LITURGIA DA PALAVRA
1ª Leitura: At 12,1-11
Sl 33
2ª Leitura: 2Tm 4,6-8.17-18
Evangelho: Mt 16, 13-19
São Pedro e São Paulo
1) Pedro: Simão responde pela fé dos seus irmãos (evangelho). Por isso, Jesus lhe dá o nome de Pedro, que significa sua vocação de ser pedra, rocha, para que Jesus edifique sobre ele a comunidade daqueles que aderem a ele na fé. Pedro deverá dar firmeza aos seus irmãos (cf. Lc 22,32). Esta “nomeação” vai acompanhada de uma promessa: as “portas” (= cidade, reino) do inferno (o poder do mal, da morte) não poderão nada contra a Igreja, que é uma realização do “Reino do Céu” (de Deus).
A libertação da prisão ilustra esta promessa (1ª leitura). Jesus lhe confia também “o poder das chaves”, i.é, o serviço de “mordomo” ou administrador de sua casa, de sua família, de sua comunidade ou “cidade”. Na medida em que a Igreja é realização (provisória, parcial) do Reino de Deus, Pedro e seus sucessores, os Papas, são “administradores” dessa parcela do Reino de Deus (dos “Céus” no sentido de “Deus”… nada a ver com a figura de Pedro como porteiro do céu no sentido do “além”..).
Eles têm a última responsabilidade do serviço pastoral. Pedro, sendo aquele que “responde pelos Doze”, administra ou governa as responsabilidades da evangelização (não a administração material…). Quem exerce este serviço hoje é o Papa, sucessor de Pedro e bispo de Roma (de Roma, por causa das circunstâncias históricas).
Pedro recebe também o poder de “ligar e desligar” – o poder da decisão, de obrigar ou deixar livre -, exatamente como último responsável da comunidade (em Mt 18,18, esse poder é dado à comunidade como tal, evidentemente sob a coordenação de quem responde por ela). Não se trata de um poder ilimitado, mas da responsabilidade pastoral, que concerne à orientação dos fiéis para a vida em Deus, no caminho de Cristo.
2) Paulo: Se Pedro aparece como fundamento institucional da Igreja, Paulo aparece mais na qualidade de fundador carismático. Sua vocação se dá na visão do Cristo no caminho de Damasco: de perseguidor, transforma-se em mensageiro de Cristo; “apóstolo”. É ele que realiza, por excelência, a missão dos apóstolos, de serem testemunhas de Cristo “até aos extremos da terra” (At 1,8).
As cartas a Tímóteo, escritas da prisão em Roma, são a prova disto, pois Roma é a capital do mundo, o trampolim para o Evangelho se espalhar por todo o mundo civilizado daquele tempo. Ele é o “apóstolo das nações”. No fim da sua vida, pode oferecer sua vida como “oferenda adequada” a Deus, assim como ele ensinou (Rm 12,1). Como Pedro, ele experimenta Deus como um Deus que liberta da tribulação (2ª leitura).
Pedro e Paulo representam duas vocações na Igreja, duas dimensões do apostolado, diferentes, mas complementares. As duas foram necessárias para que pudéssemos comemorar, hoje, os fundadores da Igreja universal. A complementaridade dos dois“carismas” continua atual: a responsabilidade institucional e a criatividade missionária.
Essa complementaridade pode provocar tensões (cf. Gl 2); as preocupações de uma “teologia romana” podem não ser as mesmas que as de uma “teologia latino-americana”. A recente polêmica em tomo da Teologia da Libertação mostrou que tal tensão pode ser extremamente fecunda e vital para a Igreja toda.
Hoje, celebra-se especialmente o “Dia do Papa”. Enseja uma reflexão sobre o serviço da responsabilidade última. Importa libertar-nos de um complexo antiautoritário de adolescentes. Devemos crescer para a obediência adulta, sem mistificação da autoridade, nem anarquia. O “governo” pastoral é um serviço legítimo e necessário na Igreja. Mas importa observar também que aquele que tem a última palavra deve escutar as penúltimas palavras de muita gente.
