Branco. Dedicação da Basílica do Latrão, Festa
LITURGIA DA PALAVRA
1ª Leitura - Ez 47,1-2.8-9.12
Salmo - Sl 45(46),2-3.5-6.8-9 (R. 5)
2ª Leitura - 1Cor 3,9c-11.16-17
Evangelho - Jo 2,13-22
Na festa da dedicação da basílica do Latrão, em Roma, celebram-se, de fato, as catedrais de todas as dioceses do mundo. A basílica do Latrão foi a primeira catedral do mundo. Igreja catedral é a Igreja do bispo do lugar. A igreja dedicada a S. João Batista e a S. João Evangelista, no morro do Latrão, em Roma, foi durante muito tempo a igreja do bispo de Roma, o papa. E como o papa exerce a “presidência da caridade” entre os bispos do mundo inteiro, a igreja catedral do Latrão simboliza todas as dioceses.
Mas o que se celebra não são templos de pedra e sim os templos do Espírito, as comunidades dos fiéis. A liturgia de hoje se refere continuamente ao templo de pedras vivas, que são as comunidades cristãs, e ao templo que é o corpo de Cristo, ressuscitado, que substitui o templo do antigo Israel.
O evangelho deixa isso bem claro. Conforme Jo, já no início de sua atuação pública, Jesus chega a Jerusalém por ocasião de uma romaria pascal e expulsa do templo não só os abusos (como descrevem os outros evangelistas, Mt 21,12-13 par.), mas os próprios animais do sacrifício. Em outros termos: expulso o culto do templo. E quando as autoridades lhe pedem um sinal profético que possa respaldar tal gesto inimaginável, Jesus aponta o sinal que só depois (2,22) os discípulos vão conhecer: o sinal de sua ressurreição. O templo antigo pode ser destruído (como de fato ele foi, em 70 d.C., alguns anos antes de João escrever seu evangelho), mas Jesus “fará ressurgir” um novo templo em três dias: o templo de seu corpo, de sua pessoa. Jesus é templo, santuário, lugar de culto a Deus, de encontro com Deus. Nele, a Palavra de Deus armou tenda entre nós (10 1,14). Nele também é oferecido a Deus o único culto da nova Aliança, o dom da própria vida por amor.
Ora, ao templo que é Jesus associa-se o templo de pedras vivas que é a comunidade. A 1ª carta de Pedro (cf. canto da comunhão) apresenta uma bela homilia pascal, para os novos batizados, neste sentido. Eles devem se aproximar (termo do culto) da pedra rejeitada, Cristo, que pela ressurreição se tornou pedra angular, alicerce (cf. a “primeira pedra” de uma igreja). Eles são assim o edifício “espiritual” (= constituído pelo espírito, a força ativa de Deus, que ressuscitou também Jesus). E nessa comunidade é que se oferece o “sacrifício espiritual” (= promovido pelo Espírito de Deus) [Ou talvez: "em sentido espiritual" (= tipológico, alegórico), daí a tradução "sacrifício/culto verdadeiro" (em oposição aos sacrifícios provisórios do A.T.)], queé a prática da vida cristã (ler 1Pd 2,4-10 e Rm 12,1). Paulo (2ª leitura) usa uma imagem semelhante, ao falar de seu trabalho de fundação da igreja de Corinto. A comunidade é construção de Deus, morada do Espírito. O alicerce, posto pelo próprio Paulo, é Cristo. Adiante, ao proscrever a imoralidade sexual, ele aplica essa mesma imagem ao comportamento pessoal dos fiéis (1Cor 6,19).
A abertura dessas imagens é fornecida pela “utopia de Ezequiel”, na qual aparece a descrição do novo templo, a ser construído quando os exilados da Babilônia voltaremà Judéia (1ª leitura). Ezequiel vê a fonte do templo (o riacho do Gion) como um rio caudaloso que saneia as águas e as margens e até o Mar Morto … Um símbolo da salvação que deve fluir do novo templo. Pela “lógica da liturgia”, isso se aplica a Cristo e à sua comunidade (cf. Jo 7,37-39). A comunidade de Jesus deve ser a edificação de Deus da qual sai a água salvadora para a humanidade.
Do livro “Liturgia Dominical”, de Johan Konings, SJ, Editora Vozes
www.franciscanos.org.br