TRÍDUO EM HONRA À SANTA CLARA, DE 08 À 10 DE AGOSTO |
CLARA, MULHER FEITA PIEDADE ORANTE
A lembrança do Amado estava sempre presente no coração ardente e apaixonado de Clara. Vigilante na oração, contemplativa na ação, era a “mulher feita piedade orante”. Sigamos um grande mestre da contemplação, Fr. Herbert Schneider, ofm:
Na quarta carta de Santa Clara a Santa Inês de Praga, encontram-se de forma surpreendente, pensamentos de profunda intensidade sobre a contemplação, ou melhor, põe-se em evidência o modo pelo qual toma forma concreta a contemplação pessoal de Santa Clara.
A contemplação propriamente dita é uma visão interior, algo mais que uma percepção, chega a penetrar na essência mais profunda do Outro, com quem se está intimamente em relação e do qual procede.
Na quarta carta - v. 14-17 -, a contemplação pode ser definida como uma visão interior, que vai para além do pensamento racional. Segundo as palavras de Santa Clara, trata-se de uma verdadeira e própria intuição, da capacidade de intuir. Aquele que contempla entra imediatamente em contato com o que é contemplado, tal e como é, simplesmente ante o contemplado; e ele mesmo experimenta por sua vez ser contemplado. Assim a visão interior torna-se ao mesmo tempo um acontecimento interiormente presente ao Outro e a si mesmo; é um olhar para a interioridade e à intimidade.
Diferentemente da reflexão, que permanece distante do que tem diante de si, a intuição vai até o outro: é um processo de aproximação. Contemplando o Outro, a alma se inflama e ao mesmo tempo impulsiona o Outro; não se perde, se compromete com o Outro e ao mesmo tempo ela mesma se realiza. Estamos perante um processo de contato e de união interior.
Identificando-se com aquele que é contemplado, a alma também alcança um novo modo de relacionar-se consigo mesma, no Outro se percebe a si mesma. Santa Clara o define com o termo latino speculare, refletir como num espelho, o próprio rosto no rosto do Outro. O eu se abre ao Tu do Outro e deste modo se realiza mais e mais a si mesmo como dom. O eu está com o Eu do Outro numa relação de reciprocidade.
Nesta relação nasce a interioridade, a intimidade. A interioridade (mútua interiorização) de si mesmo e do Outro, no processo de interação, conduz a uma profunda compreensão recíproca.
Irmã Maria Clara do Santíssimo Sacramento, osc
Mosteiro Mater Christi
Guaratinguetá - SP
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