A primeira Leitura relata a chegada de Saulo a Jerusalém onde “todos temiam, por não acreditarem que fosse discípulo” e que, iluminado por uma graça extraordinária, de inimigo feroz se convertera em fervoroso apóstolo de Cristo. A conversão não costuma ser tão repentina para todos; normalmente exige um prolongado trabalho para vencer as paixões e os maus costumes, para mudar de mentalidade e de comportamento. Mas é possível para todos, não apenas como passagem da incredulidade à fé, do pecado à vida da graça, mas também como exercício das virtudes, progresso na caridade e ascese para a santidade. Sob este aspecto, a conversão não é um mero episódio mas antes um empenhamento que compromete a vida inteira.
A conversão, confirmada pelo sacramento, enxerta o homem em Cristo para que viva Nele e viva a Sua própria vida; é este o assunto do Evangelho deste Domingo: “Permanecei em Mim, e Eu Permanecerei em vós- diz o Senhor -. Como a vara não pode dar fruto por si mesma se não permanecer na cepa, assim vós também não, se não permanecer em Mim”. Só unida à cepa pode viver e frutificar a vara; do mesmo modo, só permanecendo unido a Cristo pode o cristão viver na graça no amor e produzir frutos de santidade. Isto se manifesta a impossibilidade do homem em tudo o que se relaciona com a vida sobrenatural e a necessidade da sua total dependência de Cristo; mas manifesta também a vontade positiva de Cristo de fazer com que o homem viva a Sua própria Vida. Por isso, o cristão jamais deve deixar-se arrastar pela desconfiança; os meios que não tem em si, encontra-se em Cristo e, quanto mais experimentar a verdade das Suas palavras”sem Mim nada podeis fazer”, tanto mais confiará no seu Senhor que quer ser todo para ele. O batismo e a inserção em Cristo que o sacramento produz, são dons gratuitos; mas pertence ao cristão vivê-los, verdadeiramente unido a Cristo pela fidelidade pessoal, como afirma a expressão tantas vezes repetida: “Permanecei em Mim”. A melhor maneira de permanecer em Cristo é que as suas Palavras permaneçam nos crentes através da fé que os ajudará a aceitá-las e o amor que as põe em prática.
Entre as palavras do Senhor, uma há de especial importância e que nos é lembrada na segunda Leitura :”É este o Seu Mandamento...: amar-nos uns aos outros”. O exercício da caridade fraterna é o sinal que distingue os cristãos, precisamente porque testemunha a sua comunhão vital com Cristo; na verdade é impossível viver em Cristo, cuja vida é essencialmente amor, sem viver no amor e produzir frutos de amor. Tal como Cristo amou o Pai e Nele amou todos os homens, assim o amor do cristão para com Deus tem que traduzir-se no amor sincero para com os irmãos. Por isso, S. João insiste tão vigorosamente:”Meus filhos: não amemos por palavras e com a língua, mas por obras e em verdade”. Aquele que, deste modo, ama o próximo, amigos e inimigos, nada tem a temer diante de Deus, não porque seja impecável, mas porque Deus que “é melhor que o nosso coração e conhece todas as coisas”, pela Sua caridade para como os irmãos, lhe perdoará misericordiosamente todos os pecados.
"Ó verdade! Eu Sou a Cepa e vós as varas. O que permanece em Mim e Eu Nele, esse é que dá muito fruto, porque, sem Mim, nada podeis fazer. E para evitar que alguém pudesse pensar que a vara pode produzir algum fruto, ainda que escasso, depois de ter dito que esse dará muito fruto, não diz que, sem Mim, pouco podeis fazer, mas disse: Sem Mim, nada podeis fazer. Por conseguinte, seja pouco, seja muito, nada se pode fazer sem Aquele sem o Qual nada se pode fazer. E, se a vara não permanecer unida à cepa, por si não pode produzir fruto algum.
Estando unidos a Ti, que poderemos querer a não ser aquilo que não é indigno de Cristo? Queremos umas coisas por permanecermos unidos a Cristo e queremos outras por estarmos ainda neste mundo... Só então permanecem em nós as Sua Palavras se cumprirmos os Seus preceitos e seguirmos os Seus mandamento. Mas, quando as
Suas palavras estão somente na memória, sem se traduzirem na nossa maneira de viver, somos como a vara separada da cepa, que não recebe a seiva da raiz."
Santo Agostinho
Fonte: intimidade-divina--frei-gabriel-de-santa-maria-madalena-ocd