SEJAM BEM-VINDOS!

Caríssimos(as) Irmãos(as), saudamos a todos vocês com a Paz e o Bem contidas no Cristo Jesus e em São Francisco de Assis.



segunda-feira, março 31, 2014

“Faço novas todas as coisas”

2ª. feira da quarta semana da Quaresma
Isaías 65, 17-21; João 4,43-54

Vale a pena ler em voz alta algumas vezes a leitura de Isaías proclamada nesta segunda-feira. O profeta lança um olhar para o amanhã e o texto tem perfume da esperança. A história de Israel é feita de idas e vindas, de fidelidade e de infidelidade. Nesse momento o profeta projeta esperança na caminhada. Parece que a velhice não existe mais. Nesse horizonte do amanhã “eis que eu criarei novos céus e nova terra, coisas passadas serão esquecidas, não voltarão mais à memória”. Certamente, a profecia aponta para esse amanhã escatológico onde Deus será tudo em todos, amanhã que esperamos como fim de todas as coisas e canseiras.

Quando se defende tanto a chegada do novo, quando se pede que as pessoas inventem o novo corre-se o risco de ignorar a base de nossa vida. Viemos do passado. Fomos um sonho de nossos pais. Tivemos nossos talentos descobertos ontem. Muitos de nós encontramos o Evangelho de ontem, de hoje e de sempre em nossa juventude e mocidade. A base de nossa vida está na nossa verdade que é também de ontem.

Isto tudo valendo será preciso criar o novo. Não podemos lamentar que as coisas passaram, que não se pratica a fé da mesma forma, que a vida consagrada ficou diferente, que não se é padre do mesmo jeito…

A verdade não muda, o Evangelho não muda, a promessa de consagração a Deus na vida virginal é a mesma e, ao mesmo tempo, tudo tem que ser novo.

A paróquia continuará a existir, mas quanto possível o menos burocrática, mais leve, mais simples, mais acolhedora, mais dialogante. Os encontros serão menos formais, mais descontraídos, tudo será salpicado do Evangelho.

O casamento será novo, marcado com a base de um bem querer mais profundo, pessoas que buscam o bem do outro e crescem numa maturidade humana, profissional, cristã, sem subordinações machistas e revanchismos feministas.

As famílias serão mais “democráticas”. Os pais aprenderão com os filhos e os filhos continuarão a aprender com os pais. Os filhos não serão forçados a seguir esquemas preestabelecidos, mas num mundo de transformação criarão modos novos de viver dignamente sem serem escravos do consumismo.

Nesses tempos novos precisaremos aprender a aprender para podermos ser competitivos no bom sentido do termo. Não podemos ficar defasados.

Estaremos prontos a acolher o inesperado: o Senhor que faz novas todas as coisas certamente não nos deixará ficar no mofo da vida. O Espírito Santo é o mestre da novidade.

“Será considerado jovem quem morrer aos cem anos…”

Frei Almir Ribeiro Guimarães
www.franciscanos.org.br

domingo, março 30, 2014

A LUZ DO CRISTO - 4º domingo da Quaresma - 30 de março

1ª leitura: (1Sm 16,1b.6-7.10-13a) Unção de Davi como rei – 1Sm 16–2Sm 20 contém diversas tradições sobre a unção de Davi com rei (cf. 2Sm 2,4; 5,3). Na narração da unção em 1Sm 16, Davi é o eleito de Deus; Deus está com ele (16,18). Esta eleição é comentada pelo v. 7: os homens olham para o exterior, Deus para o interior. Deus não olha para as qualidades brilhantes; o que ele espera de seu colaborador é um coração reto. * cf. 2Sm 7,8; Sl 78[77],70; 89[88],21.

2ª leitura: (Ef 5.8-14) “Levanta-te dos mortos, e Cristo te iluminará” – Quem conheceu a luz de Cristo, vê o mundo alheio a Deus como trevas; e quem vive nessas trevas ainda não despertou para a vida que Deus lhe quer proporcionar. O autor de Ef dirige-se a leitores que, por sua conversão, romperam com uma existência pagã. Devem lembrar-se de que pertencem à luz, não às trevas. Luz e trevas são incompatíveis * 5,8 cf. Cl 1,12-13; Jo 8,12; 1Ts 5,4-8 * 5,12-13 cf. Jo 3,19-21 * 5,14 cf. Is 26,19; Rm 13,11; 2Cor 4,6.

Evangelho: (Jo 9,1-41 ou 9,1.6-9.13-17.34-41) Jesus abre os olhos ao cego de nascença, pelas águas de Siloé – Jesus cura um cego, mas a cura só é completa na profissão de fé: é preciso ver Deus em Jesus Cristo. O presente evangelho narra: 1) a cura (9,1-7); 2) o amadurecimento da fé no confronto com a incredulidade e a repressão (9,8-34); 3) a auto-revelação de Cristo, como resposta à busca do cego, e a profissão de fé deste (9,35-39). A auto-revelação de Cristo é: “Eu sou a luz do mundo” (cf. 8,12). O cego vê esta luz e torna-se “filho da luz” (cf. 12,36). Os fariseus dizem que veem, mas se recusam a ver a luz que veio ao mundo: eles são os verdadeiros cegos. Assim, a luz se transforma, para eles, em julgamento e condenação. Eles não querem fazer o que faz o cego: adorar a Deus em Jesus Cristo. * 9,4-5 cf. 1Jo 1,5; Jo 11,9-10; 12,35-36; 8,12 * 9,35-39 cf. Jo 4,26; Mt 13,13; 15,14. 



Assim como o penúltimo domingo do Advento é o domingo da alegria (Gaudete), assim também o quarto domingo quaresmal. O canto da entrada nos convida a associarmo-nos aos romeiros judaicos que subiam em romaria a Jerusalém: Laetare Jerusalém, “Alegra-te Jerusalém, porque tua salvação superará tua tristeza”. O celebrante usa paramentos cor de rosa. O canto da entrada nos coloca na companhia dos que jubilosos sobem a Jerusalém. Ficamos animados com a renovação interior que a Quaresma nos traz e que dá força para continuar o caminho.

O tema da alegria, presente também na oração do dia e na oração sobre as oferendas, preside, sobretudo, à 2ª leitura e ao evangelho (o qual era lido, antigamente, no dia dos escrutínios dos catecúmenos que se preparavam para o batismo na noite pascal). A 2ª leitura (“Cristo te iluminará”, Ef 5,14) é um texto batismal, que nos faz entender melhor o evangelho, igualmente batismal. Jesus é a luz do mundo (Jo 9,5) e abre os olhos ao cego pelo banho no “Siloé, que significa: Enviado” (9,7). Além de ser uma alusão ao simbolismo batismal, o evangelho é também uma lição de fé: os diálogos revelam sempre mais firme e decidida a fé do ex-cego, enquanto cresce a má vontade dos fariseus. No fim, o homem é excluído da sinagoga – sorte de muitos judeu-cristãos no fim do século I – mas, ao reencontrar Jesus, chega a professar sua fé e a adorar Jesus, fazendo jus ao sinal que recebera (a abertura dos olhos, sinal do batismo). E como está a nossa coerência batismal?

A alegria que a liturgia evoca é a da luz de Cristo, que iluminará os que vão receber o batismo na noite pascal. Receber o banho no “Enviado” para receber nova visão. O batismo, na Igreja antiga, era chamado “iluminação”. O prefácio (próprio) explicita isso.

A 1ª leitura apresenta o tema da unção do rei Davi. Destacando a dignidade de rei e sacerdote, nos lembra o Cristo-Ungido-Messias e, ao mesmo tempo, nossa unção batismal em Cristo. Dentro dessa narrativa aparece outro tema que pode reter nossa atenção: o homem vê a aparência, Deus vê o coração. Pensamento salutar no tempo quaresmal. Nosso coração deve ser posto em dia para ser enxergado por Deus (estamos na tradicional semana dos “escrutínios” preparatórios do batismo). Para que a luz de Cristo nos ilumine é preciso termos o coração puro, voltarmos à limpeza batismal. Osalmo responsorial associa-se ao tema de Davi-Pastor.

A Quaresma deve ser vista como tempo de preparação à proclamação renovada de nossa fé batismal. Então, “Cristo nos iluminará” (cf. 2ª leitura). A conversão quaresmal é renovação de nosso batismo, oportunidade para assumi-lo conscientemente. 

O BATISMO, UNÇÃO E LUZ 
As leituras deste domingo são escolhidas com vista à preparação do batismo ou da renovação do compromisso batismal. Esclarecem o sentido dos ritos complementares que se seguem ao batismo propriamente, os assim chamados ritos pós-batismais: a unção, que significa a participação do fiel na missão de Cristo, profeta, sacerdote e rei; a veste branca, que significa a pureza da fé batismal; e a vela acesa, que significa Cristo como a luz que ilumina nossa vida.

Na 1ª leitura, Davi é ungido rei por Samuel. Jesus é o novo Davi, o Messias, “ungido” (com o Espírito) no batismo no rio Jordão. O próprio termo “Cristo” significa “ungido” (em hebraico: “Messias”). Assim, na liturgia batismal, o recém-batizado é ungido em sinal de que ele é “Cristo com Cristo”, membro do povo messiânico.

No evangelho, Jesus “unge” os olhos do cego de nascença. (Para a catequese, o fato de ele ser cego de nascença faz pensar no pecado original: uma cegueira que acompanha a vida da gente.) Depois de ter untado os olhos do cego, Jesus manda-o lavar-se (o “banho da regeneração”!) no “Siloé, que quer dizer Enviado” (a piscina de Siloé é uma figura de Cristo). Então, ele recebe a luz dos olhos. O batismo é aqui evocado como unção e iluminação.

O sentido profundo disso tudo é que o batizado deve ser uma testemunha da luz que recebeu. O cego de nascença nos dá o exemplo: ele testemunha o Cristo, com convicção e firmeza sempre crescentes. O batizado é um homem da luz (“filho da luz”, diz a Bíblia), alguém que enxerga com clareza, e que anda na luz. Pois a luz não é só para ser contemplada, mas para caminharmos nela, realizando as obras que ela nos permite enxergar e levar a termo. “Outrora éreis trevas, mas agora é luz no Senhor... Desperta, tu que estás dormindo, levanta-te dentre os mortos, e Cristo te iluminará” (2ª leitura).

Como é que se realiza este testemunho cristão no Brasil hoje? Quais são as grandes cegueiras que devem ser iluminadas? Vamos assumir o nosso testemunho, mesmo para aqueles que não querem ver.

