Branco. 2ª-feira da 6ª Semana da Páscoa
S. Filipe Néri, presbítero, memória
Leituras
1ª Leitura - At 16,11-15
Salmo - Sl 149, 1-2. 3-4. 5.6a.9b (R.4a)
Evangelho - Jo 15,26 - 16,4a
“Contanto que os meninos não pratiquem o mal, eu ficaria contente até se eles me quebrassem paus na cabeça.” Há maior boa vontade em colocar no caminho correto as crianças abandonadas do que nessa disposição? A frase bem-humorada é de Filipe Néri, que assim respondia quando reclamavam do barulho que seus pequenos abandonados faziam, enquanto aprendiam com ele ensinamentos religiosos e sociais.
Nascido em Florença, Itália, em 21 de julho de 1515, Filipe Rômolo Néri pertencia a uma família rica: o pai, Francisco, era tabelião e a mãe, Lucrécia, morreu cedo. Junto com a irmã Elisabete, foi educado pela madrasta. Filipe, na infância, surpreendia pela alegria, bondade, lealdade e inteligência, virtudes que ele soube cultivar até o fim da vida. Cresceu na sua terra natal, estudando e trabalhando com o pai, sem demonstrar uma vocação maior, mesmo frequentando regularmente a igreja.
Aos dezoito anos foi para São Germano, trabalhar com um tio comerciante, mas não se adaptou. Em 1535, aceitou o convite para ser o tutor dos filhos de uma nobre e rica família, estabelecida em Roma. Nessa cidade foi estudar com os agostinianos, filosofia e teologia, diplomando-se em ambas com louvor. No tempo livre praticava a caridade junto aos pobres e necessitados, atividade que exercia com muito entusiasmo e alegria, principalmente com os pequenos órfãos de filiação ou de moral.
Filipe começou a chamar a atenção do seu confessor, que lhe pediu ajuda para fundar a Confraternidade da Santíssima Trindade, para assistir os pobres e peregrinos doentes. Três anos depois, aos trinta e seis anos de idade, ele se consagrou sacerdote, sendo designado para a igreja de São Jerônimo da Caridade.
Tão grande era a sua consciência dos problemas da comunidade que formou um grupo de religiosos e leigos para discutir os problemas, rezar, cantar e estudar o Evangelho. A iniciativa deu tão certo que depois o grupo, de tão numeroso, passou à Congregação de Padres do Oratório, uma ordem secular sem vínculos de votos.
Filipe se preocupou somente com a integração das minorias e a educação dos meninos de rua. Tudo o que fez no seu apostolado foi nessa direção, até mesmo utilizar sua vasta e sólida cultura para promover o estudo eclesiástico. Com seu exemplo e orientação, encaminhou e orientou vários sacerdotes que se destacaram na história da Igreja e depois foram inscritos no livro dos santos.
Mas somente quando completou setenta e cinco anos passou a dedicar-se totalmente ao ministério do confessionário e à direção espiritual. Viveu assim até morrer, no dia 26 de maio de 1595. São Filipe Néri é chamado, até hoje, de “santo da alegria e da caridade”.
A comunhão de Maria com a Humanidade
Frei José Carlos Correa Pedroso
Além da Antífona de Nossa Senhora, do Ofício da Paixão, vamos ler outra oração dedicada à Mãe de Deus:
Salve, ó senhora, Rainha santa, Mãe santa de Deus, ó Maria, que sois Virgem feita Igreja, e escolhida pelo santíssimo Pai celestial, que vos consagrou com seu santíssimo e dileto Filho e o Espírito Santo Paráclito! Em vós residiu e reside toda a plenitude da graça e todo o bem! Salve, ó palácio do Senhor! Salve, ó tabernáculo do Senhor! Salve, ó morada do Senhor! Salve, ó manto do Senhor! Salve, ó serva do Senhor! Salve, ó Mãe do Senhor, e salve vós todas, ó santas virtudes, derramadas, pela graça e iluminação do Espírito Santo, nos corações dos fiéis, transformando-os de infiéis em fiéis do Senhor! (Saudação à Mãe de Deus).
Chamar Nossa Senhora de Virgem feita Igreja é uma das maiores originalidades de São Francisco e demonstra que a viu realmente como uma imagem do Povo de Deus:
Como o povo de Israel, que Deus escolheu entre os mais desconhecidos da terra, Maria era uma virgem quando o Senhor a escolheu: na cultura antiga, não sendo homem nem sendo a mãe ou a esposa de alguém, era fraca, não tinha importância, era nada.
Mas ela foi feita cheia de graça por pura bondade do Senhor, como o povo que era escravo no Egito, e Deus assumiu como sua esposa.
E ela foi a primeira dentro de todo o Povo a receber a plenitude da vida de Deus, essa vida trinitária que Ele quer que chegue a todos.
Nela ficou claro que toda essa união com a divindade transforma-a, eleva-a, mas não absorve sua personalidade nem a tira de sua normalidade, como deve acontecer com todo o povo.
Como deve acontecer com todo o Povo, ela se tornou um novo cristo, uma colaboradora no anúncio do Bem (começou com Isabel, passou por Caná, acompanhou Jesus pobre, foi para a casa de João…).
Por tudo isso, como lembra o magnífico capítulo 8 da Lumen Gentium, Maria merece, muito mais que Eva, ser chamada a “Mãe dos Viventes”. Francisco preferiu chamá-la Virgem feita Igreja.
Somos nós que temos que fazer o Povo do nosso tempo ir sendo transformado numa Igreja feita Maria. É o nosso campo de trabalho: nossas ações diárias são capazes de construir a comunhão da humanidade.
Para Francisco, Maria é um ponto de chegada muito claro para o Povo: nós vamos ser aquela esposa descendo do céu coroada com doze estrelas. Ele lembrou isso no cântico Ouvi, pobrezinhas!, que escreveu para as clarissas: Porque cada urna será rainha no céu, coroada com a Virgem Maria!
E também o propôs como o ponto mais alto a alcançar no Cântico de Frei Sol: Bem-aventurados os que as suportam em paz, que por vós, Altíssimo, serão coroados!
Mas Francisco e Clara ainda viram Maria como o Povo evangelizador, que assumiu ser o Cristo místico. Viram-na como peregrina acompanhando Jesus pelo mundo, pobre e vivendo de esmola.
Por isso, o Fundador também a fez Advogada da Ordem e pediu que os frades nunca abandonassem a Porciúncula, a casa de Nossa Senhora em que a Ordem nasceu.
A humanidade vai se realizar quando for a Cidade de Deus. Maria é a figura dessa Pátria total e definitiva.
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