NOS DIAS 31 DE DEZEMBRO E 01 DE JANEIRO, HAVERÁ MISSA NA IGREJA DO GALO APENAS ÀS 19H.
SEJAM BEM-VINDOS!
Caríssimos(as) Irmãos(as), saudamos a todos vocês com a Paz e o Bem contidas no Cristo Jesus e em São Francisco de Assis.
terça-feira, dezembro 30, 2014
sábado, dezembro 27, 2014
RECESSO DO BLOG
ESTAREMOS DE RECESSO NO PERÍODO DE 27 DE DEZEMBRO À 04 DE JANEIRO DE 2015.
DESEJAMOS A TODOS UM FELIZ 2015,
PAZ E BEM!
DESEJAMOS A TODOS UM FELIZ 2015,
PAZ E BEM!
sexta-feira, dezembro 26, 2014
Santo Estevão, o primeiro mártir . Festa
Leituras do Dia
1ª Leitura - At 6,8-10; 7,54-59
Salmo - Sl 30(31),3cd-4.6 e 8ab.16bc e 17 (R. 6a)
Evangelho - Mt 10,17-22
Avançaram todos juntos contra Estêvão; arrastaram-no para fora da cidade e começaram a apedrejá-lo. As testemunhas deixaram suas vestes aos pés de um jovem chamado Saulo. Enquanto o apedrejavam, Estêvão clamou dizendo: “Senhor Jesus, acolhe o meu espírito” (Atos 7, 59)
Respiramos ainda o clima do natal. Ontem tínhamos diante dos olhos a ternura de um nascimento. No dia de hoje vemos correr o sangue de Estêvão, o primeiro dos mártires, aquele que, pouco depois da morte e ressurreição de Jesus, deu a vida pela fé.
“Ontem celebrávamos o nascimento temporal de nosso Rei eterno; hoje celebramos o martírio triunfal de seu soldado.
Ontem o nosso Rei revestido de nossa carne e saindo da morada de um seio virginal, dignou-se visitar o mundo; hoje o soldado, deixando a tenda do corpo, parte vitorioso para o céu.
O nosso Rei, o Altíssimo, veio por nós na humildade, mas não pôde vir de mãos vazias. Trouxe para os seus soldados um grande dom, que não apenas os enriqueceu imensamente, mas deu-lhes uma força invencível no combate: trouxe o dom da caridade que leva os homens à comunhão com Deus.
Ao repartir liberalmente o que trouxera, nem por isso ficou mais pobre: enriquecendo de modo admirável a pobreza de seus fiéis, ele conservou a plenitude de seus tesouros inesgotáveis.
Assim, a caridade que fez Cristo descer do céu à terra, elevou Estêvão da terra ao céu. A caridade de que o Rei dera exemplo logo refulgiu no soldado.
Estêvão para alcançar a coroa que seu nome significa, tinha por arma a caridade e com ela vencia em toda a parte. Por amor de Deus não recuou perante a hostilidade dos judeus, por amor ao próximo intercedeu por aqueles que o apedrejavam. Por esta caridade repreendia os que estavam no erro para que se emendassem, por caridade orava pelos que o apedrejavam para que não fossem punidos.
Fortificado pela caridade, venceu Saulo, enfurecido e cruel, e mereceu ter companheiro no céu aquele que tivera como perseguidor na terra Sua santa e incansável caridade queria conquistar pela oração a quem não pudera converter pelas admoestações.
E agora Paulo se alegra com Estêvão, com Estêvão frui da glória de Cristo, com Estêvão exulta, com Estêvão reina. Aonde Estêvão chegou primeiro martirizado pelas pedras de Paulo, chegou depois Paulo, ajudado pelas orações de Estêvão”
Lecionário Monástico I, p. 585-586
Frei Almir Ribeiro Guimarães
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quinta-feira, dezembro 25, 2014
Natal do Senhor - 25 de dezembro
MISSA: 19h, na Igreja do Galo
antífona de entrada: Alegremo-nos todos no Senhor: hoje nasceu o salvador do mundo, desceu do céu a verdadeira paz!
antífona de entrada: Alegremo-nos todos no Senhor: hoje nasceu o salvador do mundo, desceu do céu a verdadeira paz!
Leituras do Dia
1ª Leitura - Is 9,1-6
Salmo - Sl 95,1-2a.2b-3.11-12,13 (R. Lc 2,11)
2ª Leitura - Tt 2, 11-14
Evangelho - Lc 2,1-14
E o Verbo se fez carne e habitou entre nós e nós vimos a sua glória..." (Jo 1,14).
A encarnação do Verbo de Deus assinala o início dos "últimos tempos", isto é, a redenção da humanidade por parte de Deus. Cega e afastada de Deus, a humanidade viu nascer a luz que mudou o rumo da sua história. O nascimento de Jesus é um fato real que marca a participação direta do ser humano na vida divina. Esta comemoração é a demonstração maior do amor misericordioso de Deus sobre cada um de nós, pois concedeu-nos a alegria de compartilhar com ele a encarnação de seu Filho Jesus, que se tornou um entre nós. Ele veio mostrar o caminho, a verdade e a vida, e vida eterna. A simbologia da festa do Natal é o nascimento do Menino-Deus.
No início, o nascimento de Jesus era festejado em 6 de janeiro, especialmente no Oriente, com o nome de Epifania, ou seja, manifestação. Os cristãos comemoravam o natalício de Jesus junto com a chegada dos reis magos, mas sabiam que nessa data o Cristo já havia nascido havia alguns dias. Isso porque a data exata é um dado que não existe no Evangelho, que indica com precisão apenas o lugar do acontecimento, a cidade de Belém, na Palestina. Assim, aquele dia da Epifania também era o mais provável em conformidade com os acontecimentos bíblicos e por razões tradicionais do povo cristão dos primeiros tempos.
Entretanto, antes de Cristo, em Roma, a partir do imperador Júlio César, o 25 de dezembro era destinado aos pagãos para as comemorações do solstício de inverno, o "dia do sol invencível", como atestam antigos documentos. Era uma festa tradicional para celebrar o nascimento do Sol após a noite mais longa do ano no hemisfério Norte. Para eles, o sol era o deus do tempo e o seu nascimento nesse dia significava ter vencido a deusa das trevas, que era a noite.
Era, também, um dia de descanso para os escravos, quando os senhores se sentavam às mesas com eles e lhes davam presentes. Tudo para agradar o deus sol.
No século IV da era cristã, com a conversão do imperador Constantino, a celebração da vitória do sol sobre as trevas não fazia sentido. O único acontecimento importante que merecia ser recordado como a maior festividade era o nascimento do Filho de Deus, cerne da nossa redenção. Mas os cristãos já vinham, ao longo dos anos, aproveitando o dia da festa do "sol invencível" para celebrar o nascimento do único e verdadeiro sol dos cristãos: Jesus Cristo. De tal modo que, em 354, o papa Libério decretou, por lei eclesiástica, a data de 25 de dezembro como o Natal de Jesus Cristo.
A transferência da celebração motivou duas festas distintas para o povo cristão, a do nascimento de Jesus e a da Epifania. Com a mudança, veio, também, a tradição de presentear as crianças no Natal cristão, uma alusão às oferendas dos reis magos ao Menino Jesus na gruta de Belém. Aos poucos, o Oriente passou a comemorar o Natal também em 25 de dezembro.
Passados mais de dois milênios, a Noite de Natal é mais que uma festa cristã, é um símbolo universal celebrado por todas as famílias do mundo, até as não-cristãs. A humanidade fica tomada pelo supremo sentimento de amor ao próximo e a Terra fica impregnada do espírito sereno da paz de Cristo, que só existe entre os seres humanos de boa vontade. Portanto, hoje é dia de alegria, nasceu o Menino-Deus, nasceu o Salvador.
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quarta-feira, dezembro 24, 2014
24 de dezembro - HOJE
MISSA: 19h, na Igreja do Galo
A encarnação do Verbo de Deus, Jesus Cristo, mudou o curso da história, o destino do homem e do mundo. O tempo foi fecundado pelo eterno e os atos humanos ganharam uma significação decisiva: nos fatos se constrói a salvação ou a perdição da vida. Crer num Deus que assumiu a condição humana é crer que toda pessoa tem uma dignidade e um valor fundamental, pelo simples fato de viver, porque a vida é sagrada.