(O Roteiro Homilético é elaborado pelo Pe. Johan Konings SJ – Teólogo, doutor em exegese bíblica, Professor da FAJE. Autor do livro "Liturgia Dominical", Vozes, Petrópolis, 2003. Entre outras obras, coordenou a tradução da "Bíblia Ecumênica" – TEB e a tradução da "Bíblia Sagrada" – CNBB. Konings é Colunista do Dom Total. A produção do Roteiro Homilético é de responsabilidade direta do Pe. Jaldemir Vitório SJ, Reitor e Professor da FAJE.)




domtotal.com.br

sábado, março 29, 2014

Papa fala na catequese do sacramento da Ordem

Queridos irmãos e irmãs,

Já tivemos oportunidade de referir que os três sacramentos, do Batismo, da Confirmação e da Eucaristia, constituem juntos o mistério da “iniciação cristã”, um único grande evento de graça que nos regenera em Cristo. É esta a vocação fundamental que une todos na Igreja, como discípulos do Senhor Jesus. Há depois dois sacramentos que correspondem a duas vocações específicas: trata-se da Ordem e do Matrimônio. Esses constituem dois grandes caminhos através dos quais o cristão pode fazer da própria vida um dom de amor, a exemplo e em nome de Cristo, e assim cooperar à edificação da Igreja.

A Ordem, caracterizado nas três grades do episcopado, presbiterato e diaconato, é o Sacramento que habilita ao exercício do ministério, confiado pelo Senhor Jesus aos apóstolos, de apascentar o seu rebanho, no poder do seu Espírito e segundo o seu coração. Apascentar o rebanho de Jesus não com o poder da força humana ou com o próprio poder, mas aquela do Espírito e segundo o seu coração, o coração de Jesus que é um coração de amor. O sacerdote, o bispo, o diácono deve apascentar o rebanho do Senhor com amor. Se não o faz com amor não serve. E nesse sentido, os ministros que são escolhidos e consagrados para este serviço prolongam no tempo a presença de Jesus, se o fazem com o poder do Espírito Santo em nome de Deus e com amor.

1. Um primeiro aspecto. Aqueles que são ordenados são colocados como líderes da comunidade. São “a cabeça” sim, porém para Jesus isso significa colocar a própria autoridade a serviço, como Ele mesmo mostrou e ensinou a seus discípulos com estas palavras: “Sabeis que os chefes das nações as subjugam, e que os grandes as governam com autoridade. Não seja assim entre vós. Todo aquele que quiser tornar-se grande entre vós, se faça o vosso servo. E o que quiser tornar-se entre vós o primeiro, se faça vosso escravo. Assim como o Filho do homem veio, não para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por uma multidão” (Mt 20,25-28 // Mc 10,42-45). Um bispo que não está a serviço da comunidade não faz bem; um sacerdote, um padre que não está a serviço da sua comunidade não faz bem, erra.

2. Uma outra característica que sempre deriva desta união sacramental com Cristo é o amor apaixonado pela Igreja. Pensemos no trecho da Carta aos Efésios, na qual São Paulo diz que Cristo “amou a Igreja e se entregou por ela para a santificar, purificando-a com a água, mediante a palavra, para a apresentar a si mesmo uma Igreja gloriosa, sem mancha nem ruga, ou qualquer outra coisa “(5:25-27). Por força da Ordem, o ministro dedica-se totalmente à sua comunidade e a ama de todo o coração coração: é a sua família. O bispo, o padre amam a Igreja em sua própria comunidade, fortemente. Como? Assim como Cristo ama a Igreja. O mesmo dirá São Paulo do casamento: o marido ama sua esposa como Cristo ama a Igreja. É um grande mistério de amor: o ministério sacerdotal e o matrimônio, dois sacramentos, que são a maneira pela qual as pessoas costumam ir para o Senhor.

3. Um último aspecto. O apóstolo Paulo aconselha seu discípulo Timóteo a não descuidar, mais do que isso, a reavivar sempre o dom que há nele. O dom que lhe foi dado através da imposição das mãos (cf. 1 Tm 4, 14, 2 Tm 1,6). Quando não se alimenta o ministério, o ministério do bispo, o ministério do sacerdote com a oração, com a escuta da Palavra de Deus, e com a celebração diária da Eucaristia e também com a presença do sacramento da Penitência, é inevitável perder de vista o o sentido autêntico do próprio serviço e a alegria que deriva de uma comunhão profunda com Jesus.

4. O bispo que não reza, o bispo que não escuta da Palavra de Deus, que não celebra todos os dias, que não se confessa regularmente, e o mesmo para o padre que não faz estas coisas, com o tempo, perdem a sua união com Jesus e vivem uma mediocridade que não é boa para a Igreja. Por isso, devemos ajudar os bispos e padres a rezarem, a ouvirem a Palavra de Deus que é o alimento diário, a celebrarem a Eucaristia todos os dias e irem à confissão regularmente. Isto é tão importante porque diz respeito à santificação dos sacerdotes e bispos.

5. Gostaria de terminar com uma coisa que me vem à mente: mas como se deve fazer para se tornar um sacerdote, onde são vendidos os acessos ao sacerdócio? Não. Não se vendem. Esta é uma iniciativa do Senhor. O Senhor chama. Ele chama cada um daqueles que Ele quer que se torne sacerdote. Talvez existam alguns jovens aqui que sentiram este chamado em seu coração, o desejo de se tornar padre, o desejo de servir aos outros nas coisas de Deus, o desejo de estar por toda a vida a serviço para catequizar, batizar, perdoar, celebrar a Eucaristia, cuidar dos doentes … e toda a vida dessa forma. Se algum de vocês já sentiu isso no coração, é Jesus quem a colocou ai. Prestem atenção a este convite e rezem para que ele possa crescer e dê fruto em toda a Igreja.

Papa Francisco
Praça São Pedro – Vaticano
Quarta-feira, 26 de março de 2014

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sexta-feira, março 28, 2014

Só ama o próximo quem ama a Deus de todo o coração

Leituras
1ª Leitura - Os 14,2-10
Salmo - Sl 80, 6c-8a. 8bc-9. 10-11ab. 14.17 (R. Cf. 11.9a)
Evangelho - Mc 12,28b-34

Homilía Diária

Quando eu amo a Deus com todo o meu coração e com toda a minha alma, eu sou capaz de amar o meu próximo, eu sou capaz de respeitar o meu próximo, eu sou capaz de reconhecer o lugar que ele merece no meu coração.

”O primeiro é este: Ouve, ó Israel! O Senhor nosso Deus é o único Senhor. Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todo o teu entendimento e com toda a tua força! O segundo mandamento é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo!” (Marcos 12-28-31).

Os Mandamentos do Senhor não são pesados para nós, desde que saibamos colocar as coisas na devida ordem e no devido critério. Sim, é preciso ter prioridades em nossa vida; a vida de um ser humano, de um filho de Deus, começa a ficar bagunçada e a perder a ordem quando ele não estabelece critérios de prioridades.

E quais são as prioridades da nossa vida? A prioridade é aquilo que vem do fundo da nossa alma, as prioridades vêm das nossas paixões e de tudo daquilo que para nós é importante.

“Amarás o Senhor teu Deus com toda a sua força, com todo o teu coração, com toda a tua capacidade”. Saber colocar Deus em primeiro lugar significa ter os pensamentos de Deus, os sentimentos d’Ele e ser guiado por Ele. A voz interior d’Ele, que clama em nós, ordena, primeiro, a nossa vontade, pois quantas vezes nós temos vontades negativas dentro de nós? Quantas vezes vêm desejos dentro de nós que não são bons, são maus! Mas, se nós permitirmos que a voz interior, a voz de Deus, a qual nós encontramos um dia, comande a nossa vontade, nós poderemos discipliná-la mais. A voz de Deus, que comanda os nossos desejos e as nossas intenções, vai nos levar a cada dia a adorarmos o Senhor pela oração, pois quando amamos a Deus, nós acordamos sedentos d’Ele e dormimos com Ele dentro de nosso coração.

Quando nós amamos a Deus, nós O colocamos naquilo que fazemos; nós O colocamos em nosso trabalho, em nossas relações, nós O colocamos aonde nós vamos e onde estamos.

Amar a Deus não significa ser de Deus somente quando eu estou na Santa Missa, quando eu estou fazendo uma oração. Ser de Deus e amar a Deus significa colocá-Lo em primeiro lugar em todos os lugares e em tudo o que faço Ele ser prioridade para mim.

Quando eu amo a Deus com todo o meu coração e com toda a minha alma, eu sou capaz de amar o meu próximo, eu sou capaz de respeitá-lo e de reconhecer o lugar que ele merece no meu coração. É o amor de Deus que orienta todos os amores do nosso coração!

Que Deus abençoe você!
cancaonova,com

quinta-feira, março 27, 2014

Necessidade de ouvir

5ª. feira da terceira semana da Quaresma
Jeremias 7,23-28; Lucas 11, 14-23

“Eles andaram para trás e não para frente”

Em todos os tempos, mas de modo especial neste tempo da Quaresma, somos convidados a ouvir a voz do Senhor.
Jeremias: “Dei esta ordem ao povo, dizendo: Ouvi a minha voz, assim serei o vosso Deus e vós sereis o meu povo; e segui adiante por todo o caminho que eu vos indicar para serdes felizes”. O Senhor se aproxima do povo para fazer aliança, para concluir um pacto de amor. Tudo depende da qualidade da escuta, do desejo de afinar os desejos do coração com os desejos do Senhor, que feito um enamorado, quer fazer aliança esponsal com os seus. Mais tarde, o mais belo dos filhos dos homens, Jesus, faria uma aliança eterna com os seus, no tálamo nupcial da cruz.

“Mas eles não ouviram e não presaram atenção; ao contrário, seguindo as más inclinações do coração andaram para trás e não para frente desde que seus pais saíram do Egito até o dia de hoje”. A história do Povo de Deus é marcada por quedas, pelo arrefecimento, pelo endurecimento do coração. Houve, é certo, arroubos de amor, mas muitas quedas e infidelidades.

“A todos enviei meus servos, os profetas, e enviei-os cada dia, mas não ouviram e não prestaram atenção; ao contrário, obstinaram-se no erro, procedendo ainda pior que que seus pais”. Não se pode andar para trás, e sim para frente: revisão de vida, dilatação da caridade, vontade de conviver com o Senhor. Os servos do Senhor, os profetas de ontem e de hoje, andam falando em nome do Senhor. Será que há os que querem, de fato, ouvir com as entranhas? Será preciso ouvir a correção: “Esta é a nação que não escutou a voz do Senhor, seu Deus, e não aceitou correção. Sua fé morreu, foi arrancada de sua boca”.

