Reflexão sobre as leituras de hoje:
1a Leitura: Tiago 4, 1-10
Evangelho: Marcos 9, 30-37
Eles, esses discípulos de Jesus, quase pareciam crianças…tinham mentalidade infantil. No caminho Jesus dá a entender que seu universo vai se toldar de nuvens escuras. A perseguição e a tormenta estão para acontecer. Há um aperto no fundo do coração do Senhor: “O Filho do homem vai ser entregue nas mãos dos pecadores e eles o matarão. Mas três dias após sua morte, ele ressuscitará”. Jesus conversando com eles sobre as coisas que estão para acontecer. Marcos faz uma observação curiosa: “Os discípulos não compreendiam estas palavras e tinham medo de perguntar”. Terrível essa sensação de medo nas coisas da fé: medo de enfrentar a provação, medo da cruz, medo de não ser levado em consideração, medo de perder os lugares de destaque. Essas coisas iam passando pela cabeça dos apóstolos enquanto eles iam pelo caminho.
Chegando à casa Jesus coloca uma pergunta: “O que vocês estavam discutindo enquanto caminhávamos?” Parece que não responderam à pergunta do Senhor. Eles andaram conversando sobre vaidades e querendo saber quem deles era o maior. Coisa tão humana essa questão da vaidade, da mania de grandeza, do desejo do poder. Essa é a lógica do mundo, dos que pensam segundo os ditames da “carne”.
Jesus ensinará uma lógica que, aos olhos de muitos, será a lógica do “absurdo”. “Se alguém quiser ser o primeiro que seja o último de todos, e aquele que serve a todos”. Jesus é o ‘invertedor” dos planos. Os que se dispõem a cuidar dos outros, a carregar os fardos dos outros, a cuidar do pai com Alzheimer, a levar os desgraçados para os albergues e pagar-lhes a conta. No mundo novo de Jesus os últimos serão os primeiros e os primeiros serão os últimos. Na véspera de sua paixão Jesus como que colocou um sacramental: deixou o manto da festa e se vestiu com o paramento da toalha que enxuga os pés dos homens. O grande serviço prestado pelo Senhor aos seus se deu no alto da cruz. Esse gesto de dom no auge do mais duro abandono não manifestava prestigio, mas a lógica da ilogicidade.
Francisco de Assis compreendeu esta “ilogicidade”. Descreve sua conversão quando se encontrou com a miserável carne do leproso. Segundo seu Testamento Francisco andava em pecado. O Senhor teve misericórdia com ele e o levou ao meio dos leprosos. Circulou ali como criança encantada que descobria fadas e personagens encantadores. Quando se aproximava dessa miséria o doce se lhe tornou amargo e o amargo doce… A felicidade fora encontrada nas coisas sem valor.
São felizes os que acolhem o mundo novo com o espírito de criança…
Frei Almir Guimarães
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