Depois de Cristo, tudo tem a ver com Deus: as criaturas, a natureza, as diferentes culturas, as raças, e todas as coisas mais comuns que constituem a vida humana. “Todas as coisas foram feitas por Ele e sem Ele nada se fez de tudo o que foi feito” (Jo 1,3). Hoje, a encarnação tem um caminho de volta: por meio de cada pessoa e do mundo em que vivemos, podemos descobrir a presença do Deus que assumiu nossas feições e tornou-se um de nós. “Entre nós armou sua tenda e nós vimos sua glória” (Jo 1,14).
Quando São Francisco de Assis, em sua intuição original recriou no presépio de Greccio, a expressão poética do natal, desejava experimentar e reviver na própria carne, o mistério e o encantamento, o amor e a dor, a contradição da glória divina revelada na pobreza do Filho de Deus. Desde então, compor um presépio com figuras e materiais comuns e ordinários, tornou-se um ato de fé, vislumbrando a presença do Deus encarnado em tudo aquilo que constitui a vida. Para contemplar o presépio e nele descobrir a revelação divina no cotidiano humano, há uma condição: é preciso mudar o coração e o olhar, porque o mundo tornou-se presépio.
É este o sentido de compor e imaginar a cena do nascimento de Jesus Cristo nas mais diferentes situações e culturas. É Ele o índio, é Ele o negro, é Ele o pobre, o homem comum na cidade, na favela, no campo… Porque todo ser humano tornou-se sacramento do Filho, e todo lugar e cultura tornaram-se sacramento da manjedoura de Belém. Universal não é o presépio, é sim o mistério da vida que só tem uma morada: o coração humano.
Natal e presépio revelam uma contradição: ao assumir na carne as limitações da vida humana, Deus eliminou toda distância e superou toda separação. Porque é livre, cada pessoa pode não viver nesta mesma dinâmica divina do amor e, de algum modo, vai experimentar o paradoxo de uma vida fechada em si mesma. Natal é linguagem divina. Presépio é pedagogia humana para que, na abertura ao mundo, se possa descobrir o que é essencial. Então seremos capazes de sentir, mesmo na precariedade da vida que, “Deus armou sua tenda entre nós, e vimos sua glória, e da sua plenitude TODOS nós recebemos graça sobre graça” (Jo 1,14.16). T
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terça-feira, dezembro 23, 2014
"A Paz de Cristo reine nos vossos corações!" (Col 3,15)
1. A paz, fruto do Espírito
Depois de refletir sobre a paz como dom de Deus em Cristo Jesus para toda a humanidade e sobre a paz como tarefa pela qual trabalhar, vamos agora falar da paz como fruto do Espírito. São Paulo coloca a paz em terceiro lugar entre os frutos do Espírito: “O fruto do Espírito”, diz ele, “é amor, alegria, paz, paciência, benevolência, bondade, fidelidade, mansidão, domínio próprio” (Gl 5, 22).
Descobrimos o que são os "frutos do Espírito" ao analisar, justamente, o contexto dessa ideia. O contexto é o da luta entre a carne e o espírito, isto é, entre o princípio que regula a vida do homem velho, cheio de concupiscências e desejos terrenos, e o que regula a vida do homem novo, guiado pelo Espírito de Cristo. Na expressão "frutos do Espírito", "Espírito" não indica o Espírito Santo em si mesmo, mas o princípio da nova vida, ou "o homem que se deixa guiar pelo Espírito".
Diferentemente dos carismas, que são obra exclusiva do Espírito, que os dá a quem quer e quando quer, os frutos são o resultado de uma colaboração entre a graça e a liberdade. Eles são, portanto, o que hoje queremos dizer por virtude, se dermos a essa palavra o sentido bíblico de um agir habitual "segundo Cristo", ou "segundo o Espírito", em vez do sentido filosófico aristotélico de um agir habitual "de acordo com a reta razão". Além disso, os dons do Espírito são diferentes de pessoa para pessoa, enquanto os frutos do Espírito são os mesmos para todos. Nem todos na Igreja podem ser apóstolos, profetas, evangelistas; mas todos indistintamente, do primeiro ao último, podem e devem ser caridosos, pacientes, humildes, pacíficos.
A paz fruto do Espírito é, portanto, diferente da paz como dom de Deus e da paz como tarefa pela qual trabalhar. Ela indica a condição habitual (habitus), o estado de ânimo e o estilo de vida de quem, mediante o esforço e a vigilância, chegou a certa pacificação interior. A paz fruto do Espírito é a paz do coração. E é dessa coisa tão bela e tão desejada que vamos falar hoje. Ela é diferente, sim, da tarefa de sermos pacificadores, mas nos ajuda maravilhosamente a atingir este objetivo. O título da mensagem do papa João Paulo II para a Jornada Mundial da Paz de 1984 era "A paz nasce de um coração novo". E Francisco de Assis, ao mandar os seus frades para todo o mundo, lhes recomendava: “A paz que anunciais com a boca, tende-a primeiro nos vossos corações”[1].
2. A paz interior na tradição espiritual da Igreja
Alcançar a paz interior ou do coração foi um empenho de todos os grandes buscadores de Deus ao longo dos séculos. No Oriente, a começar pelos Padres do deserto, esse empenho se concretizou no ideal da hesychia, da quietude, que ousou propor uma perspectiva altíssima, se não até sobre-humana: retirar da mente todo pensamento, retirar da vontade todo desejo, retirar da memória toda lembrança, para deixar à mente só o pensamento de Deus, à vontade só o desejo de Deus e à memória só a lembrança de Deus e de Cristo (amneme Theou). Uma luta titânica contra os pensamentos (logismoi), não só os maus, mas também os bons. Exemplo extremo desta paz obtida com uma guerra feroz veio a ser, na tradição monástica, o monge Arsênio, que, à pergunta “o que devo fazer para me salvar?”, ouviu a resposta de Deus: “Arsênio, foge, cala e mantém-te em quietude” (literalmente, pratica a hesychia)[2].
Mais tarde, essa corrente espiritual dará espaço à prática da oração do coração, ou oração ininterrupta, ainda hoje amplamente praticada na cristandade oriental e da qual "Os contos de um peregrino russo" representam a expressão mais fascinante. No início, porém, ela não se identificava com essa prática. Era uma maneira de se chegar à perfeita tranquilidade do coração; não uma tranquilidade vazia, um fim em si mesma, mas uma tranquilidade plena, semelhante à dos bem-aventurados, um começar a viver na terra a condição dos santos no céu.
A tradição ocidental perseguiu o mesmo ideal, mas de outras maneiras, acessíveis tanto àqueles que praticam a vida contemplativa quanto aos que praticam uma vida ativa. A reflexão começa com Agostinho. Ele dedica um livro inteiro da Cidade de Deus a refletir sobre as diversas formas da paz, dando a cada uma delas uma definição que fez escola até a nossa época, incluindo a da paz como "tranquillitas ordinis", a tranquilidade da ordem. Mas é principalmente com o que diz nas Confissões que ele influenciou os traços do ideal da paz do coração.
Ele dirige a Deus, no início do livro e como que de passagem, palavras destinadas a ter uma ressonância imensa em todo o pensamento posterior: “Fizeste-nos para ti e o nosso coração está inquieto enquanto não repousa em ti”[3]. Mais adiante, ele ilustra esta afirmação com o exemplo da gravidade.
“Na boa vontade está a nossa paz. Todo corpo, devido ao seu peso, tende ao lugar que lhe é próprio. Um peso não puxa somente para baixo, mas para o lugar que lhe é próprio. O fogo tende ao alto, a pedra ao chão, impulsionados ambos pelo seu peso a buscar o seu lugar… O meu peso é o meu amor; ele me leva para onde eu me levo”.[4]
Enquanto estamos nesta terra, o lugar do nosso repouso é a vontade de Deus, o abandono aos seus quereres. “Não se acha descanso se não se consente à vontade de Deus sem resistência”[5]. Dante Alighieri resumirá este pensamento agostiniano em seu célebre verso: “Na sua vontade está a nossa paz”[6].
Só no céu é que esse lugar de repouso será Deus mesmo. Agostinho termina, por isto, a sua abordagem do tema da paz fazendo um elogio apaixonado à paz da Jerusalém do céu, que vale a pena ler para nos inflamarmos nós também do seu desejo:
“Há também a paz final […] Naquela paz não é necessário que a razão domine os impulsos, porque eles não existirão, mas Deus dominará o homem, a alma espiritual o corpo e será tão grande a serenidade e a disponibilidade à submissão quanto é grande a delícia de viver e dominar. E então, em todos e em cada um, esta condição será eterna e teremos a certeza de que é eterna e, por isso, a paz de tal felicidade, ou seja, a felicidade de tal paz, será o sumo bem”[7].