A fé não é um “pacote” de verdades dado uma vez por todas. Nasce da escuta repetida e humilde. De tanto escutar a Palavra vamos nos transformando e progredindo. Somente assim andamos para a frente.

Frei Almir Ribeiro Guimarães
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quarta-feira, março 26, 2014

Eis o tempo de conversão!

Cardeal Orani João Tempesta 
Arcebispo do Rio de Janeiro (RJ)

É neste tempo favorável – tempo da Quaresma – que a Igreja, na Liturgia, nas várias celebrações e reuniões, através dos sinais e da pregação vai nos convidando, começando pela Quarta-Feira de Cinzas, a fazermos uma caminhada de conversão rumo à Pascoa. Temos várias ocasiões, acontecimentos e oportunidades, durante a nossa vida, para trilharmos o caminho da conversão, da mudança de mentalidade, da mudança de coração.

Tanto pode acontecer em um retiro espiritual, num encontro, num momento de oração silenciosa, em um diálogo, numa leitura da palavra de Deus, em algum momento forte em nossa vida! Deus atua de diversas formas em nossa história, mas a Igreja reserva os 40 dias da Quaresma para ser uma oportunidade de renovação. E todos nós sabemos do simbolismo bíblico do número 40 como tempo de combate, de encontro com Deus, de caminhada de libertação.

É verdade que todos os anos nós temos a Quaresma, mas nunca é a mesma, nunca da mesma forma, não só porque mudam os temas, como o da Campanha da Fraternidade, mas cada dia é um momento novo, único, pois é um acontecimento de Deus em nossa vida e que nos interpela em uma nova situação.

Todos nós temos muito a fazer! Durante o ano, vamos acumulando situações as mais diversas, situações de pecado explícito ou implícito, situações muitas vezes que deixam nosso coração amargurado, machucado, ferido, além de ofender as pessoas ou criar posturas de injustiça e corrupção. Situações que levamos outras pessoas ao nosso redor a sofrerem devido ao nosso comportamento, à nossa maneira de ser, posições que muitas vezes acontecem de levar a situações de pecado na sociedade, como é o que a Campanha da Fraternidade denuncia. Essas várias situações que vão ocorrendo são consequências dos pecados pessoais, que têm consequências sociais. A Campanha da Fraternidade nos ajuda a cada ano com um tema que isso demonstra.

É neste tempo da Quaresma que somos convidados, como povo de Deus, a refazer o caminho do Êxodo, a refazer a caminhada de libertação, de conversão, de renovação interior. E, nesse sentido, após termos vivido no ano passado a Jornada Mundial da Juventude, temos dado passos em várias celebrações e caminhadas em nossa Arquidiocese e em nossa vida pessoal, enquanto preparamo-nos também para celebrar os 60 anos do Congresso Eucarístico Internacional, no próximo ano, ao mesmo tempo em que comemoraremos os 450 anos da cidade.

Portanto, a Quaresma deve ser para nós uma oportunidade de renovação profunda da nossa vida. Se de um lado vimos Deus agir no meio de nós, como realmente vimos, de outro lado devemos nos colocar disponíveis para que Deus continue atuando e agindo no meio de nós também nos tempos atuais. O Evangelho nos recomenda a oração, a esmola e o jejum, e nos convida a entrar num tempo de ascese, de conversão, para que realmente a mística, o estar com o Senhor aconteça.

É tempo de intensificar a vida de oração diante de Deus, a quem nós escutamos, com quem nós falamos, partindo do interior do nosso coração, mesmo que rezemos em comunidade. É tempo de, neste mundo capitalista como o nosso, partilhar dinheiro com os outros, na gratuidade de quem não pode retribuir. É uma oportunidade de desapegarmos daquilo que colocamos como nossos “deuses”, que são os bens materiais, assim como, num mundo em que tanta gente morre de fome, nós temos, nesta caminhada de jejum e abstinência, uma oportunidade não só de estarmos juntos com tantas pessoas, mas partilharmos também com os outros o fruto da penitência que fazemos e depois distribuímos para as situações sociais de necessitados. Nesse sentido, a Coleta da Solidariedade, como ação concreta da Campanha da Fraternidade e também consequência das penitências quaresmais, nos coloca que toda essa vida de oração, penitência, jejum, deve fazer-nos partilhar os bens, o dinheiro com os irmãos mais necessitados. E nós faremos isso depositando na coleta do Domingo de Ramos o fruto das nossas penitências.

O Papa Francisco, na sua mensagem para a Quaresma desse ano, nos recorda que essa partilha não pode ser apenas aquilo que sobra, mas sim o que dói em nosso bolso. É esse o tempo favorável que nós iniciamos dentro de um chamado a voltar nosso coração para o Senhor, e é muito importante e necessário para que, aproveitando esses 40 dias, intensifiquemos a busca da coerência cristã e vivamos a caminhada feliz para a Páscoa, quando, na vigília, renovaremos as promessas batismais.

O mundo continua seu ritmo como se a Quaresma não existisse. Esse mundo plural, embora em uma sociedade dita cristã, já perdeu, há muito, o viver a Quaresma como tempo de silêncio, de oração e de conversão. Mas isso não deve acontecer conosco! Embora ao nosso redor o pluralismo da sociedade siga o seu ritmo alucinante, para nós católicos, desde que testemunhemos a necessidade de conversão quando recebemos cinzas sobre as nossas cabeças, agora deve ser um tempo especial: de voltar ainda mais o coração para o Senhor e ter consciência dos pecados que estão em nossas vidas. Isso, começando pela nossa família, o relacionamento conjugal, a dificuldade de convivência, de não aceitação uns dos outros, da violência, das omissões. Também o trabalho e a convivência na própria paróquia, nas próprias comunidades, a dificuldade de viver a gratuidade, da partilha uns com os outros, quantas inimizades e rancores em nossos relacionamentos que atrapalham a evangelização! Muitas vezes não deixam a missão evangelizadora da Igreja caminhar, colocando obstáculos uns para com os outros, dentro da ciumeira ou inveja. Muitas vezes, uma maledicência e fofocas que existem em nossas comunidades, levam a depreciar as pessoas e a não conviver como irmãos e irmãs, não sabendo perdoar nem se aceitar mutuamente.

Vemos também situações de injustiça, de violência! Violência não acontece só na Ucrânia ou só na Venezuela, em países de perto ou de longe, mas bem perto de nós. Quantas mães choram seus filhos desaparecidos sem saber para onde foram e, ainda hoje, nada se faz! Quantas pessoas perdem o direito do ir e vir e têm medo da violência! Quantos passam necessidades, não tendo como caminhar na própria vida. E ainda há as questões do desemprego e da Saúde, que continua com suas filas enormes.

E quantas situações ao nosso redor que vão mostrando realmente que existe uma necessidade de ter uma nova sociedade, um mundo diferente. E, nesse ano, a Igreja no Brasil nos aponta para um dos fatos e chama a nossa atenção para o tráfico humano, colocando à nossa frente uma situação que, devido a interesses econômicos, neste mundo capitalista, as pessoas são usadas e vendidas: traficadas! Quanto se condena e se fala do passado escravocrata e não se vê que hoje isso acontece de diversas formas, seja na questão de trabalho ou de prostituição e outras formas também em que as pessoas perdem sua independência. Vivemos em uma situação de tantas injustiças e problemas, os mais variados, e nós, enquanto Igreja, somos chamados a ser fermento no meio da massa. E pra ser fermento, sal no meio dessa massa, somos chamados a ser alguém que está presente no meio da sociedade, porém com outro coração, em outro tipo de vida e de relacionamento.

A Igreja existe para evangelizar, ela é “ser para”, não vive para si mesma, olhando apenas para dentro dela, mas é convidada a “ser para” a sociedade, um sinal de transformação, um anúncio do amor de Deus, de sua misericórdia a essa sociedade machucada, ferida pelas guerras da vida e da injustiça e violência urbana. E é justamente à grande cidade que nós somos enviados para ser testemunhas de que é possível ter essa mudança de vida, de viver no desapego, de poder partilhar com os que passam necessidade e fome, de viver uma vida de oração e buscar a Deus, voltar o coração para o Senhor nesse tempo favorável. Pela fé concretizada em atos somos chamados a anunciar que um “outro mundo é possível”!

A nossa vida, chamada à conversão tanto pessoal como comunitária, é um serviço que nós prestamos a essa sociedade, a esse mundo. E quando nós não assim vivemos, quando nós não damos testemunho de que a nossa conversão é pra valer, nós não somos o sal que salga. Sal que não salga não serve para nada. E nós somos chamados justamente a ser esse sal no meio da sociedade, a viver esse tempo de conversão. Graças a Deus, temos também muita gente santa, muita gente solidária, fraterna, mas é necessário que todos nós possamos dar passos. Cada um de nós necessita ter consciência de seu pecado, nestes dias de Quaresma, tempo de conversão, começar a bater no peito e dizer como diz o Salmo: Pequei, Senhor, misericórdia, “tem piedade de mim, sê clemente”, por causa do meu pecado quantos males existem ao meu redor, de falta de comunhão uns com os outros, de presença também nessa sociedade.

Eis agora o tempo em que, enquanto Igreja e enquanto comunidade, nós somos chamados a conviver e a viver essa fraternidade na caminhada de conversão, buscando ouvir a voz de Deus, falar com o Senhor, a tomar consciência de que o pecado tem nos deixado, muitas vezes, longe do Senhor e de ser testemunhas, e que, ao mesmo tempo, a conversão deve ajudar, favorecer a mais justiça, a mais fraternidade, solidariedade, anunciando às pessoas Jesus Cristo, nosso Senhor. Perdão, Senhor, porque nós não O anunciamos pela nossa vida, porque nós não demos um grito de anúncio da palavra de Deus e do Evangelho de Jesus Cristo a esse mundo, a essa cidade. Aqui estou, Senhor, para reconhecer que as palmas que levantei no Domingo de Ramos passado, e que secaram durante o ano e foram transformadas em cinzas que foram colocadas sobre nossas cabeças no início deste tempo, são o sinal de que eu não testemunhei neste ano que passou, como deveria, a vida cristã e o seguimento de Jesus Cristo. Por isso nos reconhecemos pecadores e necessitados de caminhar na conversão nesses 40 dias e, assim também, em toda a minha vida. É necessário que nós abramos o coração, vivamos este tempo propício e assim caminhemos não apenas na exterioridade de um gesto ou celebração, mas com o coração contrito e humilhado nos acheguemos com a vida e com a atividade interior de cada um de nós a uma nova vida em Cristo. Que a nossa boca esteja em sintonia com o nosso interior, e nossas atitudes conduzidas por uma vida nova de amor a Deus e ao próximo. Que nós não vivamos enganados conosco mesmo e saibamos que nós precisamos dessa misericórdia, do perdão do Senhor.

