Vermelho. 2ª-feira da 9ª Semana Tempo Comum
S. Carlos Lwanga e Comps. Mts, memória
1ª Leitura - Tb 1,3; 2,1a-8
Salmo - Sl 111,1-2. 3-4. 5-6 (R. 1a)
Evangelho - Mc 12,1-12
Lembranças de um homem justo
Na primeira leitura da liturgia de hoje temos o retrato de um homem de verdade, de um pai que é exemplo para todos os pais e que, diante de um homem que foi barbaramente estrangulado mostra revolta com o ato e caridade para com o que tinha morrido. Tobit vai contando as coisas que vivencia no fundo do coração:
Não posso dizer de outra maneira: em todos os dias de minha vida andei percorrendo os caminhos da verdade e da justiça. Tenho muitas lembranças do tempo em que fomos deportados para Nínive. Não me furtei a dar esmolas aos meus compatriotas e irmãos. As pessoas foram muito generosas e delicadas comigo. Lembro-me do dia em que, na Festa de Pentecostes me prepararam um excelente almoço. Aceitei. Reclinei-me para comer. A mesa estava bonita e com iguarias. Naquele momento lembrei-me desses meus irmãos. Recordo-me ter dito a Tobias, meu filho: “Vai, filho, vai procurar entre nossos irmãos deportados em Nínive, algum que, de todo o coração, se lembre do Senhor e traze-o aqui para comer comigo. Assim, meu filho, ficarei esperando até que voltes”.
Fiquei na espera. Meu filho voltou. Ele voltou não acompanhado de um pobre. Percebi queTobias estava branco e trêmulo. Quando começou a falar dei-me conta que gaguejava e estava completamente transtornado. Cheguei perto de meu filho e coloquei minha mão em seu ombro e olhei em seus olhos. Ele parecia ter alguma coisa consternadora a dizer. “Um homem do nosso povo foi morto e lançado à praça pública. E ainda se encontra lá, estrangulado”. Era o cúmulo. Eu, ali, diante daquela mesa, esperando a alegria de partilhar tudo com um irmão mais pobre. Vocês podem bem imaginar o que meu coração mandava-me fazer. Deixar tudo e dirigir-me para o lugar. “Levantei-me de um salto, deixando o almoço, sem prova-lo. Tirei no cadáver da praça e depositei-o numa das dependências da casa, esperando o sol se por para enterra-lo” Voltando à casa senti-me profundamente entristecido. Lavei-me e tomei também entristecido a refeição.
Lembrei-me das palavras do profeta Amós, pronunciadas contra Betel: “ Vossas festas se transformarão em luto e todos os vossos cantos em lamentação”. Parecia que aquelas palavras o profeta estava dizendo apontando para essa crueldade que me fazia tanto mal.
Quando o sol se escondeu fui cavar uma sepultura e enterrei o cadáver. Não podia deixar que o corpo do irmão fosse lambido pelos cães, desprezado, profanado. Sempre considerei uma obra de caridade enterrar os mortos. Lá, sob a terra, respeitosamente descansa aquele que foi criado à imagem de Deus.
E meus vizinhos não respeitaram minha dor e zombavam de mim: “Ele ainda tem medo. Já foi procurado para ser morto, por esse motivo e teve que fugir. No entanto, está de novo sepultando os mortos”.
Frei Almir Ribeiro Guimarães
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