A esperança desta paz eterna marcou toda a liturgia dos fiéis defuntos. Expressões como “paz”, “na paz de Cristo”, “descanse em paz” são as mais frequentes nos túmulos dos cristãos e nas preces da Igreja. A Jerusalém celeste, com alusão à etimologia do nome, é definida como “beata pacis visio”[8], bem-aventurada visão de paz.
3. O caminho da paz
A concepção de Agostinho sobre a paz interior como adesão à vontade de Deus é confirmada e aprofundada pelos místicos. Mestre Eckhart escreve: “Nosso Senhor diz: ‘Somente em mim tereis a paz’ (cf. Jo 16,33). Quanto mais se penetra em Deus, mais se penetra na paz. Quem já tem o seu ‘eu’ em Deus tem a paz; quem tem o seu ‘eu’ fora de Deus não tem a paz”[9]. Não se trata, pois, apenas de aderir à vontade de Deus, mas de não ter outra vontade se não a de Deus, de morrer de todo à própria vontade. A mesma coisa se lê, na forma de experiência vivida, em Santa Ângela de Foligno: “A divina bondade, de duas vontades, fez só uma, de modo que não posso querer a não ser como Deus quer […] Não me encontro mais na condição costumeira, mas fui conduzida a uma paz em que estou com Ele e contente de tudo”[10].
Outro desenvolvimento, mais ascético do que místico, é o de Santo Inácio de Loyola com a sua doutrina da “santa indiferença”[11]. Ela consiste em colocar-se em estado de total disponibilidade para acolher a vontade de Deus, renunciando, desde o começo, a toda preferência pessoal, como uma balança pronta a se inclinar para o lado que tiver o maior peso. A experiência da paz interior se torna assim o critério principal em todo discernimento. Deve ser considerada em conformidade com o querer de Deus a escolha que, após prolongada ponderação e oração, for acompanhada de maior paz do coração.
Nenhuma corrente espiritual saudável, porém, nem no Oriente, nem no Ocidente, jamais pensou que a paz do coração seja uma paz barata e sem esforço. A seita do "livre Espírito" tentou argumentar o contrário na Idade Média, assim como o movimento quietista no século XVII, mas ambos foram condenados pela hierarquia e pela consciência da Igreja. Para manter e aumentar a paz do coração é preciso domar, momento a momento, em especial no início, uma revolta: a da carne contra o espírito.
Jesus tinha dito de mil maneiras: "Se alguém quer me seguir, renuncie a si mesmo"; "quem ama a própria vida a perderá, mas quem perder a sua vida a encontrará" (Mc 8, 34). Existe uma falsa paz que Jesus diz que veio para tirar, e não para trazer à terra (cf. Mt 10, 34). Paulo traduzirá tudo isso em uma espécie de lei fundamental da vida cristã:
“Os que vivem segundo a carne gostam do que é carnal; os que vivem segundo o espírito apreciam as coisas que são do espírito. Ora, a aspiração da carne é a morte, enquanto a aspiração do espírito é a vida e a paz. Porque o desejo da carne é hostil a Deus, pois a carne não se submete à lei de Deus, nem o pode. Os que vivem segundo a carne não podem agradar a Deus [...] Se viverdes segundo a carne, haveis de morrer; mas, se pelo Espírito mortificardes as obras da carne, vivereis” (Rm 8, 5-13).
A última frase contém um ensinamento importantíssimo. O Espírito Santo não é a recompensa para os nossos esforços de mortificação, mas o que os torna possíveis e frutuosos; não só no final, mas também no início do processo: “Se, mediante o Espírito, fizerdes morrer as obras do corpo, vivereis”. Neste sentido é que se diz que a paz é fruto do Espírito; é o resultado do nosso esforço, possibilitado pelo Espírito de Cristo. Uma mortificação voluntarista e confiante demais em si mesma pode se tornar, ela própria, uma obra da carne (e se tornará com frequência).
Entre aqueles que ilustraram ao longo dos séculos este caminho para a paz do coração, destaca-se, pela concretude e pelo realismo, o autor da Imitação de Cristo. Ele imagina uma espécie de diálogo entre o Divino Mestre e o discípulo, como entre um pai e seu filho:
Mestre: "Meu filho, hei de ensinar-te o caminho da paz e da verdadeira liberdade".
Discípulo: "Faze, Senhor, como dizes; de bom grado escutarei teus ensinamentos".
Mestre: "Cuida, meu filho, de fazer a vontade dos outros em vez da tua própria. Escolhe sempre ter menos que mais. Procura sempre ocupar o lugar mais baixo e ser inferior a todos. Deseja sempre, e ora, para que em ti se faça inteiramente a vontade de Deus. O homem que assim procede entra no reino da paz e da tranquilidade".
Outro meio sugerido ao discípulo é evitar a vã curiosidade:
“Filho, não sejas curioso; não te afanes inutilmente. Que te importa aquilo ou isto? ‘Tu, segue-me’ (Jo 21,22). Que te importa que tal pessoa seja assim ou diferente, ou que a outra aja e diga isso ou aquilo? Não terás que responder pelos outros, mas renderás contas de ti mesmo. Eis que eu conheço a todos, vejo tudo o que acontece sob o sol e sei a condição de cada um: o que pensa, o que quer, a que mira a sua intenção. Tudo deve ser, portanto, colocado em minhas mãos. E tu, mantém-te em paz segura, deixando os outros se agitarem a seu critério: o que eles fizerem recairá sobre eles, pois a mim não podem enganar” [12].
4. “Paz porque em ti tem confiança”
Sem a pretensão de substituir esses meios ascéticos tradicionais, a espiritualidade moderna enfatiza outros meios mais positivos para se manter a paz interior. O primeiro é a confiança e o abandono em Deus. “Tu lhe assegurarás a paz, paz porque em ti tem confiança”, lemos em Isaías (26, 3). Jesus, no Evangelho, motiva o seu convite a não temermos e a não nos inquietarmos com o amanhã no fato de que o Pai Celestial sabe do que precisamos, ele que alimenta as aves do céu e veste os lírios do campo (cf. Mt 6, 5).
Esta é a paz de que Santa Teresa do Menino Jesus se tornou mestra e modelo. Um exemplo heroico desta paz que vem da confiança em Deus também vem do mártir do nazismo Dietrich Bonhöffer. Preso e em aguardo da execução, ele escreveu alguns versos que se tornaram um hino litúrgico em muitos países anglo-saxônicos:
Envoltos em maravilha por forças amigas, esperamos confiantes o porvir.
Deus está conosco de noite e de manhã, estará conosco em cada novo dia[13].
Um estudioso franciscano, Eloi Leclerc, em seu livro A sabedoria de um pobre, relata como Francisco de Assis encontrou a paz num momento de profunda perturbação. Ele estava entristecido com a resistência de alguns ao seu ideal e sentia o peso da responsabilidade pela numerosa família que Deus lhe tinha confiado. Partiu de Verna e foi a São Damião para se encontrar com Clara. Clara o escutou e, para dar-lhe ânimo, apresentou um exemplo.
“Suponhamos que uma de nossas irmãs viesse pedir-me desculpas por ter quebrado um objeto. Bem, eu lhe faria, sem dúvida, uma observação e lhe daria, como de costume, uma penitência. Mas se ela viesse dizer-me que havia posto fogo ao convento e que tudo foi queimado ou quase, creio que, neste caso, eu nada teria a dizer. Eu me surpreenderia perante um evento maior que eu. A destruição do convento é um fato grande em demasia para que eu possa ficar por ele profundamente perturbada. O que o próprio Deus construiu não pode basear-se na vontade ou no capricho de uma criatura humana. O edifício de Deus se alicerça em bases muito mais sólidas”.
Francisco compreendeu a lição e respondeu:
“O porvir desta grande família religiosa que o Senhor confiou aos meus cuidados constitui um fato importante demais para que possa depender de mim sozinho e das minhas frágeis forças e para que eu fique por ele perturbado. É um fato de Deus. Bem o disseste. Mas reza para que esta palavra floresça em mim como semente de paz”[14].
O Pobrezinho retornou resserenado para junto dos seus, repetindo para si mesmo ao longo do caminho: "Deus existe e isto basta! Deus existe e isto basta!". Não é um episódio historicamente documentado, mas interpreta bem, no estilo dos Fioretti, um momento da vida de Francisco.