Eis o tempo que nos é dado! E nós começamos justamente isso ao iniciar a Quaresma interiormente, dizendo: estou aqui, Senhor, para, como Igreja, caminhar nesse tempo de conversão!

cnbb.org.br

terça-feira, março 25, 2014

Solenidade da Anunciação do Senhor

Branco. Anunciação do Senhor, Solenidade

Leituras
1ª Leitura - Is 7,10-14; 8,10
Salmo - Sl 39(40),7-8a.8b-9.10,11 (R. 8a.9a)
2ª Leitura - Hb 10,4-10
Evangelho - Lc 1,26-38

MARIA, CHEIA DE GRAÇA

A Igreja, refletindo sobre a mãe de Jesus, foi entendendo, pouco a pouco, toda a verdade desta figura singular. Neste processo, a Igreja chegou a professar que o pecado original, tendo marcado para sempre a história da humanidade, mas não lançou raízes no ser de Maria. Vivendo num mundo de egoísmo, ela não foi contaminada pelo pecado.
Esta graça e privilégio, conferidos por Deus à mãe do Salvador, aconteceram por causa de Jesus Cristo. Deus preparou para receber seu Filho, que seria imune da culpa original, um ventre não corrompido pelo pecado. Maria, de certo modo, experimentou, por antecipação, o fruto da ação de seu filho Jesus, que viria ao mundo para salvar a humanidade do pecado. A mãe foi a primeira a tirar partido da missão do Filho. A santidade do Filho Jesus santificou todo o ser da mãe Maria, desde que fora concebida.
A proclamação do anjo "Ave, cheia de graça, o Senhor está contigo" fundamenta a total santidade de Maria. Sendo cheia de graça, nela não podia haver espaço para o pecado e para a infidelidade a Deus. E sua existência, desde o início, só podia ser total comunhão com Deus. Por outro lado, toda a vida de Maria foi marcada pela pessoa de Jesus, a quem estaria ligada desde o momento do anúncio da encarnação. A concepção imaculada é, pois, mais uma maravilha da graça de Deus na vida de Maria.


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segunda-feira, março 24, 2014

2º Pregação Quaresmal 2014, do Frei Raniero Cantalamessa, OFMCap., para o Papa e a Cúria Romana

Santo Agostinho: "Creio na Igreja una e santa"


1. Do Oriente ao Ocidente
Na meditação introdutória, da semana passada, refletimos sobre o significado da Quaresma como um tempo para irmos com Jesus até o deserto, em jejum de alimentos, palavras e imagens, para aprender a superar as tentações e, sobretudo, crescer na intimidade com Deus.

Nas quatro pregações que restam, dando continuidade à reflexão iniciada na Quaresma de 2012 com os Padres gregos, frequentaremos agora a escola dos quatro grandes doutores da Igreja latina: Agostinho, Ambrósio, Leão Magno e Gregório Magno; para ver o que cada um nos diz, hoje, sobre a verdade da fé que mais particularmente defendeu: respectivamente, a natureza da Igreja, a presença real de Cristo na Eucaristia, o dogma cristológico de Calcedônia e a inteligência espiritual das Escrituras.

O objetivo é redescobrir, por trás desses grandes Padres, a riqueza, a beleza e a felicidade de crer; passar, como diz São Paulo, "de fé em fé" (Rm 1,17), de uma fé acreditada para uma fé vivida. Teremos, assim, um aumento do "volume" de fé dentro da Igreja para constituir depois a força maior do seu anúncio ao mundo.

O título do ciclo vem de um pensamento caro aos teólogos medievais: “Nós”, dizia Bernardo de Chartres, “somos como anões sentados em ombros de gigantes, de modo a vermos mais coisas e mais longe do que eles, não pela agudeza do nosso olhar nem pela altura do nosso corpo, mas porque somos carregados para o alto e elevados por eles a uma altura gigantesca" (1). Este pensamento encontrou expressão artística em certas estátuas e vitrais de catedrais góticas da Idade Média, em que são representados personagens de estatura imponente, que carregam, sentados sobre seus ombros, homens pequenos, quase anões. Os gigantes eram para eles, como são para nós, os Padres da Igreja.

Depois das lições de Atanásio, Basílio de Cesareia, Gregório de Nazianzo e Gregório de Nissa, respectivamente sobre a divindade de Cristo, sobre o Espírito Santo, sobre a Trindade e sobre o conhecimento de Deus, podia-se ter a impressão de que restasse muito pouco a ser feito pelos Padres latinos na edificação do dogma cristão. Um olhar superficial para a história da teologia nos convence imediatamente do contrário.

Motivados pela cultura a que pertenciam, favorecidos pela sua forte têmpera especulativa e condicionados pelas heresias que eram forçados a combater (arianismo, apolinarismo, nestorianismo, monofisismo), os Padres gregos tinham se concentrado principalmente nos aspectos ontológicos do dogma: a divindade de Cristo, as suas duas naturezas e o modo da sua união, a unidade e a trindade de Deus. Os temas mais caros a Paulo, a justificação, a relação entre lei e evangelho, a Igreja como corpo de Cristo, foram deixados à margem da sua atenção ou tratados en passant. Aos seus escopos respondia muito melhor João, com a sua ênfase na encarnação, do que Paulo, que põe no centro de tudo o mistério pascal, isto é, o agir, mais do que o ser de Cristo.

A índole dos latinos, mais inclinada, excetuando-se Agostinho, a se ocupar de problemas específicos, jurídicos e organizacionais, do que de questões especulativas, unida ao surgimento de novas heresias, como o donatismo e o pelagianismo, estimulará uma reflexão nova e original sobre os temas paulinos da graça, da Igreja, dos sacramentos e das Escrituras. São os tempos sobre os quais queremos refletir nesta pregação quaresmal.


2. O que é a Igreja?
Comecemos a nossa resenha pelo maior dos padres latinos, Agostinho. O doutor de Hipona deixou a sua marca em quase todas as áreas da teologia, mas especialmente em duas: a da graça e a da Igreja; a primeira, fruto da sua luta contra o pelagianismo; a segunda, de sua luta contra o donatismo.

O interesse pela doutrina de Santo Agostinho sobre a graça prevaleceu, do século XVI em diante, tanto no âmbito protestante (ao qual estão ligados Lutero, com a doutrina da justificação, e Calvino, com a da predestinação), quanto no campo católico, por causa das controvérsias levantadas por Jansen e Baio (2). Já o interesse pelas suas doutrinas eclesiais prevalece em nossos dias, porque o Concílio Vaticano II fez da Igreja o seu tema central e porque o movimento ecumênico tem na ideia de Igreja a questão crucial a ser resolvida. Procurando ajuda e inspiração nos Padres da Fé para o hoje da fé, vamos nos ocupar desta segunda área de interesse de Santo Agostinho, que é a Igreja.

A Igreja não era um assunto desconhecido para os Padres gregos nem para os escritores latinos anteriores a Agostinho (Cipriano, Hilário, Ambrósio), mas as suas afirmações se limitavam principalmente a repetir e comentar afirmações e imagens das Escrituras. A Igreja é o novo povo de Deus; a ela é prometida a indefectibilidade; ela é "a coluna e a base da verdade"; o Espírito Santo é o seu mestre supremo; a Igreja é "católica" porque se estende a todos os povos, ensina todos os dogmas e possui todos os carismas; na esteira de Paulo, fala-se da Igreja como do mistério da nossa incorporação a Cristo por meio do batismo e do dom do Espírito Santo; ela nasceu do lado aberto de Cristo na cruz, como Eva do lado de Adão adormecido (3).

Tudo isso, porém, era dito ocasionalmente; a Igreja ainda não tinha entrado em discussão. Quem será forçado a tratar dela é justamente Agostinho, que, durante quase toda a vida, teve de lutar contra o cisma dos donatistas. Talvez ninguém se lembrasse hoje daquela seita norte-africana se ela não tivesse sido a ocasião de origem do que hoje chamamos de eclesiologia, ou seja, um discurso refletido sobre o que é a Igreja no desígnio de Deus, a sua natureza e o seu funcionamento.

Por volta de 311, um certo Donato, bispo da Numídia, se recusou a receber novamente na comunhão eclesial aqueles que durante a perseguição de Diocleciano tinham entregado os livros sagrados às autoridades estatais, renegando a fé para salvar a vida. Em 311, foi eleito bispo de Cartago um certo Ceciliano, acusado, erradamente segundo os católicos, de ter traído a fé durante a perseguição de Diocleciano. Opôs-se a esta nomeação um grupo de setenta bispos do norte africano, liderados por Donato. Eles depuseram Ceciliano e elegeram em seu lugar Donato. Excomungado pelo papa Milcíades em 313, ele permaneceu no seu posto, provocando um cisma que criou no norte da África uma Igreja paralela à católica, mantida até a invasão dos vândalos, um século depois.

