SEJAM BEM-VINDOS!

Caríssimos(as) Irmãos(as), saudamos a todos vocês com a Paz e o Bem contidas no Cristo Jesus e em São Francisco de Assis.



domingo, abril 26, 2015

Jesus é o Bom Pastor - 4o domingo da Páscoa

O BOM PASTOR DÁ SUA VIDA

1ª leitura: (At 4,8-12) Defesa de Pedro diante do Sinédrio ­– Processo a Pedro e João por terem causado tumulto ao curar o aleijado da Porta Formosa. A questão é: “Em nome de quem?” (4,7). A resposta de Pedro é mais um testemunho da obra de Deus em Jesus Cristo (4,8-12); “No nome de Jesus, que vós crucificastes, e que Deus ressuscitou”. * Cf. At 3,6.16; Sl 118[117],22; Is 28,16; Mt 21,42.

2ª leitura: (1Jo 3,1-2) “Já somos filhos de Deus” – Quem não acredita em Cristo, não entende a experiência cristã que se expressa na frase “Somos filhos de Deus”. mas também o cristão não a entende plenamente, pois deve manifestar ainda seu sentido pleno. * 3,1 cf. Rm 8,14-17; Jo 1,12; Ef 1,5; Jo 15,21; 17,25 * 3,2 cf. Cl 3,4; Fl 3,21.

Evangelho: (Jo 10,11-18) O Bom Pastor dá sua vida pelas ovelhas – Pastor: nome dos chefes do povo no antigo Israel (cf. Ez 34). Jesus, o verdadeiro Pastor de Israel e de todos os povos, dá – com soberania divina (10,18) – sua vida pelo rebanho e reúne a todos. O sentido pleno destas palavras só aparece à luz da Páscoa: a comunhão do ressuscitado com os seus. Daí, para todos, uma mensagem de unidade; e para os “pastores”, uma exortação ao radical serviço e doação da vida.

*** *** ***

O tema central da liturgia de hoje (evangelho) é a alegoria do Bom Pastor (como sempre no 4º domingo pascal). Na primeira parte da alegoria, lida no ano A, Jo comparou Jesus com a porta do redil, porta pela qual entra o pastor e pela qual sai o rebanho conduzido pelo pastor. Quem não entra pela porta que é Jesus não é pastor, mas assaltante. Na segunda parte, lida hoje, Cristo é o próprio pastor, em oposição aos mercenários: imagens tomadas de Ez 34. Os mercenários não dão sua vida pelo rebanho. Jesus, sim. Todo mundo entende esta comparação. O sentido é obvio: Jesus deu, na cruz, sua vida por nós. Para Jo, porém, ela esconde um sentido mais profundo: a vida que Jesus dá não é apenas a vida física que ele perde em nosso favor, mas a vida de Deus que ele nos comunica (exatamente ao perder sua vida física por nós). Esta ideia constitui a ligação com a imagem precedente (a porta): em Jo 10,10b, Jesus diz que ele veio para “dar a vida”, e dá-la em abundância; e continua, em 10,11, apontando sua própria vida como sendo esta vida em abundância que ele dá. Nos v. 17-18 aparece, então, que ele dá essa vida com soberania divina (ele tem o poder de retomá-la; ninguém lha rouba): doando-se por nós, nos faz participar da vida divina, porque entramos na comunhão do amor de Jesus e daquele que o enviou (estas ideias são elaboradas em Jo 14–17, esp. 15,10.13; 17,2.3.26 etc.).

A vida que Jesus nos dá é o amor do Pai, que nos faz viver verdadeiramente e nos torna seus filhos. Já agora temos certa experiência disso, a saber, na prática deste amor que nos foi dado. Mas essa experiência é ainda inicial; manifestar-se-á plenamente quando o Cristo for completamente manifestado na sua glória: então, seremos semelhantes a ele. Desde já, nossa participação desta vida divina nos coloca numa situação à parte: na comunidade do amor fraterno, que o mundo não quer conhecer e, por isso, rejeita (1Jo 3,1c). É a “diferença cristã” (2ª leitura).

Porém, a diferença cristã não é fechada, mas aberta. É uma identidade não autossuficiente, mas comunicativa. Jo insiste várias vezes neste ponto: Jesus é a vítima de expiação dos pecados não só de nós, mas do mundo inteiro (1Jo 2,2); Jesus tem ainda outras ovelhas, que não são “deste redil” (Jo 10,16). O amor, que é a vida divina comunicada pelo Pai na doação do Filho, verifica-se na comunidade dos fiéis batizados, confessantes e unidos. Mas não se restringe a essa comunidade. Não só porque existem outras comunidades, mas porque a salvação é para todos.

