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segunda-feira, setembro 03, 2012

Amadurecimento espiritual e humano: um convite à escuta


Por Frei Donil Alves, OFMConv.*

A palavra maturidade vem do latim maturus: que chegou a ser em tempo determinado. No dicionário da Língua Portuguesa, maturidade significa: Estado das pessoas ou das coisas que atingiram completo desenvolvimento. Anselm Grün inicia seu livro afirmando que maduro é aquele que chegou a ser aquilo que deve ser e quer ser, de acordo com sua determinação e sua essência; Escolhemos crescer ou não crescer. Por isso cada um tem seu tempo, vive entre o Chronos e o Kairós, procurando tornar visível o que existe dentro dele em “termos de possibilidades e capacidades”; isto se dar quando percebemos em nós ou no outro os florescimentos e frutos. Talvez uma das grandes dificuldades que encontramos na vida religiosa seja de não perceber a graça do tempo oportuno. “Tudo tem seu tempo e há um momento oportuno para cada coisa debaixo do céu!” (Ecle 3,1ss). “a maturidade se mostra quando temos a capacidade de lhe dar com os nossos problemas e com os dos outros”; quando existe a capacidade de se relacionar bem no trabalho, ter espírito de cooperação e trabalhar em equipe, de contribuir , de fazer críticas construtivas, de aceitar as críticas do outro, de obedecer e se adaptar a novas situações.

“Decisivo para a maturidade de uma pessoa é que ela tenha se reconciliado com a vida e que seja capaz de dizer sim a si mesma, do jeito como é”, procurando ajustar o tempo cronológico com o tempo psicológico (psico-afetivo). Características da maturidade humana são “serenidade, paz interior, vivacidade e abertura, fecundidade (capacidade de produção) e criatividade”. Se compararmos a vida religiosa ou mesmo o religioso com uma árvore que tem por natureza a capacidade de produzir frutos e não produz devido a sua esterilidade estaríamos indo contra a nossa própria vocação. Os frutos que produzimos devem alimentar nossa comunidade, frutos de uma vinha que no tempo oportuno produz o bom vinho para alegrar os convivas e animá-los a fazer parte de nossa família e nossa história. Em Lc 13,6-9 o Evangelho nos apresenta a seguinte parábola para ilustra a paciência do agricultor. E dizia esta parábola: Certo homem tinha uma figueira plantada na sua vinha, e foi procurar nela fruto, não o achando, disse ao vinhateiro: Eis que há três anos venho procurar fruto nesta figueira, e não o acho. Corta-a; por que ocupa ainda a terra inutilmente? E, respondendo ele, disse-lhe: Senhor deixa-a este ano, até que eu a escave e a esterque; E, se der fruto, ficará e, se não, depois a mandarás cortar. O Salmo 1,3 também nos lembra: "Pois será como a árvore plantada junto a ribeiros de águas, a qual dá o seu fruto no seu tempo; as suas folhas não cairão, e tudo quanto fizer prosperará". Ocupar a terra inutilmente significa cumprir sua vocação até determinado momento, ser árvore, porém, depois, não ter a capacidade de gerar frutos.

Por isso, amadurecer no sentido espiritual “significa que cada pessoa leve à plenitude aquela imagem singular que Deus fez dela, que realize seu próprio ser, que encontre a forma a ela destinada por Deus”. Romano Guardini (sacerdote e escritor) disse certa vez que cada pessoa é uma palavra proferida por Deus apenas sobre esta pessoa singular e nossa tarefa consiste em torna perceptível neste mundo esta palavra singular de Deus que se tornou carne dentro de nós. No princípio Deus proferiu a palavra “faça-se” e a luz se fez; proferiu palavras escritas em pedras, mas para serem gravadas no coração (“Esta é a aliança que vou concluir com a casa de Israel: porei minhas leis em suas mentes e as imprimirei nos seus corações”. Hb 8,10); todas suas palavras indicavam ações. Provocou seus eleitos a provocar seu povo eleito; exigiu fidelidade e maturidade; manteve firme em sua Aliança até encontrar a Filha de Sião, filha capaz de assumir um projeto de salvação no qual exigia discernimento, escuta e maturidade. Maria proferiu seu FIAT e o verbo se fez carne. Assim, homens e mulheres, levaram à plenitude a imagem singular de Deus dando forma ao amor que até então esta adormecido em tábuas, faixas, altares e um simples cumprimento da lei. O Amor despertou, pois a humanidade começou a escutar a voz de Deus na voz de seu Filho (Dabhar). No princípio era a palavra (logos) e a palavra estava com Deus e a palavra era Deus (Jo 1,1). O Vocábulo palavra (logos) é empregado pelo evangelista João como um título de Cristo, um título no sentido mais vasto e mais profundo. Esta expressão logos (grego) é usada para traduzir o vocábulo hebraico Dabhar, que quando traduzida por “palavra” significa som compreensível. “somente através da voz de Deus em meu interior posso reconhecer a imagem que Deus fez de mim”.