Nós nos aproximamos do Natal e eu gostaria de destacar o que considero o mais eficaz para conservarmos a paz do coração: a certeza de sermos amados por Deus. "Paz na terra aos homens por Deus amados", ou, literalmente, "Paz na terra aos homens do (divino) beneplácito (eudokia)" (Lc 2, 14). A Vulgata traduzia esse termo como "boa vontade" (bonae voluntatis), entendendo com ela a boa vontade dos homens, ou os homens de boa vontade. Mas é uma interpretação errada, hoje reconhecida por todos como tal, embora, por deferência à tradição, o Glória da Missa continue dizendo, pelo menos em alguns idiomas, “e paz na terra aos homens de boa vontade”. As descobertas de Qumran trouxeram a prova definitiva. "Homens, ou filhos, da benevolência" é como são chamados, em Qumran, os filhos da luz, os eleitos da seita[15]. Trata-se dos homens que são objeto da benevolência divina.
Para os essênios de Qumran, “o divino beneplácito” discrimina; aplica-se somente aos adeptos da seita. No Evangelho, "os homens da divina benevolência" são todos os homens, sem exceção. É como dizer "os homens nascidos de mulher": não se quer dizer que alguns nasceram de mulher e outros não; o que se quer é caracterizar a todos os homens de acordo com a sua maneira de vir ao mundo. Se a paz fosse concedida aos homens pela sua "boa vontade", seria limitada a poucos, àqueles que a merecem; mas, como ela é concedida pela boa vontade de Deus, pela graça, é oferecida a todos.
"Assueta vilescunt", diziam os latinos; as coisas repetidas muitas vezes perdem vigor, e isto acontece, infelizmente, também com as palavras de Deus. Temos que fazer com que isto não aconteça neste Natal. As palavras de Deus são como fios elétricos desencapados. Se os tocamos, levamos um choque; já se não houver corrente ou estivermos de luvas isolantes, podemos manejá-los como quisermos e não receberemos choque algum. O poder e a luz do Espírito estão sempre em ato, mas depende de nós recebê-los, por meio da fé, do querer e da oração. Quanta força, quanta novidade continham aquelas palavras, "Paz na terra aos homens amados pelo Senhor", quando foram proclamadas pela primeira vez! Devemos renovar o nosso ouvido, como o ouvido dos pastores que as ouviram pela primeira vez e, "sem demora", se puseram a caminho.
São Paulo nos indica um modo de superar todas as nossas ansiedades e reencontrar toda vez a paz de coração, mediante a certeza de sermos amados por Deus. Escreve ele:
“Se Deus é por nós, quem será contra nós? Aquele que não poupou seu próprio Filho, mas que por todos nós o entregou, como não nos dará também com ele todas as coisas? [...] Quem nos separará do amor de Cristo? A tribulação? A angústia? A perseguição? A fome? A nudez? O perigo? A espada? [...] Mas, em todas essas coisas, somos mais que vencedores pela virtude daquele que nos amou” (Rm 8, 31-37).
A perseguição, os perigos, a espada não são uma lista abstrata ou imaginária; são os motivos de angústia que ele experimentou, de fato, na vida; ele os descreve amplamente na segunda carta aos coríntios (cf. 2 Cor 11, 23). O apóstolo os revisa na mente e constata que nenhum é forte o suficiente para resistir à comparação com o pensamento do amor de Deus. Implicitamente, o Apóstolo nos convida a fazer o mesmo: olhar para a nossa vida tal como ela se apresenta, trazer à tona os medos e motivos de tristeza aninhados nela e que não nos deixam aceitar serenamente a nós mesmos: aquele complexo, aquele defeito físico ou moral, aquele insucesso, aquela lembrança dolorosa; expor tudo isso à luz do pensamento de que Deus nos ama e concluir com o Apóstolo: "Em todas estas coisas, posso ser mais do que vencedor, pela virtude daquele que me amou".
Da sua vida pessoal, o Apóstolo passa, logo em seguida, a considerar o mundo ao seu redor. Ele escreve:
“Pois estou persuadido de que nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem o presente, nem o futuro, nem as potestades, nem as alturas, nem os abismos, nem outra qualquer criatura nos poderá apartar do amor que Deus nos testemunha em Cristo Jesus, nosso Senhor” (Rm 8, 37-39).
Ele observa o "seu" mundo, com os poderes que o tornavam ameaçador: a morte com o seu mistério, a vida presente com as suas seduções, as forças astrais ou infernais que incutiam tanto terror ao homem velho. Somos convidados, nós também, a fazer o mesmo: olhar, à luz do amor de Deus, para o mundo que nos rodeia e que nos faz ter medo. O que Paulo chama de "altura" e "profundidade" são para nós o infinitamente grande e o infinitamente pequeno, o universo e o átomo. Tudo está pronto para nos esmagar; o homem é fraco e sozinho num universo muito maior do que ele e, além disso, ainda mais ameaçador agora, com as atuais descobertas científicas, as guerras, as doenças incuráveis, o terrorismo... Mas nada disso pode nos separar do amor de Deus. Deus existe e isto basta!
Santa Teresa de Ávila nos deixou uma espécie de testamento, que nos convém repetir toda vez que precisarmos reencontrar a paz do coração: "Nada te perturbe, nada te assuste; tudo passa, Deus não muda; a paciência consegue tudo; a quem tem Deus, nada falta. Só Deus basta”[16].
Que o Natal de nosso Senhor, Santo Padre, veneráveis padres, irmãos e irmãs, seja realmente para nós, como dizia São Leão Magno, “o natal da paz”[17]! Das três dimensões da paz: a paz entre o céu e a terra, a paz entre todos os povos e a paz em nossos corações. T
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Tradução de Zenit.
[1] Legenda dos três companheiros, 58 (Fontes Franciscanas, 1469)
[2] Apophtegmata Patrum, Arsênio 1-3 (J.C. GUY, ed., I padri del deserto. Così dissero, così vissero, Milano 1997, 29).
[3] Santo Agostinho, Confissões, I, 1.
[4] Ib. XIII, 9.
[5] Santo Agostinho, Adnotationes in Iob, 39
[6] Dante Alighieri, Paraíso, 3, v.85
[7] Santo Agostinho, A cidade de Deus, XIX, 27.
[8] Hino do ofício da dedicação da Igreja.
[9] Meister Eckhart, Prédicas, 7 (Ed. J. Quint, Deutsche Werke, I,. Stuttgart 1936, pág. 456)
[10] Il libro della Beata Angela, VII (ed. Quaracchi, 1985, p. 296).
[11] Cf. G. Bottereau, Indifference, em “Dictionnaire de Spiritualité , vol 7, 1688 ss.
[12] Imitação de Cristo, III, 23-24.
[13] Von guten Mächten wunderbar geborgen /erwarten wir getrost, was kommen mag.
Gott ist mit uns am Abend und am Morgen / und ganz gewiss an jedem neuen Tag.
[14] E. Leclerc, La sagesse d’un pauvre, Paris, Desclée de Brouwer, 22e éd. 2007.
[15] Cf Inni, I QH, IV, 32 s, (XI, 9) (I manoscritti di Qumran, organização de L. Moraldi, UTET, Turim 1971, págs. 386 e 428).
[16] “Nada te turbe, nada te espante, todo se pasa, Dios no se muda; la paciencia todo lo alcanza; quien a Dios tiene nada le falta. Solo Dios basta”.
[17] São Leão Magno, Sermo de Nativitate Domini, XXXVI, 5 (PL 54, 215).
reflexoesfranciscanas.com.br
Programação de final de ano da Igreja do Galo - 2014
Programação de final de ano da Igreja do Galo - 2014
- CONFISSÕES
de terça a sexta, das 14:30 às 17:00, com exceção dos dias 24, 25 e 31 de dezembro de 2014 e 01 de janeiro de 2015, que não haverá atendimento.
