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sexta-feira, abril 26, 2013

POR QUE JESUS PROIBIA A DIVULGAÇÃO DOS MILAGRES?

O leitor do Evangelho segundo Marcos fica intrigado com o paradoxo: nos capítulos de 1 a 10, Jesus atende e cura inúmeros sofredores; infunde esperança nos desanimados e medrosos; e vive e anuncia uma maneira nova de encarar a religião. No entanto, proíbe que divulguem o que faz e quem ele é (cf. 1, 44; 5, 43; 7, 24.36; 8, 26; 9, 30). Quando “espíritos impuros” se dão conta de que ele é o Filho de Deus, Jesus proíbe que espalhem a descoberta (cf. 1, 24-25.34; 3, 11-12). Esse “segredo messiânico” é um dos fios condutores de Marcos.

Motivos? Primeiro, por questão de segurança. Entre os conterrâneos de Jesus, havia forte clima de revolta contra os romanos, que ocupavam o país com mão de ferro. O agir libertador de Jesus podia reforçar ondas de messianismo político-militar, que seriam reprimidas. Mas então, por que Jesus fazia as curas em público? Por que difundia mensagens tão explosivas? Por solidariedade com essa gente desprotegida; mostrava assim de que lado Deus está, e qual a nova sociedade que ele queria estabelecer a partir dos excluídos – o Reino de Deus. O jeito era combinar coragem com prudência.

Mera tática, então? Não. Ao longo da Bíblia, mas de modo eminente na vida de Jesus, Deus usa uma pedagogia que faz crescer: ora se manifesta, ora se esconde. Nem todos tiram proveito dessa pedagogia. O paradoxo “manifestação de Jesus X proibição de manifestar quem ele é” é reforçado por outro: Jesus faz e ensina coisas maravilhosas; mas muitos não conseguem enxergar seu sentido, há uma cegueira de autoridades religiosas, concidadãos, familiares e até de discípulos mais achegados! Essas pessoas não enxergam porque seus interesses são outros; ou, como no caso dos apóstolos, não são suficientemente amadurecidos na linha de Jesus (cf. 9, 9-13). Notável o caso de Pedro: logo depois de fazer uma bela profissão de fé, é repreendido porque não compreende o espírito de Jesus (cf. 8, 29.33). A todos falta um elemento básico para assimilarem o projeto de Jesus e se converterem: experiência não só da bondade e autoridade do Jesus que cura e ensina, mas também da Paixão, morte e ressurreição do Filho de Deus. Por isso, a referência à Paixão atravessa Marcos como pano de fundo, chave de interpretação do mistério da pessoa e missão de Jesus (cf. 9, 30-32). Os capítulos 9 e 10, do Evangelho de Marcos, através de três conceitos, propõem o caminho: anúncio da Paixão, incompreensão, seguir Jesus até o fim. Para os discípulos, foi uma experiência longa, sofrida, marcante. No final, saberão dizer melhor quem é Jesus e convidar outros a fazer a mesma experiência (cf. 16, 9-15). Antes disso, pouco adianta falar, pelo contrário, pode alimentar concepções de um Jesus messias, político e guerreiro, ou mágico e curandeiro, com risco de esvaziar ou manipular sua causa.

O itinerário que Marcos aponta dá o que pensar. Só palavras e celebrações bonitas e animadas não bastam. Ir atrás de Jesus por entusiasmo do momento, interesses imediatos ou curiosidade pode ser um primeiro passo, mas é pouco. Talvez nossa vida, com suas alegrias e decepções, se for o caso até ao fracasso da cruz, já seja seguimento de Jesus; mas é na família e na comunidade de fé que aprendemos a enxergar o sentido do que nos acontece, e a estarmos abertos à experiência (gratuita!) da ressurreição. Aí, as peças do enigma da vida e da história vão se juntando.

Esse roteiro de vida cristã encaminha respostas pessoais a várias perguntas, hoje de especial relevância: Que significa ser cristão? Em que consiste a espiritualidade cristã? Qual o papel, em tudo isso, da liturgia, da Bíblia, do catecismo, do magistério eclesial? Ao provocar semelhantes questionamentos, misturando fatos ou palavras com interpretação, Marcos torna-se o primeiro catecismo básico da Igreja, insuperável até hoje. É também o primeiro livro de catequética fundamental, o mais profundo e convincente.

Wolfgang Gruen, SDB, biblista
Fonte: Revista Família Cristã

Pia União de Santo Antônio

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