“Um povo grande e sábio não se limita a amar as suas tradições ancestrais, mas valoriza também os seus jovens, procurando transmitir-lhes a herança do passado que aplica aos desafios do presente”. Papa Francisco
Leituras
1ª Leitura - Ez 18,1-10.13b.30-32
Salmo - Sl 50,12-13. 14-15. 18-19 (R. 12a)
Evangelho - Mt 19,13-15
O que vale a pena possuir vale a pena esperar
Como é bom falar de namoro, de sentimentos, de declarações de amor! Mexe com a gente, não é? Entrar no Facebook de seus amigos e ver estampado na capa: ‘Em relacionamento sério’… A aventura do amor continua e sempre continuará a mexer com nosso coração! Mas, ao se aventurar, você pode parar por um instante e dizer para mim: “Adriano, é tudo muito lindo, mas não acredito que isso seja possível. Estou encalhado(a) há tempos e cansei de esperar. A fase de solteiro (a) está durando há anos!”
Calma, calma, não brigue assim. O que tenho a dizer primeiramente a você é: Tire de sua vida a palavra “encalhado”! Cristão não fica encalhado, quem encalha é baleia; cristão se reserva para o melhor momento e a melhor pessoa.
Quantas vezes, em um casamento ou em uma festa importante, encontramos bem grande um aviso: “Reservado”. Ou chegamos a um supermercado e, no setor da adega, um vinho apresenta o seguinte rótulo: “Reserva de…”. A primeira impressão é a de que pessoas importantes vão usufruir daquilo que foi separado, escolhido, preparado e reservado.
Não quero apenas dizer que você está reservado (a), mas que existe uma pessoa separada, escolhida, preparada e reservada para aparecer na hora certa. Isso se o seu chamado for viver o amor a dois. Lembre-se sempre que todos têm direito ao Amor Maior.
Encalhado é uma palavra tão baixa que ninguém deveria ser rotulado assim. A baleia, quando “encalha”, na maioria das vezes, não consegue soltar-se, fica presa e se fere até morrer. O cristão que se reserva se garante, sabe dar sentido aos sentimentos e sempre tem esperança! Uma esperança que não decepciona.
Você está encalhado(a)? Não está. Pense diferente. Pense assim: “Você está “reservado(a)”. Você é muito importante, e só pessoas importantes podem usufruir, só a pessoa certa pode ter acesso a você.” Não se deixe levar por essa onda, mas se assuma como “reservado(a)”. Como disse Santa Edith Stein: “O que vale a pena possuir vale a pena esperar”.
Você pode até estar sozinho (a), mas não porque ninguém apareceu. Você é quem optou por não ficar com qualquer um (a), pois você não é qualquer um! Há um velho ditado que cai bem aqui: “Antes só do que mal acompanhado”.
É o momento de você ler tudo isso e valorizar-se mais para o grande amor! Não se deprecie por não ter encontrado alguém, por ainda não ter aparecido quem realmente o mereça! Assim você se reserva.
Mas, nesse tempo, como você tem esperado? Qual a qualidade da sua espera? Contarei um fato que aconteceu comigo e me fez pensar na qualidade e no modo como vivemos o “tempo de espera”.
Um dia, aconteceu algo muito interessante. Magda, Tiago (irmãos de comunidade) e eu voltávamos de viagem. Estávamos muito cansados e a vida resolveu nos presentear com uma bela tarde de “retiro”. A começar com o bilhete do voo de duas horas, que apresentava, em sua impressão, cinco de voo, ou seja, com escalas. Até então tudo bem. O fato estava ali e era vivê-lo. Feito o check in, fomos à sala de embarque. Quando conferimos o voo no painel de horários, lemos: “Voo com atraso de, no mínimo, duas horas”. Nessa hora, rimos para não chorar e tivemos de esperar!
Magda e Tiago resolveram assistir a um filme. Eu decidi esperar o tempo lendo um livro que me ajudaria como referência bibliográfica para escrever “Quero um Amor Maior” (indico, viu?), um livro que escrevi há três anos. O tempo foi passando.
