Para a família franciscana, o conceito de paz não é simplesmente um valor marginal, mas pertence ao núcleo central da sua missão. Francisco concebeu sua família como um movimento de paz, enviado para proclamar a conversão e trazer a paz.
A verdadeira paz
É preciso afastar-se de uma compreensão superficial de paz. Pois, o que Francisco deseja é “a verdadeira paz do céu e sincera caridade no Senhor” (2CtFi 1). Portanto, para ele, a paz é um dom do céu, ligado essencialmente a Jesus Cristo (cf. Ef 2), “no qual foram pacificadas todas as coisas, assim as da terra como as do céu, e reconciliadas com o Deus onipotente” (cf. Adm 15; Cant 11). A verdadeira paz é experimentada por quem vive para Deus. Por isso, Francisco, muitas vezes, pode também dizer que a paz deve ser “conservada” (Adm; Cant.). Paz é, portanto, de maneira paradoxal, uma coisa já dada e simultaneamente ainda procurada.
A expressão “paz verdadeira”, confrontada com a tradição agostiniana, que Francisco conhecia, recebe nova significação. Na sua obra, “Cidade de Deus” (19, 17), Agostinho distingue duas formas de estado e dois conteúdos de paz.
O estado temporal procura a paz na terra
Procurando a paz na terra, o Estado temporal a encontra na medida em que consegue a maior concordância possível dos cidadãos (“concórdia civium”). Os cidadãos devem unir-se e concordar, por um grande número de decisões concretas, em como satisfazer as suas exig~encias fundamentais (“compósito voluntatum”). O sentido da legislação estatal consiste, portanto, em “regulamentar o que é favorável à conservação da vida mortal” e organizar “o que é necessário para a vida” (res huic vitae necessariae). Neste sentido, a paz significa a satisfação de necessidades fundamentais dentro de uma comunidade estatal. Assim, a política econômica deve ser entendida também como uma política da paz.
A paz, portanto, segundo Agostinho, é um tema não interestatal, mas antes intra-estatal. Hoje em dia, a paz, no sentido da satisfação de necessidades fundamentais de todos, é concebível apenas quando se leva em consideração o conjunto global do nosso mundo. Desta forma, paz e justiça se entrelaçam. Paz verdadeira só pode existir, quando todos os seres humanos julgam satisfeitas as suas exigências fundamentais.
A partir desta noção de paz, franciscanos e franciscanas juntaram-se nos anos 80, para representar a missão franciscana de paz a nível da Organização das Nações Unidas (= ONU). Atualmente, eles possuem o “status” de uma organização não-governamental (= ONG) chamada “Franciscans International” (= Franciscanos na ONU), que define a sua visão nos seguintes termos:
Visão dos Franciscanos nas Nações Unidas
“Nós, Franciscanos, homens e mulheres no seguimento de São Francisco de Assis, acreditamos que a criação inteira, do menor organismo até o ser humano, vive numa interdependência mútua no planeta Terra. Estamos conscientes de que esta relação está ameaçada pela recusa em aceitar a interdependência, optando, ao contrário, pelo uso da exploração e da dominação. Nós nos engajamos a fomentar a nossa mútua dependência, para que toda a criação possa viver em harmonia. Vamos contribuir para o serviço a nossos próprios membros e aos colaboradores das Nações Unidas, assim como a todos os outros, pela formação e promoção dos seguintes temas: ecologia, preservação do meio ambiente, métodos pacificadores e a solução de conflitos.
Procuraremos colaborar, neste sentido, com os membros das Nações Unidas e de outras organizações não-governamentais. Nossos esforços refletirão valores franciscanos, relativos à preservação da natureza, à promoção da paz e à ajuda prestada aos pobres. Estes valores coincidem com aqueles que as Nações Unidas afirmaram na sua Carta fundamental e na sua Declaração dos Direitos Humanos”.
Texto da Lição 23, do Curso Básico sobre o Carismo Missionário Franciscano, da FFB.
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