Todas as páginas dos evangelhos são encantadoras. Muitas delas, é verdade, são severas e exigentes, mas sempre expressão das entranhas do Filho de Deus que veio morar em nossa casa e nos confidenciar os segredos do coração do Pai. Entre todas as palavras do Novo Testamento certamente as que constituem o Sermão da Montanha na versão de Mateus ou da Planície no texto de Lucas encerram o “miolo” da Boa Nova. Mais ainda: a introdução a este sermão, o famoso texto das bem-aventuranças, marcou definitivamente a espiritualidade de milhões de pessoas. Na liturgia de hoje ouvimos as Bem-aventuranças na versão de Lucas.
Sermão da felicidade, da bem-aventurança, do paradoxo, de uma felicidade que, à primeira vista, nada tem de felicidade.
Felizes os que não se consideram centro do mundo, os que vivem alegremente sua dependência do Senhor e dos outros, os que não impõem suas ideias particulares, os que têm certeza que de graça tudo receberam e tudo restituem porque são indigentes cobertos de bens, de amigos, de intimidades. Eles lutam, trabalham mas se sentem seguros nas mãos do Senhor, na palma da Providência. Pode mesmo acontecer que eles não sejam levados em consideração, mas não sofrem com isso. Sabem que são servos inúteis. Eles lembram um pouco aquilo que Francisco de Assis queria que fossem seus frades: irmãos menores, que não chamam atenção para si… São pobremente livres. Estes são os verdadeiros felizes.
Felizes os que experimentam fome e sede. Talvez mesmo sede de água e fome de pão. Mas sobretudo que estão sempre dando um passo a diante, sempre insatisfeitos com o que já conseguiram na busca da espiritualidade. Quando pensam no Senhor, pensam nele com desejo. Quando leem as Escrituras querem “comer” sofregamente tais palavras que podem alimentar sua vida. Felizes os quem vivem do desejo.
Felizes os que choram. Paradoxal que o Evangelho enalteça o sofrimento. Há pessoas que choram porque tomam consciência de seus pecados e de seu distanciamento de Deus. Felizes as mães que choram porque seus filhos voltaram ao bom caminho. Felizes as lágrimas vertidas quando juntamos nossas dores às dores daquele que, no alto da cruz, não tinha mais lágrimas para verter. Felizes os que choram.
Bem-aventurados os que são capazes de sofrer por causa do Evangelho, os que tiverem força de não negar o amor de Cristo. Os que assim agem se colocam na esteira dos profetas que quase nunca eram bem acolhidos. Felizes os que forem delicada, alegre e persistentemente discípulos do Senhor. Ninguém poderá lhes tirar tal alegria.
Frei Almir Ribeiro Guimarães
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