Persistem sintomas de mal-estar entre os religiosos, até mesmo de desgosto e desilusão. Muitos religiosos sentem-se desestimulados a propor esse projeto de vida aos jovens, como se não valesse a pena consagrar o melhor das forças aos irmãos desvalidos, característica da missão dos religiosos. Profetas de mau augúrio pontificam o exaurimento histórico da Vida Religiosa, com a previsibilidade de desaparecer, esquecendo-se que serão os empobrecidos e os marginalizados os principais atingidos por esta tragédia eclesial. Os tempos são outros.
É verdade! Para alguns, os novos grupos de vida, oriundos dos movimentos eclesiais, de modo especial, os de corte pentecostal, estão destinados a ocupar na Igreja, o papel secularmente ocupado pela Vida Religiosa. Pode ser! Pelo que se vê, em muitos deles, não há como esperar a garra e o empenho no serviço aos empobrecidos, com os quais a Vida Religiosa se destacou, embrenhando-se nos sertões e nas regiões mais distantes e inóspitas: inserindo-se nos contextos urbanos e suburbanos, onde o serviço público e as infraestruturas de atendimento são precários; fazendo-se presente, com ousadia, em todo e qualquer lugar onde o Evangelho deve ser anunciado, das universidades e colégios ao mundo do trabalho, mundo das comunicações onde se discutem os grandes temas da humanidade, dos ambientes pastorais aos fóruns políticos e sociais, da solidariedade com os refugiados e tantos outros sofredores ao mundo da pesquisa e da reflexão, das missões ad gentes ao anúncio do Evangelho nos incontáveis grupos de reflexão, da militância junto aos grupos de economia solidária e tantos grupos de defesa dos direitos humanos à vida contemplativa, no silêncio e na oração.
Presença multiforme e qualificada, com marca de compromisso evangélico, vivido em comunidade, exercido com compaixão e gratuidade. Serviço de misericórdia, nos passos do Mestre Jesus! Seria insensato desaparecer este carisma, que na atuação de milhares de religiosos e religiosas, a maioria das vezes, escondidos e anônimos, o Reino age na história como sal da terra, luz do mundo e fermento na massa.
Frei Almir Guimarães
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