- CELEBRAÇÃO PENITENCIAL
dia 22 de dezembro, segunda-feira, às 18:30
- MISSA E CONFRATERNIZAÇÃO DOS MOVIMENTOS/ PASTORAIS ATUANTES NA IGREJA DO GALO
dia 29 de dezembro, segunda-feira, após a missa das 18:30. Maiores detalhes com os coordenadores de cada movimento/pastoral
- ÚLTIMA CARISMÁTICA DO ANO:
dia 30 de dezembro
- ÚLTIMA CARISMÁTICA DO ANO:
dia 30 de dezembro
- MISSAS DOS DIAS 24 e 31 DE DEZEMBRO
às 6:30 e 19h
- MISSAS DOS DIAS 25 DE DEZEMBRO e 01 DE JANEIRO
apenas às 19h
- DEMAIS DIAS, MISSAS NOS HORÁRIOS REGULARES
6:30 - segunda à sábado
11:30 - terça à sexta
18:30 - segunda à sexta
10h - domingo
19h - sábado e domingo
segunda-feira, dezembro 22, 2014
ÚLTIMOS DIAS ANTES DO NATAL - 22 de dezembro Advento, roxo
HOJE, ÀS 18:30, CELEBRAÇÃO PENITENCIAL EM PREPARAÇÃO PARA O NATAL, NA IGREJA DO GALO
“Jesus bate na porta do nosso coração para nos dar a paz de espírito; abramos as portas ao Cristo”. Papa Francisco
Leituras do Dia
1ª Leitura - 1Sm 1,24-28
Salmo - 1Sm 2, 1. 4-5. 6-7. 8abcd (R. 1a)
Evangelho - Lc 1,46-56
A alma pura não se deixa levar pela maldade
Hoje nós acompanhamos um dos cânticos mais belos de toda a Sagrada Escritura: o cântico do Magnificat; o canto de ação de graças, de júbilo e de reconhecimento pela grandeza de Deus. Maria não exalta a si mesma; ela reconhece a grandeza d’Aquele que realizou nela as Suas maravilhas e as Suas graças. Maria exalta a promessa de Deus de salvação e de resgate do Seu povo.
Deixe-me falar uma coisa ao seu coração: só quem é justo e vive a pureza do seu coração sabe reconhecer, engrandecer e agradecer a bondade e a ternura de Deus para conosco. Ao passo que, quem não vive na justiça e na presença de Deus, não sabe reconhecer as grandezas d’Ele; está sempre reclamando, murmurando e amaldiçoando; está sempre querendo arrancar algo de Deus pela força da reclamação. E não é assim!
Se queremos estar verdadeiramente próximos do coração de Deus, a primeira coisa a fazer é viver na vontade d’Ele. Esse é o modo de sermos mais justos e corretos nesta vida, colocar em prática aquilo que é a vontade de Deus. Nós, muitas vezes, clamamos a justiça de Deus e somos os primeiros a viver na injustiça, a viver uma vida que não é correta.
A segunda coisa a fazer é viver na pureza do coração, é viver sem maldade no coração, é ter dentro de si repugnância a tudo aquilo que é mau e maldade para com os outros. Às vezes as pessoas arquitetam dentro de si, na mente e no coração, maldades contra o seu próximo; maldades que vêm do ressentimento, da mágoa, ou mesmo, da inveja e do ciúmes desse sentimento competitivo do mundo em que nós vivemos. A alma pura não se deixa levar pela competição, pelo orgulho nem pela maldade!
Mesmo quando não é reconhecida, e é pisada pelos homens, essa alma não deixa de reconhecer onde está a mão de Deus, onde está a presença d’Ele. Ela vive na sua intimidade, mesmo que seja no sofrimento e na humilhação, o reconhecimento pela mão de Deus, que nunca nos abandona. Ainda que, muitas vezes, os homens, mesmo os homens de Deus, não sejam para nós o melhor sinal da presença d’Ele, a pessoa pura e sábia sabe distinguir que Deus está acima de todas as coisas.
Ao Senhor o louvor, a honra, a glória e o reconhecimento! Minha alma canta e glorifica a bondade do Senhor Nosso Deus!
Deus abençoe você!
Padre Roger Araújo
cancaonova.com
domingo, dezembro 21, 2014
4º DOMINGO, ADVENTO, roxo
AMANHÃ, ÀS 18:30, CELEBRAÇÃO PENITENCIAL EM PREPARAÇÃO PARA O NATAL DO SENHOR, NA IGREJA DO GALO.
"Que a Igreja, antes de tudo, seja Mãe, como a Virgem Maria”. Papa Francisco
Leituras do Dia
1ª Leitura - 2Sm 7,1-5.8b-12.14a.16
Salmo - Sl 88,2-3.4-5.27.29 (R.2a)
2ª Leitura - Rm 16,25-27
Evangelho - Lc 1,26-38
A PROMESSA DE DEUS E O “SIM” DO HOMEM
Com o 4º domingo, o Advento chega ao auge. O evangelho traz o pleno cumprimento de todos os sinais que anunciam a vinda do Salvador. A promessa feita a Davi, de que sua descendência teria seu trono firmado para sempre (2Sm 7; cf. 1ª leitura), realiza-se no filho de Maria, juridicamente inserida, através de seu noivo José (o noivado tinha força jurídica), na descendência de Davi (Lc 1,27). A este filho, Deus dará – embora não do modo que se esperava – o trono de Davi, o governo da casa de Jacó (Israel) para sempre (cf. 2Sm 7,16). Já aprendemos, por estas últimas palavras, que as profecias se cumprem de um modo que a inteligência humana desconhece.* O modo de Jesus ser o Cristo que reinará para sempre, e o modo em que a casa de Israel se tornará um povo universal, nenhum contemporâneo de Maria o podia imaginar, e mesmo Maria só o vislumbrava como Mistério de Deus. As profecias não são programas a serem executados. São sinais da obra inesperada que Deus está realizando, sinais que a gente só entende plenamente depois da obra realizada.
Outro sinal que a gente reconhece ao reler o A.T. à luz do Evento de Jesus Cristo é a profecia de Is 7,14. Embora o rei Acaz não gostasse de que Deus se intrometesse nos seus negócios políticos, Deus lhe deu um sinal: o nascimento de um filho de uma mulher nova (“virgem”, traduz a versão grega do A.T., usada pelos primeiros cristãos). Esse filho seria chamado Emanuel, “Deus conosco” (cf. Mt 1,23; 4º dom. Adv. A). No tempo de Is, isso significava: nos dias de catástrofe que hão de vir (722: destruição do Norte e invasão do Sul pelos assírios), este rapaz de nome Emanuel, nascido como que por ordem de Deus, lembrará que Deus está com o povo. Mas, para quem conhece a história de Jesus, esse sinal reveste um sentido novo. Prefigura o mistério de Deus, a obra de seu “sopro” ou “espírito” vivificador (cf. Gn 2,7; Ez 37,9; Sl 104[103],29-30) em Maria, suscitando nela um filho que não é fruto da geração humana (Lc 1,34; cf. Mt 1,18-24), mas um presente de Deus à humanidade: sendo obra do Espírito Santo, que veio sobre Maria, este filho é chamado “Santo” e “filho do Altíssimo” (Lc 1,36; cf. as atribuições do filho real em Is 9,5-6; 11,1-5), o filho em que Deus investe todo seu bem-querer (Lc 3,22), enviado e ungido com seu Espírito (4,18). É o verdadeiro e definitivo “Deus conosco”.
Mas o sinal por excelência da realização da promessa é o próprio nascimento do precursor de Cristo, do seio de Isabel, que tinha a fama de ser estéril (1,36). João Batista é “sinal” no sentido mais pleno imaginável: seu nascimento mostra a força do Altíssimo gerando o Salvador; sua missão prepara o caminho para este Salvador; sua pregação anuncia o Reino que o Cristo inaugura.
Ora, a obra de Deus através da História, assinalada pelos referidos sinais, anunciada como plenificando-se na alegre saudação do Anjo, que proclama a plenitude da graça de Deus em Maria (Lc 1,28-30; cf. Sf 3,14-15; Zc 2,14, etc.), só se torna fecunda para o homem se este o quiser. Daí, a importância de dizer: “Sim”. Maria, respondendo ao Anjo (representando Deus mesmo) seu Fiat (“Faça-se em mim segundo a tua palavra”; Lc 1,38), colocando-se, como serva, a serviço do Senhor, é a primeira de todos os que, pela adesão da fé, “dão chances” à obra definitiva de Deus em Jesus Cristo. O Fiat de Maria representa a fé da humanidade e a disponibilidade com que a Igreja quer assumir o Mistério de Natal (cf. oração final).
Diante de todos esses sinais, na história de Israel e de Maria, devemos afirmar o que Paulo nos diz na 2ª leitura: em Cristo se torna manifesto o que, desde séculos, as Escrituras, ao mesmo tempo em que o assinalavam, escondiam: o Mistério de Deus (Rm 1,25-26; cf. Mt 13,35). Os autores escriturísticos vislumbravam uma presença fiel de Deus nos fatos provisórios da História. Vistos a partir de Jesus Cristo, estes fatos tornam-se indícios do que se manifesta, em plena clareza, nele mesmo, e isto, para todos os povos, ao menos, quando conduzidos pela auscultação da fé (Rm 1,26). Por isso, podemos louvar e agradecer (1,27).
