Esta breve frase de Mc 6,34 evoca um mundo: toda a tradição bíblica acostumada a falar em Deus como o “Pastor de Israel” (cf. Is 40,11), título dado também a Moisés (Is 63,11), aos reis e, sobretudo, ao rei messiânico, anunciado por Jr, Ez e Zc. Para quem sabe ler, significa que ele é o Pastor escatológico que chegou. Jesus, movido de compaixão (qualidade primordial de Deus: cf. Ex 34,5-6) assume ser o pastor dessas ovelhas que não têm pastor, vindas de todos os lados para encontrá-lo (imagens de Ez 34 e 36). Uma situação humana inesperada torna-se realização da reunião escatológica do rebanho de Deus. Pela incansável “com-paixão” do Cristo, prepara-se a mesa para o banquete escatológico.

O simbolismo do pastor, no Antigo Testamento, tem várias facetas. Nos textos clássicos de Jr, Ez e Zc encontramos a oposição entre o bom pastor (Deus ou seu enviado) e os maus pastores, que são os chefes de Israel e Judá. Que o significado do bom Pastor oscila entre Deus e seu enviado não é um problema para o leitor oriental: ele sabe que o pastor não é necessariamente o dono do rebanho; pode ser seu homem de confiança. Em Sl 23[22], Jr 23,1-3, Ez 34,1-22, o pastor é Deus mesmo; em Jr 23,4-6 e Ez 34,23-24 e, sobretudo, em Zc 9,14, trata-se de seu(s) enviado(s). O Novo Testamento vê a realização desta figura em Jesus Cristo (Mc 6,34; 14,27 cf. 16,7 e par; Jo 10, 1Pd 2,25). A imagem do pastor nos lembra ainda a ternura descrita em Is 40,11.

No presente contexto predomina o fato de reunir o rebanho: a reunião escatológica das tribos dispersas. Falar do Bom Pastor significa falar de unidade (cf. Jo 10). Neste sentido, a 2ª leitura de hoje vem sublinhar a mensagem da 1ª leitura e do evangelho. Enquanto em outros textos, por exemplo, Rm 3,21-25, a ideia da reconciliação pelo sangue do Cristo – simbolismo cultual tomado do Antigo Testamento – se refere à reconciliação do homem com Deus, Ef 2 a aplica à superação da divisão da humanidade, divisão entre “o povo” (Israel) e “as nações” (pagãs). Agora, em Cristo, os que estavam longe (os helenistas, a quem a carta é dirigida) aproximaram-se. Isso foi realizado pelo sangue de Cristo, isto é, por sua morte, que marcou o fim do sistema de justificação baseado na Lei judaica, até então parede divisória da humanidade (alusão à parede que confinava, no templo de Jerusalém, o “átrio dos gentios”). Ef retoma aqui um tema caro a Paulo: se Jesus foi condenado pela Lei, mas ressuscitou, quem foi condenado é a Lei (cf. Gl 3,13-14). A Lei não mais separa os que pertencem a Cristo, sejam judeus, sejam gentios. Assim Jesus anunciou a “paz” (o dom messiânico) aos de longe (os pagãos) e aos de perto (os judeus), linguagem que evoca a reunião escatológica presente também no simbolismo do pastor (cf. 1ª leitura e evangelho).

Do conjunto destas leituras depreendemos uma ideia para ser meditada: a reconciliação do homem com Deus o une com seus irmãos. Na prática, porém, o homem, muitas vezes, usa Deus para justificar discriminação, ódio, perseguição. De modo aberto, quando uma convicção religiosa se torna ideologia de combate. De modo velado, no coração do indivíduo, quando alguém se acha superior por razões religiosas. Jesus fez “dos dois um só povo”, “um só corpo”, o “homem novo”, “em si mesmo” (“linguagem corporativa”: a descendência está no patriarca, a comunidade no seu fundador). Este único corpo é, ao mesmo tempo, o do Cristo e o da comunidade constituída por ele. Ele veio a nós, dando-nos o poder de nos aproximar do Pai: movimento recíproco, cuja iniciativa está do lado da graça de Deus. Uma religião agressiva não é de Jesus Cristo. Este morreu, não para separar, mas para aproximar. Aquele que morreu por todos, não pode servir de pretexto para qualquer discriminação. 


