Os santos são na Igreja a continuidade da missão de Jesus Cristo. É muito importante falar a respeito da vida dos santos, porque foram fiéis seguidores de Jesus Cristo, e podemos aprender muito com a vida de cada um deles. Hoje a Igreja celebra a vida de Santo Antônio de Pádua, nascido em Lisboa (Portugal) em 1190 e falecido em Pádua (Itália), em 13 de junho de 1231, por volta dos quarenta anos de idade. Primeiramente, frade agostiniano em Coimbra, depois frade franciscano na Itália.
No Brasil, santo Antônio de Pádua é tido como o “santo casamenteiro”, aquele que intercede pelas pessoas que desejam casar-se. Particularmente, a partir da leitura da biografia dele, não vejo muita ligação do santo com a questão matrimonial. Claro que santo Antônio reconhecia o valor de tal sacramento, mas em sua época não morreu com a fama de “santo casamenteiro”. Isto é religiosidade popular, que precisa ser reconhecida e respeitada e que, sem sombras de dúvidas, santo Antônio deve atender aos pedidos daquelas pessoas que desejam se casar.
Quero ressaltar, brevemente, duas qualidades de santo Antônio, que devido à ligação que se faz com a questão do casamento, terminam-se passando despercebidas: Santo Antônio missionário e grande orador do Evangelho. Na Igreja temos um problema no que se refere à veneração dos santos: o conhecimento das biografias dos mesmos. Muitas pessoas são devotas de santo Antônio, mas desconhecem sua história de vida. Venerar um santo sem conhecer sua história é um pouco arriscado! Primeiro, porque não é o santo que faz o milagre, pois os santos não têm poder. Este pertence a Deus e o papel do santo está na intercessão. Muitas pessoas não entendem isto, pois afirmam que “santo Antônio é poderoso”. Quem é poderoso, senão Deus?... Segundo, porque quando veneramos santo Antônio não nos tornamos seguidores dele, mas a seu exemplo seguimos Jesus Cristo. A centralidade da fé cristã na Igreja não está na veneração dos santos, mas no seguimento à pessoa de Jesus Cristo.
Santo Antônio foi um verdadeiro missionário de Jesus, pois pregou em vários lugares, a saber: Marrocos, Itália e França. Não foi um santo sedentário, mas um homem itinerante que viveu aquilo que Jesus pediu: “Ide e evangelizai”. Numa época atribulada pelos crimes civis e eclesiásticos, santo Antônio destacou-se pelo despojamento e pelo espírito evangélico da missão. Foi um grande pregador do Evangelho, um dos maiores de seu tempo, pela sapiência e eloqüência. Formado em Direito Canônico, Filosofia e Teologia, tornou-se o primeiro professor de Teologia da Ordem dos Frades Menores, a pedido de São Francisco. Inicialmente, este não queria que os frades estudassem nem possuíssem livros, mas dada a sabedoria de santo Antônio, permitiu então que o mesmo lecionasse Teologia aos frades. Antes de ser ordenado presbítero, santo Antônio, então Frei Fernando de Bulhões, fora aluno dos Mosteiros dos Cônegos Regrantes de S. Vicente de Fora e no de Santa Cruz de Coimbra. Foi um aluno destacado pela inteligência e sabedoria com que lidava com os estudos e a vida cotidiana.
Os sermões escritos por santo Antônio revelam que foi um homem que tinha uma forte intimidade com Deus pela oração e pela leitura orante da Palavra. Santo Antônio era um homem de oração. Esta qualidade deve fazer parte da vida de todo cristão, e mais precisamente, de todo presbítero. Santo Antônio ensina a todo presbítero que sem a oração não é possível viver tal ministério. Mediante a correria da vida paroquial e do cotidiano da pós-modernidade, sinto que os presbíteros de nossa Igreja precisam rezar mais. A intimidade com Deus por meio da leitura da Sagrada Escritura é outro valor importante na vida de um religioso e na vida cristã. Santo Antônio foi profundamente profético e místico no ensino da verdade e na pregação do Evangelho, isto se devia à leitura assídua da Palavra de Deus. Em 1946, o Papa Pio XII o declarou Doutor da Igreja, por meio da bula Exulta, Lusitania felix.
Além de sua sapiência e oratória, santo Antônio tornou-se um exemplo de cristão autêntico e de homem coerente, que uniu fé e vida no exercício de seu ministério. Resta-nos pedir a Deus que faça surgir na Igreja homens e mulheres, livres e coerentes, que anunciem ao mundo a Boa Nova do Reino de Deus.
Santo Antônio de Pádua, rogai por nós!
Tiago de França