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terça-feira, março 18, 2014

Francisco e as Quaresmas: uma santa lição!

Por Frei Joveci Filho, OFMConv.

Logo após as celebrações do Carnaval nos deparamos com um dos períodos de maior profundidade espiritual na vida da Igreja, a saber: o tempo litúrgico da Quaresma, com todo o seu desenvolvimento, bem como a semana em que celebramos o ápice do Mistério Cristão, a que comumente designamos "Semana Santa", que se inicia com o Domingo de Ramos da Paixão do Senhor e se encerra com o Domingo da Páscoa. Estas celebrações são de tal modo importantes que se encontram no centro de todo o itinerário celebrativo do cristão.

No entanto, nossa tentativa de reflexão não deverá girar em torno das questões litúrgicas que envolvem este período da caminhada da Igreja. Nossa questão está relacionada com o modo todo próprio com que o Serafim de Assis viveu este mesmo período, de modo especial, a via penitencial proposta pelo período quaresmal.

Francisco é mestre na arte da penitência. Antes de qualquer coisa, é preciso salientar que a penitência para Francisco, e para a espiritualidade franciscana desenvolvida posteriormente, não se refere apenas às práticas de mortificação e disciplina do corpo. "Para ele, penitência é a conversão do homem de uma vida voltada para o próprio eu a uma existência que está inteiramente sob o domínio de Deus[1]".

A partir deste modo de percepção da penitência é que podemos compreender a relação de Francisco com a(s) quaresma(s) e o trabalho árduo que fazia em si mesmo durante estes períodos. A antiga prática quaresmal, verificada em diversas narrativas do antigo testamento e realizada pelo próprio Jesus Cristo, como caminho de fortalecimento espiritual, tornaram-se parte necessária da vida do Pobrezinho de Assis.

O leitor mais atento já percebeu que, quando tratamos da prática penitencial de Francisco, estamos usando o termo no plural. Sim, de fato, para Francisco, uma quaresma apenas não era o suficiente. Francisco vivia em períodos quaresmais, ao ponto de em sua Regra Bulada [2], orientar aos frades a realizarem o Jejum em três momentos especiais do ano litúrgico de então: Jejuem desde a festa de Todos os Santos até a Natividade do Senhor. Na Santa Quaresma, porém, que começa com a Epifania e se estende por quarenta dias consecutivos, consagrada pelo Senhor com o seu santo jejum, os que voluntariamente jejuarem, sejam abençoados pelo Senhor. E os que não quiserem jejuar, não sejam obrigados. Mas, na outra Quaresma, jejuem até a Ressurreição do Senhor.[3]

Como foi dito acima, Francisco tornou-se um verdadeiro mestre da penitência. Por isso desejava realizar vários momentos de quaresma, sempre com o intuito de converter-se de seu próprio eu para uma existência que estivesse sob o domínio divino. A quaresma não era apenas o momento da prática externa, mas o desejo de tornar-se um com seu Senhor.

É justamente em um destes períodos quaresmais que o Seráfico Pai recebe a confirmação, da parte de Deus, de que todo o esforço encetado até então havia sido válido. O desejo de celebrar a quaresma de São Miguel no Monte Alverne, juntamente com Frei Masseo, Frei Ângelo e Frei Leão, é coroado com a recepção dos estigmas do Crucificado.

Pela sua mortificação externa e, sobretudo, pelo desejo constante de conversão, Francisco recebe de Cristo a mais alta comenda. Recebe as dores e as marcas do Crucificado e recebe também o amor que Ele havia sentido, a fim de que pudesse suportar tais sofrimentos.

Assim, Francisco mais uma vez nos ensina. Ensina, sobretudo, qual deve ser a nossa postura diante dos exercícios quaresmais que se aproximam. Jejum, oração e esmola não devem ser apenas a realização exterior de atos pretensamente piedosos. Devem ser antes de tudo, a prática de um apaixonado por Jesus Cristo, que de tanto amor deseja viver uma existência voltada para Ele, absorvida por Ele. Quem sabe, se a Graça divina assim o permitir, sejamos também nós visitados pelo Senhor. T

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Pia União de Santo Antônio

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