Durante a polêmica, eles tentaram justificar a sua posição com argumentos teológicos. Foi para refutá-los que Agostinho desenvolveu, pouco a pouco, a sua doutrina da Igreja. Isto aconteceu em dois contextos diferentes: nas obras escritas diretamente contra os donatistas e nos seus comentários à Escritura e discursos ao povo. É importante distinguir entre esses dois contextos porque, conforme cada um, Agostinho insistirá mais em alguns aspectos da Igreja do que em outros e só a partir do conjunto é que pode ser entendida a sua doutrina completa. Vamos ver, portanto, brevemente, quais são as conclusões a que o santo chega em cada um dos dois contextos, a começar pelo diretamente antidonatista.

a. A Igreja, comunhão dos sacramentos e sociedade dos santos. O cisma donatista partiu de uma convicção: não pode transmitir a graça um ministro que não a possui; os sacramentos administrados desta forma seriam desprovidos de qualquer efeito. Este argumento, que no início foi aplicado à ordenação do bispo Ceciliano, acabou estendido rapidamente aos outros sacramentos, em particular ao batismo. Com isto, os donatistas justificavam a sua separação dos católicos e a prática de rebatizar quem vinha das suas fileiras.
Em resposta, Agostinho desenvolve um princípio que se tornará uma conquista perene da teologia e que lança as bases de um futuro tratado de sacramentis: a distinção entre potestas e ministerium, ou seja, entre a causa da graça e o seu ministro. A graça conferida pelos sacramentos é obra exclusiva de Deus e de Cristo; o ministro não passa de um instrumento: "Pedro batiza, é Cristo quem batiza; João batiza, é Cristo quem batiza; Judas batiza, é Cristo quem batiza". A validade e eficácia dos sacramentos não é impedida pelo ministro indigno: uma verdade da qual, bem sabemos, o povo cristão precisa se lembrar também hoje...
Neutralizada, assim, a principal arma do adversário, Agostinho pode elaborar a sua grandiosa visão da Igreja mediante algumas distinções fundamentais. A primeira é entre a Igreja presente ou terrestre e a Igreja celestial ou futura. Só esta segunda será uma Igreja de todos santos e apenas santos; a Igreja do tempo presente será sempre o campo em que se misturam o trigo e o joio, a rede que recolhe peixes bons e peixes ruins, ou seja, santos e pecadores.
Dentro da Igreja em seu estágio terreno, Agostinho opera outra distinção: entre a comunhão dos sacramentos (communio sacramentorum) e a sociedade dos santos (societas sanctorum). A primeira une visivelmente entre si todos aqueles que participam dos mesmos sinais externos: os sacramentos, a Escritura, a autoridade; a segunda une entre si todos e apenas aqueles que, além dos sinais, também têm em comum a realidade escondida nos sinais (res sacramentorum), que é o Espírito Santo, a graça, a caridade.
Dado que na terra sempre será impossível saber com certeza quem possui o Espírito Santo e a graça, e, mais ainda, se eles perseverarão nesse estado até o fim, Agostinho acaba identificando a verdadeira e definitiva comunidade dos santos com a Igreja celeste dos predestinados. "Quantas ovelhas que hoje estão dentro estarão fora, e quantos lobos que hoje estão fora estarão dentro!" (5).
A novidade, neste ponto, mesmo no tocante a Cipriano, é que, enquanto este fazia consistir a unidade da Igreja em algo externo e visível, na concórdia de todos os bispos entre si, Agostinho a faz consistir em algo interno: o Espírito Santo. A unidade da Igreja é operada, assim, pelo mesmo que opera a unidade na Trindade: “O Pai e o Filho quiseram que estivéssemos unidos entre nós e com eles por meio do mesmo vínculo que os une, o amor, que é o Espírito Santo” (6). Ele executa na Igreja a mesma função que exerce a alma em nosso corpo natural: ser o seu princípio vital e unificador. "O que a alma é para o corpo humano, o Espírito Santo é para o Corpo de Cristo, que é a Igreja" (7).
A plena pertença à Igreja exige as duas coisas juntas, a comunhão visível dos sinais sacramentais e a comunhão invisível da graça. Esta, no entanto, admite graus, e por isso não quer dizer que se deva estar necessariamente dentro ou fora. Pode-se estar em parte dentro e em parte fora. Há uma pertença exterior, ou sinais sacramentais, em que se situam os cismáticos donatistas e os próprios maus católicos, e uma comunhão plena e total. A primeira consiste em ter o sinal externo da graça (sacramentum), sem receber, porém, a realidade interior produzida por eles (res sacramenti), ou em recebê-la, mas para a própria condenação, não para a própria salvação, como no caso do batismo administrado pelos cismáticos ou da Eucaristia recebida indignamente pelos católicos.


b. A Igreja Corpo de Cristo animado pelo Espírito Santo. Nos escritos exegéticos e nos discursos ao povo, encontramos esses mesmos princípios básicos da eclesiologia; mas menos pressionado pela controvérsia e falando, por assim dizer, em família, Agostinho pode insistir mais em aspectos interiores e espirituais da Igreja, mais caros a ele. Neles, a Igreja é apresentada, com tons muitas vezes elevados e comovidos, como o corpo de Cristo (ainda falta o adjetivo “místico”, que será adicionado mais tarde), animado pelo Espírito Santo, tão afim ao corpo eucarístico a ponto de, às vezes, igualar-se quase totalmente a ele. Ouçamos o que ouviram os seus fiéis, numa festa de Pentecostes, sobre esta questão:
"Se queres entender o corpo de Cristo, ouve o Apóstolo que diz aos fiéis: Vós sois o corpo de Cristo e os seus membros (1 Co 12,27). Se vós sois o corpo e os membros de Cristo, na mesa do Senhor está o vosso mistério: recebei o vosso mistério. Ao que sois, respondeis ‘amém’ e, ao respondê-lo, o confirmais. É dito a vós: ‘o corpo de Cristo’, e respondeis: ‘amém’. Sê membro do corpo de Cristo, para o teu amém ser verdadeiro... Sede o que vedes e recebei o que sois" (8).
O nexo entre os dois corpos de Cristo se fundamenta, para Agostinho, na singular correspondência simbólica entre o devir de um e o formar-se da outra. O pão da Eucaristia é obtido da massa de muitos grãos de trigo e o vinho de uma multidão de bagos de uva: assim a Igreja é formada por muitas pessoas, reunidas e amalgamadas pela caridade que é o Espírito Santo (9). Como o trigo espalhado pelas colinas foi primeiro colhido, depois moído, misturado com água e assado no forno, assim os fiéis esparsos pelo mundo foram reunidos pela palavra de Deus, moídos pelas penitências e exorcismos que precedem o batismo, imersos na água do batismo e passados pelo fogo do Espírito. Mesmo em relação à Igreja, deve-se dizer que o sacramento "significando causat": significando a união de várias pessoas em uma, a Eucaristia a realiza, a causa. Neste sentido, podemos dizer que "a Eucaristia faz a Igreja".


3. Atualidade da eclesiologia de Agostinho
Vamos agora ver como as ideias de Agostinho sobre a Igreja podem ajudar a iluminar os problemas que ela enfrenta em nosso tempo. Quero me concentrar em especial na importância da eclesiologia de Agostinho para o diálogo ecumênico. Uma circunstância torna esta escolha particularmente oportuna. O mundo cristão se prepara para celebrar o quinto centenário da Reforma Protestante. Já começaram a circular declarações e documentos conjuntos em vista do evento (10). É vital, para toda a Igreja, não estragarmos esta ocasião permanecendo prisioneiros do passado, tentando apurar, talvez com maior objetividade e serenidade, as razões e as culpas de um e de outro, mas sim darmos um salto de qualidade, como ocorre na eclusa de um rio ou de um canal, que permite que os navios continuem a sua navegação num patamar mais elevado.

A situação do mundo, da Igreja e da teologia mudou desde aquela época. Trata-se de recomeçar a partir da pessoa de Jesus, de ajudar humildemente os nossos contemporâneos a descobrir a pessoa de Cristo. Devemos nos remeter ao tempo dos apóstolos. Eles tinham diante de si um mundo pré-cristão; nós temos diante de nós um mundo em grande parte pós-cristão. Quando Paulo quis resumir em uma frase a essência da mensagem cristã, ele não disse "Anunciamos esta ou aquela doutrina", mas "Nós proclamamos Cristo, e Cristo crucificado" (1 Cor 1, 23). E ainda: "Nós proclamamos Jesus Cristo, o Senhor" (2 Cor 4,5).

Isto não significa ignorar o grande enriquecimento teológico e espiritual produzido pela Reforma, nem querer retornar ao ponto de antes; significa, em vez disso, deixar que toda a cristandade se beneficie das suas conquistas, uma vez libertadas de certas forçações devidas ao clima polêmico do momento e às posteriores controvérsias. A justificação gratuita pela fé, por exemplo, deveria ser anunciada hoje, e com mais força do que nunca, mas não em oposição às boas obras, o que é uma questão superada, e sim em oposição à pretensão do homem moderno de se salvar sozinho, sem necessidade nem de Deus nem de Cristo. Se vivesse hoje, sou convencido que isto seria o modo com o qual Lutero predicasse a justificação por fé. 

Vamos ver como a teologia de Agostinho pode nos ajudar neste esforço para superar as barreiras seculares. O caminho a percorrer hoje, em certo sentido, segue na direção oposta à que foi tomada por ele contra os donatistas. Na época, era preciso ir da comunhão dos sacramentos à comunhão na graça do Espírito Santo e na caridade, mas hoje temos que ir da comunhão espiritual da caridade à plena comunhão, inclusive nos sacramentos, entre os quais, em primeiro lugar, a Eucaristia.

A distinção entre os dois níveis de realização da verdadeira Igreja, o externo, dos sinais, e o interno, da graça, permite que Agostinho formule um princípio que seria impensável antes dele: "Pode haver algo na Igreja católica que não seja católico, e fora da Igreja católica algo católico" (11). Os dois aspectos da Igreja, o visível e institucional e o invisível e espiritual, não podem ser separados. Isso é verdade e foi reiterado por Pio XII na Mystici corporis e pelo Concílio Vaticano II na Lumen Gentium, mas, devido às separações históricas e ao pecado humano, até que se realize a sua correspondência plena, não podemos dar mais importância à comunidade institucional do que à espiritual.

Para mim, isto levanta uma séria indagação. Posso eu, como católico, me sentir mais em comunhão com a multidão dos que, tendo sido batizados na minha própria Igreja, se desinteressam completamente de Cristo e da Igreja, ou se interessam por ela apenas para falar mal, do que me sinto em comunhão com as fileiras daqueles que, apesar de pertencer a outras confissões cristãs, acreditam nas mesmas verdades fundamentais em que eu creio, amam Jesus Cristo até dar a vida por ele, difundem o Evangelho, se esforçam para aliviar a pobreza no mundo e possuem os mesmos dons do Espírito Santo que nós? As perseguições, tão frequentes hoje em certas partes do mundo, não fazem distinção: os perseguidores não queimam igrejas nem matam pessoas porque elas são católicas ou protestantes, mas porque são cristãs. Para eles, nós já somos "uma coisa só"!

Esta, obviamente, é uma pergunta que deveria ser feita também pelos cristãos das outras igrejas a propósito dos católicos, e, graças a Deus, é precisamente isto o que está acontecendo de uma forma oculta, porém maior do que as notícias nos deixam vislumbrar. Um dia, tenho certeza, ficaremos admirados, ou outros ficarão, por não termos notado antes o que o Espírito Santo estava realizando entre os cristãos do nosso tempo, à margem da oficialidade. Fora da Igreja católica há muitíssimos cristãos que olham para ela com olhos novos e começam a reconhecer nela as suas próprias raízes.

