Leituras
1ª Leitura - 1Cor 15,1-11
Salmo - Sl 117 (118),1-2. 16ab-17. 28 (R. 1)
Evangelho - Lc 7,36-50
Por que sentimos a necessidade de orar? De onde vem esse desejo? Qual o sentido da oração em nossa vida? Partindo de tais perguntas, queremos buscar os fundamentos da oração cristã.
Há no coração humano uma misteriosa “sede de Deus”, um desejo que orienta o homem para o seu Criador. Tem razão o salmista quando canta: “A minha alma tem sede de Deus” (Sl 41/42). Mas de onde vem esta sede? Ela foi colocada em nosso coração pelo próprio Deus que não cessa de nos atrair. De fato, em todos os tempos e culturas o ser humano sempre expressou esse desejo contido nas profundezas de sua alma. O Catecismo da Igreja Católica afirma: “Mesmo depois de ter perdido a semelhança com Deus por seu pecado, o homem continua sendo imagem de Deus. Conserva o desejo daquele que o chama à existência. Todas as religiões testemunham essa procura essencial dos homens” (Cat. 2566).
A fé cristã, por outro lado, nos ensina que antes de desejarmos a Deus, ele já nos desejava com amor eterno. A Sagrada Escritura não é em primeiro lugar a história do homem à procura de Deus, mas a história de Deus à procura de sua criatura amada. Ele “nos amou primeiro” (1Jo 4,19) e nos escolhera antes da fundação do mundo (cf. Ef 1,4). Ele tanto nos amou que enviou para nós o seu Filho único (cf. 1Jo 4,9).
Há, portanto, duas sedes: a sede de Deus e a sede do homem. A primeira sede é a causa da segunda. Somente naquela fonte, que desde a eternidade nos deseja, podemos encontrar a água viva capaz de matar a nossa sede. Por isso, Jesus nos faz um convite: “Se alguém tem sede, venha a mim e beba” (Jo 7,37).
Quando o homem sedento se deixa encontrar por Deus, começa uma íntima amizade entre ambos. Deus fala e o homem quer ouvi-lo. O homem que ouve atentamente a Deus não fica calado, deseja responder-lhe. E assim, nasce e se estabelece um diálogo entre o Criador e a criatura. Tal diálogo é o que chamamos de oração. Por isso, o Catecismo da Igreja Católica afirma: “A oração, quer saibamos ou não, é o encontro entre a sede de Deus e a nossa. Deus tem sede que nós tenhamos sede dele” (Cat. 2560).
Deus nos deseja não como uma coisa ou objeto, mas como um “alguém” que corresponda livremente a esse amor. Por isso, ele nos deu a capacidade de reconhecê-lo, de amá-lo e de obedecê-lo. Desta forma, o ser humano pode escutar a Deus e responder a ele com o coração livre e generoso.
Entretanto, sabemos por experiência que nosso amor por Deus é sempre tão frágil, tão pequeno e instável. Enquanto estivermos peregrinando neste mundo, sempre correremos o risco de abandonar a Deus. Precisamos do socorro da graça para amá-lo e permanecer neste amor. Diferentemente do amor divino, o nosso amor precisa ser alimentado a cada instante para que não diminua com o tempo e não venha a extinguir-se.
Amizade não cultivada corre o sério risco de extinguir-se com do tempo. Quem não se lembra de um amigo de infância ou de um amigo de escola que ficou lá no passado? Tornaram-se apenas doces lembranças guardadas nas nossas memórias.
De forma semelhante, precisamos cuidar de nossa amizade para com Deus para que ela seja sempre atual, viva e fecunda. Faz-se necessário gastar tempo com Ele. É preciso dar-lhe atenção e ficar na sua presença sem nenhuma pressa.
A oração é exatamente para isto: para cuidar do nosso amor para com Deus. Quem ora ama mais a Deus e aos irmãos. Quem ora enxerga melhor a ação de Deus na sua vida e ao seu redor. Para quem reza Deus é uma presença sentida e experimentada.
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