A COMPAIXÃO DE DEUS

No domingo passado vimos a missão dos doze apóstolos. Hoje assistimos à volta dos doze. Cumpriram tão bem seu primeiro “estágio pastoral” que Jesus os convida para um piquenique ou um dia de retiro na margem do lago de Genesaré. Entram no barco, navegam uns quilômetros e, quando chegam no lugar desejado, encontram uma multidão de pessoas que os viram partir e correram pela margem até lá. Decepção? Não. “Jesus encheu-se de compaixão por eles, porque eram como ovelhas sem pastor” (evangelho). Jesus se torna pastor para essas ovelhas. E o que faz? “Pôs-se a ensinar muitas coisas”.

No Antigo Testamento, pastor é aquele que orienta e conduz. Vai à frente das ovelhas para conduzi-las a pastar. Assim eram chamados pastores os chefes do povo de Israel: os reis, Moisés, o Messias, e sobretudo: Deus mesmo (Sl 23[22]; 95[94],7 etc.). E é assim que na 1ª leitura de hoje Deus mesmo se apresenta, à diferença dos maus pastores (Jr 23,1-6). Os maus pastores dispersam o rebanho, o bom pastor reconduz os dispersos.

O projeto de reconduzir o povo, recebe sua plena realização em Jesus de Nazaré. Ele procura um lugar tranquilo para os discípulos, mas topa com uma multidão carente de pastor. Então tem compaixão deles e começa a ensinar-lhes as coisas do Reino. Temos aí a origem da “pastoral”. A pastoral é colocar em prática a “compaixão” pelo povo. Não a compaixão de chamar alguém de coitado, sem fazer nada. Mas a “paixão” que nos faz sentir “com” o povo.

Acolher o povo, ensinar-lhes as coisas do Reino, tudo o que Jesus faz para o povo com vista ao Reino é “pastoral” em proveito de Deus, é cuidar de seu rebanho. Por isso, Jesus dará até a vida (Jo 18,11-18). O que faz algo ser pastoral não é tal ou tal atividade determinada, mas o intuito com que ela é assumida: transformar um povo sem rumo em povo conduzido por Deus.

Por isso, hoje, o importante não é multiplicar atividades chamando-as de pastoral, mas cuidar de que os que as realizam tenham alma de pastor, atitude de pastor: acolhida, liderança e amor até doar a própria vida.

Pastoral é conduzir o povo pelo caminho de Deus. É inspirada não pelo desejo de poder, mas pelo espírito de serviço. Jesus não procurou arrebanhar o povo para si. Inclusive, vendo o entusiasmo equivocado, se retirou (Jo 6,14-15). Ele procura levar o rebanho ao Pai, nada mais. Ser pastor não é autoafirmação, mas o dom de orientar carinhosamente o povo eclesial para Deus.

(O Roteiro Homilético é elaborado pelo Pe. Johan Konings SJ – Teólogo, doutor em exegese bíblica, Professor da FAJE. Autor do livro "Liturgia Dominical", Vozes, Petrópolis, 2003. Entre outras obras, coordenou a tradução da "Bíblia Ecumênica" – TEB e a tradução da "Bíblia Sagrada" – CNBB. Konings é Colunista do Dom Total.)

domtotal.com.br

quinta-feira, julho 16, 2015

16 de Julho: Memória da Canonização de São Francisco de Assis



No dia 16 de Julho de 1228, dois anos depois de sua morte, São Francisco de Assis foi canonizado pelo Papa Gregório IX. Na ocasião, ele publicou a Bula de Canonização “Mira circa nos” “aos veneráveis irmãos arcebispos, bispos etc. ...”

1. É maravilhoso como Deus se digna ter piedade de nós e inestimável é o amor de sua caridade, pela qual entregou-nos o filho à morte para remir o escravo!

Sem renunciar aos dons de sua misericórdia e conservando com proteção contínua a vinha que foi plantada por sua destra, continua a mandar operários para ela mesmo na décima primeira hora para que a cultivem bem arrancando com a enxada e o arado com o qual Samgar abateu seiscentos Filisteus (Jz 6,31) os espinhos e as ervas más, para que, podados os ramos supérfluos e os brotos espúrios que não levam às raízes, e extirpados os espinheiros, ela possa amadurecer frutos suaves e saborosos.

