Uma das páginas mais belas dos evangelhos é aquela que nos relata o episódio da transfiguração de Jesus sobre a montanha. Hoje temos a versão de Marcos. Haveremos de retomar esta mesma versão no segundo domingo da quaresma deste ano de 2012.
Jesus toma três de seus discípulos. Não leva todos. Mas três que vão estar também presentes em outras circunstâncias delicadas da trajetória do Mestre. Ele os leva a um lugar a parte, a um espaço de silêncio e de interiorização. Quer que eles possam fazer uma experiência diferente. Sabemos que a montanha é sempre lugar especial para as manifestações de Deus: lugares altos do Antigo Testamento, Horeb, monte Sião.
Há uma iluminação do corpo e do rosto de Jesus. No total silêncio e na intimidade das intimidades Jesus olha o Pai e o Pai o olha. Nessa entrega de total amor há a luz da divindade que vem à tona. O olhar do Pai faz vir à tona a verdadeira identidade de Jesus: o habitante da luz. Marcos descreve esse momento com vivacidade e brevidade; “Suas roupas ficaram brilhantes e tão brancas como nenhuma lavadeira sobre a terra poderia alvejar”. Luminosidade, claridade, brancura, alvura… termos que apontam para a divindade luminosa. A verdade de Jesus aparece em seu semblante.
Moisés e Elias, misteriosamente, confabulam com Jesus. A lei e os profetas se associam ao destino e à pessoa de Jesus.
Os apóstolos fazem uma experiência forte e densa . Querem eternizar aquele momento. O céu desce à terra. Toda a majestade de Javé está no rosto de Jesus. Pedro tem esse desejo: fazer três tendas para Jesus, Moisés e Elias. O mundo podia parar de girar. Fundamental na trajetória de cada um de nós essa experiência de Deus que podemos fazer e que fazemos sem visões e raios, mas na fé. Os apóstolos experimentaram júbilo mas também “muito medo”. Quem não treme diante do divino?
Há algo mais ainda. A nuvem… essa nuvem que lembrava aquela outra nuvem que acompanhou os israelitas na travessia do deserto, nuvem que era a presença da divindade. Marcos diz que eles foram envolvidos na sombra da nuvem… E da nuvem: “Este é o meu Filho amado. Escutai o que ele diz!”
Podemos compreender que este episódio tenha fincado impressões definitivas nos corações dos três apóstolos. Mais tarde, Pedro vai evocar esse episódio em uma de suas cartas (dele ou a ele atribuídas). Experiência que deveria encoraja-los na turbulência da paixão.
“E, de repente, olhando à sua volta, não viram mais ninguém, a não ser somente Jesus com eles”. Ao longo de nossa vida fazemos nossas experiências de Deus, na fé. Temos nossos encontros com o Cristo do monte. Assim ganhamos coragem para continuar a caminhada nos tempos de secura e de aridez.Frei Almir
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