Verde. 11º DOMINGO Tempo Comum
1ª Leitura - 2Sm 12,7-10.13
Salmo - Sl 31,1-2.5.7.11 (R. cf 5ad)
2ª Leitura - Gl 2,16.19-21
Evangelho - Lc 7,36-8,3
Ao ler o evangelho de hoje, a gente se pergunta o que foi primeiro: o amor ou o perdão. Jesus diz: “Têm-lhe sido perdoados seus muitos pecados, porque muito amou”, e: “Têm sido perdoados teus pecados … tua fé te salvou” (Lc 7, 47-50). Será que os pecados foram perdoados porque mostrou muito amor, ou o contrário? A narração não permite distinguir claramente, mas também não importa, pois o mistério do perdão é que se trata de um encontro entre o homem contrito e Deus que deseja reconciliação. A contrição é o amor que busca perdão e o perdão é a resposta de Deus a este amor. A contrição é o amor do pecador, que se encontra com o amor de Deus, que é: perdão.
Jesus ilustra este mistério com uma dessas parábolas chocantes bem ao gosto de Lc: dois devedores, um com pouca e outro com muita dívida, são absolvidos. Quem é que gostará mais do homem que os absolveu? Quem tinha a dívida maior. É o caso desta meretriz, que lhe demonstrou efusivamente gestos de carinho e afeição. Mas o outro está aí também: o anfitrião de Jesus, que demonstrou pouco calor na acolhida de seu hóspede. Será que ele tinha poucas dívidas, portanto, recebeu pouco perdão e por isso só pôde amar um pouquinho? Então, seria bom “pecar firmemente e amar mais firmemente ainda”? A realidade talvez seja diferente. Pode ser que alguém não reconhece quanta dívida tem e, por isso, recebe pouca absolvição e mostra pouco amor. Já começa por aí: porque tem pouco amor, não é capaz de reconhecer a grande dívida que tem para com Deus, pois não percebe quão pouco ele corresponde ao amor infinito…
Medido com o critério de Deus, ninguém é justo. Todos são pecadores. Porém, os que fazem pecados “notáveis” tomam mais facilmente consciência de sua pecaminosidade. É o caso da meretriz, no evangelho, e de Davi, na 1ª leitura. Os que fazem pecados mais difíceis de avaliar e acusar, como sejam o orgulho, a auto-suficiência, a inveja e coisas assim, mais dificilmente são lembrados de sua injustiça. Talvez observem perfeitamente as regras do bom comportamento. Os judaizantes da 2ª leitura, que querem impor aos pobres pagãos da Galácia as “obras da Lei” como meio de salvação, transformariam os gálatas em seres auto-suficientes iguais a si. “Não, diz Paulo, isso não posso permitir. Se fossem estas obras da Lei que salvassem, Jesus não precisava ter morrido” (Gl 2,2l).
Quem nos livra de nossa dívida é Deus. Só ele, que criou nossa vida, é capaz de restaurá-la na sua integridade. Quando perdoa pecados, Jesus revela que Deus está com ele (o que os comensais perceberam: Lc 7,49). Pedir perdão é dar a Deus uma chance para refazer em nós a obra de seu amor criador. Mas quem pouco o ama, não lhe dá essa chance …
A liturgia de hoje nos ensina outra coisa ainda. Davi foi lembrado de seu pecado por um porta-voz de Deus, o profeta Natã. Quando Natã lhe conta uma história bem semelhante à sua própria, Davi exclama: “Tal homem deve morrer” (2Sm 12,5; seria bom incluir na 1ª leitura o trecho imediatamente anterior, a parábola de Natã). Mas para que reconheça seu próprio caso, é preciso que Natã lhe diga: “Esse homem és tu!” Nós temos em nós mesmos um porta-voz de Deus, que nos diz: “Esse homem és tu!”: nossa consciência. É preciso escutá-la. Então saberemos quão pouco correspondemos ao amor de Deus que fundou nossa via e a dos nossos irmãos. Então também entrarão em ação o amor do pecador, que se chama “contrição”, e o amor de Deus, que se chama “perdão”.
O salmo responsorial, Sl 32[3l], medita essa realidade. Ter seu pecado a descoberto diante de Deus e dos homens e apesar disso ser acolhido no amor de Deus e da comunidade é a maior felicidade (e a razão fundamental por que existe o sacramento da penitência).
Segundo a oração do dia, nada podemos sem a graça de Deus. Por isso, pedimos essa graça, para em nossos projetos e sua execução estarmos de acordo com o que Deus ama.
Do livro “Liturgia Dominical”, de Johan Konings, SJ, Editora Vozes
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