* Nota: O “recado” de Natã a Davi, de que sua descendência estaria firme para sempre (2Sm 7,16), foi entendido, originariamente, como a certeza de que Israel sempre teria um rei da dinastia davídica, e o nascimento de um filho real é saudado, em Is 9,6, como sendo a confirmação desta promessa. Depois que o Exílio (586-535) abolira o reinado, o "para sempre” foi interpretado como significando “de novo”. Israel (reduzido a um pequeno resto, ou seja, a população de Judá, no sul do país) teria um novo rei (davídico), um novo “ungido” (= Messias ou Cristo). Mas o que é anunciado a Maria ultrapassa de longe o que os judeus depois do exílio esperavam.
domtotal.com.br
sábado, dezembro 20, 2014
ÚLTIMOS DIAS ANTES DO NATAL - 20 de dezembro, Advento
O Natal se aproxima e, enquanto se vive, de diversos modos, o clima festivo dessa época do ano, é oportuno deixar ecoar nos corações o apelo convocatório de Santo Agostinho, lá no século quinto, em um de seus sermões: “Desperta, ó homem: por tua causa Deus se fez homem. Desperta, tu que dormes, levanta-te dentre os mortos e sobre ti Cristo resplandecerá (Ef 5,14). Por tua causa, repito, Deus se fez homem. Estarias morto para sempre, se ele não tivesse nascido no tempo. Jamais te libertarias da carne do pecado, se ele não tivesse assumido uma carne semelhante à do pecado. Estarias condenado a uma eterna miséria, se não fosse a sua misericórdia. Não voltarias à vida, se ele não tivesse vindo ao encontro da tua morte. Terias perecido, se ele não te socorresse. Estarias perdido, se ele não viesse salvar-te. Celebremos com alegria a vinda da nossa salvação e redenção. Celebremos este dia de festa, em que o grande e eterno Dia, gerado pelo Dia grande e eterno, veio a este nosso dia temporal e tão breve.” Esse apelo essencial é vivamente oportuno no coração deste tempo.
Diante do desafio de se construir a paz universal, uma questão deve interpelar cada pessoa: existe outro fundamento maior e mais completo dessa paz que o amor revelado no Filho de Deus encarnado, Jesus Cristo? A celebração do Natal ultrapassa as luzes e cores não raramente presentes nas praças e casas. Alguns enfeites com tons mais chamativos, mas sem força para remeter ao núcleo central do Natal do Senhor: a manifestação mais plena e incontestável de amor. Acolhido no mais íntimo do coração, esse amor reconcilia cada um com Deus e consigo mesmo, renova as relações entre as pessoas e gera uma indispensável sede de fraternidade, único remédio para se vencer a guerra e acabar com o flagelo amedrontador da violência.
O Natal é a festa do amor e da reconciliação. O presépio, na sua singeleza com força educativa, quando surge no atual contexto - marcado pelas estratégias, armações, cálculos e disputas pelo poder - remete-nos à simplicidade como caminho para descobrir o segredo de saber viver. Não apenas pela indiscutível singeleza da manjedoura, fora da cidade, entre os animais. Acima de tudo, pelo desconcerto que se experimenta ao contemplá-lo, quando se constata que a entrada de Deus no mundo, o Filho encarnado, ocorre sem apego algum à condição divina. O presépio, portanto, é remédio para o orgulho e a altivez.
A encarnação do Verbo de Deus, Jesus Cristo, a festa do Natal, é o antídoto que combate, na raiz, o sofrimento. Desmobiliza a lógica da prepotência, alimentada pelo desejo de dominar e explorar os outros, por ideologias de poder e ódios que se perpetuam entre pessoas, grupos, partidos, tribos, culturas e nações. O verdadeiro sentido do Natal está na contramão desses descompassos que alimentam incontáveis cenários e impedem avanços. Há um silabário da justiça e uma gramática da paz cuja aprendizagem não tem escola mais adequada e eficiente do que aquela em que Ele, Cristo, é o mestre. Seus ensinamentos, pela força pedagógica de sua proximidade - Natal é festa da proximidade de Deus - não se reduz e não se traduz em qualquer tipo de manifestação, mesmo as que contêm elementos religiosos.
O desvirtuamento que se vê impetrado sobre o sentido do Natal pelo consumismo não é menor do que aquele advindo de equivocadas expressões, dinâmicas e práticas religiosas. São casas de culto que buscam apropriar-se do Natal sem priorizar a construção das bases da personalidade e da cultura a partir do que há de mais autêntico nas raízes cristãs. Silenciosamente, esses desvirtuamentos comerciais e culturais estão produzindo uma séria crise que atinge a beleza do cristianismo e a sua contribuição incalculável para a paz.
Ainda é tempo de cuidar para não se perder experiências de fé que produziram heranças inestimáveis, são bases de culturas e caminho para construir um mundo melhor. Ecoe mais uma vez a indicação de Santo Agostinho: “Como veio a paz à terra senão por ter a verdade brotado da terra, isto é, Cristo ter nascido em carne humana? Ele é a nossa paz: de dois povos fez um só, para que fôssemos homens de boa vontade, unidos uns aos outros pelo suave vínculo da caridade.” Nessa compreensão e vivência se poderá, copiosamente, celebrar o Natal, delicadeza de Deus.
Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo de Belo Horizonte (MG)
cnbb,org.br
sexta-feira, dezembro 19, 2014
Natal: a paz que desce do céu!
Leituras do Dia
1ª Leitura - Jz 13,2-7.24-25a
Salmo - Sl 70 (71), 3-4a. 5-6ab. 16-17 (R. Cf. 8a)
Evangelho - Lc1,5-25
A antífona de entrada para a missa da noite do dia 24 de dezembro convida: “Alegremo-nos todos no Senhor: hoje nasceu o Salvador do mundo, desceu do céu a verdadeira paz”. O convite para se alegrar é feito a todas as pessoas de boa vontade que habitam o orbe terrestre. A razão é o nascimento do Salvador que traz consigo a certeza de que a paz há de reinar em todo mundo.
Na exortação apostólica sobre “a alegria do Evangelho” (n.2), o Papa Francisco diz que “o grande risco do mundo atual, com sua múltipla e avassaladora oferta de consumo, é a tristeza individualista que brota do coração comodista e mesquinho”. Para fazer frente a isso, podemos nos deixar contagiar pela boa nova trazida pelos anjos na noite do Natal: “nasceu-vos hoje, na cidade de Davi, um Salvador, que é o Cristo Senhor” (Lc 2,11). O Papa afirma que o exemplo vem dos pobres: “Posso dizer que as alegrias mais belas e espontâneas, que vi ao longo da minha vida, são as alegrias de pessoas muito pobres que têm pouco a que se agarrar” (n. 7). É a genuína constatação de que, para ser feliz, a pessoa não precisa ter muitos bens. Basta estar em paz consigo, com as pessoas que nos rodeiam e com Deus.
Onde existe alegria também tende a reinar a paz. Por isso, a segunda grande notícia da noite do Natal é: “desceu do céu a verdadeira paz”.
Em meio a uma sociedade onde, sempre mais, as pessoas tendem a se fechar em seu mundo particular, a proposta da paz vem como grande luz “a iluminar a todos os que habitavam nas sombras da morte” (Is 9,1). Aqueles que se deixam iluminar pela luz tornam-se instrumentos de paz e oferecerão o perdão a aqueles que os magoaram. Estes irão constituir famílias que vivem em harmonia e comunidades onde se preza a fraternidade.
O Natal de 2014 é comemorado no início do Ano da Paz proposto pela CNBB. Com isso, ele pode servir para impulsionar ações em prol da paz a serem desenvolvidas ao longo de 2015. O convite é para que todas as comunidades e todas as pessoas se engajem na construção de uma sociedade menos individualista e mais fraterna, uma sociedade menos agressiva e mais compreensiva, menos discriminadora e mais inclusiva.
Faço votos de que as comemorações do presente Natal tragam alegria e paz aos lares e que renovem a esperança de um futuro mais harmonioso e feliz para todos. Que a mensagem de alegria e paz que os anjos revelaram aos pastores também se torne a grande mensagem desta noite em que comemoramos o nascimento do “príncipe da paz” numa pequena gruta de Belém, na Judéia. Um feliz Natal para todos!
