Transfiguração do Senhor
Daniel 7, 9-10. 13-14; Marcos 9, 2-10
Muitas vivemos no mundo das coisas feias. Latas de lixo, sacos abertos nas calçadas, farejados por cães vadios e viralatas. Paredes cobertas de inscrições. Casas penduradas nos morros, sujas, feias. Pessoas completamente deterioradas pela droga, feias, alucinadas… De repente temos saudades da beleza e do belo: canteiro de rosas, uma manhã em que a neblina vai sendo espancada pelo sol. Beleza do sorriso de uma criança pura e de uma mulher consagrada a Deus com luz no olhar.
Ele, esse Jesus, veio na condição de enviado e tornou-se servo, semelhante aos homens, menos no pecado. Teve esse rosto de criança que vem à luz, olhou com simpatia para um jovem que era reto de coração. Seu rosto se endureceu diante do fechamento dos fariseus. Quando lhe trouxeram uma criança deve ter tido beleza no rosto. Mas no final de sua vida não tinha ele esplendor, nem formosura. Era uma chaga só. As pessoas não queriam vê-lo e por isso cobriam o rosto. Escondiam o rosto nas mangas das vestes. Ele se tornara a feiura.
Pedro, Tiago e João fizeram uma inesquecível experiência espiritual no alto da montanha. Jesus os levou consigo a um lugar à parte sobre uma alta montanha. Levou-os para o silêncio, para a serenidade, para o alto, para a montanha que sempre fora lugar de manifestações de Deus. Ali os apóstolos teriam ocasião de fazer uma experiência nova. Jesus se transfigurou diante deles… suas roupas ficaram tão brancas como nenhuma lavadeira da terra poderia alvejar… Coloca-se diante do Pai que o conhece e o reconhece. Aquele que o ama se faz presente e mostra aos apóstolos quem é esse Jesus. Que eles não tenham medo: seu rosto ficará deformado e chagado… mas para além a aparências ele tem o Rosto da luz, o mais belo de todos os rostos da face da terra.
Da nuvem uma voz: “Este é o meu Filho amado. Escutai o que ele diz”. Compreendemos que Pedro tenha querido eternizar aquele momento… queria fazer tendas para Jesus e para os dois profetas que se manifestaram, Elias e Moisés…O céu na terra, a glória no rosto de Jesus, a sensação de que o tempo podia parar. Na realidade, era uma antecipação de alguma coisa que viria depois, ou seja, do rosto iluminado para sempre de Jesus, o servo sofredor, na manhã da páscoa da ressurreição. Jesus pediu que os apóstolos a ninguém contassem até que ele ressuscitasse…
Beleza da palavra de Cristo, beleza dos sacramentos da Igreja, beleza de nossos templos, beleza das flores, da toalha branca, dos cantos e do som do órgão. No meio do mundo das coisas nem sempre belas somos convidados a contemplar na festa de hoje o rosto iluminado desse Jesus, o mais belo de todos os filhos dos homens.
Frei Almir Ribeiro Guimarães