A atuação dos primeiros cristãos em Jerusalém (1ª leitura) deve ser entendida neste mesmo sentido. Formam uma comunidade que, sociologicamente falando, pode ser caracterizada como seita. Porém, não é uma seita autossuficiente, mas transbordante de seu próprio princípio vital, o “nome” de Jesus Cristo (= toda a realidade que ele representa). Quando um aleijado, na porta do templo, dirige a Pedro seu pedido de ajuda, este lhe comunica o “nome” de Jesus (At 3,6). Daí se desenvolve todo um testemunho (narrado na liturgia de domingo passado). Este testemunho leva à intervenção das autoridades, sempre desconfiados dos pequenos grupos testemunhantes. Pedro e João são presos e levados diante do Sinédrio, que pergunta em que nome eles agem assim. “No nome de Jesus Cristo Nazareno, crucificado por vós, mas ressuscitado por Deus... Em nenhum outro nome há salvação, pois nenhum outro nome foi dado sob o céu por quem possamos ser salvos” (At 4,10-12; cf. Jo 17,3: “A vida eterna é esta: que te conheçam... e àquele que tu enviaste”). É essa a conclusão do sinal do aleijado da Porta Formosa: a cura que lhe ocorreu significativa a “vida” em Jesus Cristo. Esta deve também ser a conclusão de todo agir cristão no mundo: dar a vida de Cristo ao mundo, pelo testemunho do amor. Tal testemunho convida a participar do amor do qual Jesus nos fez participar, dando sua vida “por seus amigos”. Isto é pastoral.


O PASTOR, OS PASTORES E A PASTORAL

Na liturgia deste domingo, o evangelho traz as palavras de Jesus sobre o “bom pastor” (Jo 10,11-18) e a 1ª leitura (At 4,8-12) nos mostra o primeiro pastor da jovem comunidade cristã, Pedro, defendendo o rebanho perante o supremo conselho dos judeus em Jerusalém. Dois exemplos de pastores que põem em jogo sua vida em prol de suas ovelhas. Por isso, também, este domingo é o domingo das vocações “pastorais”.



Antes, porém, de assimilar a mensagem destas leituras é preciso nos deslocarmos para as estepes da Judeia, para imaginar o que significa a imagem do “pastor”. O povo de Judá era, tradicionalmente, um povo de pastores de ovelhas e cabras. Assim, por exemplo, o rei Davi foi chamado de detrás do rebanho para ser rei de Judá e Israel. Ora, havia pastores proprietários, para quem o rebanho era seu sustento, e assalariados, que não se importavam muito com o rebanho... Todo judeu conhecia a história de Davi, que, para salvar o rebanho de seu pai Jessé, correu risco de vida enfrentando um leão (1Sm 17,34-37). E conheciam-se também as advertências proféticas contra os maus pastores de Israel (os reis e chefes) que se engordavam à custa das ovelhas em vez e de conduzi-las à pastagem (Ez 34,2 etc.).

O pastor “certo” é Jesus, diz Jo 10,11. Ele conduz as ovelhas com segurança, dando a vida por elas, pois são pedaços de seu coração, à diferença dos mercenários, que fogem quando se apresenta um perigo: um leão, um lobo... Jesus é o pastor de verdade, o Messias, o novo Davi e muito mais! Ele dá a vida pelas ovelhas. O caminho pelo qual conduziu as ovelhas foi o do amor até o fim. Ele deu o exemplo. Sua vida certamente não esteve em contradição com sua “pastoral”, como acontece com outros.

O que é pastoral? Não é chefia e organização. É conduzir, no amor demonstrado por Jesus, aqueles que viram nele resplandecer a vida e a salvação. Os que escutam sua voz. Pastoral é evangelização continuada, é fidelidade à boa-nova proclamada. Assim como a “pastoral” de Jesus, talvez exija fidelidade até a morte (desde Tiago e Pedro até Dom Oscar Romero e os demais mártires de hoje). Os pastores têm de identificar-se com Jesus, que dá a vida pelos seus.

Quem são as ovelhas? São os que seguem a voz do pastor. Mas não só os que participam da Igreja de modo organizado. A organização da comunidade não é o último critério para a missão pastoral. Diante dos discípulos que eram de origem judaica, Jesus declarou: “Tenho ainda outras ovelhas, que não são deste rebanho” (Jo 10,16). A pastoral tem uma dimensão missionária que ultrapassa os integrados e os organizados!

E quem são os pastores? Há pastores constituídos, os que participam do sacramento da Ordem (papa, bispos, presbíteros, diáconos). Mas, como o Espírito sopra onde quer, a vocação pastoral pode estender-se além desses limites. Cada um pode ser um pouco “pastor” de seu irmão. Até os serviços que a Igreja anima para a transformação da sociedade são chamados de pastorais (pastoral da terra, da mulher marginalizada, dos direitos humanos, direitos socioambientais etc.). O que importa é que os agentes pastorais assumam o empenho da própria vida na linha de Jesus e de seu testemunho de amor. Que sejam “bons pastores”, amando a Cristo e a seus irmãos de modo radical, dando a vida por eles. Que não usem as ovelhas para ambições eclesiásticas ou políticas. Que não sejam traiçoeiros. Que transmitam a seus irmãos o carinho de Deus mesmo.

Pe. Johan Konings SJ
domtotal.com.br

Pia União de Santo Antônio

Pia União de Santo Antônio