A intuição mais nova e fecunda de Agostinho sobre a Igreja, como vimos, foi a de identificar o princípio essencial da sua unidade no Espírito, mais do que na comunhão horizontal dos bispos uns com os outros e dos bispos com o papa de Roma. Como a unidade do corpo humano é dada pela alma que vivifica e move todos os seus membros, assim é a unidade do corpo de Cristo. Esta unidade é um fato místico, mais do que uma realidade que se expressa social e visivelmente em perspectiva externa. É o reflexo da unidade perfeita que existe entre o Pai e o Filho por obra do Espírito. Foi Jesus quem fixou de uma vez para sempre este fundamento místico da unidade quando disse: "Que todos sejam um, como nós somos um" (Jo 17, 22). A unidade essencial na doutrina e na disciplina será o fruto desta unidade mística e espiritual, nunca a sua causa.

Os passos mais concretos para a unidade não são dados, portanto, em torno de uma mesa ou nas declarações conjuntas (embora tudo isto seja importante); são dados quando os crentes de diferentes confissões proclamam juntos, em acordo fraterno, o Senhor Jesus, compartilhando cada um o próprio carisma e reconhecendo-se irmãos em Cristo.


4. Membros do corpo de Cristo, movidos pelo Espírito!
Em seus discursos ao povo, Agostinho nunca expõe as suas ideias sobre a Igreja sem apresentar imediatamente as consequências práticas para a vida cotidiana dos fiéis. E é isto o que nós também queremos fazer antes de concluir a nossa meditação, como se nos colocássemos entre as fileiras dos seus ouvintes de então.

A imagem da Igreja como Corpo de Cristo não é uma novidade de Agostinho. O que é novo nele são as conclusões práticas para a vida dos crentes. Uma delas é que não temos mais razão para nos olharmos com inveja e com ciúme. O que eu não tenho, mas os outros têm, também é meu. Ouvimos o apóstolo elencar todos aqueles maravilhosos carismas: apostolado, profecia, curas... e talvez nos entristeçamos pensando que não temos nenhum deles. Mas, cuidado, alerta Agostinho: "Se tu amas, o que tens não é pouco. Se de fato amas a unidade, tudo o que nela é possuído por alguém é também possuído por ti! Expulsa a inveja e será teu o que é meu, e, se eu expulsar a inveja, será meu o que tu possuis".

Somente o olho, no corpo, tem a capacidade de ver. Mas o olho, por acaso, enxerga apenas para si? Não é todo o corpo que se beneficia da sua capacidade de ver? Só a mão age, mas ela age, acaso, apenas para si mesma? Se uma pedra está prestes a atingir o olho, a mão por acaso permanece imóvel, dizendo que o golpe, afinal, não é contra ela? O mesmo acontece no corpo de Cristo: o que cada membro é e faz, Ele é e faz para todos!

Eis por que a caridade é o "caminho mais excelente" (1 Cor 12 , 31): ela me faz amar a igreja, ou a comunidade em que vivo, e, na unidade, todos os carismas, e não apenas alguns, são meus. E há mais: se amas a unidade mais do que eu a amo, o carisma que eu possuo é mais teu do que meu. Suponhamos que eu tenha o carisma de evangelizar; eu posso me comprazer ou me vangloriar dele, e, assim, me torno "um címbalo que retine" (1 Cor 13,01); o meu carisma "de nada me aproveita", ao passo que o ouvinte não deixa de se beneficiar, apesar do meu pecado. A caridade multiplica realmente os dons; ela faz do carisma de um, o carisma de todos.

“Fazes parte do corpo de Cristo? Amas a unidade da Igreja?”, perguntava Agostinho aos seus fiéis. “Então, quando um pagão te perguntar por que não falas todas as línguas, se está escrito que aqueles que receberam o Espírito Santo falam todas as línguas, responde sem hesitar: ‘É claro que falo todas as línguas! Eu pertenço ao corpo da Igreja, que fala todas as línguas e em todas as línguas proclama as grandes obras de Deus’” (13).

Quando formos capazes de aplicar esta verdade não só às relações dentro da comunidade em que vivemos e à nossa Igreja, mas também às relações entre uma Igreja cristã e a outra, naquele dia a unidade dos cristãos será praticamente um fato consumado.

Acolhamos a exortação com que Agostinho fecha muitos dos seus discursos sobre a Igreja: “Se quiserdes, pois, experimentar o Espírito Santo, mantenha o amor, amai a verdade e alcançareis a eternidade. Amém” (14). T


[Tradução do original italiano por ZENIT português]
(1) Bernardo de Chartres, coment. João de Salisbury, Metalogicon, III, 4 (Corpus Chr. Cont. Med., 98, p.116).
(2) A este âmbito da influência de Agostinho é dedicado o livro de H. de Lubac, Augustinisme et théologie moderne, Paris, Aubier 1965.
(3) Cf. J.N.D. Kelly, Early Christian Doctrines, London 1968 chap. XV.
(4) Agostinho, Contra Epist. Parmeniani II,15,34; cf. todo o Sermo 266.
(5) Agostinho, In Ioh. Evang. 45,12: “Quam multae oves foris, quam multi lupi intus!”.
(6) Agostinho, Discursos, 71, 12, 18 (PL 38,454).
(7) Agostinho, Sermo 267, 4 (PL 38, 1231).
(8) Agostinho, Sermo 272 (PL 38, 1247 em diante).
(9) Ibidem.
(10) Cf. documento conjunto católico-luterano “Do conflito à comunhão”, http://www.vatican.va/roman_curia/pontifical_councils/chrstuni/lutheran-fed-docs/rc_pc_chrstuni_doc_2013_dal-conflitto-alla-comunione_it.html (em italiano).
(11) Agostinho, De Baptismo, VII, 39, 77.
(12) Agostinho, Tratados sobre João, 32,8.
(13) Cf. Agostinho, Discursos, 269, 1.2 (PL 38, 1235 s.).
(14) Agostinho, Sermo 267, 4 (PL 38, 1231).

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domingo, março 23, 2014

Em busca da fonte de água viva - 3o domingo da Quaresma

Leituras
1ª Leitura - Ex 17,3-7
Salmo - Sl 94,1-2.6-7.8-9 (R. 8)
2ª Leitura - Rm 5,1-2.5-8
Evangelho - Jo 4,5-42


A samaritana encontra Jesus: Em busca da fonte de água viva – João 4,1-42 [Carlos Mesters, Mercedes Lopes e Francisco Orofino]

Os samaritanos eram desprezados pelos judeus. Este desprezo vinha de longe, desde o século VIII antes de Cristo (2Rs 17,24-41), e transparece em alguns livros do Antigo Testamento. O livro do Eclesiástico, por exemplo, fala de um “povo estúpido que mora em Siquém, que nem sequer é nação” (Eclo 50,25-26). Muitos judeus da Galileia, quando viajavam para Jerusalém, não passavam pela Samaria. O Evangelho de João mostra Jesus fazendo o contrário, passando pela Samaria e acolhendo os samaritanos. Por causa disso, era criticado pelos judeus, que o xingavam de “samaritano, possesso de demônio” (Jo 8,48). Depois da ressurreição, os seguidores e as seguidoras de Jesus, seguindo o exemplo de Jesus, superaram seus preconceitos e anunciaram a Boa-nova aos samaritanos (At 8,4-8). Nas comunidades do Discípulo Amado, havia muitos samaritanos.

Carlos Mesters, Mercedes Lopes e Francisco Orofino publicaram esta e outras reflexões no livro Raio-X da Vida.

1. João 4,1-6: O palco onde se realiza o diálogo entre Jesus e a samaritana
Quando Jesus percebe que os fariseus poderiam irritar-se com a sua atividade batismal, ele sai da Judeia e volta para a Galileia. Desse modo, evita uma briga religiosa (Jo 4,1-3). Voltando para a Galileia, Jesus passa pela Samaria. Por volta do meio-dia, ele chega junto do poço de Jacó. Cansado da viagem, senta perto do poço, onde a samaritana o encontra. O poço era o lugar tradicional de encontros e de conversas. Hoje, seria a praça, o bar, a rodoviária, o shopping… É perto do poço que começa a longa e difícil conversa que foi de muito proveito para ambos.

2. João 4,7-15: Primeira parte do diálogo: a conversa sobre a água ou o trabalho
Água, corda, balde e poço eram os elementos que marcavam o mundo do trabalho da samaritana. É Jesus que toma a iniciativa do diálogo. Ele parte da necessidade bem concreta da sua própria sede e diz: “Dá-me de beber?” Pela pergunta a samaritana descobre que Jesus precisa dela para ele poder resolver o problema da sua sede. Assim, Jesus desperta nela o gosto de ajudar e de servir. Desde o começo da conversa, Jesus usa a palavra água nos dois sentidos. No sentido normal: água que mata a sede; e no sentido simbólico: água como fonte de vida e como dom do Espírito Santo, prometido no Antigo Testamento (Zc 14,8; Ez 47,1-12). Desde o começo da conversa, a samaritana entende a palavra água no seu sentido normal de água que mata a sede do corpo. Existe uma tensão entre os dois. Jesus tenta ajudar a samaritana a passar para um outro nível de entendimento. A samaritana, por sua vez, procura levar Jesus a entender as coisas conforme o sentido que elas têm no dia a dia. Por isso, por esta porta da água ou do trabalho, Jesus não consegue comunicar-se com ela e a conversa não avança
.
3. João 4,16-18: Segunda parte do diálogo: a conversa sobre o marido ou a família
Jesus tenta estabelecer contato por uma outra porta. Ele diz: “Vá buscar seu marido!” É a porta da família. Mas também aqui ele encontra a porta fechada. A samaritana responde secamente: “Não tenho marido!” Jesus diz: “Você falou bem. Você teve cinco maridos e o que tem agora não é o seu marido!” Os cinco maridos evocam simbolicamente os cinco ídolos do povo samaritano (2 Rs 17,29-30). Aquele com quem ela convive agora, ou seja, o sexto a que Jesus alude, talvez seja João Batista, venerado como messias, ou a fé diferente dos samaritanos em Javé. O Quarto Evangelho sugere discretamente que o sétimo é o próprio Jesus, o messias, o esposo que o povo estava esperando.