Aqueles frutos que, purificados na prensa da paciência, poderão ser levados para a adega da eternidade, depois de ter queimado de uma vez, como com o fogo, a impiedade junto com a caridade esfriada de muitos, destinada a ser destruída na mesma ruina, como foram precipitados os filisteus caindo por causa do veneno da volubilidade terrena.


2. Eis o Senhor que, enquanto destruía a terra com a água do dilúvio, guiou o justo em uma desprezível arca de madeira (Sb 10,4), não permitindo que a vara dos pecadores prevalecesse sobre a sorte dos justos (Sl 124,3), na hora undécima suscitou seu servo o bem-aventurado Francisco, homem verdadeiramente segundo o seu coração (Cfr. 1Sm 13,14), lâmpada desprezada no pensamento dos ricos mas preparada para o tempo estabelecido, mandando-o para a sua vinha para que arrancasse os seus espinhos e espinheiros, depois de ter aniquilado os filisteus que a estavam assaltando, iluminando a pátria, e para que a reconciliasse com Deus admoestando com assídua exortação Cfr. Jz 15.15).


3. O qual, quando ouviu interiormente a voz do amigo que o convidava, levantou-se sem demora, despedaçou os laços do mundo cheio de bajulações, como um outro Sansão prevenido pela graça divina e, cheio de Espírito de fervor, pegou uma queixada de asno (Jz 11,15), com uma pregação feita de simplicidade, não enfeitada com as cores de uma persuasiva sabedoria humana (1Cor 1,17), mas com a força poderosa de Deus, que escolhe as coisas fracas do mundo para confundir os fortes, prostrou não só mil mas muitos milhares de filisteus, com o favor daquele que toca os montes e os faz fumegar (Sl 103,32), e reduziu à servidão do espírito os que antes serviam às impurezas da carne.


Quando eles ficaram mortos para os vícios e vivos para Deus e não mais para si mesmos, pois a parte pior tinha perecido, saiu da mesma queixada água abundante (cfr. Jz 15,10), que restaurava, lavava e fecundava todos os que tinham caído, sórdidos e ressecados, aquela água que, brotando para a vida eterna, pode ser comprada sem dinheiro e sem nenhuma outra despesa (Is 55,1) . Expandindo-se por toda parte, seus regatos irrigam a vinha, estendendo até o mar seus ramos, até o rio os seus rebentos (Sl 79,12).


4. Afinal, imitou os exemplos de nosso pai Abraão, saindo espiritualmente de sua terra, de sua parentela e da casa de seu pai, para ir para a terra que o Senhor lhe havia mostrado com sua divina inspiração (Gn 12,1). Para correr mais expeditamente, para o prêmio da vocação celeste (Fl 3,34), e poder entrar mais facilmente pela porta estreita (Mt 7,15), deixou a bagagem das riquezas terrenas, conformando-se com Aquele que, de rico que era fez-se pobre por nós, distribuiu-as, deu-as aos pobres (2Cor, 8,9), para que assim, sua justiça perdurasse para sempre (Sl 111,9).


E quando chegou perto da terra da visão, na montanha que lhe tinha sido mostrada (Gn 22,3), isto é, sobre a excelência da fé, ofereceu ao Senhor em holocausto sua carne, que antes o havia enganado, como filha unigênita, à semelhança da Jefté (Cfr. Jz 11), colocando-se no fogo da caridade, macerando sua carne pela fome, sede, frio, nudez, vigílias sem conta e jejuns. Quando a tinha, assim, crucificado com os vícios e as concupiscências (Gl 5,24), podia dizer com o Apóstolo: Eu vivo, mas já não sou eu; é Cristo que vive em mim (Rm 4,25). E, de fato, já não vivia para si mesmo mas para Cristo, que morreu por nossos pecados e ressuscitou para a nossa justificação, para que já não servíssemos o pecado de maneira alguma.


Suplantando também os vícios, travou uma viril batalha contra o mundo, a carne e os poderes celestes. E, renunciando à mulher, à casa de campo e aos bois, que afastaram os convidados da grande ceia (Lc 14,15-22), levantou-se com Jacó (Cfr. Gn 35,1-11) ao comando do Senhor e, recebendo a graça septiforme do Espírito Santo, assistido pelas oito bem-aventuranças evangélicas, subiu através dos quinze degraus das virtudes, indicadas misticamente nos Salmos, para Betel, a casa do Senhor, que a tinha preparado para ele.