Escutar é algo precioso e está na raiz de nossa história. Sem a escuta não há discernimento, sem discernimento não há maturidade espiritual. O que foi preciso para que Francisco de Assis proferisse as palavras: “É isto que eu quero! É isto que eu procuro! É isto que eu desejo de todo coração!” (1 Cel 9,22). Foi necessário passar pelo processo da liberdade e da escuta. Nele havia um forte potencial, um coração vibrante e um desejo grande de viver.

Francisco buscou ideais que não envelhecem porque estes são necessários a todo coração humano: A liberdade e o amor livre. Nas grutas, nos lugares ermos e nos altos montes, entre Assis, Úmbria, Perugia, Gubbio, Greccio... Francisco aprendeu a escutar. A voz de Deus veio ao seu encontro no tormento da dor em uma prisão, nos dias intermináveis em um leito adoentado, escutando a sua voz interior, as vozes que sussurravam ao seu redor na expectativa de seu despertar (sua mãe, seu pai e seus amigos), e em meio a sentimentos e pensamentos, paixões e necessidades, Francisco desperta para um novo mundo. No balido (som emitido pelas ovelhas e cordeiros) de um sino de leproso em uma estrada única, sem desvios, Francisco experimenta um Deus que vai além das Catedrais, da palavra da Bíblia e da liturgia solene, pela realidade de seu corpo, palpável, verdadeiro, humano, em sua alma e no Espírito de Deus, em um abraço único, mas capaz de fazer florescer em sua vida um novo homem. Francisco encontra-se no ápice de sua maturidade espiritual. Anselm Grün chama este processo de espiritualidade “desde baixo”, ou seja, temporal em busca com uma espiritualidade “desde o alto”, ou seja, Transcendental. A maturidade espiritual permitiu-nos ligar o céu e a terra. Este processo não se faz em um único passo, mas são passos lentos, muitas vezes ha retrocesso. É preciso primeiro cair por terra, pois todos somos sementes, e esperar o tempo de morrer para nascer, pois sem a morte não há uma nova vida. Aparentemente, Francisco, árvore pequena e frágil que foi não se deixou minguar pelos obstáculos de seu crescimento. Sua folhagem e seu tronco poderiam até demonstrar ausência de grande vitalidade, mas suas raízes eram profundas, e nenhuma ventania, inverno ou árduo tempo de escassez o impediu de dar frutos necessários para alimentar a vinha que crescera à sua volta, os irmãos que dia após dia se ajuntavam, crescendo , florescendo e amadurecendo. Seu grande desafio foi ensinar aos seus irmãos a fazer um caminho de amadurecimento. Não basta somente dar sombra é preciso dar fruto.

A fraternidade deve efetivamente produzir frutos que sejam curadores. Mas, com certa frequência descobrimos que alguns irmãos ou nós mesmos somos apenas sombras ou folhas ao vento. Devemos esperar o tempo de Deus. O sabor do melhor fruto é aquele que no momento certo convida a ser colhido e degustado. A terra no seu silêncio acolhe a semente. Entre Terra e semente há um som compreensível assim como entre o humano e Deus também há de ser. Recordemos que “maduro é aquele que chegou a ser aquilo que deve ser e quer ser, de acordo com sua determinação e sua essência”. No alimento quotidiano de nossa vocação o que estamos escutando? Eis o nosso desafio pessoal e comunitário. 

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Pia União de Santo Antônio

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