Dom Canísio Klaus
Bispo de Santa Cruz do Sul (RS)
cnbb.org.br
quinta-feira, dezembro 18, 2014
ÚLTIMOS DIAS ANTES DO NATAL - 18 de dezembro Advento, ROXO
José, o esposo de Maria e pai nutrício do Menino
“José, filho de Davi, não tenhas medo de receber Maria como tua esposa, porque ela concebeu pela ação do Espirito Santo. Ela dará à luz um filho, e lhe porás o nome de Jesus…”.
Maria, a bela Maria de Nazaré, estava prometida em casamento a José, o justo. José, delicadamente, pensa tudo o que acontece. Sua esposa é visitada pelo Espírito e concebe em seu seio o enviado de Deus, esse Jesus que dividiria as eras… José tem suas reservas. Depois de um tempo de reflexão, inspirado pelo Alto, não hesita em desposar Maria. Será o Esposo da Virgem Maria.
Maria, a bela Maria de Nazaré, estava prometida em casamento a José, o justo. José, delicadamente, pensa tudo o que acontece. Sua esposa é visitada pelo Espírito e concebe em seu seio o enviado de Deus, esse Jesus que dividiria as eras… José tem suas reservas. Depois de um tempo de reflexão, inspirado pelo Alto, não hesita em desposar Maria. Será o Esposo da Virgem Maria.
José, homem do silêncio. Não se conhece uma palavra que teria saído de seus lábios. Ele é o silencioso, contemplativo e, como a esposa, “levava as coisas para o fundo do coração”. No presépio ele é contemplativo. Não precisa de palavras. É um adorador em constante inclinação diante do Altíssimo.
Com o trabalho de suas mãos, ele sustenta Maria e alimenta o Filho do Altíssimo. É pai nutrício do Menino. Vemo-lo silencioso e atencioso no dia do nascimento. Ele com Maria levam o Menino para ser apresentado no templo e lá, ele e a esposa, são recebidos pelo velho Simeão, o homem que se despedia da vida depois de ver o Menino.
No momento da perseguição de Herodes enfrenta os caminhos do exílio. Com Maria preocupa-se quando o Menino não está na caravana tendo permanecido no templo… preocupações de um pai zeloso.
José é o padroeiro de todos os operários, de todos os trabalhadores. Devido ao silêncio contemplativo que viveu é tido como padroeiro da vida consagrada e sua imagem é marca dos jardins e pátios dos prédios de noviciado. É também padroeiro dos moribundo já que se supõe ter tido Jesus diante de seus olhos no momento de seu trespasse.
“A figura de José, tal qual nos aparece nesta passagem do evangelho é alta e dramática, feita de fé e de humildade. Não é simples aceitar ser pai de Deus. José soube manter a justa compostura em face do milagre da obra e da palavra de Deus. Ele não é curioso nem se mostra intimidado; não pode entender o que vê em Maria e não quer penetrar à força no mistério. Retira-se, antes numa respeitosa reverência, deixando o resto a Deus. Ao ter conhecimento do milagre, através da Palavra do Senhor, não demonstra hesitação ou dificuldade, porém faz o que lhe ordena o anjo do Senhor. Só quem está disposto à franca obediência a Deus ouvirá sua palavra e poderá colaborar em sua obra, porquanto só quem sabe ouvir, sabe obedecer. Quando a parte humana faz silêncio, tem-se o coração aberto para ouvir e executar o querer divino” (Missal Cotidiano da Paulus, p. 79).
Frei Almir Ribeiro Guimarães
Com o trabalho de suas mãos, ele sustenta Maria e alimenta o Filho do Altíssimo. É pai nutrício do Menino. Vemo-lo silencioso e atencioso no dia do nascimento. Ele com Maria levam o Menino para ser apresentado no templo e lá, ele e a esposa, são recebidos pelo velho Simeão, o homem que se despedia da vida depois de ver o Menino.
No momento da perseguição de Herodes enfrenta os caminhos do exílio. Com Maria preocupa-se quando o Menino não está na caravana tendo permanecido no templo… preocupações de um pai zeloso.
José é o padroeiro de todos os operários, de todos os trabalhadores. Devido ao silêncio contemplativo que viveu é tido como padroeiro da vida consagrada e sua imagem é marca dos jardins e pátios dos prédios de noviciado. É também padroeiro dos moribundo já que se supõe ter tido Jesus diante de seus olhos no momento de seu trespasse.
“A figura de José, tal qual nos aparece nesta passagem do evangelho é alta e dramática, feita de fé e de humildade. Não é simples aceitar ser pai de Deus. José soube manter a justa compostura em face do milagre da obra e da palavra de Deus. Ele não é curioso nem se mostra intimidado; não pode entender o que vê em Maria e não quer penetrar à força no mistério. Retira-se, antes numa respeitosa reverência, deixando o resto a Deus. Ao ter conhecimento do milagre, através da Palavra do Senhor, não demonstra hesitação ou dificuldade, porém faz o que lhe ordena o anjo do Senhor. Só quem está disposto à franca obediência a Deus ouvirá sua palavra e poderá colaborar em sua obra, porquanto só quem sabe ouvir, sabe obedecer. Quando a parte humana faz silêncio, tem-se o coração aberto para ouvir e executar o querer divino” (Missal Cotidiano da Paulus, p. 79).
Frei Almir Ribeiro Guimarães
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quarta-feira, dezembro 17, 2014
A alegria que vem do Senhor, o Justo!
- CONFISSÕES
de terça a sexta, das 14:30 às 17:00, com exceção dos dias 24, 25 e 31 de dezembro de 2014 e 01 de janeiro de 2015, que não haverá atendimento.
- CELEBRAÇÃO PENITENCIAL
Leituras do Dia
1ª Leitura - Gn 49,2.8-10
Salmo - S. 71 (72), 1-2. 3-4ab. 7-8. 17 (R. Cf. 7)
Evangelho - Mt 1,1-17
Estamos na terceira semana do tempo do advento. O advento é este tempo bonito de preparação para o Natal. Eu fico lembrando do meu tempo de criança, lá em Sarandira, quando a mamãe e o papai preparavam nosso Natal. A primeira preocupação deles é a única realmente era o lado espiritual. E, com saudade, lembro quando mamãe me conduzia para o confessionário para uma boa confissão, em preparação para o Natal. Parece, nestes dias, que o sacramento da confissão está meio fora de moda. As pessoas não precisariam de psicólogos se se confessassem assiduamente. Por isso Jesus vem para instaurar a paz e a alegria entre os seres humanos. São os pecadores, são os pobres, são os humilhados, são os que passam dificuldades, os primeiros que reconheceram Jesus como o Redentor, e foram os que primeiro testemunharam a sua justiça e o seu amor.
Lembramos, nestes dias, que Deus não se esquece de seus filhos, por isso Ele manda seus mensageiros para anunciar a boa nova: “O espírito do Senhor está sobre mim, porque o Senhor me ungiu; enviou-me para dar a boa-nova aos humildes, curar as feridas da alma, pregar a redenção para os cativos e a liberdade para os que estão presos; para proclamar o tempo da graça do Senhor”. Sim o Senhor vem trazer esperança, alegria para os humildes, para os pobres, paras os doentes, para os prisioneiros. Ele não vem para os ricos que habitam nos palácios ou vestem roupas vistosas, ou edificam obras megalomaníacas.
Ao falar de João Batista, ao anunciar a sua genealogia, a Igreja nos ensina a ser simples, como são para os simples que Deus anuncia a paz e traz a salvação, como testemunha privilegiada da ação de Deus no mundo, como arauto da luz divina, como precursor que anunciava o nascimento do Messias: “Eu sou a voz que grita no deserto: Aplainai o caminho do Senhor”(Jo 1,23).
Ao batizar com água, batismo de penitência, João anuncia que o Messias irá batizar com o Espírito de Deus e que “eu não mereço desamarrar a correia de sua sandálias”(Jo 1,27).
Neste tempo de esperança e expectativa Deus quer contar conosco na realização de seu plano de libertação e de paz para a sociedade hodierna. Somos, enquanto Igreja, instrumento para aplainar os caminhos do Senhor no mundo, comprometidos com a luta por um mundo mais justo e solidário, encontrando inspiração na divina misericórdia, para vivermos uma vida digna, uma vida plena como a vida nova que Jesus inaugura com a sua encarnação.
Tenhamos coragem, não sejamos tímido e não vamos temer o maligno e as suas seduções, porque o nosso Deus vem chegando para nos salvar, Ele vem para dar alegria aos pobres, os doentes, aos marginalizados, aos prisioneiros, aos que são oprimidos. Ele é o príncipe da Paz! Adoremos!