E lá, construindo o altar de seu coração para o Senhor, ofereceu sobre ele os aromas de suas devotas orações, que os anjos haveriam de levar à presença do Senhor com suas mãos, agora que já estava prestes a tornar-se um concidadão dos anjos.


5. Mas, para não ajudar somente a si mesmo lá na montanha, unido apenas no abraço de Raquel, bela mas estéril, isto é, na contemplação, desceu para o quarto proibido de Lia (Cfr. Gn 29), para conduzir o rebanho fecundo de filhos gêmeos através do deserto, procurando para eles as pastagens de vida, a fim de que, lá, onde o alimento é o maná celeste para os que se apartaram do estrépito do mundo, enterrando suas sementes com abundância de lágrimas (Sl 125, 5-6), pudesse colher exultando, os feixes para o celeiro da eternidade, ele destinado a ser colocado entre os príncipes de seu povo, coroado com a coroa de justiça.


É certo que ele não buscou seus próprios interesses mas antes o de Cristo (Fl 3,21), e o serviu como abelha industriosa; e, como estrela da manhã que aparece no meio das nuvens e como lua nos dias de seu pleno esplendor (Sl 50,6), e como sol resplandecente na Igreja de Deus, tomou em suas mãos a lâmpada e a trombeta para chamar para a graça os humildes com as provas de suas obras luminosas, e retirar os calejados no mal de suas graves culpas aterrando-os com uma dura reprovação.


Assim, inspirado pela virtude da caridade, irrompeu intrepidamente no acampamento dos madianitas, isto é, daqueles que evitam o juízo da Igreja por desprezo, com a ajuda daquele que, enquanto estava fechado dentro do seio da Virgem, atingia o mundo inteiro com o seu domínio; e arrebatou as armas em que punha sua confiança o forte armado que guardava sua casa (Lc 11,21-22), e distribuiu os despojos que ele mantinha, levando como escrava a escravidão (Ef 4,8) dele em homenagem a Jesus Cristo.


6. Por isso, tendo superado enquanto estava na terra o tríplice inimigo, fez violência ao Reino dos Céus e com a violência arrebatou-o (Mt 11,12). E depois das numerosas e gloriosas batalhas desta vida, triunfando sobre o mundo, voltou ao Senhor, precedendo muitos dotados de ciência, ele que deliberadamente era sem ciência e sabiamente ignorante.


7. Na verdade, ainda que sua vida, tão santa, operosa e luminosa, tenha sido suficiente para que conquistasse a companhia da Igreja triunfante, a Igreja militante, que só vê a face exterior, não tem a presunção de julgar por sua própria autoridade aqueles que não são de sua alçada, para apresentá-los à veneração baseando-se só sobre a sua vida, principalmente porque algumas vezes o anjo de satanás transforma-se em anjo de luz (2Cor 11,14); o Onipotente e misericordioso Deus, por cuja graça o referido servo de Cristo serviu-o dignamente e com louvor, não permitindo que uma lâmpada tão maravilhosa ficasse escondida embaixo do alqueire, mas querendo colocá-la sobre o candelabro para oferecer a restauração de sua luz a todos aqueles que estão na casa (Lc 11,33), declarou com múltiplos e grandiosos milagres que a vida dele era agradável para ela e que sua memória devia ser venerada na Igreja militante.


8. Portanto, como já nos eram plenamente conhecidos os traços mais singulares de sua vida gloriosa, pela familiaridade que teve conosco quando estávamos constituídos em um cargo menor, e fosse feita fé plena a respeito do esplendor de seus múltiplos milagres, através de testemunhas idôneas de que nós e o rebanho a nós confiado seríamos ajudados por sua intercessão e teríamos como patrono no céu aquele que foi nosso amigo na terra, reunindo o consistório de nossos irmãos [os cardeais], e tendo obtido o consentimento deles, decretamos que o inscrevíamos no catálogo dos santos para a devida veneração.


9. Estabelecemos que a Igreja universal celebre devotamente e com solenidade o seu nascimento para o céu no dia 4 de outubro, o dia em que, livre do cárcere da carne, subiu ao Reino celeste.