Do livro “Liturgia Dominical”, de Johan Konings, SJ, Editora Vozes
Sl 33
2ª Leitura: 2Tm 4,6-8.17-18
Evangelho: Mt 16, 13-19
São Pedro e São Paulo
1) Pedro: Simão responde pela fé dos seus irmãos (evangelho). Por isso, Jesus lhe dá o nome de Pedro, que significa sua vocação de ser pedra, rocha, para que Jesus edifique sobre ele a comunidade daqueles que aderem a ele na fé. Pedro deverá dar firmeza aos seus irmãos (cf. Lc 22,32). Esta “nomeação” vai acompanhada de uma promessa: as “portas” (= cidade, reino) do inferno (o poder do mal, da morte) não poderão nada contra a Igreja, que é uma realização do “Reino do Céu” (de Deus).
A libertação da prisão ilustra esta promessa (1ª leitura). Jesus lhe confia também “o poder das chaves”, i.é, o serviço de “mordomo” ou administrador de sua casa, de sua família, de sua comunidade ou “cidade”. Na medida em que a Igreja é realização (provisória, parcial) do Reino de Deus, Pedro e seus sucessores, os Papas, são “administradores” dessa parcela do Reino de Deus (dos “Céus” no sentido de “Deus”… nada a ver com a figura de Pedro como porteiro do céu no sentido do “além”..).
Eles têm a última responsabilidade do serviço pastoral. Pedro, sendo aquele que “responde pelos Doze”, administra ou governa as responsabilidades da evangelização (não a administração material…). Quem exerce este serviço hoje é o Papa, sucessor de Pedro e bispo de Roma (de Roma, por causa das circunstâncias históricas).
Pedro recebe também o poder de “ligar e desligar” – o poder da decisão, de obrigar ou deixar livre -, exatamente como último responsável da comunidade (em Mt 18,18, esse poder é dado à comunidade como tal, evidentemente sob a coordenação de quem responde por ela). Não se trata de um poder ilimitado, mas da responsabilidade pastoral, que concerne à orientação dos fiéis para a vida em Deus, no caminho de Cristo.
2) Paulo: Se Pedro aparece como fundamento institucional da Igreja, Paulo aparece mais na qualidade de fundador carismático. Sua vocação se dá na visão do Cristo no caminho de Damasco: de perseguidor, transforma-se em mensageiro de Cristo; “apóstolo”. É ele que realiza, por excelência, a missão dos apóstolos, de serem testemunhas de Cristo “até aos extremos da terra” (At 1,8).
As cartas a Tímóteo, escritas da prisão em Roma, são a prova disto, pois Roma é a capital do mundo, o trampolim para o Evangelho se espalhar por todo o mundo civilizado daquele tempo. Ele é o “apóstolo das nações”. No fim da sua vida, pode oferecer sua vida como “oferenda adequada” a Deus, assim como ele ensinou (Rm 12,1). Como Pedro, ele experimenta Deus como um Deus que liberta da tribulação (2ª leitura).
Pedro e Paulo representam duas vocações na Igreja, duas dimensões do apostolado, diferentes, mas complementares. As duas foram necessárias para que pudéssemos comemorar, hoje, os fundadores da Igreja universal. A complementaridade dos dois“carismas” continua atual: a responsabilidade institucional e a criatividade missionária.
Essa complementaridade pode provocar tensões (cf. Gl 2); as preocupações de uma “teologia romana” podem não ser as mesmas que as de uma “teologia latino-americana”. A recente polêmica em tomo da Teologia da Libertação mostrou que tal tensão pode ser extremamente fecunda e vital para a Igreja toda.
Hoje, celebra-se especialmente o “Dia do Papa”. Enseja uma reflexão sobre o serviço da responsabilidade última. Importa libertar-nos de um complexo antiautoritário de adolescentes. Devemos crescer para a obediência adulta, sem mistificação da autoridade, nem anarquia. O “governo” pastoral é um serviço legítimo e necessário na Igreja. Mas importa observar também que aquele que tem a última palavra deve escutar as penúltimas palavras de muita gente.
Do livro “Liturgia Dominical”, de Johan Konings, SJ, Editora Vozes
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