Atos 14, 21-27; Apocalipse 21, 1-5; João 13, 31-35
Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se tiverdes amor uns aos outros (Jo 13, 35).
Aos poucos vamos avançando em nosso grande e alegre retiro do tempo pascal. O evangelho, hoje proclamado, é tirado do Discurso de despedida de Jesus, no texto do quarto evangelista. O Mestre está consciente da proximidade de sua paixão e morte. O traidor já saiu para realizar seus propósitos. Jesus afirma: “Filhinhos, por pouco tempo estou ainda convosco”. Tem diante de seus olhos o espectro da paixão. Será preciso ficar fiel ao Pai até o fim. Ele viera da parte de seu Pai para salvar o mundo, para resgatar os perdidos, para dizer com palavras e gestos que o amor é mais forte do que o ódio, que a morte é vencida pela força do amor. Poderá dizer que amor é dar a vida pelos seus.
Jesus fala de um mandamento novo. Existem muitas modalidades de bem-querer, de amor. Há esse amor “química”. Há os laços amorosos entre homem e mulher, pais e filhos, parentes, amigos. Nem sempre esses amores se revestem de limpidez. Há sentido de posse. Não poucas vezes ficamos sabendo de crimes passionais, de pais que são assassinados pelos filhos, de amigos que se tornam inimigos. Muitos discursos sobre o amor, cheios de emotividade e regado com lágrimas que secam rapidamente, não podem ser classificados de amor.
Amar é desejar que o outro seja e seja em plenitude. É dar espaço para que ele cresça. É se interessar pelo seu presente e ajudá-lo a preparar o futuro. É incentivar, animar, ajudar. É corrigir, exortar, agir com firmeza. É dizer sim quando o sim faz crescer. É colher aquele que está jogado à beira da estrada, levá-lo pessoalmente à hospedaria do coração, curar-lhe as feridas, deixar dinheiro na recepção para que suas necessidades possam ser atendidas.
Amar é dar tempo para o outro, vida para os desanimados. É inventar meios e modos de quebrar a solidão do semelhante. É colocar esse outro em primeiro lugar. É dominar o desejo legítimo de brigar, de gritar e de vociferar quando alguém é atingido em sua honra e em seus bens. É ter, como dizia Francisco de Assis, o inimigo como irmão.
Amar é engajar-se em todos os movimentos que libertam as pessoas da miséria, que defendem seus direitos, buscar os dependentes de álcool e de drogas. É visitar os presos que vivem no inferno de nossas prisões, os doentes que esperam apenas a chegada da morte.
Nada mais importante e urgente que o amor. Trata-se de amar na qualidade do amor do Senhor Jesus. É esse o novo mandamento. “Como eu vos amei, assim vós deveis amar-vos uns aos outros”.
Retomamos a passagem do evangelho que abriu esta nossa reflexão: não temos uma carteira numerada que garanta que somos discípulos de Jesus. Não são as missas e orações, eventuais jejuns e penitências que provam que somos discípulos. Seremos assim reconhecidos se tivermos amor uns pelos outros e ponto final…
Frei Almir Ribeiro Guimarães
franciscanos.org.br