4. João 4,19-24: Terceira parte do diálogo: a conversa sobre o lugar da adoração
Finalmente, por causa da resposta recebida, a samaritana identifica Jesus e diz: “Vejo que o senhor é um profeta”. Neste momento, ela se situa na conversa e começa a tomar a iniciativa. Muda o rumo da conversa e puxa o assunto para a religião: Onde adorar Deus? Lá em Jerusalém ou aqui no Monte Garizim? Os samaritanos tinham construído um templo no Monte Garizim que ficava perto do poço onde eles conversam. Jesus entra pela porta que a mulher abriu. Primeiro, ele relativiza o lugar do culto: nem aqui nem lá! Neste ponto, os judeus não têm nenhum privilégio. Em seguida, esclarece que tanto judeu como samaritano, ambos adoram Deus. A diferença é que os judeus adoram o que conhecem. Os samaritanos adoram o que (ainda) não conhecem, “porque a salvação vem dos judeus”, mas não se restringe a eles. E Jesus termina dizendo que chegará o tempo em que se poderá adorar Deus em qualquer lugar, contanto que seja “em espírito e verdade”.

5. João 4,25-26: A revelação: “O Messias sou eu que estou conversando contigo!”
A samaritana muda novamente o rumo da conversa e puxa o assunto para a esperança messiânica do seu povo: “Sei que vem um Messias. Quando ele vier, nos vai mostrar todas essas coisas!” Novamente, Jesus aceita a mudança do rumo da conversa, entra pela porta que a samaritana abriu e se apresenta: o Messias “sou eu que estou conversando contigo!” A esta mulher, excluída e herética para os judeus da época, Jesus revelou, por primeiro, a sua condição de Messias. Enquanto ele mesmo tomava a iniciativa, a conversa não avançava. Ela só avançou e atingiu o seu objetivo a partir do momento em que a samaritana se situou e começou a tomar a iniciativa. Será que nós temos a mesma coragem de deixar ao outro a iniciativa do rumo da conversa?

6. João 4,27-30: A transformação que o diálogo realiza na samaritana
Os discípulos tinham ido ao povoado comprar alimento (Jo 4,8). Retornando, encontraram Jesus conversando com uma mulher. Estranham, mas não dizem nada. Então, a samaritana larga o balde perto do poço e volta sem água para o povoado. Já não precisa da água do poço de Jacó, da antiga Lei. Ela havia encontrado a fonte da água que brotava dentro dela para a vida eterna (Jo 4,14). Chegando no povoado, ela anuncia Jesus: “Venham ver um homem que me disse tudo o que eu fiz! Será que ele é o Messias?” O resultado deste difícil diálogo parece muito reduzido. Jesus só conseguiu provocar uma pergunta na mulher: “Será que ele é o Messias?” Talvez seja este o resultado mais positivo que se possa imaginar. Jesus não dá respostas. Ele levanta perguntas que levam a pessoa a refletir sobre o sentido da vida.

7. João 4,31-38: A transformação que o diálogo realiza em Jesus
Mesmo correndo o risco de não obter nenhum resultado, Jesus não se impõe nem condena a mulher, mas respeita-a profundamente. Durante a conversa, ele não se fecha dentro da sua religião nem dentro da sua raça, mas se orienta por aquilo que ele mesmo aprendia da própria samaritana. No fim, esqueceu até a comida que os discípulos tinham trazido, pois presta atenção ao que o Pai lhe diz por meio da conversa com a samaritana: “Meu alimento é fazer a vontade daquele que me enviou e completar a sua obra!” (Jo 4,34). Jesus lê os fatos com outros olhos. Para os judeus, os samaritanos são um povo a ser desprezado. Para Jesus, eles são um campo fértil, pronto para a colheita (Jo 4,35). Ele descobre que, na vida da samaritana, pessoa não judia e não praticante, existe o “dom de Deus” (Jo 4,10). A Boa-nova de Deus existe na vida de todas as pessoas. Os discípulos e as discípulas não são os donos da Boa-nova. Devem ser servidores, instrumentos. Sua missão é ajudar as pessoas a descobrir o dom de Deus dentro das suas vidas.

8. João 4,39-42: O resultado da missão de Jesus na Samaria
Aqui temos o mesmo processo que já vimos na formação da primeira comunidade: encontrar, experimentar, partilhar, testemunhar, conduzir até Jesus. A samaritana encontrou, experimentou, partilhou, testemunhou e conduziu o seu povo até Jesus. Os samaritanos, por sua vez, escutaram a partilha que ela fez e, por isso, convidaram Jesus a ficar com eles. Durante a convivência de dois dias, eles mesmos experimentaram a Boa-nova e começaram a partilhar e a testemunhar a sua experiência com a samaritana: “Nós próprios ouvimos e sabemos que este é verdadeiramente o Salvador do mundo!” Resumindo: nesta longa conversa, Jesus transgrediu várias normas religiosas e culturais da época: Passou pela Samaria, o que não era costume dos judeus. Sendo judeu, conversou com uma samaritana, o que era proibido. Sendo homem, conversou com uma mulher e pediu bebida a uma pessoa proibida, sem preocupar-se com as normas severas da pureza. Conviveu dois dias com os samaritanos. Conviver, comer e beber juntos era sinal de grande intimidade. A comunhão de mesa era permitida só com os da mesma religião.

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sábado, março 22, 2014

E houve muita festa naquela casa

Leituras

1ª Leitura - Mq 7,14-15.18-20
Salmo - Sl 102, 1-2. 3-4. 9-10. 11-12 (R. 8a)
Evangelho - Lc 15,1-3.11-32

Era a festa da volta. O pai tinha toda razão. Afinal de contas, o filho que havia partido estava de volta. Nada e ninguém poderia impedi-lo de viver aquela alegria. Era preciso fazer uma grande festa.

Era uma vez um pai que tinha dois filhos. Um deles era correto, “certinho”. Vivia na casa e nos domínios do pai. Trabalhava, cansava-se, vivia nos negócios familiares. O filho mais novo escolheu ir pelo mundo, deixar a casa do pai, tentar a vida a partir de seus interesses, sem referência ao pai, sem referência aos quereres do pai. Um dia desapareceu. O pai continuava a vida de todos os dias, com a tristeza de não ter mais seu filho, seu filho mais novo. Ia para o campo, ele o outro filho com os empregados. Por onde andaria aquele tresloucado? Sempre uma sombra de tristeza pairava sobre sua vida.

O filho dito pródigo, por sua vez, respirava os ares da liberdade. O evangelista, ao descrever a parábola, usa a expressão vida dissoluta ou desenfreada. Não havia freio para seus projetos. Uma vida sem freio. Um carro que corre para o abismo. O rapaz esbanjou tudo numa vida desenfreada. Abismo, miséria, fome, nem mesmo a comida dos porcos lhe era dada. O fundo do poço, o mais fundo da miséria.

Num determinado momento, houve qualquer coisa dentro do coração do moço: “Vou voltar. Não posso morrer assim. Meu pai há de compreender. Pelo caminho vou ensaiando a resposta. Quero lançar-me aos pés do pai e dizer que pequei contra tudo e contra todos. Não tenho outro desejo senão ser recebido de volta. Posso ser tratado como um dos empregados. Basta isso. Preciso recomeçar. Deixei o pai, quis ser dono de mim mesmo, destruí-me por dentro. Não consigo juntar os pedaços de mim mesmo. Está tudo em cacos. Pequei, pequei de verdade. Choro as lágrimas do desespero. Quero o abraço do pai”.

Um certo dia o pai andava de um lado para o outro. Seu pensamento estava no filho. Até que um dia ele voltou. O pai percebeu um vulto no horizonte. Precipitou-se caminho abaixo. Jogou-se nos braços do filho. O filho nem podia falar porque simplesmente o pai o apertava junto de seu peito. Não carecia dizer as palavras ensaiadas pelo caminho. O Missal Cotidiano da Paulus tem pensamentos radiosos e radiantes: “A convicção de que Deus nos perdoa, fazendo prevalecer em nós o bem sobre o mal, impede-nos de sermos tristes. A alegria de termos um pai que nos perdoa, que nos ama a ponto de fazer passar para o segundo plano, até mesmo de fazer desaparecer nossos pecados, deve prevalecer em nossa vida. Na verdade, quando Deus se revela ao homem, este quase não tem tempo para lhe dizer os seus pecados e lhe pedir perdão” (p.224).

E houve a festa: anel no dedo, roupa nova e branca, sandálias nos pés e música, banquete. O filho fora recuperado. O pai exultava de alegria.

Frei Almir Ribeiro Guimarães
www.franciscanos.org.br

sexta-feira, março 21, 2014

Forte apelo a reconhecer em Jesus o dom de Deus.

Leituras

1ª Leitura - Gn 37, 3-4.12-13a.17b-28
Salmo - Sl 104, 16-17.18-19.20-21 (R. 5a)
Evangelho - Mt 21,33-43.45-46


A parábola não é o retrato fiel da realidade. Ela visa transmitir uma mensagem cuja finalidade é levar a compreender o mistério de Deus e adequar o comportamento do homem de fé com o desígnio salvífico de Deus. No Antigo Testamento, a vinha é símbolo do povo de Deus, povo que Deus criou e escolheu e que cuida com amor (cf. Is 5,1-7). Entre os membros do povo de Deus, há aqueles que Deus escolheu para, em nome do Senhor, cuidarem e protegerem o povo que a Deus pertence. A parábola denuncia, em primeiro lugar, aqueles que, ao invés de cuidarem do povo, querem se apossar da vinha do Senhor. Para isso, rejeitaram todos os que foram enviados por Deus para alertá-los. É uma menção ao fim trágico de muitos profetas. Em segundo lugar, e essa é a intenção mais importante da parábola, faz o leitor compreender que a morte de Jesus foi premeditada e é fruto da ganância, da maldade deliberada (cf. vv. 38-39). Apesar do v. 42, a parábola não possui um juízo condenatório; ela é, isso sim, um forte apelo a reconhecer em Jesus o dom de Deus, a viver em conformidade com esse dom e, nele, produzir bons frutos.

Carlos Alberto Contieri,sj
paulinas.org.br

quinta-feira, março 20, 2014

Apatia ou solidariedade diante do sofrimento alheio?

5ª. feira da segunda semana da quaresma
Jeremias 17,5-10; Lucas 16, 10-31

Conhecidíssima a parábola do homem rico que se vestia com roupas finas e fora bem-sucedido na vida e do pobre Lázaro que tinha suas chagas lambidas pelos cães. Será que não estamos vivendo no mundo uma apatia diante do sofrimento alheio? José Antonio Pagola assim comenta a parábola:

“O contraste entre os dois protagonistas é trágico. O rico se veste de púrpura e linho. Toda a sua vida é luxo e ostentação. Só pensa em dar todos os dias esplêndidos banquetes. Este rico não tem nome, pois não tem identidade. Não é ninguém. Sua vida vazia de compaixão é um fracasso. Não se pode viver só para banquetear-se.