10. Por isso pedimos, admoestamos e exortamos no Senhor a todos vós, e comunicando-o através deste escrito apostólico que, nesse dia, vos apliqueis intensa e alegremente aos divinos louvores na sua comemoração e imploreis humildemente que por sua intercessão e méritos possamos chegar à sua companhia. Que isso vos conceda Aquele que é bendito nos séculos dos séculos. Amém.


Dado em Perusa, no dia 19 de julho de 1228, no segundo ano de nosso pontificado. T


reflexoesfranciscanas.com.br

Pequenos gestos, grandes resultados no lar

Meditando profundamente sobre o texto da Audiência Geral do Papa Francisco, na Praça de São Pedro, em 13 de maio último, podemos colher muitas lições capazes de ajudar as famílias a obterem com pequenos gestos grandes resultados para a felicidade no lar.

Na verdade, naquele encontro, o Santo Padre retomou três palavras-chaves que ele mesmo já havia proposto em outras ocasiões que são: “com licença”, “obrigado” e “desculpa”. Simples, mas se oportunamente usadas podem evitar muitos problemas; se não utilizadas são capazes de levar, junto a outros fatores, até ao fim de um matrimônio, como, não raras vezes, acontece nos nossos dias, independente da área geográfica ou da posição social dos envolvidos...

O Santo Padre Francisco afirma que esses vocábulos “encerram em si uma grande força: o vigor de proteger o lar, até no meio de inúmeras dificuldades e provações; ao contrário, a sua falta gradualmente abre fendas que até o podem fazer ruir”. Elas provêm da boa educação de cada pessoa herdada, por sua vez, em um lar bem estruturado e esta pode, por sua vez, viver e passar esses valores a seus filhos e filhas para que também eles os retransmitam à sua prole e assim sucessivamente. É a corrente do bem!

O Papa lembra-se de que São Francisco de Sales (1567-1622) ensinou ser a boa educação meia santidade. Mas por que meia? Porque se não for nascida da autenticidade do coração “leva a um formalismo das boas maneiras que pode tornar-se uma máscara que oculta a aridez do espírito e o desinteresse em relação ao próximo”. E continua Francisco: “Costuma-se dizer: ‘por detrás de tantas boas maneiras escondem-se maus hábitos’. Nem sequer a religião está imune deste risco, que leva a observância formal a decair na mundanidade espiritual”.

Esse ponto é chave, dado que não é tão incomum encontrarmos aqueles que se apegam ao mero ritualismo ou formalismo e se esquecem do essencial que é o amor a Deus e ao próximo, especialmente o mais próximo que convive dentro do mesmo lar, mas nem sempre é bem tratado como deveria. Primeiro porque é um ser humano portador de especial dignidade, segundo porque Deus o (a) colocou em nossa vida como esposo(a), filho(a), sogro(a), genro ou nora e devemos acolhê-los com as suas virtudes e defeitos, assim como eles nos aceitam com as nossas grandezas e limitações. A vida é assim.

No entanto, como diz São João, aquele que não ama o irmão a quem vê, como pode amar a Deus a quem não vê? (cf. 1Jo 4,20). Se ele é somente formal com o próximo também o é na sua relação com Deus e vice-versa. Usa dos detalhes, e não do todo inserido em um contexto maior, como pretexto para demonstrar, nas boas maneiras, uma grande piedade ou devoção que na realidade, pode esconder, nas aparências de piedosismo, uma relação superficial com Deus e com os irmãos. Não será nenhuma grande novidade se, amanhã ou depois, o lar ou a prática religiosa dessa pessoa, infelizmente, vier a desaparecer. Era uma casa construída sobre a areia movediça (cf. Mt 7,24-27).

Aliás, o Papa tem como “diabólica” essa ação farisaica ao escrever que “o diabo que tenta Jesus ostenta boas maneiras – é mesmo um senhor, um cavalheiro – e até cita as Sagradas Escrituras, parece um teólogo. O seu estilo parece correto, mas tem a intenção de desviar da verdade, do amor de Deus. Quanto a nós entendemos a boa educação nos seus termos autênticos, onde o estilo das boas relações está solidamente arraigado no amor pelo bem e no respeito pelo próximo. A família vive dessa delicadeza do bem-querer”.

