Deuteronômio 26, 16-19; Mateus 5,43-48
Amai os vossos inimigos e rezai por aqueles que vos perseguem (Mt 5,44).
Neste tempo da Quaresma somos convidados a depor as armas e ouvir o canto da não violência. Somos seres desarmados e amantes da cordialidade. Trata-se de amar aqueles que não nos estimam. Vamos dar a palavra a José Antonio Pagola no seu A Caminho de Jesus - Mateus, das Vozes:
Temos que destacar a importância revolucionária que “se encerra no mandato evangélico do amor ao inimigo, considerado pelos especialistas como o expoente mais diáfano da mensagem cristã. Quando Jesus fala do amor ao inimigo, não está pensando num sentimento de afeto e carinho por ele, menos ainda numa entrega apaixonada, mas numa relação radicalmente humana de interesse positivo por sua pessoa. Este é o pensamento de Jesus. A pessoa é humana quando o amor está na base de toda a sua atuação. E nem sequer a relação com o inimigo deve ser exceção. Quem é humano até o fim descobre e respeita a dignidade humana do inimigo por mais desfigurada que possa aparecer diante de nossos olhos. Não adota diante dele uma postura excludente de maldição, mas uma atitude de interesse real por seu bem. É precisamente esse amor universal que inclui a todos e busca realmente o bem de todos, sem exclusões, a contribuição mais positiva e humana que o cristão pode introduzir na sociedade violenta de nossos dias. Esse amor ao inimigo parece quase impossível no clima de indignada irritação que se vive em certas situações. O simples fato de recordar as palavras evangélicas pode ser irritante. E, não obstante, é preciso fazê-lo, se quisermos ver-nos livres da desumanização gerada pelo ódio e pela vingança. Existem duas coisas que os cristãos podem e devem lembrar hoje no meio desta sociedade, mesmo ao preço de serem rechaçados. Amar o delinquente injusto e violento não significa em absoluto dar por boa sua atuação injusta e violenta. Por outro lado, condenar de maneira taxativa a injustiça e crueldade da violência, não deve levar necessariamente ao ódio daqueles que a praticam” (p. 80-81).
Frei Almir Ribeiro Guimarães
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