Deitado junto ao portão de sua mansão jaz um mendigo faminto, coberto de feridas. Não possui nada, mas tem um nome portador de esperança. “Meu Deus é ajuda”.

Sua sorte muda radicalmente no momento da morte. O rico é enterrado, certamente com toda solenidade, mas é levado ao Hades, ou “reino dos mortos”. Também Lázaro morre. Nada se diz de rito funerário algum, “mas os anjos o levam para o seio de Abraão”. Com imagens populares de seu tempo, Jesus lembra que Deus tem a última palavra sobre ricos e pobres.

O rico não é julgado como explorador. Não se diz que ele é um ímpio afastado da Aliança. Simplesmente desfrutou sua riqueza ignorando o pobre. O pobre estava ali perto, mas ele não o viu. Estava junto ao portal de sua mansão, mas o rico não se aproximou dele. Excluiu-o de sua vida. O pecado do rico é a indiferença.

De acordo com os observadores, está crescendo em nossa sociedade a apatia ou a falta de sensibilidade diante do sofrimento alheio. Evitamos de mil maneiras o contato direto com os que sofrem. Pouco a pouco nos vamos tornando cada vez mais incapazes de perceber a sua aflição.

A presença de uma criancinha mendiga em nosso caminho nos molesta. O encontro de um doente terminal nos perturba. Não sabemos o que fazer nem o que dizer. É melhor manter distância. Voltar o quanto antes às nossas ocupações. Não deixar-nos afetar.

Se o sofrimento acontece longe é mais fácil. Aprendemos a reduzir a fome, a miséria ou a doença a dados, números e estatísticas que nos informam da realidade quase sem tocar nosso coração. Também sabemos contemplar tragédias horríveis na televisão, mas o sofrimento sempre é mais irreal e menos terrível através da tela.

Quem segue Jesus vai se tornando mais sensível ao sofrimento daqueles que ele encontra em seu caminho. Aproxima-se do necessitado e, se estiver em seu poder, procura aliviar a situação. (O caminho aberto por Jesus, Lucas, Vozes, p. 273-274)



Frei Almir Ribeiro Guimarães
www.franciscanos.org.br

quarta-feira, março 19, 2014

São José, rogai por nós!

“São José, assim como cuidou com amor de Maria e se dedicou com empenho jubiloso à educação de Jesus Cristo, assim também guarda e protege o seu Corpo místico, a Igreja, da qual a Virgem Santíssima é figura e modelo”. (Exort. Ap.Redemptoris Custos, 1). 

Como José realiza esta guarda? Com discrição, com humildade, no silêncio, mas com uma presença constante e uma fidelidade total, mesmo quando não consegue entender. 
E como José vive a sua vocação de guardião de Maria, de Jesus, da Igreja? Numa constante atenção a Deus, aberto aos seus sinais, disponível mais ao projeto d’Ele que ao seu. 

Entretanto, a vocação de guardião não diz respeito apenas a nós, cristãos, mas tem uma dimensão antecedente, que é simplesmente humana e diz respeito a todos: é a de guardar a criação inteira, a beleza da criação; É guardar as pessoas, cuidar carinhosamente de todas elas e cada uma, especialmente das crianças, dos idosos, daqueles que são mais frágeis e que muitas vezes estão na periferia do nosso coração. É cuidar uns dos outros na família: os esposos guardam-se reciprocamente, depois, como pais, cuidam dos filhos, e, com o passar do tempo, os próprios filhos tornam-se guardiões dos pais. É viver com sinceridade as amizades, que são um mútuo guardar-se na intimidade, no respeito e no bem. T

(Excertos da Homilia do início do Pontificado do Papa FranciscoPraça de São Pedro, 19 de Março de 2013).
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ORAÇÃO À SÃO JOSÉ OPERÁRIO


Oh! meu querido Santo Trabalhador, que em vida fizestes a vontade de Deus através do trabalho, abra as portas do comércio para que eu possa conseguir um emprego.
Dai-me forças e coragem para não desistir no primeiro não.
Que eu tenha a disposição de Santa Teresa D'Ávila, a simplicidade de Maria de Nazaré, a força de Santo Antonio.
Orienta os nossos governantes para a distribuição dos bens do país.
Protege as nossas famílias para que não se deixem vencer pela seca, pelo medo, pela violência, pela falta de trabalho e dê esperança no Domingo da ressurreição.
Meu São José, padroeiro dos trabalhadores, não me deixeis sem o pão de cada dia e sem perspectiva de um novo dia para minha família.
Prometo, com o dinheiro do meu futuro emprego, ajudar uma instituição de caridade a divulgar essa devoção.
Por Cristo Senhor Nosso. Amém.

Leia um texto da Bíblia. Mt.2, 13-23 
“Depois de sua partida, um anjo do Senhor apareceu em sonhos a José e disse: Levanta-te, toma o menino e sua mãe e foge para o Egito; fica lá até que eu te avise, porque Herodes vai procurar o menino para o matar. José levantou-se durante a noite, tomou o menino e sua mãe e partiu para o Egito. Ali permaneceu até a morte de Herodes para que se cumprisse o que o Senhor dissera pelo profeta: Eu chamei do Egito meu filho (Os 11,1). Vendo, então, Herodes que tinha sido enganado pelos magos, ficou muito irado e mandou massacrar em Belém e nos seus arredores todos os meninos de dois anos para baixo, conforme o tempo exato que havia indagado dos magos. Cumpriu-se, então, o que foi dito pelo profeta Jeremias: Em Ramá se ouviu uma voz, choro e grandes lamentos: é Raquel a chorar seus filhos; não quer consolação, porque já não existem (Jer 31,15)! Com a morte de Herodes, o anjo do Senhor apareceu em sonhos a José, no Egito, e disse: Levanta-te, toma o menino e sua mãe e retorna à terra de Israel, porque morreram os que atentavam contra a vida do menino. José levantou-se, tomou o menino e sua mãe e foi para a terra de Israel. Ao ouvir, porém, que Arquelau reinava na Judéia, em lugar de seu pai Herodes, não ousou ir para lá. Avisado divinamente em sonhos, retirou-se para a província da Galiléia e veio habitar na cidade de Nazaré para que se cumprisse o que foi dito pelos profetas: Será chamado Nazareno.”

E reze uma Ave-Maria e um Pai-Nosso

terça-feira, março 18, 2014

Francisco e as Quaresmas: uma santa lição!

Por Frei Joveci Filho, OFMConv.

Logo após as celebrações do Carnaval nos deparamos com um dos períodos de maior profundidade espiritual na vida da Igreja, a saber: o tempo litúrgico da Quaresma, com todo o seu desenvolvimento, bem como a semana em que celebramos o ápice do Mistério Cristão, a que comumente designamos "Semana Santa", que se inicia com o Domingo de Ramos da Paixão do Senhor e se encerra com o Domingo da Páscoa. Estas celebrações são de tal modo importantes que se encontram no centro de todo o itinerário celebrativo do cristão.

No entanto, nossa tentativa de reflexão não deverá girar em torno das questões litúrgicas que envolvem este período da caminhada da Igreja. Nossa questão está relacionada com o modo todo próprio com que o Serafim de Assis viveu este mesmo período, de modo especial, a via penitencial proposta pelo período quaresmal.

Francisco é mestre na arte da penitência. Antes de qualquer coisa, é preciso salientar que a penitência para Francisco, e para a espiritualidade franciscana desenvolvida posteriormente, não se refere apenas às práticas de mortificação e disciplina do corpo. "Para ele, penitência é a conversão do homem de uma vida voltada para o próprio eu a uma existência que está inteiramente sob o domínio de Deus[1]".

A partir deste modo de percepção da penitência é que podemos compreender a relação de Francisco com a(s) quaresma(s) e o trabalho árduo que fazia em si mesmo durante estes períodos. A antiga prática quaresmal, verificada em diversas narrativas do antigo testamento e realizada pelo próprio Jesus Cristo, como caminho de fortalecimento espiritual, tornaram-se parte necessária da vida do Pobrezinho de Assis.

O leitor mais atento já percebeu que, quando tratamos da prática penitencial de Francisco, estamos usando o termo no plural. Sim, de fato, para Francisco, uma quaresma apenas não era o suficiente. Francisco vivia em períodos quaresmais, ao ponto de em sua Regra Bulada [2], orientar aos frades a realizarem o Jejum em três momentos especiais do ano litúrgico de então: Jejuem desde a festa de Todos os Santos até a Natividade do Senhor. Na Santa Quaresma, porém, que começa com a Epifania e se estende por quarenta dias consecutivos, consagrada pelo Senhor com o seu santo jejum, os que voluntariamente jejuarem, sejam abençoados pelo Senhor. E os que não quiserem jejuar, não sejam obrigados. Mas, na outra Quaresma, jejuem até a Ressurreição do Senhor.[3]

Como foi dito acima, Francisco tornou-se um verdadeiro mestre da penitência. Por isso desejava realizar vários momentos de quaresma, sempre com o intuito de converter-se de seu próprio eu para uma existência que estivesse sob o domínio divino. A quaresma não era apenas o momento da prática externa, mas o desejo de tornar-se um com seu Senhor.

É justamente em um destes períodos quaresmais que o Seráfico Pai recebe a confirmação, da parte de Deus, de que todo o esforço encetado até então havia sido válido. O desejo de celebrar a quaresma de São Miguel no Monte Alverne, juntamente com Frei Masseo, Frei Ângelo e Frei Leão, é coroado com a recepção dos estigmas do Crucificado.

Pela sua mortificação externa e, sobretudo, pelo desejo constante de conversão, Francisco recebe de Cristo a mais alta comenda. Recebe as dores e as marcas do Crucificado e recebe também o amor que Ele havia sentido, a fim de que pudesse suportar tais sofrimentos.

Assim, Francisco mais uma vez nos ensina. Ensina, sobretudo, qual deve ser a nossa postura diante dos exercícios quaresmais que se aproximam. Jejum, oração e esmola não devem ser apenas a realização exterior de atos pretensamente piedosos. Devem ser antes de tudo, a prática de um apaixonado por Jesus Cristo, que de tanto amor deseja viver uma existência voltada para Ele, absorvida por Ele. Quem sabe, se a Graça divina assim o permitir, sejamos também nós visitados pelo Senhor. T

reflexoesfranciscanas.com.br

Pia União de Santo Antônio

Pia União de Santo Antônio