Chegamos assim ao âmago da catequese papal começando pela palavra “com licença”. Sempre que vamos entrar na casa ou em um espaço restrito, devemos pedir permissão. Ora, para entrar na vida de alguém, seja como esposos, no matrimônio, seja como amigo, requer-se ainda mais esse pedido de licença. “Entrar na vida do outro, mesmo quando faz parte da nossa existência, exige a delicadeza de uma atitude não invasiva, que renova a confiança e o respeito. Em síntese, a confiança não autoriza a presumir tudo”, mas, sim, a paciência de esperar que o outro “abra a porta do seu coração”.

Recordando Apocalipse 3,20 no qual se lê que o próprio Deus não entra na vida de ninguém sem que a pessoa consinta, o Papa assegura: “Até o Senhor pede licença para entrar! Não esqueçamos! Antes de fazer algo em família: ‘com licença, posso fazer isto? Queres que eu faça assim?’ Uma linguagem bem educada, mas cheia de amor. E isso faz bem às famílias”.

O segundo ponto é a gratidão por meio do “obrigado” em uma civilização que, como recorda Francisco, parece julgar bonito falar palavrões e pensa ser sinal de fraqueza ser bom e educado fazendo uso de uma linguagem cortês. Aliás, o palavrão nunca deve ser usado em nenhum contexto, por pior que ele seja. Daí o próprio Senhor Jesus ter asseverado que toda pessoa prestará contas de cada palavra ociosa que tiver pronunciado e os teólogos, ao longo da história da Igreja, sempre entenderam que ela se refere ao palavrão e Deus dela pedirá contas no dia do Juízo (cf. Mt 12,36).

Ao contrário, porém, desse mundanismo reinante, “devemos tornar-nos intransigentes sobre a educação para a gratidão e o reconhecimento: a dignidade da pessoa e a justiça social passam ambas por aqui. Se a vida familiar ignorar este estilo, também a vida social o perderá”. Não é demasiado lembrar que a gratidão está na Sagrada Escritura. Daí ter o próprio Jesus, no episódio da cura dos dez leprosos (Lc 17,11-19), ter censurado os nove ingratos que foram sanados, mas não voltaram agradecê-lo, ao passo que louvou aquele estrangeiro (não bem visto entre os judeus daquele tempo e nem entre muitos de nós hoje, haja visto a luta da Europa com os imigrantes...) cheio de gratidão por ter voltado dizer, talvez: “Muito obrigado, Senhor, estou limpo!”

Também o grande Apóstolo Paulo nos recomenda que sejamos agradecidos (cf. Hb 12,28) ou que em tudo demos ação de graças a Deus (cf. 1Ts 5,18), não só pelo que julgamos bom, mas também pelas cruzes presentes em nossas vidas. Elas são instrumentos de santificação. Só seremos co-herdeiros de Cristo se passarmos com Ele pela via da cruz (cf. Rm 8,17). Se em alguns tempos, nossa vida parece sem cruz, não nos preocupemos, mas, sim, busquemos ajudar o nosso próximo a levar a cruz dele como verdadeiros cirineus do século XXI que auxiliam o Cristo sofredor na pessoa do próximo a ter uma jornada menos penosa, dentro ou fora da família.

A terceira palavra proposta pelo Papa é a “desculpa”. Quanto ela é necessária, mas também como se nota a sua ausência em nossa sociedade um tanto áspera, grosseira, mal educada que parece preferir agir na base do grito, do palavrão e da truculência, não só verbal, mas até armada, mesmo contra pequenas ofensas recebidas.

Volta-se a um estágio de vida anterior à lei do “olho por olho; dente por dente”. Quer-se o império da vingança a qualquer custo dentro e fora de casa. Afinal, é no lar que a criança aprende a educação ou a deseducação, o perdão ou a vingança, a fineza no falar e agir ou a truculência estúpida dos palavrões, gritos e agressões físicas gratuitas contra quem pensa diferente dela. Se na escola, na rua, no trabalho, em programas de TV ou na internet essa mesma pessoa tiver a desgraça de encontrar um mau mestre tudo estará ainda mais arruinado e o Evangelho poderá se apagar de sua vida como fruto do péssimo exemplo recebido de terceiros.