Dom Eurico dos Santos Veloso
Arcebispo Emérito de Juiz de Fora (MG)
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terça-feira, dezembro 16, 2014
Quem nos leva à festa do Natal?
3ª FEIRA da 3ª SEMANA Advento, roxo
Leituras do Dia
1ª Leitura - Sf 3,1-2.9-13
Salmo - Sl 33 (34), 2-3. 6-7. 17-18. 19.23 (R. 7a)
Evangelho - Mt 21,28-32
Viver em estado de advento!
Senhor “por amor aos homens vem de novo a esta terra!” Este é o apelo que domina o tempo do Advento. Deus estaria ausente? Não, sabemos que ele se faz presente em nossa vida e em nossa história. Nós é que tomamos distância dele. Deixamos nos envolver com nossas preocupações e nos prender em nossos trabalhos. Esquecemo-nos dele.
A maioria dos textos que lemos no tempo do Advento constitui uma pedagogia viva cuja finalidade é despertar nosso coração adormecido de seu torpor espiritual. O Senhor quer fazer de cada um de nós “vigias da aurora”, sentinelas do amor.
Estamos sempre voltando para o Senhor. Preocupados com muitos detalhes e obrigados a nos “distrair” do essencial não temos mais consciência que nossa vida pessoal e coletiva se inscreve no dinamismo de uma esplendorosa Aliança de amor, uma longa história de salvação.
Durante o tempo do Advento pedimos que o Senhor, ainda uma vez, rasgue a espessura de nossas trevas, dilate nossos horizontes acanhados e venha morar em nosso coração e em nossa terra.
Três grandes personagens serão nossos guias nesse despertar espiritual: o profeta Isaías, o precursor Joao Batista e Maria, a mulher da fé.
Isaías haverá de nos ajudar a enraizar nossa esperança na espera multissecular de nossos antepassados, na fé de Abraão e no êxodo de Moisés. O profeta vai reavivar em nós “as promessas messiânicas” que fizeram do povo de Israel um povo de peregrinos e que fazem ainda da Igreja do Cristo um povo de caminhantes que se orientam para a plenitude do Reino do Amor.
Isaías nos convida a nos deixar sermos modelados pelo Criador, oleiro amoroso de sua criação que, dia após dia, toma a argila de que somos feitos para nos dar rosto de eternidade e fazer de nossa terra a matéria de seu Reino.
João Batista nos convidará, por sua vez, a fazer com que borbulhe novamente em nós a água de nosso batismo, gritando de uma voz forte: “Convertei-vos! Mudai a direção de vossos pensamentos. Abri os olhos, e sede vigilantes porque, em vosso meio, está Alguém que não conheceis! Ele já se fez presente! Abri-lhe as portas de vosso coração de vossas comunidades. Preparai-lhe um caminho para que ele possa chegar ao mais íntimo de vosso ser”.
Maria nos associará à sua própria fé disponível a fim de que possamos, nós também, acolher as imprevisíveis visitas de Deus. Ela intercederá junto ao Senhor para que o Espírito “nos cubra com sua sombra” a fim de possamos encarnar o Amor no cotidiano e assim dar à luz uma terra nova.
Ela, a Virgem do “sim” fará de nós homens do Advento, enraizados na fidelidade ao Senhor, capazes de perceber sua presença amorosa e atuante em nosso presente e acelerar o advento da glória do Senhor.
Michel Hubaut
Revista Prier, dez. 1990
franciscanos.org.br
domingo, dezembro 14, 2014
3º DOMINGO do ADVENTO - ALEGRAI-VOS!
“Eis o segredo da verdadeira felicidade: O homem não se realiza plenamente em 'ter' ou em 'fazer'”, mas em amar e em doar-se” Papa Francisco
Leituras do Dia
1ª Leitura - Is 61,1-2a.10-11
Salmo - Lc 1,46-48.49-50.53-54 (R. Is 61,10b)
2ª Leitura - 1Ts 5,16-24
Evangelho - Jo 1,6-8.19-28
A tradição litúrgica da Igreja chama o Terceiro Domingo do Advento de Gaudete, o domingo da alegria, porque a antífona de entrada começa com o imperativo: “Alegrai-vos!”, e o texto da segunda leitura também inicia com o “Estai sempre alegres”. Essa antífona de entrada exclama: “Alegrai-vos sempre no Senhor. De novo eu vos digo: alegrai-vos! O Senhor está perto!” (Fl 4, 4.5). Como expressão dessa alegria, pode-se usar, no lugar do roxo, a cor rósea, no tom conhecido como “rosa antigo”. É um roxo suavizado, que exprime a exultação pela aproximação do Santo Natal. Alegrai-vos! Alegremo-nos! O Senhor está perto! Está próximo o Natal; está próxima a Vinda do Senhor; está próximo de nós o Salvador nosso nos diversos momentos de nossa existência! Ele não é Deus de longe; é perto: seu nome será para sempre Emanuel, Deus-conosco!
Muitos procuram a alegria no pecado, em futilidades, e mesmo alegrando-se com coisas que valem a pena, se esquecem de que toda alegria neste mundo é passageira. “Quanto a vós, caríssimos, alegrai-vos com tudo quanto é bom e louvável, mas colocai vossa maior e definitiva alegria no Senhor!” Somente Nele o coração repousa plenamente, somente Nele encontra-se a paz que dura mesmo em meio à tribulação mais dura, somente Nele o anseio mais profundo de nossa alma. Alegrai-vos! Que seja o Senhor o fundamento da vossa alegria, a causa última da vossa exultação!
Caríssimos, eis a causa da nossa alegria! Nós, os cristãos, temos direito de nos alegrar, mesmo diante das dificuldades encontradas no dia a dia; temos o dever de manter a esperança, mesmo quando as possibilidades humanas fracassam; temos a oportunidade de continuar esperando ainda quando os nossos cálculos mostrem-se errados. Porque nossa esperança e certeza não se fundam em nós nem em nossas possibilidades, mas Naquele que vem, Naquele que o Pai do céu nos envia, Naquele que nunca conseguiremos conhecer totalmente, o Santo Messias do Pai, Jesus, nosso Deus-Salvador. Isso nos recorda o Papa Francisco no documento programático “Evangelii Gaudium”.
O cristão leva a alegria dentro de si por que encontra a Deus na sua alma em Graça. Esta é a fonte da sua alegria! Não nos é difícil imaginar a Virgem Maria, nestes dias do Advento, radiante de alegria com o Filho de Deus no seu seio. A alegria do mundo é pobre e passageira. A alegria do cristão é profunda e capaz de subsistir em meio às dificuldades. Daí também a nossa preocupação quando a sociedade atual esvazia o verdadeiro sentido do Natal para se concentrar naquilo que é passageiro. A alegria cristã é compatível com a dor, com a doença, com o fracasso e as contradições. “Eu vos darei uma alegria que ninguém vos poderá tirar” (Jo 16,22), prometeu o Senhor. Nada nem ninguém nos arrebatará essa paz gozosa se não nos separarmos da sua fonte.
O Senhor pede que estejamos sempre alegres! Só Ele é capaz de sustentar tudo na nossa vida. Não há tristeza que Ele não possa curar: “Não temas, mas apenas crê” (Lc 8,50), diz-nos o Senhor. Uma alma triste está à mercê de muitas tentações. Quantos pecados se têm cometido à sombra da tristeza! Por outro lado, quando a alma está alegre, abre-se e é estímulo para os outros; quando está triste obscurece o ambiente e faz mal aos que estão à sua volta. Não nos deixemos roubar a verdadeira alegria!
Resta-nos, então, escutar com atenção o conselho do Apóstolo: estar sempre alegres em Cristo; com os olhos fixos Nele; orar sem cessar, buscando realmente ser amigo íntimo do Senhor, dando graças em todas as circunstâncias, sabendo que Ele está próximo de nós, nunca longe de nossas aflições e desafios. “A alegria do Evangelho enche o coração e a vida inteira daqueles que se encontram com o Jesus”.
“Convido todo cristão, em qualquer lugar e situação que se encontre, a renovar hoje mesmo o seu encontro pessoal com Jesus Cristo ou, pelo menos, a tomar a decisão de se deixar encontrar por Ele, de procurá-Lo dia a dia sem cessar. Não há motivo para alguém poder pensar que este convite não lhe diz respeito, já que “da alegria trazida pelo Senhor ninguém é excluído” (EG 1 e 3).
Cardeal Orani João Tempesta
Arcebispo do Rio de Janeiro (RJ)
cnbb.org.br
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