Certo momento, o Tiago levantou-se, pegou nossas malas e um isopor com abará (comida baiana), que estava levando para Meiriane, uma outra irmã de comunidade, a fim de dar lugar para uma família que havia chegado. Nessa hora, o isopor tombou. O gelo, que estava dentro dele, havia virado água e se espalhado pelo chão. Que vergonha!
Deixamos, ali, o isopor e as malas; depois, fomos pedir ajuda a uma senhora da limpeza, que me disse: “Esse abará não chegará bom. É muito tempo fora da geladeira!”. Não pensei duas vezes e disse a ela: “Pode ficar com ele. É um presente”. Que sorriso lindo vi naquele rosto! Estávamos levando o abará para Meiriane, mas “o tempo” não era suficiente para o conservar.
Você deve estar se perguntando onde eu quero chegar com essa história. Fiquei irritado, o cansaço, o sono e as situações me tiraram a paz. Resolvi tuitar. De maneira espontânea mandei a seguinte mensagem: “O tempo de espera e como esperamos revela o nível de maturidade que temos. #vooatrasado”.
Minha mensagem teve tantos RTs que li de novo e fui entender o que havia escrito. E conclui, realmente, que o tempo de espera e a maneira como o vivo me revela e revela minha maturidade. Fiquei pensando que quanto mais imaturo somos, menos sabemos esperar. Um exemplo são as crianças, que fazem birra quando precisam esperar algo por cinco minutos.
A agitação, o “jeitinho”, a raiva etc., são sintomas de nossa imaturidade quando a vida nos propõe a espera. Fiquei muito intrigado com o que escrevi e percebi que há muita coisa a se desvendar sobre o “tempo de espera” e como esperar por alguma coisa.
Aquele atraso no aeroporto me possibilitou, apesar das contrariedades, fazer mais feliz aquela senhora da limpeza. E assim vivi uma boa tarde de “retiro”.
Agora, deixo para você esse barulho: Como você vive o tempo de espera? Como vive a fase de “solteiro”? Será que vale a pena dar um “jeitinho” de encurtar a espera, sair por aí sem dimensão do dom que você é e se sujeitar a ficar com a(o) primeira(o) que aparecer? Será que está irritado por não conseguir encontrar alguém e assim tem perdido a oportunidade de ser uma pessoa mais amável? A irritação o transformou em alguém irritante e murmurador? Ou será que, na pior das hipóteses, você tem esperado de braços cruzados, aguardando que alguém caia do céu?
A pessoa pode até cair, mas quando encontrar você, terá uma grande decepção. Pois você não se cuidava como um dom no tempo de espera!
Somos muito imediatistas e não gostamos de esperar. Deixamos, muitas vezes, o medo e a ansiedade se tornarem empecilhos à concretização das promessas de Deus em nossa vida. Mas se soubermos lidar com esses sentimentos, conquistaremos as promessas do Senhor no tempo certo!
Muitos esperam de braços cruzados, rezam todos os dias e pedem a Deus a pessoa certa. Mas é uma espera sem esperança, sem atenção. Às vezes, Deus já lhe mandou alguém, mas você, por estar de braços cruzados, não percebeu e não correu para o abraço.
É necessário estar atento às pessoas que estão ao seu redor, no seu grupo, na faculdade. Não se acha remédio em açougue nem carne em farmácia, não é? Gosto do Salmo que diz: “Esperando eu esperei”. Deve-se saber viver essa espera com esperança, com ação. Cuidar-se, arrumar-se, não em vista só do outro, mas para se sentir bem consigo mesmo. Só quando nos amamos podemos amar o outro, pois somente damos o que temos.
Se você está sozinho, eu lhe pergunto: “Será que não é preciso estar assim?”. Às vezes, nesse tempo em que você está só, descobrirá que, na verdade, é chamado(a) a outra vocação. Como dizia Padre Léo: “Quando não achamos a tampa de nossa panela, podemos ser uma frigideira!”
Não importa a quantidade do tempo, mas a qualidade dele que você tem vivido. Que sua oração se torne também a ação desse tempo!
Viva a fase de solteiro alargando as possibilidades de ser uma pessoa melhor, invista nas amizades, na família e em seus projetos; acima de tudo, no seu relacionamento com Deus. Isso faz a diferença!
Adriano Gonçalves
cancaonova.com