O cristão autêntico, porém, apesar de suas falhas, sabe reconhecer com o Pai-Nosso, oração que o próprio Cristo nos ensinou, que só podemos recorrer ao perdão de Deus a partir do momento em que somos plenamente capazes de também perdoarmos os nossos ofensores. Fora disso, a vida cristã se encontra seriamente comprometida. Daí dizer o Papa: “Não é sem motivo que na prece ensinada por Jesus, o ‘Pai-Nosso’, que resume todas as questões essenciais para a nossa vida, encontramos essa expressão: ‘Perdoai as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido’ (Mt 6,12). Reconhecer que erramos e desejar restituir o que tiramos – respeito, sinceridade, amor – torna-nos dignos do perdão. É assim que se impede a infecção. Se não soubermos pedir desculpa, quer dizer que também não seremos capazes de perdoar”.

Relembra-nos ainda Francisco que mesmo nos momentos mais difíceis em que nos desacordos familiares chegam a “voar pratos”, é preciso insistir no pedido de desculpas e no perdão recíproco no mesmo dia. “Ouvi bem: esposa e esposo, brigastes? Filhos e pais, entrastes em forte desacordo? Não, está bem, mas o problema não é este. O problema é quando este sentimento persiste, inclusive no dia seguinte. Por isso se brigastes, nunca termineis o dia sem fazer as pazes em família. E como devo fazer as pazes? Ajoelhar-me? Não! A harmonia familiar restabelece-se só com um pequeno gesto, só com uma coisinha. É suficiente uma carícia, uma palavra. Mas nunca permitais que o dia em família termine sem fazer as pazes. Entendes isto? Não é fácil, mas é preciso agir deste modo. Assim a vida será mais bonita”.

Ora, tudo isso nos lembra, a título de conclusão, duas passagens importantes: uma é de São Paulo ao escrever aos efésios recomendando: “Não pequeis. Que o sol não se ponha sobre o vosso ressentimento. Não vos exponhais ao diabo” (Ef 4,26-27) e a outra dos ensinamentos dos Padres da Igreja (escritores cristãos dos primeiros oito séculos) na palavra de Santo Ambrósio de Milão que diz: “Pecar é comum a todos os homens, mas arrepender-se é próprio dos santos” (Apologia David ad Theodosium Augustum II 5-6 apud Pergunte e Responderemos n. 452, janeiro de 2000, p. 6).

Que esse desejo de santidade decorrente do nosso Batismo e fortalecido pelos demais sacramentos, especialmente da Confissão e da Eucaristia, invada o nosso coração, a nossa família e a sociedade em geral com a graça de Deus. Amém.

Cardeal Orani João Tempesta
Arcebispo de São Sebastião do Rio de Janeiro (RJ)

cnbb.org.br

terça-feira, julho 14, 2015

BENÇÃO DE SANTO ANTÔNIO - toda terça

BENÇÃO DE SANTO ANTÔNIO

P: A nossa proteção está no nome do Senhor

T: Que fez o céu e a terra

P: Rogai por nós, Santo Antônio

T: Para que sejamos dignos das promessas de Cristo


Eu vos saúdo, Santo Antônio, pai e protetor. Eis-me aqui humildemente prostrado aos vossos pés para vos pedir que intercedais por mim diante de Nosso Senhor Jesus Cristo para que Ele se digne conceder-me, por vosso intermédio, a graça que desejo ( pede-se a graça ), se for da vontade de Deus, à qual nos submetemos inteiramente. Peço-vos, amável Santo, pela firme confiança que tenho em Deus, a quem servistes fielmente, e pela confiança que deposito em Maria, a quem tanto honrastes. Imploro-vos pelo amor deste doce menino Jesus que carregastes em vossos braços. Suplico-vos por todos os favores que Ele vos concedeu neste mundo, pelos prodígios sem-número que Deus operou e continua a operar diariamente por vossa intercessão. Peço-vos, enfim, pela grande confiança que tenho em vossa proteção. Assim seja.

T: Amém.
Pai-Nosso, Ave-Maria, Glória ao Pai.


OREMOS: 
Senhor Deus, nós vos bendizemos pelas vossas maravilhas operadas em Santo Antônio, vosso confessor e doutor, e vos pedimos que sua intercessão alegre a vossa Igreja para que ela viva em paz e unidade, caminhando firme até as alegrias eternas junto de vós. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

T: Amém.

P: Eis a cruz do Senhor. Afastem-se de vós todos os inimigos da salvação, pois venceu o Leão da tribo de Judá, descente de Davi, Jesus Cristo, Nosso Senhor.

T: Amém.


Pia União de Santo Antônio

Pia União de Santo Antônio