Leituras
1ª Leitura - Mq 7,14-15.18-20
Salmo - Sl 102, 1-2. 3-4. 9-10. 11-12 (R. 8a)
Evangelho - Lc 15,1-3.11-32
Era a festa da volta. O pai tinha toda razão. Afinal de contas, o filho que havia partido estava de volta. Nada e ninguém poderia impedi-lo de viver aquela alegria. Era preciso fazer uma grande festa.
Era uma vez um pai que tinha dois filhos. Um deles era correto, “certinho”. Vivia na casa e nos domínios do pai. Trabalhava, cansava-se, vivia nos negócios familiares. O filho mais novo escolheu ir pelo mundo, deixar a casa do pai, tentar a vida a partir de seus interesses, sem referência ao pai, sem referência aos quereres do pai. Um dia desapareceu. O pai continuava a vida de todos os dias, com a tristeza de não ter mais seu filho, seu filho mais novo. Ia para o campo, ele o outro filho com os empregados. Por onde andaria aquele tresloucado? Sempre uma sombra de tristeza pairava sobre sua vida.
O filho dito pródigo, por sua vez, respirava os ares da liberdade. O evangelista, ao descrever a parábola, usa a expressão vida dissoluta ou desenfreada. Não havia freio para seus projetos. Uma vida sem freio. Um carro que corre para o abismo. O rapaz esbanjou tudo numa vida desenfreada. Abismo, miséria, fome, nem mesmo a comida dos porcos lhe era dada. O fundo do poço, o mais fundo da miséria.
Num determinado momento, houve qualquer coisa dentro do coração do moço: “Vou voltar. Não posso morrer assim. Meu pai há de compreender. Pelo caminho vou ensaiando a resposta. Quero lançar-me aos pés do pai e dizer que pequei contra tudo e contra todos. Não tenho outro desejo senão ser recebido de volta. Posso ser tratado como um dos empregados. Basta isso. Preciso recomeçar. Deixei o pai, quis ser dono de mim mesmo, destruí-me por dentro. Não consigo juntar os pedaços de mim mesmo. Está tudo em cacos. Pequei, pequei de verdade. Choro as lágrimas do desespero. Quero o abraço do pai”.
Um certo dia o pai andava de um lado para o outro. Seu pensamento estava no filho. Até que um dia ele voltou. O pai percebeu um vulto no horizonte. Precipitou-se caminho abaixo. Jogou-se nos braços do filho. O filho nem podia falar porque simplesmente o pai o apertava junto de seu peito. Não carecia dizer as palavras ensaiadas pelo caminho. O Missal Cotidiano da Paulus tem pensamentos radiosos e radiantes: “A convicção de que Deus nos perdoa, fazendo prevalecer em nós o bem sobre o mal, impede-nos de sermos tristes. A alegria de termos um pai que nos perdoa, que nos ama a ponto de fazer passar para o segundo plano, até mesmo de fazer desaparecer nossos pecados, deve prevalecer em nossa vida. Na verdade, quando Deus se revela ao homem, este quase não tem tempo para lhe dizer os seus pecados e lhe pedir perdão” (p.224).
E houve a festa: anel no dedo, roupa nova e branca, sandálias nos pés e música, banquete. O filho fora recuperado. O pai exultava de alegria.
Frei Almir Ribeiro Guimarães
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