Paz é dom e presente do alto. Paz não quer dizer acomodação, decisão de não se amofinar com as coisas, deixar de dizer o que se pensa para evitar divergências. Há uma paz que não é sadia. É marasmo, é paz morna é aceitação do que não pode ser aceito.
A paz nasce no fundo do coração das pessoas. Tem sua fonte numa consciência reta que nada tem para arrepender-se. Por isso, a pessoa sincera de coração não experimenta temor e tremor. Ela está numa serena e profunda paz.
A paz é dada ao que tem o coração contrito. Uma pessoa que magoou profundamente uma outra, alguém que durante bom tempo de sua vida não fez caso das visitas e inspirações do Senhor experimenta arrependimento, sente a dor do mal feito e procura o sacramento da reconciliação para que seu arrependimento seja celebrado com o perdão do Senhor. Quando o Ressuscitado visita os apóstolos que estavam com medo, trancados num local, ele confere aos mesmos o poder de perdoar os pecados e precede esta concessão com votos de paz. O Ressuscitado envia os apóstolos para serem embaixadores do perdão e da reconciliação.
Com a notícia da partida de Jesus para a glória os apóstolos ficam com medo e se perturbam. Estamos novamente no tema da fé. A Igreja que nasce da fé pascal pode conhecer temores e receios. Há crises. Há defecções. Há abandonos. Há a perseguição. Há o desânimo. Há o desconforto. Jesus ressuscitado, no entanto, não abandonará os seus. Estamos vivendo um tempo que nos levará à solenidade de Pentecostes. O Espírito haverá de acompanhar a Igreja nas turbulências do caminho. Ele mostrará pistas novas para que a fé não vacile. “Ouvistes o que eu vos disse: ‘Vou, mas voltarei a vós’”.
No Missal Cotidiano da Paulus lemos: “Nos lábios de Jesus a habitual saudação dos judeus: “shalôm”, paz, assume um significado mais denso. Não é mero augúrio; ele dá verdadeiramente a paz. Não uma paz qualquer, mas “sua” paz. Já no AT a paz tinha um significado mais denso do que lhe dão em geral as línguas ocidentais. Significava a plenitude de vida e de salvação, a perfeição, a alegria, o êxito em todo empreendimento e a realização de todos os desejos. Na história da salvação das esperanças messiânicas, o resultado da aliança entre Deus e seu povo, a conquista definitiva de uma comunhão entre eles” (p. 432-433).
Concluída a obra da salvação o Ressuscitado podia dar a paz aos seus em toda sua plenitude. Os discípulos do Senhor não sentem medo. Podem aqui e ali se sentirem fracos, mas sabem que lá no fundo existe neles uma plenitude de vida.
Frei Almir Ribeiro Guimarães
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